segunda-feira, 16 de julho de 2018

Entrevista Banda Gear



Uma das coisas que mais gosto de fazer é visitar páginas de bandas dos mais variados estilos para conhecer outros sons além dos que costumo ouvir. E numa dessas “visitas” dei de cara com a Gear e seu rock eletro-acústico cheio de poesia... Um som para se ouvir tranquilo para não perder nenhum detalhe de uma verdadeira tapeçaria musical. É com muito orgulho que apresento a vocês a banda Gear!    
2112. Primeiramente me explica uma coisa... como um gaúcho, um carioca, um paraense e um amazonense se encontram em pleno coração da Amazônia e formam uma banda?
Alexandre. Parceiro, isso é sorte! (risos). Mas faz um certo tempo que nós paramos de acreditar em coincidências... Todos nós chegamos em Santarém por motivos diferentes, mas o amor pela música e a vontade de construir um trabalho próprio nos uniu... Hoje somos amigos que têm uma banda em comum...
2112. Como vocês se conheceram?
Alexandre. Eu já tinha uma banda em comum com o Diego (Batera). Ele por sua vez é amigo de infância do Rubinho (Baixo), que sempre curtia nossas composições. Minha esposa é amiga da esposa do Bruno (Percussão), e sempre me falava “Você tem que assistir o Bruno tocar! Ele vai incrementar muito o som de vocês!” Dito e feito! Hoje somos quatro caras que veem a música do mesmo jeito...
2112. É interessante ver a fusão de várias culturas musicais regionais ajudando na criação de uma nova experiência sonora. Como vocês trabalham todas essas informações sem perder a identidade e a particularidade de cada um?
Alexandre. Eu gosto de pensar que isso é mais fruto do trabalho de ouvir música, do que propriamente tocar... Cada um trouxe sua identidade meio que formada para a banda: O Diego veio de uma escola Heavy Metal, porém tocava em bandas dos mais diferentes gêneros. O Bruno é Ogam, e isso traz uma série de elementos percussivos tribais que deixa o som bem peculiar... O Rubinho toca grunge, mas o primeiro instrumento dele foi o Charango (Instrumento boliviano), em Parintins. Então a gente tem muita coisa regional no nosso som! Às vezes a gente se reúne e ao invés de ensaiar fica escutando e procurando músicas novas... Enfim... É um eterno aprendizado.
2112. E onde é que o folk entra nessa história? Todos ouvem?
Alexandre. O folk é talvez o gênero mais abrangente do mundo... (risos). O que é o folk? A gente adora Bob Dylan, Geraldo Azevedo, Nilson Chaves..., mas se você procurar pelo trabalho do Gonzagão em sites internacionais, verá que muitos deles o classificam como “Brazilian Folk”! Almir Sater é Folk também? Enfim... Nós escutamos todos estes artistas maravilhosos! Além das toadas de Boi bumbá que adoramos todos! Aqui na banda somos todos torcedores do boi azul (Caprichoso) rsrsrs.  
2112. Tantas informações numa única banda deve gerar grandes experiências sonoras... e também muitas discussões. Quais são as influências de vocês?
Alexandre. Sim, muitas! Principalmente quando temos a oportunidade de conversar com outros artistas, de assisti-los! Além dos artistas que citamos na pergunta anterior, podemos citar 14 Bis, O Terço, Boca Livre, Creedence, Beatles, Radiohead, Arraial do Pavulagem, Cat Stevens, Eduardo Dias, Nato Aguiar, Maria Lídia... São tantos...
2112. E na hora da criação das músicas e das letras como é o processo de composição de vocês? Todos contribuem?
Alexandre. Recentemente a gente vêm distribuindo mais as tarefas de escrever letras! Todos gostam de escrever... AS melodias e os ritmos têm participação de todos, inclusive do Renan Pereira, que produziu nosso primeiro álbum.
2112. O Brasil é um país rico de lendas e costumes que tem servido de material para muitos compositores e poetas. Vocês também se utilizam desse rico acervo cultural nas composições de vocês?
Alexandre. Demais! A gente fala sobre amor, sobre solidão, sobre crises existenciais, sobre perda..., mas a mensagem final é tentar sair do “buraco” ...  (risos). É mostrar a que ouvem que você não está sozinho nessa barca..., mas respondendo a sua pergunta, sim, a gente lê muito sobre lendas, mitos e histórias... Nosso álbum tem a faixa White Feather, que é um breve conto sobre o poderoso Pena Branca. Além disso, Santarém tem paisagens incríveis e isso é uma fonte de inspiração ilimitada...

