O bom de ter um blog é poder entrevistar
bandas e músicos que você muito admira e ouve seus trabalhos com total admiração!
Desde a primeira vez que ouvi o Violeta de Outono (um EP com três faixas lançado
pelo selo Wop Bop!) sabia que estava diante de uma das melhores bandas do
planeta e uma das quais mais ouço. Fazer esta entrevista foi um sonho
conquistado como a do Beto Guedes.
2112. Ano passado vocês lançaram Spaces após quatro anos
de ausência. Porque levou tanto tempo para gravarem e o que motivou a volta da
banda?
Fábio Golfetti. As músicas do álbum Spaces começaram a tomar forma logo após o lançamento do CD Espectro. Considerando que o primeiro
álbum da trilogia, o CD Volume 7,
foi seguido pelo álbum Espectro também lançado 5 anos depois, isso indica que o
tempo que essa banda precisa para absorver e promover um disco mais complexo é
maior. A banda nunca parou, e nesses últimos 10 anos está em atividade
contínua. A formação desde 2010 é Fabio Golfetti, Gabriel Costa, José Luiz
Dinóla e Fernando Cardoso. O trio original dos anos 1980 é Fabio Golfetti,
Angelo Pastorello e Claudio Souza.
2112. Como foram os dias em estúdio? Vocês ficaram
satisfeitos com o resultado final?
Fábio Golfetti. Absolutamente, o álbum Spaces é uma continuação e resumo dos
dois álbuns anteriores. Para isso, elaboramos o conceito do álbum com muitos
ensaios e ideias, utilizamos o melhor estúdio dentro do nosso alcance, o
estúdio MOSH, do Oswaldo Malagutti Jr., com o engenheiro Alex Angeloni, que
gravou o Volume 7 e o Espectro, e a melhor masterização
possível, com o engenheiro de som Andy Jackson, do Pink Floyd, e o resultado
foi o melhor que já obtivemos em qualquer gravação anterior. Em termos de
composições, também acredito que chegamos a uma síntese dessa segunda fase do
Violeta de Outono.
2112. Tecnicamente olhando o resultado final vocês acham
que conseguiram captar a dinâmica sonora dos shows?
Fábio Gofetti. Não necessariamente, pois este álbum foi
gravado de forma diferente dos outros, não foi gravado ao vivo, foram
aproveitadas gravações de demos, foi gravado e mixado totalmente digital, em
resumo, quebrou alguns paradigmas do Violeta de Outono em estúdio. A
banda sempre gravou seus álbuns de modo ao vivo no estúdio, para reproduzir o que
era capaz de fazer ao vivo, mas o para este a conceito mudou e gravamos
separadamente.
2112. Como é o processo de composição da banda? É um
processo individual ou todos dão opinião?
Fábio Golfetti. Nesse álbum tivemos composições coletivas,
como “Imagens”, onde cada integrante trouxe alguma parte e foi se desenvolvendo
nos ensaios; outras foram ideias individuais com sugestões de todos os
integrantes, até a mais complexa, “Cidade Extinta” que foi escrita pelo
Fernando Cardoso, compasso por compasso.
2112. Dos trabalhos gravado pela banda qual você mais
gosta?
Fábio Golfetti. Não tenho um preferido pois são duas bandas
praticamente distintas, mas para mim esses seriam os meus favoritos
Violeta de Outono EP (1986)
Violeta de Outono (1987)
Volume 7 (2007)
Spaces (2016)
2112. É difícil montar a set list de um show? Quais
músicas nunca podem faltar senão os fãs reclamam?
Fábio Golfetti. Sim, é difícil. Para mim, essa formação atual
toca melhor o repertório que foi composto a partir do Volume 7, e o trio original toca melhor os primeiros discos. Não
é uma questão técnica, mas sim uma característica do rock, que sempre é melhor
quando tocado pelo seu próprio compositor. Nos shows atuais, incluímos algumas
faixas antigas, no bis. Para satisfazer os fãs antigos, estamos programando
fazer uma reunião de 30 anos do trio original para um show comemorativo e
também relançar os dois primeiros álbuns.
