sexta-feira, 20 de julho de 2018

Entrevista Tony Babalu


Sinto um orgulho muito grande ao entrevistar músicos ou bandas das primeiras gerações do rock que ainda mostram gás em shows e gravações. Tony Babalu é sem sombra de dúvidas um dos guitarristas mais importantes da história do rock brazuca. Quem conhece a sua história ou já ouviu os álbuns Live Sessions I & II concordará com o que eu estou dizendo. Leia esta histórica entrevista e tire suas próprias conclusões...   
2112. Primeiramente preciso dizer que está sendo um prazer imenso entrevistar um dos maiores guitarristas deste país. Parabéns pela sua contribuição ao rock’n’roll brazuca...  
Tony Babalu. Obrigado, o prazer de ser entrevistado pelo 2112 é também muito grande!
2112. É verdade que antes de participar do Made In Brazil você tinha uma banda chamada Aço? Fale um pouco da sua história.
Tony Babalu. O Aço foi minha primeira banda profissional, um power trio de hard rock com o Rolando Castello Junior (Patrulha do Espaço) na batera e o Beto Montenegro no baixo, com eventual participação de Luiz Chagas (Isca de Polícia) em alguns shows. A banda não tinha repertório autoral, tocávamos Who, Zeppelin, Grand Funk, Steppenwolf, Purple e outros grupos da época.
2112. Existe algum registro desse período?
Tony Babalu. Infelizmente não há nenhum áudio, apenas pouquíssimas fotos e um flyer. Éramos muito garotos e ninguém tinha a menor ideia do quanto o registro desses momentos seria importante no futuro. Além disso, filmar, fotografar e gravar eram atividades muito caras (e raras) naquele tempo.
 Banda Aço (1973)
2112. Você é de uma época de grandes bandas e grandes músicos não que o cenário atual não tenha revelado nada de bacana... mas os anos 60/70 foram mágicos em sua essência. Quais bandas ou músicos em particular despertou em você o desejo de ser músico?
Tony Babalu. Beatles, Stones, Who, Animals, Cream, Traffic, Beck, Page, os dois Winter, Santana, Winwood, Mayall... Muita gente nos anos 60, e nos 70 Steely Dan, ZZ Top, AC/DC, etc. A lista de bandas é infindável, e a de músicos, idem... Mas se for para destacar alguém em termos de influência na decisão de ser guitarrista, esse alguém foi Jimi Hendrix e seu solo matador em Woodstock.
2112. Como surgiu o convite para participar do Made In Brazil?
Tony Babalu. O Made estava precisando de um guitarrista para gravar o primeiro disco, o Oswaldo e o Celso foram assistir ao show do Aço em um espaço no Bixiga e me fizeram o convite ao final da apresentação. Isso ocorreu no fim de 1973, e o Made já era referência na época, estando um patamar acima das outras bandas ao encarar a música de forma profissional, como meio de ganhar a vida. A partir desse momento também comecei a levar a sério essa possibilidade.
2112. Pessoalmente considero o primeiro álbum da banda o maior clássico do rock brazuca. Ele é perfeito em todos os sentidos... uma porrada sonora que te vira de ponta cabeça. Quais lembranças você tem das gravações?
Tony Babalu. Lembro que foram mais de 100 horas de gravação, muito pelo fato de os técnicos e produtores da RCA não estarem habituados a lidar com uma banda de rock, mas no final conseguimos fazer prevalecer as regulagens e timbragens dos discos importados que estávamos acostumados a ouvir, não sem algumas discussões e atritos, o que era natural que ocorresse. Uma conquista importante e pioneira nesse disco são os naipes de metais soando como nos discos dos Stones, com frases de puro rock and roll, um conceito novo e de difícil assimilação para uma gravadora tradicional e engessada por regras até então não questionadas.
 Made In Brazil (1976)
2112. Você e o Celso faziam uma dupla em completa sintonia comparada apenas ao trabalho desenvolvido na época por Mick Taylor e Keith Richards nos Rolling Stones e mais tarde a dupla Malcolm e Angus Young do AC/DC. Como vocês trabalhavam os solos?
