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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Entrevista Vírus


O Vírus é uma das colunas sagradas do metal mundial. Desde a sua aparição nos palcos, a sua participação no lendário álbum SP Metal, o seu retorno aos palcos e o lançamento do já histórico álbum Contágio serão dissecados nesta entrevista. Num cenário cada vez mais pobre musicalmente falando o retorno do Vírus deve ser saudado como um dos melhores "comebacks" dos últimos anos.

2112. Como muitos tomei conhecimento da Vírus a exatamente trinta e cinco anos atrás através do álbum SP Metal. Naquele tempo havia poucas informações, tudo era no sistema boca a boca, revistas importadas ou zines como a Rock Brigade. Como o Calanca tomou conhecimento da banda?  
VÍRU. Primeiro de tudo é um prazer imenso estar participando dessa entrevista com o Blog 2112, parabéns pelo trabalho com todo conteúdo de qualidade que vocês disponibilizam !
Renato RT. Então, como vocês mesmo sabem o boca a boca era a rede social vigente na época, isso ajudou muito para nosso nome chegar até ele. Já fazíamos vários shows na capital de SP e no interior e as bandas se falavam entre si e comentavam umas das outras. Em algum momento o Luiz ouviu algum som nosso e se interessou e o convite foi feito. 
2112. O que ele falou sobre o projeto do álbum e como surgiu o convite para vocês participarem das gravações?  
Flavio Ferb. Eu me lembro que na época algumas poucas lojas do centro de sampa é que traziam os lançamentos das bandas gringas e trabalhavam com Lps usados etc, então nos finais de semana elas viravam o point principal da galera que curtia o som pesado – o Luiz como um produtor e dono de um selo sacou logo que havia um “movimento” forte em cima do Metal e as bandas que eram mais atuantes foram as primeiras que ele convidou para o projeto.

2112. SP Metal é considerado um marco na história do rock brazuca ainda que o Stress já tivesse lançado o seu primeiro e grande álbum. Para muitos um verdadeiro divisor de águas... 
Flavio Ferb. Sem sombra de dúvidas! o SP Metal é o grande marco do Metal brasileiro, apesar de o Stress ser a banda pioneira a registrar o Metal em vinil aqui no Brasil (aliás um álbum sensacional). Penso que os SP Metal 1 e 2, por serem coletâneas que traduziram um movimento atuante e crescente do Metal, já nasciam com essa abrangência e importância.
2112. O Flávio inclusive foi quem criou as artes dos dois álbuns...
Renato RT.  Sim ! O Luiz Calanca tendo recebido informações de que o Flávio já trabalhava na época com ilustração e criação ficou muito interessado e pediu para ele desenvolver uma arte para a capa do SP Metal I, e foi aprovada! Como o projeto já previa um lançamento de uma segunda coletânea, a mesma ideia foi desenvolvida para o SP Metal II
2112. Ao contrário do Avenger, do Centúrias e do Salário Mínimo vocês traziam elementos de um metal mais pesado e mais sujo. O que vocês ouviam nesse período? 
Renato RT. Nossas influências sempre forma muito diversificadas dentro do Hard Rock e do Metal, mas no final sempre convergiam para um alinhamento. Só para você ter uma ideia da “salada” que eram nossas audições e gostos a coisa variava entre AC/DC, Rainbow, Kiss, Iron Maiden, Deep Purple, Uriah Heep, Pink Floyd, Judas Priest, Ramones, Led Zeppelin, Raven, Blue Oyster Cult, Dust, Saxon, Metallica, Rush e por aí vai, mas uma unanimidade entre os 5 sempre foi o Black Sabbath!
2112. Naquela época apenas a Woodstock trazia as últimas novidades em bandas novas de metal. Vocês compravam os lps ou como eu ouvia K7 gravado pelos amigos?
Renato RT.  Cara eu fazia as duas coisas kkkk, e a maioria de nós também, tínhamos e ainda temos uma coleção de Lps e K7 gravadas ou compradas originais, muitos comprados na Woodstock, na Baratos, ou em sebos e lojas em alguns bairros como em Pinheiros.
2112. Quando surgiu a idéia de formar a banda e como era a cena na época? Havia muitas bandas?
Flavio Ferb. A banda surgiu meio que em consequência daquele grupo de adolescentes que ouvia junto por horas a fio os álbuns do Kiss e do Sabbath - lembro quando tínhamos 13 anos de idade e construímos umas guitarras de madeira etc.. para imitar o Kiss em festas de aniversário pelo bairro!! k kkk! A semente estava lançada! Daí pra frente, numa evolução natural, começamos a querer aprender a tocar de verdade.
Sim! Haviam várias bandas nos bairros próximos, era um clima bem propício.
2112. A banda ficou conhecida por fazer releituras do Maiden, Ozzy, Motörhead... mas soube que isso incomodava vocês. Nesse tempo já rolava material autoral?
