O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



terça-feira, 10 de maio de 2022

Entrevista Eletroacordes

A Eletroacordes está a doze anos na estrada com seu rock super eclético onde uma infinidade de sons criam uma verdadeira parede sonora. Conversei com Rodrigo Vizzotto, 52 anos e o único remanescente da formação original da banda que resultou nesse bate papo super bacana e honesto.    

2112. A Eletroacordes está há doze anos "on the road". Como vocês avaliam este tempo e o que esperam para os próximos anos?

Rodrigo Vizzotto. É importante construir um legado musical ao longo de todo esse tempo de atuação da banda, em diferentes momentos e estilos. Seguimos no ‘combate’ cultural fortalecendo a produção do som independente e autoral, mostrando que é possível abrir espaços neste cenário cada vez mais difícil em revelar uma sonoridade autêntica, própria, genuína, sem receitas pré-determinadas. Bem diferente do que meramente é despejado no mercado, muitas vezes dos enlatados que vem de fora. Daqui pra frente, percebo que sobreviver do rock será uma batalha ainda mais árdua, mas não impossível para estabelecer esse gênero de uma vez por todas no gosto musical do público.

2112. Entre os erros cometidos qual ou quais jamais serão repetidos?

Rodrigo. A trajetória musical da Eletros ensinou a trilhar os atalhos ou caminhos menos ‘perigosos’. Cometemos muitos erros e não estamos imunes que isso possa se repetir. Dividir responsabilidades acarreta em decisões e diversos pontos de vista. O importante é ter essa percepção, respeitar as diferenças e sobretudo, não sobrecarregar agenda ou espaço de compromissos familiares. Mas a contrapartida dos envolvidos, no caso, dos integrantes da banda, também é fundamental. Caso contrário, ruídos  e conflitos inevitavelmente acontecem. Por isso, sempre busco o pacto do compromisso com os objetivos coletivos. A troca de membros da formação original, a ausência em ensaios e shows ou simples desinteresse na banda, todos que invariavelmente já aconteceram, decorrem justamente do que relatei, logo, erros suscetíveis que sabemos que ocorrem, hoje são mais fáceis para identificar e corrigir, ou não.


 

2112. A banda é bem eclética bebendo na fonte do blues, do jazz, do pop rock psicodélico e no rock dos anos 70. Como vocês definem o som da banda?

Rodrigo. Uma mistura de gêneros, influências, estilos, mas com o pé firme pela veia do rock. Quando falei em ser genuíno, penso em buscar nas raízes musicais próprias, próximas daqui dos pagos do Sul, do bairro, da cidade, do que nos aproxima de um som mais eclético. Mas absorvemos inegavelmente o rock em nossas preferências musicais, porém, temperamos, damos cor, sentido e sonoridades próprias ao que extraímos de cada ‘acorde’ para transpor em uma composição. No entanto, quando rotulam o rock típico do Sul, explico que várias tendências transcorrem da nossa aldeia, mas evito dar margem para qualquer estereótipo. Assim também é a Eletroacordes. Sem etiquetas ou rótulos.

2112. Não é muito comum bandas brasileiras citarem o jazz entre as suas influências. O que vocês ouvem e mais apreciam dessa vertente?

Rodrigo. Ainda na época do vinil, colecionava muitos LP’s de jazz. De Coltrane, Pat Metheny, Pastorius, Eberhard Weber, Weather Report, este último mais fusion. Depois, o Sting no pós The Police fez experimentações pelo jazz. Nota que na maioria dos exemplos, quase sempre com exímios baixistas. Foi daí que clamei pelo estilo jazz. Mas óbvio, nossa banda tem alguns poucos ingredientes do jazz. Uma canção nossa, “Tensa Cidade” possui uma característica de walking bass. Minha mais recente composição, “Mesmas Pessoas’ atualmente em produção, leva um baixo acústico, vassourinha e levada nesse estilo. Mas não se decepcionem ao ouvir, é apenas um estilo incorporado a canções rock. Que os verdadeiros jazzistas me perdoem por uma eventual blasfêmia.

2112. Miles Davis na minha opinião foi mais rock'n'roll do que muitos "rockers" por aí vestidos de couro até o pescoço. A música precisa e deve quebrar barreiras sem perder a sua essência, não é?

