O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



domingo, 12 de novembro de 2023

Entrevista 40 Anos SP Metal: Nico Bloise & Zé "Heavy" Luiz (Final)

Na primeira parte conversei com Calanca, o idealizador Projeto SP Metal, na segunda com integrantes das bandas e agora para finalizar é a vez da parte técnica com Nico Bloise e Zé "Heavy" Luiz.

2112. SP Metal I está prestes a completar quarenta anos de lançado. Qual a visão de vocês do álbum após todos esses anos?

Nico. Humildemente somos ícones do Metal em São Paulo. Gravamos todos os dois discos e outros como Golpe de Estado, Patrulha do Espaço, Chave do Sol, Harppia, Centúrias etc. O SP Metal é a porta de entrada das bandas com estilos e sons diferenciados de garotos com maior tesão em gravar suas primeiras faixas, ouço com maior orgulho.

Zé. Foi uma grande porta de entrada para a música pesada. Existia uma certa repulsa do mercado quanto aos ditos “barulhentos" e o SP Metal mostrou que havia muito mais atrás dessa máscara.

2112. Apesar do Stress e do Karisma serem os pioneiros com seus álbuns... a meu ver foi os dois volumes do SP Metal quem escancarou as portas para toda uma geração de headbangers, não é?

Nico. Sim como acabei de falar várias outras bandas tiveram oportunidade depois desse grande evento.

Zé. Stress e Karisma tem meu respeito, mas naquela época e num país de dimensões continentais, o núcleo artístico ficava entre Rio e São Paulo literalmente. A cena metal paulista começava a ficar mais forte. Claro que haviam grandes bandas fora deste circuito. Sepultura é um bom exemplo.

2112. ... de repente havia bandas, estúdios, shows, bares, festivais, zines, revistas, lojas de discos, roupas e instrumentos para tudo quanto era lado. Foi um momento de grande efervescência, não?

Nico. Imaginem esses garotos que tocavam em suas garagens e ensaios terem a oportunidade de gravar em um estúdio de grande porte como era o estúdio Vice Versa e serem lançados pela selo Baratos Afins com toda a estrutura que o Luiz Calanca lhes dava.

Zé. Acompanhar o crescimento da cena, ver as bandas tocando juntas e se ajudando foi muito bacana. Lembrando que ainda não havia acontecido o Rock in Rio.

2112. Não esquecendo que o interesse dos gringos pelos dois álbuns garantiu grande credibilidade ao projeto. Isso surpreendeu vocês?

Nico. Modéstia à parte o Luiz Calanca já era o cara que sabia mexer e com seu conhecimento entre pessoas de divilgação fez o melhor trabalho nessas etapa.

2112. Nico, o que o Calanca conversou com você sobre o projeto SP Metal?

Nico. O Luiz Calanca sempre foi muito exigente como produtor por isso está mas eu, ele e o Zé fizemos o melhor trabalho de equipe que já vi, um monstro.

2112. ... quais são as suas memórias das gravações?

Nico. Cara os garotos, suas ansiedades, suas ideias e seus tesões em estar gravando num estúdio sem nunca ter entrado em um, chegavam com seus instrumentos e nos ouviam com a maior atenção e eu só queria mais era ser o quinto integrante da banda, dando dicas e procurando aquilo de melhor em cada um deles, era um estado de êxtase.

2112. A cabine de gravação deveria ser a maior festa, não? ... quais são as memórias das gravações que mais te marcou?

Nico. As passagens de som, você ria muito com tanta besteira que se falava e as amizades que construímos durante essas gravações.

2112. Zé, derrepente você é transportado do seu quarto para dentro de um estúdio para auxiliar na gravação de um dos maiores álbuns de heavy metal de todos os tempos. O que isso mudou na sua vida?

Zé. Eu era assistente de estúdio e sempre que eu podia, colocava um disco pra me fazer companhia durante as montagens e períodos de limpeza do estúdio. Éramos uma grande equipe. Dar suporte ao Nico e às bandas, ver o sonho deles se realizando... foi mágico!!

2112. O que isso serviu de aprendizado para você?

Zé. Como assistente, eu assimilava informações sobre como gravar, que microfone usar e de que maneira e aplicava em gravações de discos independentes. Foi a nossa escola. Havia pouca informação e acabávamos aprendendo com os mais velhos. Existia a maneira acadêmica de se fazer e também a da Tentativa e erro, onde eu procurava novas sonoridades e adaptava algumas técnicas de gravação ao meu modo

2112. ... corredor cheio de músicos entusiasmados, pouco tempo para gravar, arrumação e afinação de instrumentos, o entra e sai de bandas no estúdio etc. Como foi colocar ordem no recinto? A adrenalina chegou a 100%?

Nico. Tentamos fazer dos momentos o mínimo de estresse, o Luiz Calanca deixava-nos muito à vontade pois sabia que eram garotos com a adrenalina lá em cima querendo gravar seu primeiro disco impecável.

2112. Além do entusiasmo os músicos deveriam estar bastantes anciosos e nervosos. Era como perder a virgindade, não é?

Nico. Olha alguns sim mas outros muito seguros do que estavam fazendo.

2112. Com o tempo cronometrado como foi gravar/mixar num espaço de tempo tão curto? Quais foram os maiores desafios técnicos enfrentados durante as gravações?

