O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Entrevista Dora Fiore

2112. Você começou ainda criança estudando piano clássico. Como foi esses primeiros anos? Você ouvia apenas música erudita ou era bem eclética?

Dora. Comecei quando ainda não era nem alfabetizada. As notas eu lia por símbolos. Ex: o sol era um sol, um mi era um gatinho, o fá era uma faca haha. Com seis anos comecei a aprender as notas musicais na pauta em clave de sol e depois em clave de fá. Gosto de música erudita, mas já não escuto mais, exceto ao vivo quando tenho oportunidade.

2112. Entre os compositores eruditos quem você gostava mais e ainda hoje escuta?

Dora. Meus compositores favoritos eram Mozart e Bach.

2112. Na adolescência você estudou na conceituada Fundação das Artes São Caetano do Sul orientada mais para o jazz. Foi nesse período que você conheceu o contra baixo?

Dora. Não. Na fundação ainda estudava piano. Estudei muita harmonia e nas aulas práticas estudava piano, voltado mais para MPB e Jazz. Mas já corria em minhas veias a preferência pelo rock and roll, o que não era muito bem visto pelos mestres da Fundação das Artes.

2112. Você sentiu muita diferença ao sair do clássico para o jazz que é um estilo de música mais aberta e intuitiva?

Dora. Na verdade não cheguei a tocar muito jazz, digamos que eu saí do clássico para o rock e sim, muita diferença.

2112. O que mais te influenciou na decisão de trocar o piano pelo baixo? Foi um álbum, um músico... o que realmente aconteceu?

Dora. Fui praticamente obrigada a pegar o baixo quando em um show agendado o baixista não podia comparecer e aí me apaixonei.

2112. Quem são os seus mestres do instrumento? Tem alguém em especial?

Dora. Bem meus mestres foram Jaco Pastorius e Ron Carter, além de meu irmão Edu Fiore, já falecido, que era um gênio.

2112. E como foi o que o blues chegou até você?

Dora. Entre 1978 e 1980me apaixonei pela MPB, e minha influência além do rock foi esta. Vim conhecer o blues de fato em 1980. Não preciso nem dizer que me apaixonei pelo estilo quando paralelamente conheci o guitarrista Tito Matos e formamos a Bang Blues Band, banda na qual eu tocava piano e cantava. Tínhamos um baixista Pascoal Assunção e chamamos o vocalista Nelson Prado porque minha voz não era para cantar blues. E passei a fazer os vocais apenas. Nesta época tínhamos um show que seria um dos primeiros, mas o baixista não poderia comparecer, então eu comprei um baixo e passei a tocar este instrumento pelo qual me apaixonei.

2112. Sem querer desmerecer ninguém... mas tenho Muddy Waters como minha maior referência do blues. E você?

Dora. Amo Albert Collins e Albert King. Para mim são os maiores do blues.

2112. Sei que é uma pergunta quase impossível de responder mas existe um álbum em particular que mudou a sua visão musical?

Dora. Olha Steely & Dan especialmente Do It Again, que não é bem blues, mas foi me direcionando para este estilo.

2112. Em 1980 você se junta novamente a Nelson Prado Junior, vocais e Tito Matos, guitarra para formarem o Dr. Blues numa época que o movimento BRock dominava as paradas de sucesso. O que levou vocês a remarem contra a maré?

Dora. O gosto musical em comum pelo membros da banda, que era o blues. Foi uma coisa natural e nos ensaios os temas fluíam muito bem, além de também criarmos composições próprias em português, o que nos diferenciava bastante das outras poucas bandas de blues da época.

2112. O grupo era direcionado mais para o blues rock ou para o blues raiz?

Dora. Mais para o blues elétrico e mais moderno do estilo Buddy Guy, Albert Collins, BB King, entre outros mais contemporâneos.

2112. E como era o cenário naquele período para quem tocava blues? Que eu me lembre havia apenas o Ave de Veludo e outras raríssimas bandas do estilo, não é?

Dora. Olha por incrível que pareça, acho que começamos a ter uma abertura maior por volta de 1988, quando começaram a ser criados projetos em teatros e prefeituras, pelos SESC e bares também voltados para as bandas de blues. Antes disso somente em poucos teatros, onde tocávamos pela bilheteria tínhamos que fazer a divulgação. Fazíamos o famoso lambe lambe. E era até divertido.

2112. Existe gravações desse período?

Dora. Sim no YouTube você poderá encontrar: DR. Blues + IM Good, tem que digitar assim para possam encontrar nossa banda. Temos gravações de vídeo (Super 8) em teatros e outros espaços, inclusive com a participação de Danny Vincent na guitarra (espetacular) e Ivan Márcio na gaita.