Renato RT. Pelo contrário, a gente primeiro começou compondo e fazendo músicas próprias. Depois de um certo tempo e alguns ensaios resolvemos incluir nas apresentações alguns covers de bandas que eram nossas influências na música pesada, nessa época o público começou a se referir como “aquela banda que toca Phanton, etc’ Tudo isso faz parte de uma cena que não existia na época, com bandas covers profissionais. Não raramente incluímos algum cover nos shows, e fazemos isso por um motivo bem simples, a gente gosta pra c... rsrsrs!
2112. SP Metal foi gravado em oito canais e com orçamento baixo o que forçava vocês gravarem tudo rápido. Falem um pouco sobre as gravações. Rolou muita tensão? 
Flavio Ferb. Pensando hoje, acho que a tensão foi até pouca! Éramos bem crus em estúdio, tudo era uma novidade e um deslumbramento: “caralho! estamos gravando um disco! Inacreditável!”, então isso superava maiores tensões.
2112 ... não podemos deixar de comentar a inexperiência de vocês na hora de gravar, não é?
Renato RT. Sim, éramos totalmente inexperientes em sessões de gravação.
2112. Apesar da produção tosca Batalha no Setor Antares e Matthew Hopkins ainda soam pesadas para os padrões atuais do metal.
Flavio Ferb. Acredito que isso se deve à química entre as influências dos caras da banda. Os gostos que variavam de Kiss, Iron, Sabbath e Metallica, somados à criatividade de riffs do Fernando Piu resultaram numa sonoridade não datada.
2112. Além do som a banda tinha também um visual bem agressivo...  A intenção era mesmo chocar, mostrar total insatisfação?
Renato RT. Nada disso! Hoje até podem pensar isso da gente na época, mas a intenção era trazer para a cena brasileira tudo aquilo que assistíamos lá de fora e simplesmente não víamos nas bandas daqui, já com um certo profissionalismo. A motivação de incorporar um visual praticamente todos era espelhada nos seus ídolos internacionais.
2112. O sucesso do álbum deu a vocês o título de "Melhor Grupo de Heavy Metal Nacional" durante uma enquete realizado pela Revista Metal. Com isso a agenda de shows melhorou?
Renato RT.  Sim, essa matéria rendeu alguns shows a mais na época!
2112. Os shows da banda impressiona bastante quem assistia pois além da porrada metálica havia muitos efeitos. Acima de tudo o profissionalismo e o respeito aos fãs, não é?
Renato RT. Respeito é a base de tudo na vida! A entrega de um show faz parte disso. Com nossos fãs não era diferente, e a vontade de trazer um show onde a produção completava a inspiração musical sempre esteve presente, para nós isso era e ainda é natural.
2112. Não tem como deixar de mencionar a Vírus Roadies liderado por Calil (primeiro baixista da banda), Guilherme, Bigode, Paulinho etc. Os rodies apesar de pouco festejados são fundamentais... é uma extensão da própria banda, certo?
Renato RT. Você já disse praticamente tudo!  Hoje já é uma realidade essa profissão que muitos exercem, o glamour é menor do que o do artista, mas a importância é fundamental. No nosso caso todos são amigos também, mas espero que no Brasil a importância da equipe de produção, técnica e de apoio só aumente cada vez mais, e tenha seu retorno valorizado!
2112. Em 1986 vocês assinam com a Lunário Perpétuo para gravarem o tão esperado primeiro LP da banda. Porque depois do início das gravações tudo veio abaixo? O que realmente aconteceu?  
Flavio Ferb. Me lembro que naquela época a sociedade que formava a Lunário se desfez, parece que houveram atritos entre eles, também houveram aqueles planos econômicos do governo o que quebrou muita gente - imagine um pequena gravadora underground... etc então todo o aporte que seria feito simplesmente foi cortado - não tínhamos como continuar a gravar.
2112. Esse material ainda existe ou se perdeu? 
Flavio Ferb. Pode-se dizer que sim. O que passaram para nós foi uma fita de rolo com as bases de baixo e batera, e algo de guitarra guia… infelizmente.
2112. Apesar do sucesso conquistado a banda fez seu último show em 1988 no Teatro Mambembe em função da falta de um empresário, produtor e a saída do baterista Caio. 
Flavio Ferb. Na ocasião já estávamos com o Lúcio na batera, onde fizemos, se não me engano, o último show no Teatro Mambembe.
2112. O que o Caio alegou para deixar a banda num momento que mais precisava de união? 
Flavio Ferb. Na verdade foi uma somatória de condições que fizeram todos se desanimarem um pouco – o Caio se uniu a um projeto pessoal ligado a religiosidade etc e também preferiu sair numa busca mais interior...
2112. Apesar dos ventos soprarem contra vocês ainda tentaram reconstruir a banda com um novo baterista ou já não havia mais como continuar? 
Flavio Ferb. Sim tentamos algo. Foi o momento em que o Renato e o Piu chamaram o baterista Lucio Del Ciello. Ela já era amigo e tocava em algumas bandas que conhecíamos ali por perto do nosso bairro. Fizemos alguns shows com o Lúcio, que se encaixou perfeitamente no Vírus. Mas era um momento estranho. Eu também não estava muito motivado e estava mais inclinado a deixar sampa entre outras ideias, etc..
