segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Entrevista Maria Rita Stumpf













Rio Grande do Sul sempre foi um celeiro de grandes músicos e bandas... quem conhece   e acompanha a cena sabe o que estou dizendo. E é dentro deste contexto que surge Maria Rita Stumpf, cantora admirada mundo afora por seus trabalhos e conhecimentos musicais que ultrapassa barreiras culturais e linguísticas. Seu primeiro LP “Brasileira” é disputado a tapa no mercado europeu pela sua diversidade musical ao explorar uma infinidade de sons dentro de uma visão toda própria. E é com muito orgulho que o 2112 apresenta esta entrevista. Saia de sua área de conforto e aprenda a caminhar por outras vias musicais a que você não está acostumado. Aventure-se!


2112. Primeiramente, qual é a sua formação musical?


Maria Rita Stumpf. Apesar de ter estudado no Instituto de Artes de Porto Alegre e na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre sou autodidata. Componho com a voz e não conecto escrita musical com música.


2112. Como você se descobriu cantora e compositora?  


Maria Rita Stumpf. Compositora aos 14 anos e duas maravilhosas cantoras que infelizmente não seguiram carreira, magníficas vozes cantavam minhas composições Mirian Gazola e Berê, ambas do Sul. Comecei a cantar mais tarde quando fui morar em Porto Alegre e elas seguiram outro rumo. Tínhamos um grupo do qual também participavam Luiz Paulo Faciolli e Germano Maraschin, excelente letrista, e o flautista Ricardo Guimarães, em Caxias do Sul. Quando me mudei para Porto Alegre para cursar jornalismo encontrei Ricardo Bordini, grande parceiro musical da vida toda.  


2112. A princípio qual cantor/cantora despertou em você o desejo de cantar?    


Maria Rita Stumpf. Nenhum em especial. Quando eu era muito jovem, até os 17 eu não conseguia cantar, porque chorava ao cantar. Ouvi muita música clássica, muitos coros de ópera e gostava muito do som de vozes cantando juntas. Mas sempre tive grande admiração por cantoras como Ângela Maria, vozes negras do gospel americano, Maria Farandouri, grega, Mercedes Sosa, Elis Regina, obviamente. 


2112. Você participou de vários festivais no Rio Grande do Sul onde chegou classificar Cântico Brasileiro No 3 (mais conhecida como Kamaiurá!) na 3ª edição do Musicanto. O que este prêmio representou para você?


Maria Rita Stumpf. Na época uma injustiça, pois não deveríamos ter ficado em terceiro...  e depois praticamente nada pois nem mesmo sou mencionada nas memórias deste festival que eu nem sabia que tinha um site ou algo assim. Olhei de curiosidade e não vi nenhum registro... Não participei de tantos festivais em comparação à quantidade que existia e mulheres compositoras não tem muito espaço nestes festivais até hoje. Menos ainda com o tipo de música que eu faço.  


2112. Como era a cena do Rio Grande do Sul nesta época?


Maria Rita Stumpf. Muitos músicos novos surgindo, cultura sofrendo com a ditadura e falta de recursos, muita criatividade e muita dificuldade. Como até hoje.

2112. Sempre afirmo que para um músico descobrir uma linguagem própria ele precisa antes de mais nada estar aberto as várias manifestações musicais. Um músico ou um instrumentista que se feche ficará preso dentro do seu mundinho e em nada acrescentará a evolução da música. Um músico/banda precisa estar em constante movimentação, não é? Você concorda com estas afirmações e quais são as suas influências?  


Maria Rita Stumpf. Concordo totalmente e tenho pena de não poder conhecer mais, ouvir mais, ver mais. Tive a sorte de viajar por muitos lugares e poder acessar desta forma a música de grupos e pessoas tão diferentes quanto o Egchinglen da Mongólia quanto de minha querida amiga Choying Dolma, monja nepalesa ou Luna la Nube da Galícia, Afroceltic da Irlanda, ... e tantos e tantos... Minhas influências são muitas e misturadas. Tantas que nem sei, incluindo a música de galpões do sul e filarmônicas do mundo todo.

2112. Em 1985 você se muda para o Rio de Janeiro para estudar com o maestro Luiz Eça um dos grandes ícones da MPB. O que isso representou para você e sua música?


Maria Rita Stumpf. Luizinho foi um grande mentor e grande amigo. As gravações com ele foram momentos que jamais esquecerei, aulas de composição e respiração em plena gravação. Tocamos ao vivo muitas vezes e sempre foi uma grande experiência. Estudei a vida com Luizinho e a música acompanhava.   


2112. Neste período você apenas estudou ou fazia shows nos tempos livres? 


Maria Rita Stumpf. Eu trabalhava como produtora e cheguei ao Rio selecionada pela Funarte para show na Sala Sidney Miller que fiz 3 meses após chegar dividindo palco com João de Aquino. Conheci Mauricio Carrilho nesta época também e os shows eram esporádicos de acordo com as possibilidades do trabalho. O estudo com Luizinho não era formal, era prático.  


