Entrevista Marquês

O rock brasileiro "é" um celeiro de grandes bandas, grandes músicos e grandes compositores. E Marquês é um dos seus mais dignos representantes com um rock vigoroso e letras super interessantes. Seu álbum e seus shows comprovam o que estou dizendo...

2112. Não é sempre que a nossa esquizonave recebe um nobre do rock'n'roll. Seja bem-vindo, meu camarada.

Marquês. Muito obrigado pelo convite! É uma alegria estar no Blog 2112, espaço de ampla divulgação cultural e onde já estiveram bandas que admiro, como Power Blues, Cozinha dos Infernos, os amigos Pepe Bueno, Marcelo Pato, Duck Strada, além de matérias super legais como o Dellaz Fest e a Exposição fotográfica do Lincoln Baraccat.

2112. Marquês, você é cantor, compositor, apresentador, mestre de cerimônias... Como você faz para controlar uma agenda tão agitada?

Marquês. Sou grato demais à minha família e a todos que apoiam o meu trabalho. Sem pestanejar, a reposta para todas essas ações é o amor. Quanto mais trabalho na busca da comunicação em massa, mais aprendo, aprimoro e fico próximo dos objetivos. Todo dia é dia de estudar. Depois que descobri o que amo, tudo flui no prazo, basta contar com um empurrãozinho da tecnologia.  

2112. Você foi jurado do Programa Canta Comigo entre 2018/2020. Como é estar do outro lado da trincheira julgando não segundo a sua intuição de músico e compositor mas segundo regras instituídas pelo próprio programa? Como você trabalha essa dualidade dentro de você?

Marquês. Foram 03 realitys consecutivos, dois transmitidos pela RecordTV e outro pela Caracol Televisión na Colômbia. O Júri é uma grande responsabilidade. Ao jurado é preciso que seja conferida a liberdade para que possa exercer com plenitude o seu juízo de valor. Em todas estas edições a livre opinião sempre foi premissa, levando ao público toda a verdade externada pelo júri.

2112. Alguma vez você já se sentiu decepcionado ao ver um talento mal compreendido ser eliminado?

Marquês. A exemplo do júri do programa Canta Comigo, somos 100 profissionais com autonomia e sentidos bem afinados para o momento da apresentação. A atenção para a apresentação é total. Penso ser muito difícil essa decepção acontecer. O júri é grande e muito democrático.

2112. Particularmente não acho que esses programas sirvam de termômetro para avaliar o talento de uma pessoa. Na sua opinião qual o lado bom e qual o lado ruim desses tipos de programas?

Marquês. Tenho admiração pelo reality musical. A experiência conferida ao candidato é iluminada e altamente encantadora. Penso que as lições e os benefícios ao candidato dependerá muito da sua preparação física, técnica e espiritual.

2112. Muitos que ganharam hoje amargam um total ostracismo. Não conseguem agendar shows, não conseguem gravar, não conseguem apoio da mídia, do público etc. Isso parece bem familiar, não é?

Marquês. É inegável constatar que vencer um reality com dimensão nacional traz uma janela privilegiada. No entanto, é preciso movimento. Estratégia financeira, profissional, visual, digital e, sobretudo, querer que a sua música aconteça, são premissas indispensáveis para que a oportunidade se propague.

2112. Para vocês músicos deve ser uma tarefa muito difícil julgar outros músicos sem tirar dele a confiança de sua arte, não é?

Marquês. Avaliar é uma grande responsabilidade. Ao meu ver, é produtivo que o candidato encare a avaliação como um passo para aprimorar a sua aptidão física, técnica e espiritual, podendo regressar ao palco fortalecido e revigorado. Da mesma forma, quando é possível constatar o domínio sobre a música escolhida, tudo fica no lugar. Quando isso acontece é intuitivo votar sim.

2112. Mas saindo desse âmbito me diga como você começou na música? Você é autodidata?

Marquês. Desde muito pequeno já batia as panelas de casa. Tenho a sorte de ter 03 irmãos que sempre fomentaram a música dentro de casa. Logo aos 12 anos tirava os primeiros acordes no violão. Mas o que realmente me encanta na música, são as mensagens. Então, rascunhei algumas até lançar a primeira música “Ser ou Não Ser”.