Tony Babalu. O Celso sempre foi um grande compositor de riffs de guitarra, todos com poucas notas e que grudam no ouvido por serem facilmente assimiláveis, o que é muito difícil de se fazer e raro em guitarristas brasileiros. "Doce", "Vou Te Virar de Ponta Cabeça" e várias outras são exemplos desse talento, que poderia ser mais reconhecido ao invés de velocidade e outros parâmetros duvidosos que fazem a cabeça da garotada. Quanto aos solos, no primeiro disco eu ainda não solava, o que só passou a acontecer a partir de "Não Transo Mais", no álbum "Jack, O Estripador". Dividíamos as bases, tomando o cuidado de não tocar na mesma região ao mesmo tempo e ouvíamos os mesmos discos, o que nesses casos é essencial para dar certo.
2112. Você compôs Intupitou o Trânsito uma linda balada que se destaca em meio aos muitos rockões do álbum O que mais o inspira na hora de compor?
Tony Babalu. Tenho especial carinho por essa música, pois além de ser minha primeira composição a ser gravada, é a única em que tenho os dois irmãos Vecchione como parceiros... Inspiração, em meu caso, tem a ver com estado de espírito: se estou emocionalmente envolvido com alguém ou com algo, posso de repente pegar a guitarra ou o violão e sair tocando um tema novo, que geralmente começa como um groove ou riff sem compromisso. Na maior parte das vezes esqueço minutos depois, mas quando sinto que é forte e que pode virar uma música completa, registro e volto a ele mais tarde... Daí em diante é um processo longo, mas esse é o começo.
 Quarto Crescente (1981)
2112. Não podemos de mencionar a participação do Cornélius que fez um belo trabalho vocal na música... 
Tony Babalu. Não só nessa música como no disco inteiro. Saudoso Cornélius, com sua voz rasgada e cortante, um dos maiores cantores de rock de todos os tempos, e não só do Brasil. Infelizmente, sua carreira foi curta e meteórica, como tantos outros talentos que nunca deixaram o underground.
2112.Nos álbuns Massacre e Paulicéia Desvairada você participou com um número bem maior de composições. Você sempre compõem muito?
Tony Babalu. Foi uma época em que estive muito próximo ao Oswaldo, que vivia em uma casa no Sumaré que era o ponto de encontro de músicos e roqueiros em geral. As noites eram verdadeiras festas, as pessoas estavam na flor da idade e o assunto era música, discos, instrumentos, cenários, shows, roupas, filmes, artes em geral, e sempre sem hora para acabar. Em uma atmosfera dessas, compor era algo natural, e assim saiu o repertório do "Massacre", depois acrescido de algumas baladas e rocks dando origem ao "Paulicéia".
2112. Você se lembra dos reais motivos que levou a censura a impedir o lançamento do álbum Massacre? O que eles alegaram? Você lembra de quais músicas foram vetadas?
Tony Babalu. O que incomodava os censores era o conceito da capa e do cenário do show, baseado em um tanque de guerra. Era uma época em que, por conta das restrições à liberdade, o simbolismo e as metáforas eram alguns dos poucos meios de expressão. O Made incorporava o conflito de gerações e incomodava pela linguagem, pela forma de se vestir, pela atitude rock and roll, pela juventude associada à resistência e pela irreverência que o grupo personificava. Os censores nunca diziam os motivos claramente, desconfio que sequer sabiam explicar o que vetavam, e chegamos a fazer um show inteiro para 4 ou 5 deles liberarem a temporada de lançamento de "Jack, O Estripador" no hoje extinto Teatro Aquarius, na Rua Rui Barbosa, no Bixiga. Algumas músicas tiveram modificações drásticas para serem liberadas, por exemplo, "A primeira vez sempre dói mais" virou "A primeira vez eu senti demais" (na música "A Primeira Vez que Você me Deixou"), e "Eu só quero é chupar o seu sorvete" foi gravada como "Eu só quero é tomar um sorvete" (em "Quando a Primavera Chegar")... Mas nos shows as letras eram as originais. 
