Marcos Valle é um dos maiores nomes da MPB e aqui nesta
entrevista exclusiva ao Blog 2112 ele nos conta sobre o lançamento do dvd Live
At Birdlland em parceria com a cantora Stacey Kent. Valle nos conta desde os
primeiros preparativos até o resultado final do projeto além de falar sobre a
descoberta de sua música pela nova geração, sobre os novos nomes que estão
surgindo e transformando a MPB. Um momento mágico na companhia de um grande artista
e também um homem simples voltado para novas experiências musicais e novas
parcerias.
2112. Live At Birdland é um belo trabalho
com grandes canções e músicos maravilhosos. Como surgiu a idéia do show e a
participação de Stacey Kent no projeto? Você já a conhecia?
Marcos Valle. A idéia surgiu primeiro porque houve
uma comemoração do aniversário do Cristo Redentor e resolveram então fazer um
grande show com vários artistas. E resolveram juntar um artista brasileiro que
seria eu com uma atração internacional que seria Stacey Kent pra cantar uma
música minha chamada Samba de Verão que tem letra do meu irmão Paulo Sérgio. E
como é uma música conhecida no mundo inteiro seria uma maneira de fazer essa
junção desses dois artistas. Então ali eu fiz a primeira apresentação com
ela... foi ali que ela pode me dizer o quanto era fã da minha música, eu não
sabia e eu pude dizer pra ela como eu tinha gostado do trabalho dela, como eu
tinha conhecido e tal. Então, nesse mesmo dia tivemos um encontro, primeiro na
minha casa e eu e minha mulher e ela e o marido dela ficamos muito ligados e
parecíamos que já nos conhecíamos a muito tempo e ficamos com a idéia de fazer
alguma coisa mais pela frente. E aí surgiu a oportunidade um pouco depois deu
fazer um show no Rio de Janeiro com a participação de algum artista e eu e a
minha mulher pensamos exatamente na Stacey, ver se havia uma possibilidade dela
fazer isso comigo e então resolvemos fazer este show na Miranda que é uma casa
que não existe mais aqui no Rio de Janeiro só com músicas minhas e que foi uma
idéia minha e dela. Ela também quis fazer isso e assim foi que surgiu a idéia
desse show.
2112. Como foi feita a escolha do
repertório?
Marcos Valle. Foi conversando com a Stacey porque
como eu já disse ela já conhecia o meu trabalho, já conhecia discos que eu
tinha gravado e tal. Eu queria ver o que ela mais se identificava com o meu
repertório e isso era uma primeira idéia de fazer o que ela gostasse. Segundo,
o que tinha a letra em inglês também porque a idéia era botar música minhas já
conhecidas. E terceiro queria colocar músicas novas e botar algo para ela
cantar em francês. Eu já estava com a idéia quase certa que estaria comemorando
meus cinquenta anos de carreira porque estava coincidindo. Muito bem, aí então
foi assim de comum acordo entre eu e ela e escolhemos aquelas músicas que tinha
letras em inglês e algumas músicas que ela queria cantar, outras escolhemos
algo em português, fiz músicas novas pra ela cantar e uma música em francês que
eu tinha chamada La Petite Valse que não tinha letra e que acabamos botando uma
letra em francês do letrista que já costumava fazer as coisas pra ela em
francês.
2112. Você mesmo escolhe os músicos?
Marcos Valle. Sim, eu me baseio nos músicos que já
tocam comigo, na minha banda a muito tempo. Então a idéia seria eu no piano
acústico, embora também eu use um Fender Roads mas nesse acaso eu achava que
nessa linguagem que seria entre o jazz, a bossa e o groove o piano acústico
seria melhor. Na bateria ficou o Rento Massa, Alberto Continentino, o Jim
Tomlinson que é marido dela que toca saxofone e além disso o Jesse Sadoc,
trumpet, o Marcelo Martins no saxofone, o Aldir Vaisares no trombone e resolvi
também botar um violão... neste caso botei o Luiz Brasil porque eu queria que
tivesse aquele clima também da bossa em algumas coisas para eu poder ficar mais
solto no piano. Então a escolha foi feita dessa maneira!
