É com muito orgulho que apresento
esta entrevista com Luiz Carlos Calanca, dono do lendário selo Baratos Afins
que acreditou no rock brasileiro numa época em que as nossas queridas “majors”
pouco se lixavam para o que estava verdadeiramente acontecendo no cenário
rocker. Foram realizados grandes discos como SP Metal I & II, Não São Paulo
e mesmo lançando nomes de peso como Arnaldo Baptista, Lanny Gordin, Coke Luxe,
Harpia, Serguei, Golpe de Estado, Patrulha do Espaço etc. Hoje se as bandas tem
mais liberdade de expressão este cara é um dos responsáveis...
2112. Como surgiu a idéia de
transformar a sua loja de discos em um selo independente?
Luiz Carlos Calanca. Eu a princípio tinha pensado em
fazer alguns relançamentos de discos que eram raros e que considerávamos
importantes. Então eu procurei o Arnaldo Baptista para fazer uma
reedição do álbum Loki, mas ele estava fazendo o segundo álbum que era o
Singin Alone, depois do acidente ele ficou impossibilitado de terminar e ele
quem me procurou para concluir o trabalho e eu aceitei fazer. Submetemos o
disco a censura federal e mudamos nossa razão social para poder fazer o disco
na legislação vigente daquela época, e ai não teve mais sentido parar.
2112. Você tinha experiência em
gravação/produção ou você se atirou no escuro com a cara e a coragem? ,
LCC. Eu já fui de banda, era
discotecário ( DJ ), fazia bailinhos e cuidava do som e luz, a partir de meu
terceiro álbum, acabei me enfurnando em estúdios e não parei mais.
2112. Como é o processo de seleção das
bandas?
LCC. Antes eu achava a banda legal e
contratava a banda e ninguém interferia na minha escolha. Depois percebi que
muitas bandas (principalmente as dos anos 80) queriam responsabilizar só a mim
pelo fracasso delas. Então, hoje eu sou mais criterioso nas escolhas e procuro conhecer
melhor o caráter das pessoas independente de banda, e deixar bem claro para
elas o nosso papel e posição. Então hoje a coisa além de ter que gostar da
banda tenho que ter afinidades também a nível pessoal, e graças a Deus, aqui
está virando uma grande família,
2112. Você é tido como um dos
responsáveis pelo resgate de lendas como Arnaldo Baptista e Lanny Gordin e
mesmo na divulgação de bandas brasileiras numa época em que o rock brasileiro
vivia feito bandido pelas esquinas. Na sua opinião o cenário para o rock brasillis
melhorou?,
LCC. Não, na minha opinião o
rock andou muito para traz, ainda tem muitas bandas bacanas, mas não existe
mais uma radio rock, nem programas de TV, nem publicações em
revista e críticos musicais com credibilidade para falar do assunto
e vergonhosamente nem os grandes jornais dedicam uma coluna frequente para
abordar assuntos do gênero.
2112. Qual a
sua opinião acerca de bandas que tão logo são formadas e já querem gravar? Você
acha isso é necessário?
LCC. Depende, da criatividade de cada
banda, penso que algumas perdem o timer e até permitem que a música
desanda para caminhos diferentes, as vezes pode sim ter uma melhora, mas
no geral não, são poucas as bandas que superam a síndrome do segundo
álbum, os gritos primais no rock sempre foram os mais impactantes ,
2112. Que conselho você daria para essas bandas?
LCC. Penso que cada uma delas tem que
perceber, o momento em que elas se sentem maduras para registrar o trabalho,
uma gravação precipitada pode enterrar boas ideias que poderiam amadurecer
melhor para ficar mais doce, kkkk
2112. Quem você gostaria de produzir e
lançar pela B.A.?
LCC. Demorei muito para responder essa pergunta,
porque estava vasculhando minha mente na busca de uma resposta, mas
não encontrei. Eu queria gravar o Ira até os dois primeiros álbuns, hoje
eu não faria mais, e o que eu lamento foi não ter gravado o Sergio
Sampaio, que morreu no dia da gravação que tínhamos agendado. E o
disco acabou não saindo por aqui.
2112. O Selo Baratos Afins já
teve lançamento no exterior? Quais?
LCC. Teve vários, SP.Metal, Salário
Mínimo, Harppia, Patrulha do Espaço, Gonzalo Labrada Trio, Itamar Assumpção,
Mercenárias, Serguei, Ratos de Porão (em vários países) e a coletânea
Sexual Life of Savages da Soul Jazz Records, uma compilação de São Paulo post
punk com 19 bandas das quais 16 era de nosso selo.
2112. Muitos fãs de rock e críticos
dizem que o rock brasileiro é inferior ao produzido pelos gringos. Você
concorda com isso? Qual a sua opinião?
LCC. Acho muito subjetivo discutir
isso, claro que também copiamos coisas de fora ,e vice versa, mas
também tem um monte de bandas gringas muito inferior as nossas, e
no geral diferentemente do ouvinte brasileiro, os músicos de
fora respeitam muito nossas culturas e produções.
2112. Selecione dez lançamentos do seu
selo que mais te orgulha!
Arnaldo
Baptista - Singin Alone
Patrulha
do Espaço - III
Centúrias
- Última Noite
A Chave
do Sol,
Harppia -
a Ferro e Fogo
Golpe de
Estado - Segundo álbum
Lanny Gordin - 2.000
Kafka -Musikanervosa
Coke Luxe - Rockabilly
Bop
Itamar
Assumpção - As Orquídeas do Brasil (Trilogia)
2112. Dos muitos discos de sua loja
qual o mais raro
LCC. Eu tenho discos tão raros,
tão raros, mas tão raros mesmo que é ainda mais raro achar alguém
interessados por ele.
2112. Algum recado?
LCC. Quando abri minha loja de
discos, eu pensava que entendia alguma coisa de musica. Hoje 39 anos depois de conviver
num mar de discos e conhecer outras tantas coisas, acabei descobrindo que
não entendo absolutamente nada de música. Se eu tivesse essa consciência antes,
estaria ainda vendendo drogas farmacêuticas e não drogas musicais, então
as opiniões dadas aqui não é a voz da verdade, apenas minha opinião
pessoal.
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