Nico. Bom primeiro que era uma máquina MCI de oito Canais tínhamos as vezes que gravar as bases reduzir para poder gravar solos e vozes fora prestar atenção em afinação e qualidade das tomadas de som, com o tempo íamos administrando com o Luiz Calanca ao lado e o seu ok.

2112. Com apenas dois dias para gravar e mixar todo o material vocês com certeza trabalharam duro para fechar o trabalho. Ao ouvir as fitas com o material pronto o que acharam do resultado final?

Nico. Simplesmente trabalhamos e fizemos o melhor que daria nesse tempo. O resultado para mim e acho que para as bandas dentro do possível foi satisfatório e com o Luiz Calanca finalizando.

2112. E qual foi a reação do Calanca e das bandas?

Nico. Nós curtimos muito e aprendemos muito uns com os outros era muito satisfatório ver as audições e as caras do músicos e do Calanca.

2112. Se no primeiro você auxiliou, no segundo pilotou a mesa de gravação. Porque Nico Bloise não produziu o segundo álbum? O que aconteceu entre a gravação de um álbum para o outro?

Zé. Tá aí uma pergunta que não quer calar... Foi por opção do Calanca. Talvez ele tenha visto algo diferente neste moleque atrevido. Pra mim foi uma honra e uma ótima oportunidade de colocar em prática tudo que eu assimilei dos meus mestres.

2112. Quem te auxiliou nas gravações?

Zé. No SP Metal 2 eu trabalhei quase que sozinho... o estúdio tinha uma demanda muito alta de projetos de jingles e trilhas para comerciais que tomava o tempo dos técnicos. Lembrando que eu era assistente de estúdio durante o dia e gravava nas noites. Era insano!!!

2112. Na sua opinião... que erros cometidos na gravação do primeiro álbum serviu de experiência no segundo?

Zé. Não vejo erros, mas inexperiência seguida de uma vontade louca de fazer acontecer. Não tínhamos a tecnologia, o processo de gravar em 8 canais é complicado por que se grava quase tudo ao vivo. A mixagem do SP 2 eu fiz no estúdio de 16 canais, na calada da noite e sem contar pra ninguém, pra não gerar custo.

2112. Calanca mencionou um fato bem interessante: "... apagamos por descuido o finalzinho da gravação do Santuário e gastamos um tempo enorme para colar um ruído de arena de um show do Kiss para mascarar a falha, mas acabou ficando bom." O que você lembra desse episódio?

Zé. Eu me lembro dessa situação de outra maneira (memória curta). Eu sempre penso nisso como o povo ovacionando o rei Spartacus. Funcionou!!

2112. ...outra lembrança foi sobre o guitarrista do Centúrias que já fora da banda não queria abrir mão de registrar a sua participação. Como foi resolvida a questão?

Zé. ... disso eu realmente não me lembro!

2112. Que lembranças ou histórias pitorescas você guarda das sessões de gravações dos dois álbuns? ... devia ser a maior farra, não?

Zé. Era um mundo novo, o clima era leve mesmo com o tempo corrido. Fiz grandes amigos que mantenho até hoje. Ainda faço parte da equipe do Korzus e mixei o álbum duplo do Santuário.

2112. Ouvindo os álbuns hoje o que você manteria, o que mudaria ou deixaria tudo como está para preservar a magia da época?

Zé. Fizemos o melhor que poderíamos fazer. Hoje em dia tudo mudou, ficou mais fácil gravar. Naquela época a gente fazia piada de um futuro estúdio que coubesse na palma da mão. Virou realidade. É parte da história e sinto orgulho do resultado.

2112. China mencionou que muitos preferem a gravação original de Delírio Estelar a regravação incluída no segundo álbum da banda: "Aliás Delírio nós regravamos no Simplesmente Rock com dois bumbos, guitarras mais pesadas (...). Só que você acredita que mesmo com toda a estrutura existe pessoas que gostam daquela forma como foi concebido no SP Metal (...)." Ambos os álbuns se tornaram atemporais, verdadeiros ícones do estilo. O interessante é que mesmo após todos esses anos eles não perderam o seu poder de fogo, não é?

Zé. A arte tem dessas coisas: uma vez lançada, se eterniza.

2112. ... uma pena que o projeto não seguiu adiante com outros volume. Seria bem interessante, não?

Zé. O projeto evoluiu para os EPs em 45RPM. Atualmente Eu acho que a mágica acontece bem debaixo dos nossos narizes com a facilidade de conhecer bandas novas nas plataformas de streaming.

2112. Você além de produtor, também é músico... como você divide o seu tempo?

Zé. Eu continuo mixando alguns trabalhos escolhidos a dedo e eu deixei os grandes estúdios para viver na estrada mixando shows. Já fui baterista... aposentei faz algum tempo.

2112. Muito obrigado pela entrevista... o microfone é de vocês!

Nico. Quarenta anos se passaram e com muito orgulho temos esses registros, agradeço a Baratos Afins por me dar a oportunidade de ter gravado esses e vários disco por eles, deixo aqui meu profundo respeito ao Luiz Calanca e ao José Heavy Luiz o maior engenheiro de rock do Brasil e se quer do mundo. Deixo aqui minhas homenagens. Obrigado!

Zé. Tanto tempo passou e a chama ainda está acesa. Viva o Metal Nacional e todos que fazem parte desta história. Obrigado pelo espaço. Nos vemos pela estrada.