sexta-feira, 11 de maio de 2018

Entrevista Pepe Bueno


 

Pepe Bueno é um dos membros da banda Tomada mas que nesta entrevista fala de sua promissora carreira solo. O músico acabou de lançar seu segundo álbum composto apenas de material autoral o que dá a ele mais liberdade para arriscar. Portanto, saia da sua mesmice, amplie sua visão musical respirando novas paisagens sonoras!!   
2112. Você está lançando seu segundo álbum "Eu, o Estranho". Mas antes de aprofundar no assunto quero saber o porquê desse título? Achei super bacana e condizente com os tempos atuais...  
Pepe. Conversar que sou estranho, pra mim é super normal. Não vivo e não sou um cara que se encaixe nos padrões atuais, o que para mim é o máximo isso. O disco foi lançado digitalmente em 2016, tem muito a ver com as esquisitices que estamos vivenciando atualmente.
2112. É difícil ser normal no mundo de hoje ou o mundo é normal e nós é que somos os estranhos?   
Pepe. Eu prefiro viver minhas estranhezas sem pensar no que os outros estão esperando de mim, estamos numa época em que aproveitamos pouco o que a terra e a vida nos proporciona e o tempo todo estamos procurando nos afirmar e fazermos julgamento uns dos outros, mas essa não é a minha vibe. Quero produzir, ser autêntico e continuar tocando.
2112. Em conversa com amigos sempre digo que não sou um roqueiro normal (detesto rótulos!) pois também gosto de outros tipos de músicas como jazz, prog, blues, clássicos... Eu gosto de me definir apenas como um colecionador de sons. E você ouve todo tipo de música?  
Pepe. Ouço música quase o dia todo, o mundo sem a música seria um grande erro, né? Vou de Stax a Clube da Esquina posso ouvir Sabbath e Macy Gray no mesmo dia. A galera quando vem ouvir som aqui em casa tem a liberdade pra escolher qualquer coisa no Spotyfy e vinils.
2112. Vejo o radicalismo como uma das armas mais letais que existe justamente por dividir o cenário o que deixa tudo parecido como um campo de guerra. Porque uma banda punk não pode dividir o mesmo espaço com uma banda prog. Ideologias particulares não tornou o mundo melhor...    
Pepe. Essas diferenças normalmente trazem conflitos para o artista, mas ao mesmo tempo pode trazer uma originalidade genial ao som. Não sou radical e nem curto esses dias de extremismo. A abertura musical deveria ser a chave do sucesso, não ao cadeado do passado, principalmente nos dias de hoje, onde temos a possibilidade de ouvir tudo o que quisermos.
2112. Vamos falar um pouco sobre o novo álbum. Como ele foi planejado já que você também toca na banda Tomada e deve ter sido um tanto trabalhoso dividir o tempo, não é? 
Pepe. Estou trabalhando atualmente na divulgação do meus singles. “Os Estranhos” surgiram depois do lançamento do segundo disco intitulado “Eu, o estranho” em 2016, no Sesc Belenzinho, os shows passaram pelo Sesc Rio Preto, Sesc Belenzinho, Festival Feira da Pompeia e outras casas de shows. Com ele surgiu a banda e o lançamento inédito dos singles: Xerox Plastificado e Pelo Mar. A banda conta com Roy Carlini (Tutti Frutti), Gabriel Martini (Guilherme Arantes), Xande Saraiva (Baranga), Pi Malandrino (Balls) e Rodrigo Hid (Patrulha do Espaço e Pedra) e teve as participações ainda do bluesman Chico Summan e Tata Martinelli nas vozes e meu camarada Jea nos violões. Pra mim estar tocando e produzindo é o maior barato, dá um pouco de trabalho sim, mas ficar ao lado da música é uma recompensa grande.
2112. George Harrison certa afirmou que All Things Must Pass lançado em 1970 como álbum triplo foi consequência de suas músicas não serem aceitas por Lennon & McCartney. O mesmo ocorreu com você ou as composições de seus álbuns solos são tão pessoais que não se ajustam no repertório do Tomada.      
Pepe. Cara, o trabalho de uma banda é diferente porque lá é onde a criação coletiva precisa acontecer, tanto de arranjo quanto de composições. Logico eu tenho liberdade maior quando estou trabalhando em meus projetos, posso arriscar mais, saca?
2112. Ao contrário de “Nariz de Porco não é Tomada” seu primeiro álbum solo que teve participação de parceiros o novo trabalho traz apenas composições suas. Vejo que quando um artista compõem só ele arrisca mais e o trabalho final tem mais a sua cara, a sua personalidade... Vejo isso ouvindo os trabalhos solos do Arnaldo e os gravados com os Mutantes e a Patrulha do Espaço. O que você pensa a respeito disso? 
Pepe. Concordo, o desprendimento natural é super interessante, mas muitas vezes “estranho” aos ouvidos das pessoas, o que tem um charme maravilhoso e autêntico, é nisso que me identifico.
2112. O que este álbum na sua opinião se difere do primeiro?
Pepe. São álbuns bem diferentes, em uma década acontece muitas coisas. O Nariz de Porco, foi uma festa, muita gente dentro de estúdio, aprendi muito com a produção deste disco, é um disco de rock festeiro, tem umas pitadas de rock pesado e caipira, mas é um disco pra cima. Já, O estranho, é um disco mais experimental, eu queria explorar esse lado mais esquisito, trabalhar uns timbres e músicas experimentais, coisas que eu não tinha feito nem com o Tomada, nem no Nariz de Porco.