2112. Entre as bandas que você ouve quais são influências diretas na sua música?

Marquês. Puxa, há tanta banda boa, né? Mas, lembrando lá da minha infância, ouvia bastante Raul Seixas, Bob Marley, Barão Vermelho, Roberto Carlos, Queem, Metálica, Iron Maiden, ACDC...

2112. Você aceita rótulos para sua música? No meu ponto de vista rótulos são como mercadorias expostas nas prateleiras de um mercado. Apenas isso...

Marquês. Mesmo que essa prateleira seja uma playlist em destaque? Estratégias à parte, penso que o rótulo se assemelha a opinião. Respeito demais a liberdade de expressão do ouvinte e a crítica especializada.

2112. ... mas que acaba sendo um mal necessário, afinal as pessoas se viciaram nesse tipo de coisa, não é?

Marquês. Lembro que quando ia viajar fazia uma coletânea de fitas. Hoje posso montar uma coletânea em qualquer das principais plataformas digitais. A questão é que sempre houve o outro lado da moeda, qual seja, aquele ouvinte que simplesmente ligava o rádio ou aquele cauteloso com o que vai ouvir. Hoje, integrar uma playlist, pode significar boa vantagem para o artista que está a começar.

2112. Você curte acompanhar as novidades via web radios, redes sociais, YouTube e revistas? 

Marquês. Procuro transitar em todos os meios de comunicação digital. Há muito material sendo lançado, é preciso ficar atento às novas ferramentas.

2112. Tenho escutado bandas incríveis mas que pela falta de incentivos acabam prematuramente. Tirando algumas poucas rádios você praticamente não ouve nada novo ou de interessante... o que leva muitos a crer que não existe uma cena que grita por ajuda, não é?

Marquês. Além das rádios convencionais, as web rádios vem trazendo muito conteúdo inédito e apoio ao trabalho independente. Mas é fato que nada cairá do céu. Sem trabalho não se achará o público alvo. A banda deve encarar com afinco os desafios diários da divulgação do seu próprio trabalho. 

2112. As redes sociais tem agido como turbilhões nervosos de múltiplas informações... onde as pequenas bandas lutam bravamente por um espaço. Que conselhos você daria para quem está começando? 

Marquês. Investir na busca do público alvo. Uma vez alcançado esse filtro, o melhor conselho é criar conteúdo autentico, desenvolver a matéria prima com excelência e impulsiona-la conforme o orçamento disponível.

2112. Para você músico/compositor como é se manter num país onde a cultura e a educação não são prioridades do governo?

Marquês. É preciso fazer a lição de casa, criar hábitos diários que possam fomentar o crescimento gradual e seguir sempre pelo que é certo. 

2112. Uma coisa que me irrita é esse "sentimento de inferioridade" que muito de nossos músicos adotaram como modo de vida. Somos um dos maiores celeiros musicais do planeta mas isso nos é negado todos os dias pela nossa própria ignorância. O que na sua opinião precisa ser feito ou refeito para reverter essa situação? 

Marquês. Se esse sentimento existe, penso que deva ser tratado caso a caso com ajuda profissional. Cada ser humano é dotado de brilho próprio divino capaz de reluzir tudo o que ama fazer. Frente e forte sempre!

2112. Sei que muitos não entenderão, mas não culpo apenas o público e a mídia pela cena que temos. Existe uma enorme crise de egos no lugar de músicos compromissados com a cena o que acaba fudendo tudo. Desculpe o desabafo...

Marquês. A engrenagem eficaz tem rito, segue firme e alcança com êxito o produto final. Em um motor, toda e qualquer peça é importante. Há bons exemplos no mercado de como esse compasso é eficaz. Cabe a cada um de nós fomentar a união e o coleguismo profissional.

2112. Precisamos ter em mente que não se vence uma batalha com apenas um soldado. Eu até sugeri numa campanha que as bandas maiores abrissem mão de duas ou três músicas em sua set list para dar chance a uma banda que está começando. Nunca obtive uma resposta concreta...

Marquês. É uma honra tocar no mesmo palco que músicos reconhecidos. A ideia da campanha é realmente muito boa, no entanto essa é uma decisão particular da banda, que deve ser respeitada. 