 Artigo de Luxo (1981)
2112. ... isso de uma certa maneira deve ter dado uma abalada na banda, não é?
Tony Babalu. Se não chegou a abalar, certamente prejudicou os projetos e atrasou os lançamentos, mudando a história e a carreira do grupo em sua melhor fase.
2112. O que levou você a sair da banda?
Tony Babalu. Na verdade, eu só fui integrante do Made in Brazil durante um curto período, o das gravações do primeiro disco, e não saí, fui tirado da banda pelo empresário da época, que alegou ter sido “uma decisão de gravadora” (RCA Victor). A partir daí, e por opção minha, decidi participar apenas como convidado, o que me deu liberdade para fazer outros trabalhos e explorar outras vertentes e escolas musicais.
2112. Tão logo saiu do M.I.B. você entrou no Quarto Crescente que infelizmente lançou apenas um álbum. A banda produzia um rock’n’roll bem interessante e que na minha opinião tivesse o material sido mais trabalhado poderia ter dado a banda um outro rumo, não é?
Tony Babalu. Concordo, Carlos, o Quarto Crescente poderia ter ido mais longe, faltava disciplina e sobrava carisma naquela banda, que chegou a tocar bastante em algumas FMs de São Paulo, em uma época em que as mesmas ditavam o que seria ou não sucesso (e sem jabá, o que era raríssimo). Só que esse período foi curto e faltou alguém com visão de mercado, que tivesse a percepção do que estava acontecendo e de qual rumo teríamos de tomar, e aí perdemos o bonde da história. Faltou empresário, resumindo. Mas de resto, fizemos programas de TV como o do Chacrinha, o do Fausto Silva (ainda na Bandeirantes, "Perdidos na Noite") e vários outros, além de muitos programas de rádio. Uma das músicas, "Bicicleta", foi quase um hit de verão, embora só na capital. Uma pena não ter ido adiante, tenho saudades do Percy e do Horácio, que partiram cedo demais.
 Bem Nascidos e Mal Criados (1995)
2112. Em 1980 você participa do festival MPB 80 com a música Cidade Louca posteriormente registrada em um single com a banda Artigo de Luxo. Porque essa banda também não vingou ou o single era apenas um projeto?
Tony Babalu. Você acertou, a banda era um projeto de folk rock e ficou por um momento conhecida ao classificar uma música ("Cidade Louca") sem apoio de gravadoras no Festival MPB 80, da Globo, em 1980. Gravamos um compacto simples pela Tapecar, uma gravadora do RJ, e durante um tempo a música tocou em algumas rádios FMs com programação cultural alternativa de SP, como USP, Cultura e Eldorado. Mas, quando estávamos prontos para gravar o primeiro LP, a gravadora abriu falência (!), e aí ficou difícil. Essas coisas acontecem e constituem a regra do jogo, as exceções na verdade estão entre os que conseguem chegar ao sucesso, efêmero ou não, e isso não acontece apenas na música, acontece nas artes em geral. O Artigo de Luxo foi mais um dos vários grupos que bateram na trave.
2112. No ano seguinte você estava de volta ao M.I.B. e até a sua segunda saída participou de outros álbuns importantes da banda. O que motivou o seu retorno a banda?
Tony Babalu. Na verdade eu nunca fiquei distante do Made in Brazil, exceto na segunda metade dos anos 80. Da discografia da banda só não participei do ao vivo “In Blues” (1992), e gravei na íntegra os quatro primeiros pela gravadora RCA.
2112. A sua ligação com o M.I.B. parecer algo muito mais forte que apenas a música, não é?
Tony Babalu. Certamente a minha amizade com os irmãos Vecchione transcende a música, tanto é que compus para eles "Vecchione Brothers", uma das faixas de meu primeiro disco solo, "Live Sessions at Mosh" (2014). Moramos no mesmo bairro desde a infância, lutamos pelos mesmos ideais, gostamos das mesmas coisas e só não torcemos para o mesmo time porque ambos são corintianos roxos e o mundo não é perfeito, mas de resto são meus amigos-irmãos, com ou sem música. Mas com ela mais ainda, claro.
