O blog 2112 foi formado com intenção de divulgar as bandas clássicas de rock, prog, hard, jazz, punk, pop, heavy, reggae, eletrônico, country, folk, funk, blues, alternativo, ou seja o rock verdadeiro que embalou e ainda embala toda uma geração de aficcionados. Vários sons... uma só tribo!



terça-feira, 17 de março de 2020

Entrevista Marcelo Gross



Gross é um daqueles músicos que depois que você ouve fica viciado de primeira. E tudo isso acontece porque a sua música é simples, é crua com letras que se ajustam perfeitamente ao nosso cotidiano. O segredo é que ele escreve as nossas memórias como se fossem suas. Coisas de mestres...

2112. Sinto nos trabalhos da Gross uma verdade nula em muitas bandas que hoje se preocupam mais com o visual e os trejeitos de bad boys do que com a sua própria música. Muito bacana isso da sua parte, parabéns meu camarada.

Marcelo. Muito obrigado. A música cura e salva. O resto é ornamento. 

2112. Use o assento para flutuar (2013) e Chumbo, Pluma (2017) é rock clássico, básico, simples... mas que tem profundidade e personalidade de quem conhece o seu ofício. O que você ouve no seu dia a dia?

Marcelo. Muito obrigado. O primeiro disco foi gravado num porão com a banda tocando ao vivo e mandando ver, num clima mais despretensioso, isso passou pro clima do disco. O segundo já trabalhamos mais nos overdubs e buscamos uma sonoridade diferente. E eu continuo ouvindo o que eu ouvia com meus 13, 14 anos: Beatles, Dylan, Kinks ... dos artistas novos eu destaco o Michael Kiwanuka, The Black Pumas, The True Loves... gosto bastante do duo francês Ratatat. Mas nas ocasiões especiais acaba sempre rolando o bom e velho Álbum Branco.. 

2112. A sua coleção de discos aborda vários estilos de música ou você ouve mais rock? 

Marcelo. Predominantemente rock’n’roll, mas também aborda bastante música brasileira, blues, jazz... Mas sim: tem mais Beatles e derivados do que qualquer outra coisa, sou estudioso do assunto. 

2112. Ambos os álbuns foram lançados quando você ainda fazia parte do Cachorro Grande. Como você fazia para cumprir duas agendas de shows?

Marcelo. Eu dava prioridade pra agenda da Cachorro Grande, sempre rolavam umas brechas e eu tocava nessas brechas. Foi só quando sai em 2018 que pude me dedicar 100%. 

2112. Quando George Harrison foi indagado em uma entrevista sobre All Things Must Pass ser um álbum triplo ele alegou que suas músicas não eram aproveitadas nos Beatles. Com você também ocorreu algo parecido?

Marcelo. Sim, esse é um dos motivos pelos quais meus dois álbuns são duplos. Eu tinha muito material que eu gostava pra soltar e a partir de um momento eu não conseguia mais expressar o que eu gostaria na banda. Esses dois discos foram uma espécie de libertação pra continuar fazendo o que eu havia começado no início da Cachorro Grande, quando eu escrevia e produzia uma parte significativa do material que era gravado. 

2112. Todo artista é crítico e na maioria das vezes se sente insatisfeito... Você tem essa sensação quando ouve seus álbuns ou eles cumprem ao que vieram?

Marcelo. Os meus dois discos cumpriram o objetivo e me deixaram plenamente satisfeito com o resultado. O C&P foi um projeto ambicioso, com vinte e poucas músicas em dois estilos diferentes. Gosto muito da parte “Pluma” por ter me tirado da zona de conforto e ser diferente de tudo o que eu havia feito até então, e eu acabei buscando uma sonoridade bem soft.

2112. Vejo que muitos músicos não sabe distinguir o que é ser influenciado e o que é usar idéias alheias. Como você trabalha isso na hora de compor suas músicas? 

Marcelo. O que a gente acaba fazendo sempre vem de algum lugar, assim como o que nossos ídolos fazem também. As coisas não surgem do nada, a gente sempre acaba pegando algum norte de alguma forma pra se inspirar e dar aquela fagulha inicial pra compor uma canção. Também tenho a teoria que me ajuda muito de que é só ir atrás do John Lennon que tudo vai dar certo, há,há.

2112. O blog trabalha no sentido de divulgar a música autoral. Pessoalmente você é contra ou a favor de bandas covers? 

Marcelo. Nem contra, nem a favor... lógico que tem um segmento de mercado do rock no qual tocam apenas bandas covers, e isso pode ser visto como algo que deixa o rock estagnado parecendo coisa de tiozinho. Mas tem espaço e público pra tudo, então cabe cada segmento achar o seu campo de atuação e o público decide se quer algo original ou a cópia chinesa. 

2112. No meu ponto de vista elas tomam o lugar que de direito pertencem a vocês músicos autorais. Acredito que a sensação de ouvir uma banda cover é a mesma de quem bebe whisky paraguaio achando que é escocês...