2112. O Birdland é considerado um dos
templos do Jazz o que deve ter tornado este show especial para você. Foi sua a
idéia de gravação do dvd?
Marcos Valle. O Birdland eu já vinha me
apresentando a muitos anos. Todo ano eu toco e a Stacey também por coincidência...
cada um faz o seu show. E logicamente é uma casa como você disse, um dos
templos do jazz e como eu já tinha tocado lá várias vezes pensamos exatamente
da gravação do dvd porque a gente já conhecia a casa, sabia do como era o
ambiente, como o som seria e a importância musical da casa então isso tudo nos levou
a pensar em fazer a gravação ali. Logicamente consultamos o dono da casa, o
Diane e ele adorou a idéia e assim nós fizemos uma montagem perfeita de câmera,
de tudo pra fazer a gravação e a filmagem lá dentro.
2112. O que você achou do resultado final?
Marcos Valle. Eu achei o resultado final melhor que
eu imaginava porque eu sabia que o
shows tinha saído muito, muito bonito não tenha dúvida, que a atuação no palco
tinha sido ótima pra gente. Mas a gente nunca sabe né, do resultado de câmera,
de capitação de voz, de som, de tudo... E quando eu vi a montagem final foi
muito bonito realmente, tanto a parte de câmera, como a parte de som ficou
muito bonito e mais isso junto também com a parte de entrevista o que ela
falou, o que eu falei, o que o Charles Gavan também participou com a minha
mulher nessa parte de documentário e tal, foi feito no Japão e depois em Nova
York então tanto a parte de palco como a parte de entrevistas ficou tudo muito
bem cuidado, foi tudo feito com muito carinho e realmente tanto eu como a
Stacey Kent a gente realmente ficou muito feliz com a resultado final.
2112. A nossa MPB mais clássica tem sido
redescoberta por uma nova geração o que tem levado as gravadoras a relançarem
trabalhos a muito esquecidos. Em sua opinião o que levou essa mudança?
Marcos Valle. Eu acho o seguinte, houve uma época
que a música brasileira ficou muito dependente das rádios, das gravadoras, dos
caminhos indicados pelo mercado, pelas músicas mais comerciais e isso tudo
levou a música pra uma outra direção. E essas músicas comerciais elas venderam
muito uma época e naquele momento a música brasileira ela perdeu seu rumo
digamos assim de cultura, ela partiu para um lado de mercado, né? Mas acontece
que isso passou e de repente parece que o próprio público cansou disso aí e as
gravadoras não tendo mais venda desses discos fora que também pelo próprio
mercado mudou tudo com a vinda do digital. Hoje em dia cd, dvd tem uma venda
limitada, quer dizer, você depende muito também da parte digital e isso tudo
tirou a grande importância que você tinha das grandes gravadoras. Então as
pessoas puderam cada vez mais fazer seus trabalhos independentes e as grandes
gravadoras que tinham esses discos no seu catálogo de vários artistas como o meu,
como do Edu, como do Dori e de vários artistas eles começaram a ver que
realmente que aquilo era um certo tesouro que eles tinham lá e que havia um
público querendo comprar e principalmente querendo ter um relançamento com nova
masterização e então eles começaram a mergulhar no que eles tinham e começou a
vender muito bem. O público realmente começou a procurar isso de uma maneira
muito grande e foi ótimo logicamente pros artistas daquela época e muito bom
pra música que pode trazer para uma nova geração aquilo que eles não estavam
ouvindo até então.
2112. Depois de trabalhar com grandes
nomes da MPB a nova geração como Marcelo Camelo, Céu, Crioulo... ainda te
empolga?
Marcos Valle. Sempre me empolga! O que eu
trabalhei, o que eu fiz com pessoas desde o início da minha carreira passando
por diversas gerações, diversas culturas do Brasil e fora do Brasil até os mais
recentes como você falou Marcelo Camelo, Céu, isso tudo me empolga sim e
continua me empolgando porque eu tô sempre muito querendo ouvir coisas novas.