 
       Turma do rock'n'roll
2112. Achei super interessante a sua participação no álbum MPblues do guitarrista Duca Belintani. Vocês são amigos?
Tony Babalu. O Duca é um bluesman genuíno, e além de guitarrista é também produtor, compositor, cantor e mais recentemente, até escritor ("Kid Vinil - Um Herói do Brasil"). Tocamos juntos no Bem Nascidos e Mal Criados e o vejo menos do que gostaria... É um dos raros exemplos de personalidade e dedicação à música autoral, à guitarra e sobretudo ao blues, área em que sabe tudo. Quando nos cruzamos, falamos de tudo, não falta assunto e a diversão é garantida.
2112. Você contribuiu com duas belas peças no álbum: Tão Down e Bonnie. Elas foram compostas especialmente para o projeto?
Tony Babalu. Apenas "Bonnie", "Tão Down" já existia como parte do repertório do Bem Nascidos...
2112. Em 1989 você fundou a banda funk “Bem Nascidos e Mal Criados” que obteve grande êxito no cenário de São Paulo.  Vocês chegaram a gravar algum material?
Tony Babalu. Infelizmente não, e isso se deve em parte pelo Bem Nascidos (1988-1992) ter existido em um dos piores momentos da indústria fonográfica, que compreende o período da transição do formato vinil para CD. As gravadoras estavam digitalizando os catálogos e quase não investiam em discos de inéditas, projetos ou bandas novas. Além disso, o repertório era de difícil assimilação, quase progressivo, distante dos padrões comerciais das FMs que ainda ditavam o que vendia no mercado. Mas ao vivo funcionava, e muito.
Tony Babalu
2112. Você além de músico também é produtor, compositor, arranjador... Como consegue fazer tantas coisas e ainda fazer shows, gravar seus discos e ter tempo para você mesmo?
Tony Babalu. Nunca parei para pensar nisso, mas acho que não tem como ser diferente para quem quer sobreviver de música em um país como o nosso, com tantos problemas agudos e urgentes a serem resolvidos, que fazem a cultura e o lazer não serem considerados como prioridade quando a geladeira está vazia. E ela está a cada dia mais vazia. Sobre o dia a dia, mesmo com tudo isso que você citou, ainda acho que poderia trabalhar mais...
2112. Já deu vontade de lugar tudo e fugir para o Himalaia?
Tony Babalu. Não para o Himalaia, que é muito frio e perigoso, mas para a Ilha de Páscoa, no Pacífico Sul, sim, algumas vezes. Acho que é assim para todos, afinal somos humanos e não escapamos desses momentos de querer estar sozinhos em um lugar distante e solitário, por diferentes motivos, tais como excesso de trabalho ou de responsabilidade, estresse da cidade grande e outros, positivos ou não. Faz parte da rotina essa necessidade periódica que sentimos de “fugir da realidade”, e temos de nos habituar a lidar com isso de forma racional e equilibrada.
2112. Depois de participar de diversas bandas você lança enfim seu primeiro trabalho solo “Balada da Noite” em 2003 onde executou e programou todos os instrumentos. Como foram as gravações em estúdio?
Tony Babalu. "Balada na Noite" foi gravado em casa, em um porta estúdio digital de 6 canais, e começou despretensiosamente, sem a intenção de se tornar um álbum, o que acabou acontecendo naturalmente, conforme os temas se encorparam. A ideia inicial era registrar os arranjos e depois passar para a banda, mas as coisas tomaram outro rumo e decidi lançar apenas na internet, o que na época ainda era uma aposta.
2112. A experiência de trabalhar praticamente só em estúdio deve ter sido bem estranho para você visto que sempre esteve envolvido com bandas. Você sentiu falta de toda a movimentação em estúdio?
Tony Babalu. Sim e não, sou viciado em estúdios com e sem banda, se pudesse moraria em um deles. Mas como disse acima, o "Balada" foi feito em casa e sem a intenção de ser finalizado, o que acabou acontecendo. Para gravar um CD autoral e lançar no mercado, contudo, acho indispensável uma banda.