Rodrigo. Esses tempos me perguntaram qual melhor disco de jazz da minha preferência. Respondi justamente um CD do Miles Davis, mais contemporâneo, intitulado “Tutu”, de 1986. Ali, ou antes mesmo, ele rompeu com o estilo mais tradicional. E assim deve ser. No caso da Eletros, fizemos nosso primeiro EP “Respire Fundo!” com aquele rock visceral, o segundo EP “Insanos”, ecletismos do Pop ao Blues, Jazz e Rock. No terceiro EP “Sono Tão Profundo”, uma guinada: um som bem mais psicodélico. Já o trabalho atual, em produção, justamente intitulado “Experiences”, tem 7 canções semi acústicas em uma vibe mais intimista. Ou seja, rompemos estilos, mas tem lá a essência rock. É só escutar.

2112. Vejo que muitos perderam o "roll" pelo meio do caminho. Até a rebeldia das letras e o próprio discurso nos shows soa forçada. Como vocês veem a cena atualmente?

Rodrigo. Existem muitos artificialismos. Uma forçação mesmo. Mais pela encenação do que propriamente pela música. Vejo em outros estilos com muito mais exageros também. Pode ter carinha bonita, bunda, maquiagem ou sei lá o quê! Mas não dá pra perder de vista o talento e a música em si. Pois aí já era e vira som pasteurizado. Na cena rock percebo boas produções, bandas com ótimas propostas e sons com qualidade. Mas às vezes em shows, parece aquele roteiro já preparado e discurso alinhado, prontinho. Aí perde a essência.

2112. Os ensaios da banda acabam se tornando uma espécie de laboratório musical, não é?

Rodrigo. Bom que seja assim. Pois apenas para ensaiar e passar o som para shows acaba por seguir uma rotina entediante. E isso pode acabar com uma banda. Muitos músicos me confidenciam que preparam um roteiro extenso para repertório e quase nunca fazem shows. Qual o sentido disso? Na Eletroacordes, já aconteceu até de ensaiar no palco, em várias apresentações. Ou mesmo em certa vez, de pegar as canções virtualmente e executar na hora, no show acústico com músicos convidados. Claro, cercado de excelentes profissionais. O resultado foi melhor do que esperado, como se tocássemos há tempos. Exemplos de laboratórios também, né? Mas para mim, as melhores situações são àquelas que criamos em conjunto um som novo ou mixamos em gravação. Aí sim, é a redenção.

2112. E como os fãs reagem as essas constantes mudanças?

Rodrigo. Geralmente de forma positiva. Os que reprovam a gente nunca sabe né! Mas afora a brincadeira, sou ainda pela experimentação de buscar novas sonoridades do que repetir a velha forma de receita de bolo. Sei que corremos o risco de não fidelizar nosso fã, mas prefiro correr este risco calculado, afinal, não são mudanças bruscas e rock está em todas as composições.

2112. Todo músico deveria se permitir experimentar idéias em busca de um som próprio. O que vocês ouviram de interessante nos últimos anos e que de uma certa maneira acabou influenciando no conceito musical da banda?

Rodrigo. Cada cabeça, uma sentença. De mim, se extrai quase tudo. Já fui hermético, de querer só ouvir som pesado. Aos poucos, flexibilizei até chegar ouvir jazz, como relatei. Ouço muito pop, blues, hard, reggae, soul, indie e o por aí afora. Os guris não são diferentes, mas cada qual no seu quadrado, no caso, o rock. E creio que está na essência deste estilo a força do nosso som. De Hendrix, Deep Purple, Radiohead, Raul Seixas, Cachorro Grande, de tudo um pouco. Para não me contradizer, as influências são importantes, mas percorremos uma trilha sonora própria, sem rótulos.

2112. Não entendo o porquê do rock brasileiro não receber o devido e merecido reconhecimento como o produzido no exterior. Vejo que o problema está numa parcela do público, de algumas rádios e produtores que ignoram o produto interno. Como vocês fazem para driblar situações desse tipo?

