Um dos grandes compositores e instrumentistas do rock brasileiro, Maurício Barros enfim lança o seu primeiro álbum solo nas principais plataformas digitais. E o foco da entrevista é esse: conversar mais a fundo sobre esse projeto e de quebra as comemorações dos quarenta anos do primeiro álbum do Barão Vermelho.
2112. Assim como o Keith Richards você foi o último integrante do Barão a sair em carreira solo. Porque demorou tanto tempo para tomar essa decisão?
Maurício. De fato, demorou um pouco, já que a
ideia do trabalho solo já existia há alguns anos. Mas levou o tempo que tinha
que levar.
Estou feliz com o resultado.
2112. "Não Tá Fácil Pra Ninguém" traz apenas material inédito ou é um apanhado de composições suas de diversas épocas?
Maurício. Todo o material é inédito. As músicas foram compostas em épocas diferentes, algumas há mais tempo que outras. Mas finalizei o álbum esse ano.
2112. O título parece um grito de desabafo...
Maurício. É um grito de desabafo! Os últimos 2 anos foram muito difíceis. Ter que conviver com negocionismo e um governo federal que tomou decisões questionáveis no meio de uma pandemia, não foi fácil pra ninguém!
2112. Estamos vivendo tempos sombrios com esse vírus a solta pelas ruas do mundo. Como foi viver esses quase dois anos recluso sem poder fazer ou ir a shows, visitar os amigos ou mesmo ir ao bar tomar um choppinho? Isso serviu de inspiração para você compor alguma música?
Maurício. Pois é, complicado mesmo. O setor de shows foi o primeiro a parar, já que vive de aglomerações, e só agora, quase 2 anos depois, está voltando a alguma normalidade. Não foi um período de novas composições pra mim. Me concentrei em finalizar o disco e lançar. Acompanhei a mixagem de forma remota, por causa do isolamento social. Não é o ideal, mas funcionou.
2112. Muitas letras hoje vem carregadas de ódio o que só gera mais violência num mundo já dominado por ela. Aí eu te pergunto: Cadê os poetas? O que foi feito do amor?
Maurício. Os poetas estão aí, como sempre estiveram. Mas a mensagem talvez não esteja sendo ouvida. Os algoritmos fazem estragos enormes, fortalecendo diferenças nas redes sociais. Não sei onde isso vai dar, mas acredito no amor e no respeito ao próximo.
2112. ... e no fundo as pessoas só querem se divertir nos shows, não é?
Maurício. Apesar de ser entretenimento, a música, o teatro, enfim as artes em geral, tem um papel mais importante. É cultura, é informação. A obra de um artista reflete o tempo que ele está vivendo.
2112. Abra essa Porta é uma parceria com o grande músico e compositor Otto que também dividiu os vocais na gravação. Você incluiu outras parcerias no álbum?
Maurício. Tem parcerias com Arnaldo Antunes, Fausto Fawcett, Mauro Santa Cecília e outros. Mas participação no disco, apenas do Otto.
2112. Assisti o vídeo com você ao piano tocando essa música e ela ficou muito linda. Existe alguma música nesse formato incluída no álbum?
Maurício. Fiz aquele vídeo como parte da divulgação do álbum. Mas posso vir a fazer algo nesse formato no futuro.
2112. Fale um pouco sobre a idealização do projeto: arranjos, gravações, escolha do repertório e dos músicos. O que foi mais difícil?
Maurício. O mais difícil foi achar o meu som, a identidade do meu trabalho solo. Gosto de muita coisa, muitos estilos musicais. E trabalhei bastante pra buscar uma unidade, um conceito artístico pro disco. Escolhi músicos que admiro e gosto de trabalhar. O repertório inclui as músicas que, nesse momento, melhor representavam o que eu queria dizer. Esse trabalho é o resultado do meu amadurecimento como artista.