 Tony Babalu & Luiz Calanca (Baratos Afins)
2112. Você chegou a trabalhar esse material em shows?
Tony Babalu. Fiz apenas uma temporada de shows em um bar de Jazz em 2003, mas penso em um dia tirar algumas faixas com a banda e ver o que acontece.
2112. Entre 2005 e 2007 você produziu os álbuns Noite Proibida de Marise Marra e o trabalho da cantora Maga Liere. Como é estar do outro lado no comando de toda a situação?
Tony Babalu. É muito bom também, gosto da adrenalina da captação, da mix, da master, de todo processo de "achar o som" com o técnico, de "domar" o artista quando necessário, etc. Nesses dois trabalhos, tanto a Maga Lieri, com sua levada de black e soul music envenenada, quanto a Marise Marra, com sua pegada de hard rock visceral, por serem artistas completas e autênticas, tornaram fácil meu trabalho "do outro lado do aquário". Não tive de fazer nenhum milagre, nem corrigir nada, o que é muito raro hoje em dia.
2112. De uma certa maneira você nunca está parado... Como foi a experiência de trabalhar com a banda belga Mind Priority. Você chegou a gravar com eles ou apenas tocou em shows?   
Tony Babalu. O Mind é de um grande amigo, o José Álvaro, e sempre fico muito contente em participar dos shows quando ele vem ao Brasil (ele mora na Bélgica há muitos anos). Trata-se de um som sofisticado e elegante, uma espécie de fusion latino com pitadas de jazz, meio fora de minha área de atuação e, por esse motivo, sempre um desafio estimulante. Tenho boas recordações desses shows, e uma das melhores é ter tocado junto com um grande amigo que se foi, o inesquecível Manito, em 2010, na música "Baianada", cujo clipe está disponível no YouTube.
 Tony Babalu & Kim Kehl
2112. Em 2014 você cria o trio de rock instrumental Betagrooveband ao lado de Marina Abramowicz na bateria e PV Ribeiro no baixo com o qual se apresenta em diversos espaços culturais de São Paulo e região. Como tem sido a recepção? Pergunto isso levando em conta que a música instrumental nunca teve o destaque merecido no cenário brasileiro...
Tony Babalu. A Betagrooveband foi, antes de mais nada, uma curtição descompromissada, um retorno às origens, e acabou rendendo um repertório que pretendo gravar em breve. O grupo surgiu espontaneamente e com a proposta de ser um power trio genuíno de hard rock, mas durante os ensaios abriu o leque para baladas e funks e recebeu um convite para participar das comemorações dos 30 anos do Centro Cultural São Paulo, em 2012. Essa apresentação acabou sendo a melhor e a última da brevíssima carreira do trio, e está registrada em 3 vídeos no YouTube. Mas, ainda vou chamar a Marina e o PV para levantarmos acampamento novamente qualquer hora.
2112. Pessoalmente acredito que o dia que as pessoas verem a voz apenas como um instrumento a mais no todo o cenário da música instrumental tomará outro rumo, não é? 
Tony Babalu. Respondendo tanto esta quanto a pergunta anterior, acho que a música instrumental tem mais público do que aparenta, o que falta é quem aposte nela nas camadas mais populares. Muitos a consideram elitista, e os produtores relutam em trabalhar nesse segmento por medo de eventual prejuízo. Por outro lado, projetos como o Instrumental Sesc Brasil demonstram claramente esse equívoco, com shows sempre lotados às segundas-feiras no Teatro Anchieta, em pleno centro de São Paulo, e apresentações muitas vezes de artistas pouco conhecidos. Sobre a questão da voz como um instrumento a mais, acho que esse dia não vai chegar tão cedo, o mercado não está formatado nem preparado para isso.
2112. Acho lastimável ver tantas bandas promissoras acabarem antes mesmo de mostrar todo o seu potencial por falta de público ou por falta de espaços para tocar. O circuito de música instrumental é realmente muito restrito?