Rodrigo. O rock brasileiro está subjugado a outros estilos da moda. É fato! Sem dúvida, grande parcela de culpa, se é que tem culpado nessa história, é do direcionamento mercadológico da rede fonográfica, sejam gravadoras, produtoras ou redes de comunicação e, mais recentemente, os algoritmos das redes sociais e streamings. Pro bem ou pro mal, exercem forte predomínio no gosto musical popular. O que me intriga por exemplo, é saber que recentemente Kiss e Metallica lotam estádios aqui no Brasil, dando claro indício de que tem público para o rock. Pena não acontecer em escala para bandas locais independentes.

2112. ... não podemos deixar de mencionar também que muita das vezes a culpa parte do próprio músico ao aceitar tocar de graça ou em troca de bebidas. Isso fode tudo, não é?

Rodrigo. Ia comentar antes, mas não queria misturar os temas. Tocar por cerveja, por cachê baixo ou até pagar para estar em alguns palcos é lastimável. O músico tem parte nisso em se submeter a tal situação. Mas os proprietários de bares ou pubs estipulam isso, não generalizando. Até pouco tempo, vi uma casa me propor repassar seus próprios custos de serviços como segurança, limpeza e técnicos de som e luz para a banda, quando na verdade teriam que pagar e valorizar o músico que vai trazer seu público para consumir ali. É o fim dos tempos, e não só na atividade cultural acontece.

2112. A pandemia parou o setor artístico deixando os músicos sem opções. O que vocês fizeram nesse período?

Rodrigo. Pois então, o lema da Eletroacordes é ‘estar e movimento’. E assim o fizemos. Não somos músicos que dependem unicamente dessa profissão, com exceção do nosso atual guitarrista, o Yuri Passos, que tem formação na área e exerce. Então nos reinventamos e produzimos o EP ‘Experiences’ como disse antes, em razão do distanciamento social. Gravamos de forma remota na Casa Sonora e só agora estamos finalizando o projeto. Produzimos dois clipes nesse período: “Dias Perdidos”, que trata justamente dos resultados da pandemia sem glamourizar o tema e “Lorde Burguês’, obedecendo os protocolos sanitários nas poucas externas em conjunto, ou na sua maioria de forma individual. E ainda, em razão do confinamento, produzi até agora 235 programas do “Acordes Elétricos” que é um subproduto da banda, ao qual leva as trilhas da banda, mas basicamente uma playlist de rock que roda na plataforma Mixcloud e em umas 20 webradios no país.

2112. Agora com a liberação para eventos a banda tem projetos de cair na estrada?

Rodrigo. Já caímos. Não propriamente na estrada, mas nos palcos, em 12 shows, incluindo os dois últimos em importantes teatros de Porto Alegre, desde dezembro. Em maio e junho, tem mais uns cinco eventos agendados, E assim seguiremos, em festivais coletivos ou somente da Eletros.

2112. A banda já lançou 3 EP’s, participou de uma coletânea e produziu oito clipes. Vocês tem projeto para gravar um novo trabalho ainda este ano? O que os fãs podem esperar do novo trabalho?

Rodrigo. Sim, além do EP “Experiences’, que deve sair no segundo semestre, naquela proposta semi acústica, a Eletroacordes deve promover um novo clipe em duo com o músico Demétrius, para destacar o EP também. Ainda nos próximos dias dever ser lançado um doc em audiovisual “Schizo”, do qual assinei a trilha sonora, inspirada em um som da Eletroacordes, porém, com teclado e baixo fretless e alguma guitarra. Passando tudo isso, já tem dois sons na espera para serem executados na formação tradicional e retomar o bom e velho rock’n´roll. Já deu para perceber que sou inquieto, mas só assim, as coisas acontecem. E os fãs podem se preparar que serão surpreendidos.

2112. Porto Alegre tem muitos lugares para tocar? As rádios ajudam na divulgação das bandas? Como é a cena por aí?

Rodrigo. Porto Alegre segue a tendência das demais capitais de promover seus escolhidos. Aqui na ponta do Brasil, quase como uma província, tem seus preferidos e até com seu legado importante, porém, nem tanto favorável para o rock autoral. Existe uma profusão de bandas independentes e de boas propostas, mas ainda ‘sobrevivemos’ do rock de décadas passadas, e isso não renova a cena que, por consequência, segue estagnada. Sem apontar nomes, lembra aí quem são os expoentes do rock gaúcho? As rádios aqui são quase todas fechadas para o rock, ou então, rodando antigos ícones. Os bares promovem shows com bandas covers e/ou sertanejo e funk. Nada contra estes gêneros, que afinal, como músicos, sobrevivem como nós. Mas e aí? O que sobra para as centenas de bandas e artistas autorais? Junta tudo isso e reflete: como sobreviver com tanta adversidade?