2112. Uma possível volta da banda ventilava pelos quatro cantos depois do relançamento do SP Metal. E depois da apresentação no Blackmore Bar não tinha mais como negar. O que mais motivou o retorno de vocês? 
Renato RT. Algumas apresentações foram feitas nesse iato de tempo, mas o retorno não se concretizou por motivos diversos, muitos eu nem lembro rsrsrsrs. A vontade sempre existiu, mas acabou se formatando com a comemoração do SP Metal em 2015.
2112. Soube que a apresentação foi do caralho com todos cantando as letras de Batalha no Setor Antares e Matthew Hopkins. O que vocês sentiram naquele momento?
Flavio Ferb. Durante os ensaios já percebemos que a coisa estava rolando fácil e empolgante novamente, apesar de não estarmos com o Cássio no baixo e sim, com nosso irmão o Déio. Durante o show, quando sacamos que muita gente cantava junto, inclusive fãs mais jovens que vieram com camisetas do Vírus pintadas à mão (e eram muitos!). Houveram muitos motivos que fizeram decidir pela volta!
2112. Foi baseado nesse momento histórico que vocês tomaram a decisão de prosseguir com a banda e gravar Contágio?
Flavio Ferb. Sim! Ressurgiu a esperança de finalmente gravarmos o álbum. Aquela sensação ruim de algo não terminado desde os anos 80, provavelmente conseguiríamos resolver!
2112. Falem um pouco sobre a pré-produção, escolha do repertório e a gravação do álbum. Vocês tiveram mais tempo de estúdio? 
Renato RT. Fizemos toda a pré-produção das dependências do Estúdio Orra Meu. Desta vez tivemos o tempo ideal para preparar o material, e isso fez toda a diferença!
2112. As músicas são todas do antigo repertório ou houve a inclusão de composições inéditas? 
Flavio Ferb. Sim! São composições sensacionais que estavam no limbo. Elas tinham que ser registradas são as músicas que tocávamos nos shows dos 80’s e fizeram nossa história.
2112. Vocês mantiveram os arranjos originais ou deram uma atualizada?
Renato RT. Todas as que já tínhamos composto naquela época receberam novos arranjos.
2112. ... deve ter sido emocionante para não dizer especial ver o trabalho pronto nas mãos depois de tantos anos de espera, não é?
Flavio Ferb. Sem dúvida! Pra te dizer a verdade às vezes nem parece real… Mas é, e é fruto de bastante dedicação e trabalho persistente desde 2015.
2112. O que você diria para os fãs da banda e mesmo para os que curtem um bom metal sobre o cd? O contágio é imediato? 
Flavio Ferb. Na minha visão é um álbum que ficou fantástico, arrepiante! Ele tem o DNA do Metal oitentista, mas a pegada e agressividade do Metal contemporâneo e, o que mais me impressiona é a multiplicidade criativa das músicas, coisa que realmente não é muito encontrada por aí… aliás, penso que esse é o grande diferencial do “Contágio”.
2112. Cd lançado... quais são os projetos da banda?
Renato RT. Cara, contribuir para a cena do Heavy Metal no Brasil, que é o que sempre curtimos fazer. Levar um show empolgante e de qualidade até onde conseguirmos atingir.  E, é cedo pra falar mas, assim que possível, partiremos para a gravação de um próximo álbum!
2112. Esperamos não ter que esperar tantos anos para ouvir um novo trabalho da banda. Sucesso para vocês.
Renato RT. Sim, a gente espera também, já temos o material pra lapidar e vamos trabalhar para isso. Obrigado, sucesso ao Blog 2112, e tamo junto sempre que precisar, valeu. É de inciativas assim como a de vocês que uma cena precisa, sabemos que não é fácil, mas constrói um movimento maior e mais sólido, obrigado mesmo!
2112. Qual o e-mail/telefone para contratação da banda e mesmo para a compra do cd?
Renato RT. Para comprarem o cd é só acessar as lojas virtuais das lojas da Galeria do Rock: A Baratos e Afins, A Die Hard, a Animal Records, ou deixem mensagem inbox em nossas redes sociais no Facebook e Instagram: virus contagiometal. Contato para shows pelo whatsapp: (11) 97500-6705  (12) 98256-7113 ou na página oficial das redes sociais!
2112. ... o microfone é de vocês!
Flavio Ferb - Bom, queremos agradecer a todos que de alguma maneira colaboraram e trabalharam junto com a gente para a concretização do álbum e, também a todos os fãs que acompanham e curtem o Vírus. Mas aqui deixo o principal recado: COMPAREÇAM AOS SHOWS! Nossa força depende principalmente da PRESENÇA de vocês. Valeu!
Obs.: As fotos utilizadas nesta postagem fazem parte do arquivo pessoal da banda.

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