Marcelo. Não vejo dessa forma, lógico que fazer acontecer um som autoral é mais difícil, porém quando rola é mais gratificante, ver a galera cantando e curtindo um som que o cara fez no quarto na madrugada... por outro lado, bandas para animar baile sempre existiram e sempre vão existir. 

2112. Chumbo, Pluma tem um título bem sugestivo e bem ousado por se tratar de um álbum duplo coisa rara em tempos bicudos como os que estamos vivendo. Qual o conceito por traz do álbum? 

Marcelo - O conceito é de os opostos convivendo em harmonia: luz e sombra, yin & yang, Chumbo e Pluma... a dualidade tão natural e tão estranha à condição humana. E também quis separar um disco de rock (Chumbo) do outro de baladas acústicas (Pluma) e o conceito acabou se encaixando meio que por osmose com as canções que eu tinha. Ozzy Osmose, há,há! 

2112. Você é do tipo que compõem muito?

Marcelo. Sim. Já fui mais, ultimamente ando meio vagabundo... Mas está saindo um disco novo, então é provável que depois que eu desovar esse material eu me empolgue para querer dizer mais coisas e escrever mais canções. 

2112. A temática de suas letras é próxima da realidade de quem compra os seus cds e vai aos shows. Não gosto de letras fantasiosas com historinhas de cavaleiros medievais, dragões, mortos vivos etc. Prefiro uma letra de cunho mais realista... 

Marcelo. É, tem coisas que a gente vive que invariavelmente acaba indo para canções. Esse disco novo que vou lançar tem um cunho mais autobiográfico, falando de um período tempestuoso pelo qual passei de um tempo pra cá e da minha recuperação/reinvenção. Portanto tem uma conotação bastante verdadeira a temática das letras e estou muito feliz com o conjunto da obra que está a caminho de poder ter retratado as coisas pelas quais passei e dividir isso com o público que me acompanha. 

2112. ...a realidade as vezes é dura mas precisa ser encarada de frente, não é?

Marcelo. A gente transforma em arte e poesia os momentos difíceis, em acalanto para o coração e a alma, um lamento em forma de melodia. Mas tem os momentos bons, de amor e elevação espiritual, que invariavelmente também se transformam em música e que também são muito bons de dividir. 

2112. Você é do tipo que acompanha toda a movimentação da cena frequentando shows, comprando cds, ouvindo  rádios... ou não liga muito para isso?

Marcelo. Sim, estou sempre curioso sobre o que de bom está rolando tanto aqui quanto lá fora também. 

2112. Não canso de falar sobre a grande admiração que eu tenho pela cena do Sul. Ela destoa das demais capitais... ainda que soe como uma meia irmã de São Paulo: grandes bandas, grandes compositores e múltiplos estilos. Já entrevistei várias bandas e músicos daí e tenho um puta orgulho disso. 

Marcelo. É, deve ser alguma coisa na água do Rio Guaíba, todo mundo meio doido né... Tem uma coisa muito rock inglês no sul que eu gosto bastante. E a velha síndrome de ser “Longe demais das capitais”, que faz com que a galera toque um foda-se com mais convicção e vontade. 

2112. Você hoje mora em São Paulo mas me diz uma coisa: o que o Sul tem que falta em Sampa e vice versa?

Marcelo - O sul é um bom celeiro e um bom berço pra se começar; São Paulo é o Brasil, o mundo, a pluralidade com seus prós e contras, o bom caos, movimentação, high voltage, megalópole. Amo os dois. Odeio os dois. Não vivo sem nenhum. 

2112. Olhando hoje o episódio envolvendo a sua "saída" da Cachorro Grande ainda rola algum tipo de mágoa?

Marcelo. Não rola mágoa, aquilo foi o fim da parada, do sonho, demorou um pouco, mas todos entenderam isso e a banda se separou logo em seguida. Agora está tudo bem, cada um fazendo seu trabalho sem um encher o saco do outro. 

2112. Robert Plant depois que o Led Zeppelin acabou evitou por muitos anos tocar músicas da sua ex-banda. Com você foi assim também ou encara tudo numa boa? 

Marcelo.  Escrevi muitas das canções da Cachorro Grande sozinho, canções as quais me orgulho de ter feito como “Lunático”, “Dia perfeito”, “Sinceramente”, “Bom Brasileiro”, “Que loucura “... que fizeram parte da vida das pessoas e da minha, portanto não tenho problema algum de cantar elas nos meus shows. Mas também claro que não acabamos a banda pra ficar tocando canções antigas, então sempre toco também o material mais recente para o público sacar onde nos situamos no momento e muitas vezes dou prioridade para isso, para se movimentar e ir adiante.

2112. Quais são os seus projetos para este ano?

Marcelo. 2020 trará muitas novidades: disco e tour novos já a caminho, aguardem, a partir de março começamos os novos lançamentos dos singles e clips novos antes de soltar o disco. 
2112. Qual o telefone/e-mail para contratar a Gross e adquirir os cds?

Marcelo. www.selo180.com para adquirir os CD’s e Vinis , e www.marcelogross.mus.com para shows 

2112. ... o microfone é seu!

Marcelo - Hello, Goodbye ((•J•))

Crédito fotos: Facebook Marcelo Gross 

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