2112. Entre as novas bandas quem vocês indicariam como fazendo um trabalho interessante?

Rodrigo. É um pecado essa pergunta, pois corro risco de deixar de fora muitas bandas legais. Cito algumas, do qual reproduzo no Acordes Elétricos, como Doris Encrenqueira, Dingo Bells, Pupilas Dilatadas, Cabeça de Lata, Youngs Die Young, Rivadavia, Matéria Plástica, Dall e nossa co-irmã Eletroválvulas, entre tantas. A Tequila Baby é antiga como Acústicos e Valvulados, TNT, Cascavelettes, mas tem seu valor por aqui.

2112. Há tempos idealizei o projeto "Leve um Amigo na Mochila" que consistia em uma banda conhecida convidar uma banda nova para fazer um pequeno set de abertura (três ou quatro músicas!). Infelizmente a ideia não vingou... Sem união fica muito difícil não é?

Rodrigo. Sim, no rock é cada um por sim, mas se houver trabalho coletivo, aí pode mudar. O êxito do movimento sertanejo que o diga. Pensava tempos atrás que não tinha jeito, até suplantar aquela ideia individualista das bandas, e não minha, de reforçar a cena pela forma coletiva. Daí ´produzi o “Cine Rock Show” com bandas executando ao vivo sons de seus clipes em telão e depois o “Rock para Todos os Gostos”, também em show coletivo com som autoral, cover nacional e internacional em um só momento, quebrando a hegemonia de apenas um ordenamento musical. E participei nos dois recentes shows de teatro que mencionei, apoiando o Festival Independente de Bandas de Rock Autoral (FIBRA) e a 1ª Mostra do Novo Rock Gaúcho agora em 2022. Então, não sei se era tesão recolhido das bandas após longa reclusão na pandemia, mas de fato, aconteceu.

2112. Que conselhos vocês dariam a quem está começando ou pensando em criar uma banda?

Rodrigo. Pé no chão. E um passo de cada vez, sem estrelismos ou pensar de imediato só em grana, ou então, sexo, drogas e rock´n’ roll. Fama e sucesso, então, no tempo certo, e se acontecer. Não vamos ser hipócritas em imaginar que as bandas não querem seu estrelato. Mas para isso, é preciso não se iludir e gastar tempo e dinheiro à toa. Para a Eletros, o que vale é fazer o registro de nosso som, repassar a mensagem das composições, e claro, ‘estar em movimento’. O resto é consequência. Se vier aplauso, tá ótimo. O reconhecimento, melhor ainda. Temos ambições, mas dentro de nosso tamanho e possibilidade. Então encaro assim. Se eu criar forte expectativa, o tombo será grande. Por enquanto, fico satisfeito com os EP’s e clipes lançados e os mais de 150 shows promovidos. E estou contente com isso.

2112. Qual o telefone/e-mail para contratação da banda ou aquisição de material de merchandising?

Rodrigo. Quem quiser conhecer a Eletroacordes, é só ‘googlar’ na internet e conhecer nossa trajetória. Seja pelo canal no YouTube, Instagram, Facebook ou Twitter ou plataformas no Spotify ou Deezer, estamos por lá. Para aquisição de material, entre em contato com eletroacordes@gmail.com pelo fone/whats 51 991321312.

2112. ... o microfone é seu!!!

Rodrigo. Sempre bacana dividir nosso trabalho em canais importantes como o 2112, que promove e divulga o rock e bandas como a Eletroacordes. Só gratidão. Espero repassar uma mensagem positiva para quem curte som, e mesmo que em algum momento a realidade mais crua venha desagradar, é necessário alertar para os percalços. Talvez não seríamos referência do que possa ser o ideal, mas buscamos contribuir para fomentar de verdade a cena independente. Se inscreva nos nossos canais e tire as conclusões.

Obs.: As fotos utilizadas foram todas cedidas pela banda e foram clicadas por Alexandre Oliveira, Lanes Osório e Marcelo Noronha.  

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