2112. Em 1987 você gravou o LP Brasileira com treze canções autorais, arranjos e participações de Ricardo Bordini, Luiz Eça e o grupo mineiro Uaktí e que obteve excelentes críticas. Você se lembra de como foram as gravações?


Maria Rita Stumpf. Eu gravei uma de Lupicinio Rodrigues com um inspirado arranjo de Ricardo Bordini, Luiz Paulo Faciolli e Julio Saraiva e o canto angolano que chamei de Lamento Africano, não eram todas minhas. A Cidade é uma parceria com Ricardo Bordini. Lembro de cada uma das gravações. Gravei quatro com o Uaktí e arranjos de Marco Antonio Guimarães no estúdio Bemol em BH. Gravei duas com Luizinho num apartamento no Flamenco de um amigo maravilhoso, pois ali tínhamos o piano que o Luiz queria e excelente material de som. Também gravei neste apartamento e não em um estúdio as composições em que toco violão e as que gravei com Ricardo, onde ele toca todos os instrumentos.

2112. Neste período você realizou shows de lançamento deste trabalho no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Salvador e Porto Alegre. Esses shows foram decisivos em sua carreira?


Maria Rita Stumpf. Estes shows representaram o início de uma carreira, que se desenvolvia como já disse com muita dificuldade. Não só para mim mas para muitos criadores na época. A certo ponto, desisti. 


2112. Em 1989 você foi indicada como cantora revelação para o prêmio Prêmio Sharp. O que isso representou para você?


Maria Rita Stumpf. Um reconhecimento que foi importante de todas as maneiras. Fiquei muito agradecida por isso. 


2112. Mapa das Nuvens lançado em 1983 contou com a participação de grandes nomes da MPB como Marcos Suzano, Danilo Caymmi, Farley Derze, Lui Coimbra, André Santos e Eduardo Neves. Conte um pouco sobre este trabalho e sobre a repercussão que ele trouxe para você.


Maria Rita Stumpf. Este CD trazia as músicas gravadas com o Uaktí e com Luiz Eça. Ampliou a experiência sonora e trouxe grandes amigos, mas após lançar no Rio de Janeiro, em duas memoráveis noites no Jazzmania, enfrentei problemas com um músico, que acabou prejudicando a mim e aos demais, e perdi a vontade. Parei, já tinha criado minha empresa, a Antares que dirijo até hoje e agora se tornará a produtora de meu trabalho artístico. Voltas da vida que sempre tem lógica quando observadas de longe. 

2112. Você compôs músicas para oito poemas de Mário Quintana e gravou duas: Canção da Garoa e Canção de Barco. O que levou você a musicar estes poemas e o que pensa em fazer com as seis que permanecem inéditos? Que tal um disco tributo a este grande poeta?


Maria Rita Stumpf. O que levou foi o amor e admiração por este poeta e por sua poesia, sua simplicidade genial. Já tentei em vários editais verba para gravar todos, mas até agora... Ainda não desisti de gravar todos e penso compor alguns mais sobre poesia de Cora Coralina, quando estiver em sua hora deve surgir. 


2112. Neste período você se apresentou em diversos teatros no Rio de Janeiro, com destaque para o show no Jazzmania tendo em alguns deles a participação de Luiz Eça, Jards Macalé, Nelson Angelo, Laudir de Oliveira, Totonho Villeroy... O que você sente quando está no palco?


Maria Rita Stumpf. Muitas coisas, pois é uma experiência complexa e envolve uma interação com os músicos que estão comigo e com o público e nunca é a mesma coisa. A vontade é de que a música traga luz e alegria, que aporte alguma coisa boa para todos.  


2112. Atualmente está havendo um renascimento da MPB clássica com a volta de grandes nomes da velha e nova guarda por uma nova geração antenada como Mariza Monte, Céu, Maria Gadú, Tulipa Ruiz, Silva... o que possibilitou a volta de muita gente esquecida. Como você o cenário musical hoje? 


Maria Rita Stumpf. Com preocupação pois as condições seguem difíceis mas existe um público ávido. A banalização de tudo é o que mais prejudica a manifestação artística, seja qual for. E deste mal estamos sofrendo todos em grande escala.  


2112. A diversidade musical sempre foi o grande trunfo da nossa música: rock, jazz, blues, forró, samba, pop, toada, sertanejo... Como você classifica a sua música?    


Maria Rita Stumpf. Não classifico. 


2112. A partir de 1993 você começou a dedicar-se a produção à frente da Antares trazendo não apenas ao Brasil mas a vários países da América do Sul os mais importantes nomes da cena cultural mundial. O que te impulsionou a tomar esta decisão?  


Maria Rita Stumpf. Eu já tinha trabalhado como jornalista, redatora, produtora em televisão. Comecei a Antares em 1994 e entrei em áreas não exploradas na época ou pouco exploradas. Sou muito intuitiva eu não penso e planejo muito e creio que nem decido, as coisas vão fluindo, como está acontecendo agora. 