Não que eu fique em busca disso mas eu fico preparado para ouvir. Quando eu
ouço alguma coisa no rádio ou mesmo alguém que me mostrou ou trouxe na minha
casa eu fico vendo o que que eu gosto né? Não que eu goste de tudo, mas tem
muita coisa ainda a gostar nessas gerações novas. Sempre tem gente boa fazendo
coisas novas e que hoje tem muito mais chance de mostrar o trabalho deles na
internet sem depender de gravadoras tal... Então eu continuo me empolgando e o
que me empolga também sempre é uma parceria nova, gosto muito disso. Eu sou
estimulado por isso... coisas novas, parcerias novas, shows novos. Isso é muito
bom pra mim e da mesma maneira que eu sei que é bom para a pessoa que chega e
que gosta da minha música. Eu continuo a me empolgar muito por cada coisa nova
que eu ouço e por cada coisa nova que eu faço.
2112. O que você gosta de ouvir quando
está em casa?
Marcos Valle. Depende! Eu ouço desde coisas que eu
gosto como Dorival Caymi, Tom Jobim, Edu... eu vou ouvir um Ray Charles, eu vou
ouvir Sinatra, eu vou ouvir música clássica Sattir, Ravel, Debussy; eu vou
ouvir coisas mais recentes, novas, ouvir Gal, Céu, Marcelo Camelo... depende do
momento que eu tô em casa. Eu ouço muita coisa no carro e as vezes eu procura
nas rádios mais pop o que tá rolando de novidade, as vezes eu mergulho no
Jornal do Brasil para ouvir coisas mais calmas. Sinceramente depende do momento.
Mas eu ouço de tudo desde as coisas que me estimularam no início até as coisas
que podem me estimular no presente.
2112. Algum recado para a nova geração que está descobrindo sua música e mesmo para os músicos que estão começando agora?
Marcos Valle. Para essa geração que está
descobrindo a minha música agora o recado em primeiro lugar é que isso me traz
um estímulo muito grande, fico muito feliz com isso acho que quando você passa
sua música para uma outra geração é aí que a sua música continua, não adianta
você ficar apenas se comunicando com a sua geração. Acho isso ótimo conseguir
transferir para outras gerações, é um presente pro compositor. E o recado que
eu posso dizer é que procure aos poucos conhecer tudo o que eu fiz porque
logicamente depende de cada um... as vezes cada um é atraído por uma música, um
disco, um show e dali ele pode caminhar pras outras que eu fiz. Logicamente eu
já estou com 53 anos de carreira e nem sei quantos discos eu gravei... quase
trinta. Então as vezes uma pessoa é atraído pelo disco Garra, mas ele pode
depois chegar ao Viola Enluarada ou vice versa. Quer dizer, eu fico esperando
as pessoas que gosta de mim e pouco a pouco ele tenha o conhecimento de tudo o
que eu fiz.
E para quem tá começando agora e tem muita gente boa, de
talento, que acredite mesmo no que está fazendo, lógico que tem coisas melhores
e piores da época que eu comecei. Quando eu comecei havia mais espaço, as
rádios tocavam mais as músicas que a gente fazia sem pensar em muita coisa
comercial, mas por outro lado o momento passou dessa coisa tão comercial e eu
acho que também existe um espaço pra outro tipo de música por causa exatamente
da coisa digital, dos estúdios que você pode fazer em casa tal, gravações
caseiras, formar um público teu sem depender das gravadoras. Então tem muita
gente de valor que eu acho que tem que acreditar e seguir no seu caminho. É
difícil financeiramente eu sei né, como é que vai se manter, mas de repente a pessoa
pode até fazer duas coisa ao mesmo tempo... ela tá estudando, segue seu lance,
ter um trabalho fixo mas ao mesmo tempo segue a sua música. Você tem que
insistir e uma dia você chega a conclusão que não insistiu, não tentou tudo e que
poderia ter tentado aí você vai ficar frustrado. Agora, se você tentou e não
consegui você sabe que tentou. Então o meu conselho é esse, acredite em você e siga,
tente ao máximo o que você puder.
Live At Birdland - New
York City: Abertura
/ Intro - The White Puma (Puma branco)/ The Face I Love (Seu encanto) / The Answer (A Resposta) / Drift Away / My
Nightgale / Amando demais / So Nice (Samba de Verão) / Gente / Passa por mim /
La Petite Valse / Look Who’s Mine (Dia de Vitória) / Batucada (Baturcado
surgiu) / If You Went Away (Preciso aprender a ser só) / Pigmalião 70 / Crickets
Sing For Anamaria (Os grilos) / She Told Me, She Told Me (Sonho de Lugar).