2112. ... não é porque você nunca recebeu ajuda que irá negar estender a mão a quem precisa, não é?

Marquês. Desconheço quem nunca tenha recebido alguma ajuda. E se por acaso vier a conhecer, direi a ela que sim, ela recebeu ajuda, para nascer. A solidariedade é uma virtude.

2112. Fale um pouco sobre a composição e gravação do álbum Sonhar Viajar.

Marquês. O Álbum Sonhar Viajar traz grande felicidade! Nele estão presente minhas influências musicais, a poesia do teatro medieval, a balada romântica, o rock aventura, o incentivo à leitura e a mensagem para um despertar positivo.

2112. Você acompanhou todo o processo das gravações? Quanto tempo você gastou em estúdio?

Marquês. Se acompanhei? Cada passo! Cada ato! Ávido, como um estagiário curioso. Gravamos música a música, o que tornou todo o processo leve, objetivo e muito eficiente. A equipe é sensacional!

2112. Você mesmo fez os arranjos?

Marquês. Os arranjos foram desenvolvidos pelos produtores musicais Tico Rizzo e De Grigo, profissionais que tenho profundo respeito e admiração.

2112. Achei super interessante a inclusão da releitura de Hamlet e Henrique IV do grande Shakespeare num álbum de rock'n'roll. Como surgiu a idéia?

Marquês. Rock inspira! Tudo isso aconteceu na escola de teatro, em uma prova final de História. Na época, estudava o teatro Elisabetano e tinha em mente o Ato III, Cena I de Hamlet, qual seja, “Ser ou não Ser, eis a questão”. Pensei comigo, quantos alunos já interpretaram essa cena? Quer saber, vou escrever um som! Apresentei para toda a turma, foi demais! A música Quinta do Marquês, inspirada em Henrique IV, seguiu o mesmo rito, estudo, devoção, inspiração e rock´n roll!

2112. A sua atitude deixou claro que leitura faz bem em qualquer situação.

Marquês. O livro é meu amigo! Esse é um dos temas que compõem o álbum “Sonhar Viajar”, com letra e melodia da minha irmã. Se você estiver com um livro, jamais estará sozinho. A leitura é indispensável para o crescimento do ser. É alimento para a alma e descanso para a mente. Seja e-boox, impresso, não importa, na minha opinião, a literatura deve ser fomentada em qualquer idade.

2112. O clipe da música teve locações em São Paulo, México, Costa Rica e no Castelo de Lanhoso em Portal. Foi uma produção épica, não?

Marquês. Foi um privilégio. Sou grato a cada profissional que laborou, aos atores, amigos, todos que torceram e fizeram destes clips a realização de um sonho.

2112. Temporariamente está tudo parado em função desse vírus. Assim que passar essa pandemia quais são seus projetos? Teremos álbum ou single novos? Shows?

Marquês. A produção não pode parar. Recentemente foi lançado um clipe muito legal com participação de 51 artistas jurados do Canta Comigo, o qual faço parte. Uma mensagem de esperança para o mundo que clama por ajuda. Há um single pronto que logo mais começarei os preparativos para o lançamento, assim como uma nova música inspirada em tema teatral medieval que vem nascendo com muita alegria. Quanto aos Shows, tá tudo tão incerto ainda né...somos aglomeradores por natureza, e isso não combina com a Covid.

2112. Depois dessa conversa afirmo com todas as letras que se Elvis é o Rei do Rock... você é o Marquês do Rock Brazuca.

Marquês. Bondade sua. Agradeço muito pela entrevista, parabenizo o seu trabalho cultural, informativo e muito competente. Continuo a acompanhar nossos amigos, músicos e novidades que o Blog 2112 sempre traz!

2112. Qual e-mail/telefone para aquisição de material de merchandising ou contratação de shows?

Marquês. A todos que quiserem conhecer mais, o contato direto pode ser realizado através do www.marquesaria.com.br ou marques@marquesaria.com.br. Será uma grande alegria recebe-los! #GoRock!

Créditos das fotos: CrizPisa, João Pirovic, João Perliteiro, RCLuque, Marquês, Aline Sanches e Bolívia & Cátia Rock.