quinta-feira, 3 de maio de 2018

Entrevista Gerson Conrad



Junto de João Ricardo e Ney Matogrosso, Gerson Conrad fez parte do lendário Secos & Molhados que gravou apenas dois álbuns e quebrou vários tabus em plena ditadura militar: sexual, musical, cênico... lotou shows, vendeu mais de um milhão de copias do primeiro disco e deixou vários hits que são cantados até os dias de hoje. Após vários anos longe da mídia Gerson retorna com sua carreira solo e nós aproveitamos para um bom bate papo.

2112. Primeiramente devo dizer que está sendo muito bacana entrevistar um dos grandes visionários da música brasileira... Seja bem-vindo!

Gerson Conrad. Muito obrigado.

2112. Muita coisa aconteceu no mundo desde que você decidiu abandonar os palcos e o estúdio por 37 anos. Enfim, o que motivou o seu retorno?  

Gerson Conrad. Em verdade, não abandonei os palcos. Fiquei afastado de outubro de 1981 até março de 1992 quando voltei a fazer apresentações ao vivo.
37 anos foi o tempo que fiquei fora do mercado fonográfico e, por uma questão de bom senso, sem gravar nada como produção independente. Apenas participando
uma vez ou outra de gravações de discos de amigos. 

2112. O que você fez nesse período de inatividade musical?  

Gerson Conrad. Não diria inatividade musical, mesmo porque, compor e estudar música para mim é um exercício diário. No período citado acima, sobrevivi e trabalhei como arquiteto uma vez que, essa área me apresentava mais oportunidades
do que a área do show business naquele momento. 

2112. Lago Azul o novo trabalho vem com doze faixas inéditas e com certeza irá alegrar em cheio aos seus fãs e também os do Secos & Molhados, não é?

Gerson Conrad. Certamente irá alegrar à Gregos e Troianos. Sou um compositor consciente de que minhas obras vem trilhando num processo de evolução natural
com o passar do tempo. Acredito que o som que hoje faço seria o que estaríamos fazendo se o extinto grupo Secos & Molhados não tivesse acabado. A mesma qualidade
melódica e literária que tivemos é a que mantenho em meu trabalho atual.

2112. Uma curiosidade... como você conseguiu gravar um cd inteiro em total mistério sem que ninguém soubesse de nada?

Gerson Conrad. Apenas não divulgando o que fazia. (rsrsrs) Comecei a gravar sem compromissos e pressa no início de 2017 e, também sem a intenção de que virasse
um CD. No momento em que percebi que tinha um material de qualidade registrado, mostrei à gravadora Deck Disc, que se interessou em lançar o produto. 

2112. Você poderia falar um pouco sobre as gravações?

Gerson Conrad. Apesar de ter um grupo que me acompanha em shows ao vivo, com formação clássica das bandas de rock (guitarra, baixo, bateria, teclados, violão e voz) esse trabalho foi gravado apenas comigo e meu guitarrista (multi-instrumentista) e arranjador, Aru Jr. _ Dispúnhamos de mais tempo para isso que os outros integrantes e, quando nos demos conta, o CD estava pronto. A cada sessão dentro do estúdio, tínhamos a certeza de estar no caminho certo.

2112. A recepção nos shows tem sido boa?

Gerson Conrad. Sim, muito boa. Tenho um público fã que me acompanha já há décadas e sabem da qualidade de minhas apresentações.

2112. Você inclui releituras dos S&M? Quais são as mais pedidas?

Gerson Conrad. Sangue Latino, Delírio, El Rey e Rosa de Hiroshima.

2112. O que o novo trabalho difere dos seus outros dois trabalhos solos?

Gerson Conrad. Acredito que o fato de ser inédito ao público. (rsrsrs) Em meu primeiro trabalho tive Zezé Motta dividindo os vocais comigo (Som Livre 1975) e a pressão
da gravadora em ter que ter um hit de sucesso. Não foi muito diferente pela Continental em 1981. O que difere, atualmente, é que nesse novo trabalho eu dirigi e produzi
livre de cobranças ou grandes expectativas e o resultado é que consegui reunir 12(doze) hits de futuros sucessos. 

2112. Deve ser emocionante ver jovens quem nem eram nascidos quando você começou cantando suas músicas, indo aos shows... Isso te emociona?    

Gerson Conrad. Gratificante por demais. A cada nova apresentação ao vivo, meu público cresce com a presença de uma garotada com idade entre 20 e 35 anos.
Normalmente chegam tímidos no camarim e contam que seus pais são meus fãs.