2112. Quais são suas maiores influências?
Fábio Golfetti. O rock/jazz do final dos anos 1960 início de
1970, free-jazz, música contemporânea e eletrônica. Como guitarrista, as
influências são Steve Hillage, Syd Barrett, Terje Rypdal.
2112. O que você gosta de ouvir quando está em casa ou
você prefere o silêncio?
Fábio Golfetti. As duas coisas, quando estou produzindo,
gravando, escuto gravações que me inspiram na produção como referências, gosto
de ouvir som no carro que é diferente do que os fones de ouvido. Pelo menos uma
vez por ano ouço a discografia completa do Led Zeppelin.
2112. Das novas bandas surgidas no atual cenário quem
você destacaria?
Fábio Golfetti. Existe uma infinidade de novas bandas em
diversos gêneros, algumas brasileiras seguindo caminhos experimentais. Tenho
ouvido recentemente Cary Grace, cantora/synthesist que tem um trabalho com
sonoridade space rock gothic, e Magic Bus, uma banda inglesa na linha do
Canterbury sound. Das brasileiras, estou ouvindo muito o Dialeto, que não é
nova, mas está lançando um disco novo reinterpretando Bela Bartok com a
participação nada menos do que do David Cross, o lendário violinista do King
Crimson.
2112. Existe pessoas que dizem que o rock nacional não
tem a mesma qualidade das bandas gringas. Qual a sua opinião e o você diria
para estas pessoas?
Fábio Golfetti. Para mim isso não existe, a única diferença é
geográfica. No caso, a Inglaterra produz a música rock que permeia o universo
musical internacional há mais de 50 anos e qualquer coisa produzida lá se
propaga de uma forma muito maior do que qualquer outro país no planeta. Porém é
um mercado extremamente competitivo, um artista inglês também tem que se
destacar de outro.
2112. O mundo foi tomado de assalto pela distribuição
dos arquivos digitais na net. Você é contra ou a favor dos arquivos MP3’s?
Fábio Golfetti. Sou a favor, apesar de que diminuiu a venda
de discos, consequentemente os artistas recebem menos dinheiro por disco
vendido, mas isso é uma evolução, a qualidade sonora é superior, você pode se
autoproduzir, então estimula o artista a se superar e evoluir.
Meu
formato predileto é o CD, pela praticidade e também por manter a integridade do
conceito de um álbum. O MP3 é prático para se ouvir música em qualquer lugar. O
vinil é legal pois tem o ritual de ouvir 20 min, parar e virar o disco.
Mais
legal é reunir amigos e ficar ouvindo e comentando discos, mas isso pode ser
com vinil, CD ou MP3. Não vejo um problema na distribuição digital, vejo
problema em quem consome.
2112. Quando você lê ou alguém diz que o Violeta de Outono é uma cult band o que você pensa a respeito disso?
Fábio Golfetti. Acho divertido, mas na verdade isso foi uma
“conquista” inconsciente/consciente. O trio original não queria vender sua
imagem como “sabão em pó”, como era a vontade das grandes gravadoras dos anos
1980. A banda se recusava a participar de certos programas de TV, só ia em
programas ao vivo, usava roupas normais, sem a fantasia da época, criou e
tocava um som tão simples como punk rock, porém acrescentando nuances
viajantes. Isso conquistou um público e músicos aspirantes que perceberam como
podia ser simples e fácil começar uma banda. Qualquer um poderia tocar como o
Violeta de Outono.
2112. Algum recado?
Fábio Golfetti. Agradeço a oportunidade de entrevista e o
espaço para divulgar um pouco da nossa trajetória, em nome do Violeta de
Outono.
E-mail: fabio.golfetti@gmail.com
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