2112. O Dr Blues surgiu num período em que bandas como RPM, Zero, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso etc lotavam estádios e teatros. Era muito difícil conseguir shows de blues nesse período? O que os donos de bares ou promoters diziam quando vocês procuravam lugares para tocar?

Dora. Bem praticamente eu respondi na pergunta anterior mas acho que nesta época tínhamos mais abertura do que agora. Nesta época também houve um boon do blues em casas alternativas como Blues Note, Jazz and Blues em santo André, Red Onion em Santo André. O Dr. Blues tocou por quatro anos consecutivos no Persona no Bixiga, a casa lotava.

2112. .... houve momentos que vocês pensaram em parar ou mudar de direção musical para alcançar um lugar ao sol? Afinal músicos também tem contas para pagar, não é?

Dora. Nós nunca pensamos em alterar nosso estilo, nem para sobreviver. Eu, o Nelsinho e o Tito temos outros trabalhos que nos deixam a vontade para fazer nossa música, sem pensar em ganhar dinheiro. Só não queremos ter prejuízo, então sempre tem que ter um cachê certo? kkkkkk

2112. E quando foi e os motivos que levou vocês a dissolverem o Dr. Blues?

Dora. Não dissolvemos a banda. Apenas o Nelsinho se mudou para outra cidade, mas sempre que podemos nos reunimos pata tocar. Diria tipo Rolling Stones kkkkkkk.

2112. Foi após o fim da banda que você entrou para a Metalurgia do mestre Bocato?

Dora. Não este trabalho foi paralelo. Em 1983 o Bocato resolveu colocar vocais e inclusive mudou o nome da banda, eu apenas cantava nesta época, meu irmão Edu Fiore era o baixista da banda nesta época e fazia alguns temas em parceria com o Bocato. Gravamos muito ao vivo na Fábrica do Som, cujo tema de abertura era da Metaurgia. Também disponível no YouTube. Quem puder assista procurem por Monga, a mulher macaco.

2112. Hoje você trabalha solo participando de shows e gravações de amigos e criou uma nova banda. Fale um pouco sobre a banda e como ela foi criada?

Dora. Não recuso convites para tocar, desde que me agrade o estilo. Acho que a música brasileira é muito rica e é preciso expandir horizontes para crescer musicalmente. Toquei com nossa querida Telma Lovato que é blues e atualmente estamos fazendo um trabalho autoral o com compositor, cantor e instrumentista Randal Mello. Fizemos um ensaio ao vivo no Programa Balako Cast na TV Vox (YouTube) no último dia 29 de julho. A Balaio do Bako, onde mesclamos ritmos e harmonias bem brasileiras e contamos com a participação do Dom Dimas, percussionista de primeira que também é da mesma formação da época da Metalurgia.

2112. Os integrantes são fixos ou variam de show para show?

Dora. A base é fixa, sempre eu, Dom Dimas e Randal quando o cachê permite chamamos mais convidados. Assim como na Dr. Blues: Eu, Nelsinho e Tito.

2112. No blues é muito comum bandas fazerem apoio para outros músicos ou cantores que não possuem bandas fixas. Você também atua nesse segmento?

Dora. Como eu disse não recuso convite para tocar, especialmente se for blues como foi no caso com a Telma Lovato. Sim, quando tenho esta oportunidade abraço sem pensar duas vezes. Mas este tipo de trabalho é mais difícil aparecer para mim, por conta de estar atualmente um pouco afastada do circuito.

2112. Vocês compõem material próprio ou tocam apenas os standards do blues?

Dora. As duas coisas. Temos composições próprias que geralmente são em português e retratam o cotidiano da cidade grande. Temos Apedrejados no Trem, Blues Noturno, Agentes da Lei, Fumaça e Solidão, A Ratazana Lali, a maioria são composições minha e do Tito Matos.

2112. Vocês aceitam pedidos nos shows? Quais são as mais pedidas?

Dora. Olha geralmente temos o set list, mas se fizerem pedidos que possamos tocar e for blues, porque não? Tocamos Harlen Shufle por exemplo que nosso público gosta muito, mas gostamos de tocar blues que não são próprios, um pouco menos conhecidos.

2112. Qual o telefone/e-mail para contratar vocês?

Dora. (11) 99741 0870, IG fiore.dora, Facebook: Dora Fiore, email: dora fiore@uol.com.br

2112. ... o microfone é seu!

Dora. Agradeço muito o convite para esta entrevista. Acredito que sempre que possível divulgar o trabalho dos músicos e bandas é muito válido. Nós músicos, sempre precisamos de apoio e ajuda de todos os canais de comunicação e do público em geral. Abraços a todos e continuem prestigiando o blues.

 
Obs.: Todas as fotos foram retiradas do Facebook da baixista e apenas os nomes de Billy Albuquerque e Debora Bolzan são citados nas fotos como créditos.

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