 
2112. Os Secos & Molhados surgiu como um verdadeiro meteoro, lançou dois álbuns brilhantes e se consumiu na própria chama que ascendeu. O que realmente levou você e o Ney a saírem da banda?

Gerson Conrad. Incompatibilidade com os rumos com que o grupo caminhava. João Ricardo é detentor da marca Secos & Molhados e acredita ainda hoje no "eu que faço", "eu que mando", assim sendo o deixamos caminhar sozinho. 

2112. Não deve ter sido nada fácil enfrentar de peito aberto a ditadura e toda a pressão que eles impunham, não é? Vocês devem ter passado por maus momentos...  

Gerson Conrad. Não exatamente com o regime mas, com a censura.

2112. O culto a banda tem crescido vertiginosamente a cada dia renovando o seu público... é como se fosse uma herança passada de pai pra filho. Como você explica toda essa veneração?

Gerson Conrad. Estou certo de que a qualidade musical e literária do que conseguimos registrar com o S&Ms. 

2112. A prova de toda a loucura que rondava vocês foi o lançamento do álbum “Ao Vivo no Maracanãzinho” gravado em 1974. Que lembranças você tem desse show?  

Gerson Conrad. O Maracanãzinho foi um marco de ousadia no show business na época. Não havia na história de nossos artistas alguém ou um único grupo que tivesse reunido mais de 25.000 (vinte e cinco mil) pessoas assistindo a um espetáculo musical. Foi a visão empresarial de Moracy do Val que nos deu essa oportunidade.

2112. A loucura do público lembra muito a dos Beatles, não é?

Gerson Conrad. Na época, sim. Havia um fanatismo enorme para com o grupo.

2112. Tenho conhecimento de dois discos tributos a sua ex-banda: “Assim Assado - Tributo ao Secos e Molhados” (2003) e “Armazém 73 - Tributo ao Secos e Molhados” (2013) com a participação de grandes nomes da MPB junto a nova geração de bandas o que reforça a grande influência de vocês ainda nos dias de hoje... Você chegou a ouvir esses álbum? O que achou?

Gerson Conrad. O Tributo (2003) sim. Esse "Armazém 73" não conheço. _ Acho que todo tributo é sempre bem-vindo pois, ajudam a cultuar a memória de trabalhos consagrados. 

2112. É do conhecimento de todos que Vinícius de Moraes ficou super feliz com a versão musicada do seu poema Rosa de Hiroshima. Você chegou a conversar com ele sobre isso?  

Gerson Conrad. Conheci Vinícius nos bastidores da TV Bandeirantes e lá, apresentei minha composição a ele. Emocionado, Vinícius segurando meu braço disse que minha melodia eternizaria seu poema que estava perdido em meio à sua antologia poética. Assim, aconteceu. Vinícius foi um visionário.


2112. Mesmo distante dos palcos e das gravações você acompanhava o cenário musical? O que você acha de interessante atualmente?

Gerson Conrad. Distante, só das gravações. Voltei ao palcos em 1992 e de lá para cá, não parei.  De interessante atualmente, os artistas que primam por um trabalho de qualidade. Com ouvidos apurados conseguimos perceber que ainda existem bons trabalhos. 

2112. O que você tem em mente para este ano?   

Gerson Conrad. Três frentes de trabalhos/shows para 2018. O show do novo CD Lago Azul, uma releitura dos discos dos Secos&Molhados e um musical de minha autoria e de Paulinho Mendonça, chamado Os Sete Pecados Capitais. 

2112. Boa sorte para você e o seu novo trabalho... e que venham outros e outros. Estamos sedentos por músicas de qualidades.

Gerson Conrad. Grato, pela oportunidade ao Blog 2112.

2112. Uma última pergunta: existe a possibilidade dos Secos & Molhados se reunirem novamente?

Gerson Conrad. Não! Isso é utopia.

2112. O microfone é seu...

Gerson Conrad.  (rsrsrs) Lançamento oficial DECK DISC / CD Lago Azul - Gerson Conrad
dia 04/05/18 disponível em mídia digital dia 15/05/18 CD físico nas principais lojas em território nacional. 


Obs.: As fotos usadas nesta postagem foram retiradas do facebook do Gérson. O único fotógrafo identificado foi Elias Nogueira. Quem tiver maiores informações entre em contato com o meu e-mail: fúria2112@gmail.com.  

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