2112. Além do material autoral vocês incluem releitura de clássicos do folk e do rock (em formato acústico) nos shows da banda?
Alexandre. Sim! Nossa versão preferida é a de Mercy Street, do Peter Gabriel, totalmente acústica, com viola caipira e charango... Mas tem outras... El condor pasa, High and dry (Radiohead)...
2112. Vamos falar um pouco sobre o cd “Norte estrada”. Como ele foi idealizado e como foram as gravações?
Alexandre. A gente decidiu gravar em Agosto do ano passado. As gravações começaram em setembro/2017 e foram até dezembro... Nós juntamos todas as músicas que já apresentávamos nos shows e adicionamos mais duas, compostas durante as gravações...
2112. Vocês tiveram muito tempo em estúdio?
Alexandre. Na verdade não... Nós tentamos ensaiar bastante antes de começar a gravar... Trabalhamos muito na pré-produção, para otimizar o tempo em estúdio. Mesmo assim, muita coisa mudou durante a gravação...
2112. Levando em conta a rica musicalidade da Gear como vocês trabalham os arranjos das músicas? Gira muita discussão nesta hora?
Alexandre. Sim, todo mundo opina! E o legal é que ninguém fica melindrado... O consenso é deixar o som ”Gearizado”, como nós chamamos (Risos)
2112. Vocês já pensaram em utilizar no som da banda elementos elétricos como fez Bob Dylan, CSNY, Neil Young entre outros ícones do folk? 
Alexandre. Com certeza! Nós inclusive usamos bastante! Na música moderna, uma coisa não irá necessariamente apagar a outra...
2112. Pouco ou nada se sabe sobre a cena roqueira amazônica. Infelizmente a mídia se concentra sempre no eixo Rio/São Paulo... ou casos isolados como foi Brasília e Rio Grande do Sul nos anos 80. A cena aí é muito forte? Quem vocês destacariam como interessantes?
Alexandre. Carlos, nós estamos na cena do norte, junto com uma série de bandas maravilhosas de vários estados e vários gêneros musicais. A gente acredita muito no potencial da “Rede Norte”, como gostamos de chamar a cena! Aqui existem trabalhos maravilhosos como Nicotines (Manaus), Zona Tribal (Manaus/AM), Savana, Lady Violetta e Professor Mandrágora (todas essas de Santarém/PA). Lívia Mendes, Superself e Mágico de Nós (Belém/PA). Mas existem vários trabalhos de qualidade fantástica por aqui!
2112. Por estarem distante do eixo Rio/São Paulo onde a grande mídia se concentra existe mais união entre as bandas?
Alexandre. Sim e não... (Risos)...Acho que cena é meio igual em todo o lugar... Sempre existem os que trabalham muito por ela, e os que... Bem... Deixa pra lá... (Risos).
2112. Vocês têm muitos eventos como festivais e circuito de bares para se apresentarem?
Alexandre. Sim, mas ultimamente nós temos filtrado um pouco... O barzinho sempre foi e sempre será nossa escola! Mas a partir do momento em que assumimos ser uma banda autoral, temos nos focado mais em eventos culturais, Festivais...
2112. E as rádios ajudam na divulgação do material das bandas?
Alexandre. Alguns radialistas são muito receptivos... Mas é difícil ter um programa de rádio dedicado aos que ainda não estão no mainstream...
2112. Uma curiosidade: como é fazer “gear” em pleno coração amazônico?
Alexandre. É maravilhoso, irmão... Gostamos de acreditar que nossa “geada” não vem para esfriar o coração das pessoas, mas sim para aplacar algumas dores e principalmente: Para que as pessoas saiam do show se sentindo melhor do que quando entraram...
2112. Confesso que foi muito bacana entrevistar e saber um pouco mais sobre a música da Gear. O microfone é de vocês...
Alexandre. Gratidão pela oportunidade dessa entrevista irmão! Um abraço da Gear, e que a sua casa seja onde a brisa te levar!!!

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