O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Entrevista Os Gatunos



O Brasil é uma grande encruzilhada de sons... e agora com o advento da internet dá para conhecer uma infinidade de bandas. E entre as minhas idas e vindas a procura de material para o blog dei de cara com Os Gatunos e uma curiosidade: como uma banda de surf music surge numa cidade sem praia. Leia a entrevista e terão a resposta!   

2112. Primeiramente me explique como uma banda de surf music surgiu em pleno serrado brasileiro? Achei isso incrível!

Fabrício Paçoca. É uma grande ironia, não é? Desde sempre nós de alguma maneira ouvimos este estilo musical por aqui... tinha o Super Stereo Surf aqui em Brasília, um grande representante do estilo! BANDASSA! Os Gatunos surgiram em meio as influências de jovem guarda, rockabilly, garage... que temos em comum!
2112. A atitude de vocês só reforça a tese de que fã é fã não importando a sua condição geográfica, não é?

Fabrício Paçoca. COM TOTAL CERTEZA! Quem não tem mar, vai pro bar! Hehe Curioso que por aqui tem os tais ‘Surfistas do Lago Paranoá’, pra você ver o nível da carência de mar que temos...

2112. Recentemente entrevistei duas bandas Gear (Amazonas) e Prognoise (Rondônia) que fazem um som de altíssimo nível mas que por estarem fora do eixo Rio-São Paulo não conseguem um melhor reconhecimento. O brasileiro precisa deixar de lado o comodismo e sair via net os muitos sons e cenas do nosso país. Tem muita coisa bacana acontecendo e que a maioria desconhece...

Fabrício Paçoca. Sim! Sim! Tem inúmeras bandas espalhadas por aí!!! No último sábado (dia 6/7) tocamos em Goiânia com um duo de garage/blues chamado Dead City de lá! Este aspecto do eixo Rio-SP teoricamente ainda vigora, mas acredito que a internet (obviamente) contribui pra que este padrão aos poucos vá se quebrando, é só ficar de olho que achamos coisas boas pelo Brasil todo!

2112. Para muitos Brasília parou no tempo com a Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial. Pensamentos retrógrados como esse é que fode tudo, não? Como está a cena aí hoje?

Fabrício Paçoca. São referências meio que eternas de bandas daqui, né? A gente não pode lutar muito contra isso hehe... Antes eu me irritava mais com isso, mas acho que não seja um grande problema pras bandas daqui. Na verdade o Brasil inteiro não tirou até hoje o olho da música feita aqui por conta dessas bandas, né? A cena por aqui está ‘caminhando’. Muito pouco lugar pra banda autoral tocar e quando abrem o espaço é durante a semana. Acredito que esse é um fenômeno que acontece no país inteiro... mas em Brasília tem a tal ‘lei do silencio’. Ridículo.  

2112. A mutação sonora brazuca é constante o que nos deixa com uma das cenas mais ricas do planeta. Pergunto, o que de interessante anda acontecendo por aí e que a grande mídia ou o próprio público consumidor de música desconhece? 

Fabrício Paçoca. Em 2017 tocamos num festival em BH chamado ‘Campeonato Mineiro de Surfe’, ficamos todas as bandas no mesmo Hostel, foi ótimo (pra fazer uma média com o estilo da nossa banda) posso citar 5 excelentes bandas qe tocaram conosco neste evento: Ivan Motosserra, Beach Combers, The Raulis, Wood Surfers e Pulltones! RECOMENDAMOS!

2112. As rádios ajudam na divulgação das bandas?

Fabrício Paçoca. Aqui a Rádio Cultura volta e meia toca nosso som... A rádio transamérica também eventualmente rola uma música da gente, ou seja, na medida do possível ajuda sim!

2112. A crise tem levado muitos espaços a fecharem suas portas o que faz a cena encolher causando a morte precoce de muitas bandas. Há muitos espaços em Brasília para as bandas que estão começando?

Fabrício Paçoca. É muito complicado começar uma banda e ter um lugar pra tocar... como uma banda forma público se não tem onde tocar? Como uma banda toca se não tem público? É como a história do ovo e da galinha! Hehe. Em Brasília há alguns espaços que dão chance de bandas novas tocarem sim, porém não são muitos!

2112. Agora vem aquela clássica pergunta... Como surgiu Os Gatunos?

Fabrício Paçoca. Os Gatunos surgiram em 2013 quando Fabrício (Guitarra) enviou um email com 4 sons gravados em 2009 com 4 versões instrumentais de músicas pop pro Felipe (Baixo) e perguntou se havia interesse em tocar esse tipo de som... As músicas eram ‘Cabecinha no ombro’ de Almir Sater, ‘Sozinho’ do Peninha, ‘Sheena is a punk rocker’ do Ramones e ‘Yesterday’ dos Beatles. Inicialmente a idéia do nome é por causa da proposta inicial (roubar músicas dos outros pra tocar). A partir deste primeiro contato e da resposta positiva do Felipe, o Fabrício foi atrás de um baterista e arranjou o Marcelo, o famoso homem-banda de Brasília! Daí em diante pela dificuldade que seria a liberação das músicas caso fossemos gravar este repertório de versões a banda começou naturalmente a criar suas próprias músicas!