Tony Babalu. Sim, é restrito e muito dependente do desempenho de músicos virtuosos, que não existem em número suficiente para alavancar um crescimento expressivo de demanda por esse gênero musical. Pode ser, e assim espero, que esse cenário mude algum dia, afinal o ceticismo não ajuda, mas não vejo sinais dessa mudança a curto prazo.
 Tony Babalu, Tony Campelo e esposa 
2112. Você lançou dois grandes álbuns instrumentais Live Sessions At Mosh I e II onde você exibe todo o seu carisma e feeling... Como surgiu a idéia de gravar esses álbuns? 
Tony Babalu. Eu já estava trabalhando no gênero instrumental há algum tempo, e gravar os discos acabou sendo uma evolução natural, facilitada pelo fato de ser amigo do Oswaldo Malagutti, dono do Mosh Studios, que por seu pioneirismo e tradição sempre foi um sonho de consumo de muitos músicos, entre os quais me incluo.
2112. Achei super bacana da sua parte abrir mão do sistema digital tão em voga nos últimos anos em favor do sistema analógico. O que mais ti impulsionou a tomar essa decisão?
Tony Babalu. O Mosh estava justamente testando um novo aparelho de gravação, o Clasp, que sincroniza a captação analógica em fitas de rolo com o sistema digital Pro Tools, e isso caiu como uma luva para o projeto que eu tinha, que era justamente o de registrar um álbum com os recursos e sonoridade dos anos 70, incluindo as fases de mixagem e masterização. No Mosh, estas etapas também foram realizadas com amplificadores e compressores valvulados, pilotados por uma equipe de primeira linha identificada com o conceito dos álbuns.
2112. Tudo soa muito natural em ambos os álbuns... Vocês apenas montaram os instrumentos e gravaram tudo ao vivo. Foi preciso fazer overdubs ou tudo está como foi gravado?
Tony Babalu.  Não houve overdubs, o que foi captado está integralmente no disco. Os takes não aprovados foram imediatamente apagados de comum acordo entre os músicos, e os aprovados também o foram por unanimidade. Ensaiamos já com esse propósito, e pelo fato dos temas serem de longa duração e com improvisos diversos, as interpretações sempre eram ligeiramente diferentes entre si, a partir dos próprios ensaios... São dois discos realmente ao vivo e sem retoques, o que os torna, até certo ponto, intimistas e exclusivos. A sonoridade natural a que você se refere tem muito a ver com a aplicação radical do conceito “ao vivo”.
 Tony Babalu & Sérgio Hinds
2112. Segundo Okky De Souza você “é o mais completo guitarrista brasileiro, capaz de brilhar em todos os gêneros ligados ao pop e de mergulhar fundo na herança inestimável dos bluesmens que moldaram o som do final do século XX.”  O que você sente quando escuta um elogio desses?
Tony Babalu.  Sinceramente, não me vejo dessa forma, mas fico satisfeito e orgulhoso quando sou elogiado. Por outro lado, sei de meus limites e da existência de ótimos músicos que não têm espaço para mostrar sua arte, e também dos que têm esse espaço e não são reconhecidos como deveriam... Elogios podem lavar a alma e são sempre bem-vindos, mas é preciso ter cuidado com eles.
2112. Quais são os projetos para esse ano?
Tony Babalu. Trabalhar em cima do lançamento do "Live Sessions II", espero que bastante.
2112. Muitíssimo obrigado por ter concedido pela entrevista e dizer que o microfone é seu...
Tony Babalu. Eu que agradeço, Carlos, pelo espaço e pela oportunidade de divulgar meu trabalho em um blog sério e bem conceituado como o 2112, e o parabenizo pela competência e dedicação que o mantêm nessa posição. TONY BABALU
2112. Eu é que agradeço e aproveito para agradecer a Karen Holtz pelo envio de muita das fotos que ilustram a entrevista. 

 Flyer de 1973

Tony & banda (2016)

Capa do vinil Quarto Crescente (1981)

Made In Brazil

 Tony Babalu & Lucinha Turnbull

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