2112. Falando de músicos... quem tocou no álbum com você?
Maurício. Tem muita gente boa. O Maurício Negão (baixo, guitarra e violão) e o baterista Lourenço Monteiro, já tocaram comigo em alguns shows solo que fiz no passado. Eles gravaram em todas as músicas. Tem ainda o Dadi Carvalho que toca baixo em uma faixa. Tem também Marcelinho da Lua e Marcio Menescal, do BossaCuvaNova, que fizeram o groove de percussão na faixa que dá nome ao disco. O Gian Fabra, meu companheiro de Buana 4, tocou baixo numa música. E ainda contei com a participação do Fabrício Matos, Jongui, Gabriel Loddo, Ricardo Imperatore e Marcio Alencar.
2112. Você mesmo quem produziu, arranjou e dirigiu as gravações?
Maurício. Sim.
2112. Não Tá Fácil Pra Ninguém já está disponível nas plataformas. O feedback tem sido bacana?
Maurício. Ainda é muito recente, mas tem sido bem recebido. Colocar o disco ao alcance de todos, por si só, já é uma alegria!
2112. Há projetos para novos singles?
Maurício. Vou lançar o novo single ‘Como Você Está?’ em breve.
2112. O álbum terá lançamento em vinil, cd ou cassete?
Maurício. Por enquanto apenas nas plataformas digitais. Mas não descarto a hipótese de lançar em algum formato físico no futuro.
2112. A divulgação do álbum será apenas nas redes sociais, teremos alguma live ou você pretende montar uma banda para cair na estrada?
Maurício. O momento é de lançamento e divulgação do álbum. O próximo passo é preparar o show com essas músicas e outras de minha autoria, que foram gravadas com o Barão Vermelho e outros artistas.
2112. O que as pessoas e os próprios fãs do Barão Vermelho podem esperar do álbum? Blues, rock...
Maurício. Tem algo de blues, tem algo de rock, mas tem uma pegada pop. Na música que abre o disco, tem um solo de piano elétrico distorcido. Em outra tem uma batida de maracatu. Tem uma sonoridade atual.
2112. Você é de ficar procurando novidades nas rádios, plataformas digitais ou você é mais vintage? O que tem despertado sua curiosidade em termos de música brasileira?
Maurício. Não sou de ficar ouvindo apenas músicas do passado. Me interesso pelo que está sendo feito agora. Gostei muito do ‘Delta Estácio Blues’ da Juçara Marçal e do disco do Chico Chico ‘Pomares’. Sem esquecer do ‘Meu Coco’ do Caetano que é ótimo!
2112. Uma mera curiosidade: qual álbum ou banda despertou em você o desejo de ser músico?
Maurício. Desde pequeno quis ser músico. Mas decidi ser tecladista quando vi o show do Rick Wakemann. Curtia muito Elton John, bandas de rock progressivo, os pianistas de blues e rock.Led Zeppelin, Raul Seixas e Mutantes também.
2112. Você esteve um tempo fora do Barão Vermelho. O que te levou a sair da banda, o que te trouxe de volta e o que você fez nesse hiato de tempo?
Maurício. Na época do “Rock’n’Geral”, não entrou nenhuma música de minha autoria no disco. Fiquei desestimulado e depois da turnê, decidi deixar o grupo. Montei o Buana 4, que poucos anos depois acabou. Na turnê comemorativa de 10 anos do Barão, fui convidado pra participar. Segui tocando e compondo com o grupo. A partir de 2001 estive compondo e tocando com o Frejat, além de produzir seus discos. Em 2017, quando a banda seria reunida novamente, o Frejat seguiu carreira solo e decidi voltar ao grupo. Voltamos pra estada e em 2019 lançamos o disco VIVA produzido por mim.
2112. Falando em Barão a banda também tem projetos de lançar disco novo e sair em turnê? Você poderia adiantar alguma coisa nesse sentido?
Maurício. Em 2022 vamos comemorar 40 anos do lançamento do primeiro disco! A ideia é uma turnê comemorativa e brindar nossos fãs com novidades!
2112. ... o microfone é seu!
Maurício. Vacinem-se!
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