2112. Os Gatunos tem como base a surf music mas vocês também investem em outros sons para tentar “abrasileirar” a surf music assim como fez o Sepultura com o metal em Roots?

Fabrício Paçoca. Temos como base o surfe music! Exatamente! Mas dentro da banda há várias tendências musicais que não somente as brasileiras, como o country, o twist, rockabilly.. Adoramos a guitarrada paraense, carimbó.. o próximo disco inclusive terá o primeiro ‘Ijexá-surfe’ gravado no mundo! hehe

2112. Quais são as influências da banda?  

Fabrício Paçoca. É muita coisa, viu?! Desde o rockabilly ao post-punk passando pela guitarrada-paraense até hard core! Se fosse para citar bandas que nos influenciaram e diria os clássicos: The Ventures, Dick Dale, The Shadows e Lively Ones.. Los Straightjackets, Tormentos.. mas certamente a banda que impactou a gente com o lance de misturar surfe com música regional foram os Los Twang Marvels! Bandassa! Além de inúmeras outras coisas que não refletem diretamente no som da banda mas que influenciam os músicos particularmente!

2112. Recentemente vocês lançaram o primeiro trabalho: Os Gatunos vão a praia. Isso de uma certa maneira dá um certo respeito além de ajudar bastante na divulgação, não é?

Fabrício Paçoca. Dizem que o cd é o novo cartão de visita, né? Sem dúvida nenhuma mudou o jeito que as pessoas olhavam pra gente... dá uma credibilidade, sim! Sem dúvida nenhuma!

2112. Vocês trabalham com material autoral e também com releituras de clássicos brazuca. Como foi feita a escolha das músicas? Todos compõem na banda?

Fabrício Paçoca. Temos uma proposta de show-baile! O que as bandas de baile da noite fazem tocando músicas de vários gêneros fazemos adaptando pra linguagem do surf music instrumental. Nosso repertório de versões vai de Roy Orbison até Sidney Magal, passando por Claudinho e Buchecha e Del Shanon! É o famoso ‘Surf music instrumental popular de boteco’. O processo de composição normalmente surge de alguma melodia na guitarra e quando nos encontramos em estúdio damos aquela ‘mapeada’... muda isso... vem pra cá... troca essa parte, repete aquele..

2112. Quanto tempo vocês gastaram no estúdio? Quem faz os arranjos?

Fabrício Paçoca. O disco ‘Os Gatunos vão a praia’ foi gravado durante uma sessão de 14h horas em estúdio. Duas diárias dividas entre sábado e domingo. Todas as faixas foram gravadas ao vivo e os sopros, palmas, tecladinhos e percussão em overdub. Os arranjos de metais foram feitos por Bruno Portella que também gravou o trombone e pelo Fabrício (Guitarra).

2112. O trabalho está tendo uma boa aceitação?

Fabrício Paçoca. Sem dúvida! Um conhecido disse algo fabuloso sobre o disco: ‘Po, to na quarta música e nenhuma é parecidona com a outra’. Haha a gente quis que o disco fosse eclético na medida do possível. Tem country, guitarrada, surf clássico.. E tivemos o orgulho de ter a resenha escrito pelo Senhor F.

2112. Para vocês existe uma cena surf music autenticamente brasileira?

Fabrício Paçoca. Sim! Sem dúvida!

2112. O Little Quail And The Mad Birds foi que mais contribuiu nesta área, não é?

Fabrício Paçoca. Pro surf não necessariamente... acredito que a história nasceu antes nos anos 60. The pops, The Clevers, Jet Blacks.. Dead Rocks certamente é uma música nacional que ajudou nessa ‘surf music brasileira’. Em brasília o Little Quail é uma referencia pra todas as bandas que fazem algum tipo de som mais ‘vintage’, meio rockabilly, meio surfe.. garage..

2112. Vocês fazem o circuito de bares, festivais... Como anda a agenda?

Fabrício Paçoca. Tocamos muito em eventos de rua também.. Encontro de foodtrucks, feiras alternativas. Tocamos em vários bares pela cidade. Em 2016 ficamos em lugar na seletiva do Festival Porão do Rock e tocamos no festival. Tocamos em Belo Horizonte numa casa chamada ‘A obra’ num festival de Surf Music. Em Araguari em Minas Gerais também.. e mais recentemente em Goiania. A agenda sempre tem movimentação. Tocamos muito em cervejarias artesanais também.. sedes de motoclubes! Em dezembro tocaremos num festival chamado Ferrock junto com Krisuim por exemplo.

2112. Quais os projetos da banda daqui para frente?

Fabrício Paçoca. O segundo disco está sendo mixado e teoricamente em novembro sai! Ainda estamos terminando de levantar a grana pra gravação, prensagem, masterização e merchandising... Pretendemos viajar mais em 2019!!! Tocar em festivais fora da cidade... tentar criar um público novo fora de Brasília!

2112. Quero agradecer pela entrevista e dizer que o microfone é de vocês...

Fabrício Paçoca. Muito obrigado pela oportunidade, pela atenção e pelo espaço pra gente poder divulgar um pouco mais de nosso trabalho! Grande abraço! SURFE!!!

 Próxima entrevista

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