2112. Você poderia falar um pouco sobre as gravações? O que foi mais complicado na hora de gravar? 
Pepe. A maior parte do disco foi gravado no Area 13 em Rio Preto, sob o comando de Alberto Sabella e Junior Muelas. Quando voltei pra Sampa, senti falta de umas guitarras e outros detalhes, dai fui para o estúdio do meu amigo Edu Gomes, o cakewalking. É um disco que surgiu no estúdio, nao estava arranjado antes, não teve ensaio, saca. Ele foi nascendo, esse é um grande segredo do disco, assim que gravamos as cozinhas, foi surgindo as guitarras e tb as teclas. Foi uma experiência bem maluca, rs.
2112. Neste álbum além de compor, tocar seu Rickenbacker e cantar você não pensou em algum momento produzir também?  
Pepe O disco foi produzido, mixado e arranjado por mim, junto ao Junior e o Alberto.
2112. Além de Juninho Muellas (bateria) e Alberto Sabella (teclas e cordas) que gravaram suas participações em Rio Preto quem mais participou do álbum?  
Pepe. Eu usei a base da banda A Estação da Luz, banda que eu curto muito lá de Rio Preto, da qual o Muelas e o Alberto fazem parte, dai aproveitei para chamar Renata Ortunho (cantora deles) e Fish, para me ajudarem nas vozes e quando eu voltei pra Sampa, chamei Xande (Baranga) pra colocar uns slides em “O estranho”, além de Debbie Camiotto(que compôs e cantou comigo nessa faixa), mais dois guitarristas da pesada, Edu Gomes (irmandade do blues) e Pi Malandrino (Balls) na faixa Pote de Mel e meu amigo compositor e cantor Denny Caldeira com uma voz em “Tudo o que eu queria”, Nesse vídeo aqui pode sacar como foi o clima do disco: https://www.youtube.com/watch?v=tJ2kJnnAucs
2112. Das oito faixas gravadas qual você destacaria como a sua preferida?
Pepe. Pergunta difícil né. Eu gosto de Se Abra e Bem a Vista, que funcionou muito bem ao vivo também, mas eu tenho um carinho especial pelo disco como um todo
2112. Você vai gravar algum vídeo promocional? 
Pepe. Na minha página da Vevo no Youtube, tem webclipes de todas as faixas: https://www.youtube.com/channel/UCY3KlhMpFTh3jaIhqhfsigg. E os meus novos lançamentos terão clipes, “Pelo Mar”, já tá no ar: https://www.youtube.com/watch?v=xi4DquPrstU
2112. Pretender fazer shows solos ou algo parecido? 
Pepe. Fiz uns shows bem legais com Os Estranhos, nos Sescs Belenzinho e Rio Preto, além de tocar na Feira da Pompeia e devem rolar mais alguns shows, é muito legal, pq é um show dividido com a galera da banda, cada um canta músicas das carreiras solos, um lance na pegada do Ringo Star e sua banda rsrsrs.
2112. Vamos falar um pouco sobre o seu primeiro álbum o Nariz de Porco não é Tomada? Como surgiu a idéia de gravá-lo?    
Pepe. Em 2007, eu estava com a necessidade de aprender mais dentro do estúdio, o Tomada estava tocando direto e estávamos arranjando o disco Ö Inevitavel”, mas sem previsão de entrar em estúdio, quando tive uma oportunidade de entrar em estúdio para gravar o Nariz de Porco, não hesitei, tinha umas faixas na manga e uma galera que queria tocar junto, foram gravações bem divertidas. Ele acaba de ser lançado digitalmente nas plataformas digitais.
2112. É complicado gravar um álbum solo quando se participa de uma banda? Dá vontade de chamar os companheiros ou aquele momento é como fazer amor com sua parceira? 
Pepe. É uma experiência legal gravar algo seu, você acaba se expondo mais. Diferente de estar numa banda, que é uma experiência coletiva, mesmo muitas vezes mais direcionadas por um ou por outro.
2112. O que você ouve quando está em casa e quais as bandas que o influenciam?   
Pepe. Depende do dia, nos dias de fúria vou pro rock pauleira do MC5, e nos dias de calmaria fico com o Sá, Rodrix e Guarabyra e Fiona Apple.
2112. O que você tem visto de bacana no atual cenário? Tenho visto um aumento significativo de bandas autorais o que dá esperanças de dias melhores não é?   
Pepe. O que tenho ouvido de novo aqui no Brasil é um cara chamado André Prando e também o disco novo do meu amigo Chico Suman. Das gringas gosto do The Temperance Movement e The Royal Blood. Hoje em dia é mais fácil ouvir novidades, bandas e sons de todos os lugares, isso é muito legal, sabe, esse leque enorme de música que temos a possibilidade de explorar, conhecer e curtir.
2112. Na sua opinião o que está faltando para a cena ficar melhor? Conscientização do público que vai aos shows, do próprio músico, mais lugares para tocar...  
Pepe. Profissionalizar e criar um circuito de shows para nascer uma nova cena, renovar é preciso, criar é fundamental, mas rodar o Brasil tocando é essencial para essa mudança. Atualmente o desejo dos artistas é tocar nos Sescs, onde somos bem tratados, o público também tem a chance de ver um show completo e bonito dos artistas.
2112. O microfone é seu...
Pepe: Obrigado demais ao 2112, fiquem ligados nos meus links:
Esse ano ainda estarei lançando um EP com Denny Caldeira, tem um projeto de blues nacional com Sergio Duarte e quem sabe consiga terminar de gravar um disco completo com Os Estranhos.

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