2112. Outro Tempo: Eletronic and Contemporary Music From Brasil 1978-1992, faz parte desse projeto que é uma compilação que mistura ritmos indígenas com sintetizadores, tambores sintetizados com MPB. O trabalho foi realizado após uma extensa pesquisa de John Gomez e que teve participações importantes como Priscila Ermel, Andrea Daltro, Fernando Falcão, Nando Carneiro, Os Mulheres Negras além de você. Você pode nos contar um pouco sobre este projeto e a importância dele numa época que a música estão tão artificial?   



Maria Rita Stumpf. John Gomez encontrou o LP Brasileira em Tóquio e a partir dele, segundo ele mesmo, teve a ideia de criar esta compilação. Foi uma grande surpresa receber o primeiro e-mail dele e uma agradável convivência. Priscila também colaborou para a pesquisa de John. Creio que a compilação abriu caminhos para criadores que não tiveram espaço em seu tempo e foi extremamente bem elaborada. Para mim resultou no relançamento do LP Brasileira através dos DJs da Selvagem, Millos Kaiser e Augusto Trepanado. No lançamento no Teatro Oficina, ele mesmo um ícone da resistência cultural no Brasil trouxe um público muito jovem e curioso, entusiasmado e que certamente trouxe novo ânimo para todos os que se reuniram naquele palco.  


2112. Após vários anos dirigindo a Antares você foi retornou a música, certo? Foi difícil para você manter-se longe da música por tanto tempo? Neste período você compunha muito?  


Maria Rita Stumpf. Jamais compus uma linha neste tempo. Eu parei totalmente. Até escrevi esporadicamente, mas pouco.  

2112. Qual a sua opinião a respeito da distribuição gratuita de músicas na internet. Isso te incomoda?  


Maria Rita Stumpf. Tem pontos favoráveis e desfavoráveis. Os DJs também se apropriam de músicas e não pagam direitos. O mercado vai se acomodando pois as mudanças são muitas e muito rápidas. Alguns compositores tem como forma de difusão somente a internet. É um tema complexo.  


2112. Hoje infelizmente a música brasileira está tomada de artista imediatista que nada acrescentam em termos de qualidade instrumental e lírico a nossa música. O que você pensa a este respeito e qual seria a solução para resolver esta questão?


Maria Rita Stumpf. Sinceramente eu não penso nada pois entendo que existe mercado e existe público para todos os tipos de manifestação. Mas certamente a educação básica no Brasil é o principal ponto a ser revisto e a inclusão das artes nos currículos além de outras ações consequentes que possam atrair interesse e também dar acesso a mais pessoas.  


2112. Vi pelas suas redes sociais que você tem uma preocupação muito grande com a ecologia. Como você vê a atual situação da Amazônia e do resto do mundo? Na minha opinião se as pessoas não despertarem para o real perigo que vamos sofrer diante de tanta agressão a natureza. Qual a sua opinião?    


Maria Rita Stumpf. Todos temos que zelar por nosso planeta e estamos vendo no clima para onde nos dirigimos. Afora ser uma questão essencial para toda a humanidade tem que ser um compromisso individual. Uma vez mais a educação é a melhor solução. Existe uma geração praticamente perdida e outra tentando mudar paradigmas, a tempo, esperamos todos.


2112. Agradeço a sua disponibilidade em dar esta entrevista e desejar muito sucesso e dizer que o microfone é todo seu...


Maria Rita Stumpf. Obrigada. Envio o post da pequena turnê de lançamento do LP e me desculpo pela demora. Tive algumas emergências sérias desde agosto. Mando um abraço, anexo o release de BH que será a base para todas as cidades.



Serviço: 


Belo​ ​Horizonte​ ​-Teatro​ ​de​ ​Câmara​ ​/​ ​Cine​ ​Brasil​ ​Vallourec 


Dia​ ​:01/11 Horário:​ ​20:00 Ingressos:​ ​R$​ ​40,00​ ​(inteira)​ ​e​ ​R$​ ​20,00​ ​(meia)


Endereço:​ ​​​ ​​Rua​ ​Carijós,​ ​258-​ ​Centro,​ ​Belo​ ​Horizonte


Informações​ ​e​ ​venda​ ​de​ ​ingressos:​ ​​http://cinetheatrobrasil.com.br/


E​ ​pelo​ ​Compre​ ​Ingressos:​ ​​ ​​https://www.compreingressos.com/ (31)​ ​26261251  


Outras​ ​informações: http://www.mariaritastumpf.com https://www.facebook.com/Maria-Rita-Stumpf-Artista




Matérias​ ​sobre​ ​a​ ​Artista: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/03/1869960-cantora-maria-rita-stumpf-revelac ao-de-1989-e-redescoberta-por-djs.shtml http://noize.com.br/o-rarissimo-brasileira-de-maria-rita-stumpf-e-reeditado-em-vinil-pela-pri meira-vez-selo-selva-discos/#1 https://www.redbull.com/br-pt/rbmasp-outro-tempo 



Mariana​ ​Starling


Assessoria​ ​de​ ​Imprensa​ -​ ​Virtuosi​ ​Produções​ ​Artísticas comunicacao@virtuosi.mus.br


(31)​ ​993639093 


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