Nota: Eis o DVD que deu origem a esta entrevista... A muito que a MPB merecia um concerto deste nível recheado de músicas que marcou toda uma geração com músicos de alto gabarito e uma plateia impressionada com a presença mágica de Marcos Valle e da cantora Stacey Kent. Uma noite incrível, perfeita e se existe uma classificação para este concerto é cool!
Outros tesouros:
Ensaio: Nova Bossa Nova / Sonho de Maria /
Samba de Verão / Preciso aprender a ser só / Meu herói / Viola enluarada /
Terra de ninguém / Gente / Mustang cor de sangue / Com mais de 30 / Black is
beautiful / Azimuth (Mil milhas) / Pigmalião 70 / O cafona / Quarentão
simpático (Renatão) / Alegria da vida / Cinto de inutilidade / Um novo tempo /
Escape (Para de fazer besteira) / Moshi, Moshi
Nota: Este programa foi exibido pela TV
Cultura nos anos 70 e até o seu lançamento em DVD não foi mais exibido. A set
list apresenta os grandes sucessos de Valle numa performance incrível e
intimista que deixa qualquer fã do cantor feliz diante desta performance
incrível. Histórico!
Homenagem a Marcos Valle (Som Brasil): Samba de verão / Gente / Viola enluarada / Black is beautiful / Mentira / Que bandeira / Mustang cor de sangue / Os grilos / Preciso aprender a ser só / Estrelar / Capitão de indústria / A Paraíba não é Chicago (Baby don’t stop me) / Com mais de 30 / Azimuth (Mil milhas)
Nota: A Rede Globo de vez em quanto acerta
a mão em sua pálida programação como esta série do Som Brasil dedicada aos
grandes nomes da MPB. E neste volume Marcos Valle recebe a participação de uma nova
geração de admiradores da sua música como Tulipa Ruiz, Jair Oliveira e Monique
Kessous que se derretem diante do ídolo que também se emociona diante de seus
discípulos.
Conecta (Ao vivo no Cinemathéque): Selva de Pedra / Jet Samba / Valeu / On line / Garra / Wanda Vidal / Brasil X México / Água de coco / Próton, Elétron, Nêutron / Nem paletó, nem gravata / Mentira / Batucada surgiu / Cara valente / Samba de verão / Nem paletó, nem gravata - O vencedor / Dragão / Boa hora / Homem ao mar / Estrelar / Não tem nada não / Sincerely hot – O cafona / Os grilos / Lost in Tokio Subway
Nota: Marcos Valle sempre foi um
cantor/compositor/instrumentista com um pé no passado e os olhos no futuro.
Este show gravado no Cinemathéque é a prova desta verdade quando Marcos se une
a Alberto Contimentino, aos Dj’s Plínio Profeta e Nado Leal; Marcelo Camelo
(ex-Los Hermanos), Fino Coletivo, +2, Palmeira e Mauro Bermam para produzir este
belo espetáculo.
Coleção Bossa Nova -
Marcos Valle (Livreto/CD):
Gente / Ainda mais lindo / Preciso aprender a ser só / Seu encanto / Passa por
mim / Samba de verão / A resposta / Deus brasileiro / Terra de ninguém / Viola
enluarada / Ao amigo Tom / Não tem nada, não / Vem / Próton, Elétron, Nêutron /
Os grilos
Nota: Verdade seja dita... pouco ou nada
se lança ou lançou (alguns itens raros estão a anos a espera de um relançamento!)
sobre a história da música brasileira e seus heróis. Este precioso livreto contendo
um pouco da história deste grande músico e compositor é um verdadeiro achado
num país sem memória e que a cada dia se rende mais a imbecilidade. Junto ao
libreto um cd com vários hits do compositor. Vale a pena a aquisição pois conhecimento
nunca é demais!
Querem um conselho? Vasculhem sites de sua confiança e adquira estas preciosidades antes
que saiam de catálogo e você tenha que pagar uma fortuna em algum sebo.
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