Ano que vem o projeto SP Metal I completa seus heróicos quarenta anos de
lançado... e uma data tão importante não poderia deixar de ser comemorada. Essa
entrevista tentando juntar pelo menos um integrante de cada banda para falar
sobre ambos os álbuns começou em 2015, mas somente agora foi possível realizá-lo.
Agradeço a todos os músicos que prontamente responderam as perguntas e em especial
ao China Lee que além de responder pela segunda vez (a primeira se perdeu em
função de um vírus no meu celular!) e me ajudou com alguns contatos. Espero que
gostem, curtam as histórias e se possível divulguem entre amigos e conhecidos. E
vida longa ao metal brazuca!
2112. Trinta e nove anos já se passou
desde o lançamento do primeiro volume do SP Metal que se tornou um divisor de
águas no cenário metálico brasileiro. Vocês tinham noção do momento histórico
que estavam participando?
Micka. Olá Carlos e todos do Blog 2112. Obrigado pela
contato e lembrança do Santuário. Claro que quando você está "no meio do
rodamoinho" talvez não consiga imaginar o impacto futuro daquilo que
esteja fazendo. Porém de alguma forma tínhamos a sensação de que algo
daquilo era inédito pois não havia nada igual ao nosso redor pois procurávamos
e não encontrávamos. Mas somente ao longo dos anos percebemos o quão importante
os álbuns se transformaram.
Davidson. Não tínhamos noção histórica da cena. Só percebemos mais tarde.
Ricardo. O cenário estava fervilhando de bandas boas e sabíamos que era um
momento muito especial. Havia um ar de novidade e explosão sonora. A distorção,
o som alto, solos de guitarra cada vez mais elaborados, os vocais rasgados eram
a tendência. Éramos uma mistura das incríveis bandas que iniciaram de fato o
rock brazuca como Mutantes, Patrulha do Espaço, O Terço, e as bandas de metal e
hard rock britânico e americano.
Luiz Teixeira. Nunca imaginaríamos que o SP Metal
seria esse divisor de águas, mas, com certeza tínhamos consciência do momento
histórico que a gravação de um disco de Heavy Metal significava, principalmente
como precursor de um movimento tão marginalizado, inclusive dentro do próprio rock.
Paulo Rossi. O movimento já era forte, mas ainda
restrito ao underground, pois a grande mídia, até hoje, não dá espaço para o
heavy metal, ou mesmo qualquer tipo de música bem elaborada. Luiz Calanca foi o
pioneiro que acreditou naqueles jovens cabeludos e barulhentos que frequentavam
a Galeria do Rock.
Pompeu. Sem dúvidas que não!
China. A gente nem tinha ideia do que
seria já era pra gente um absurdo. Naquela época era muito difícil uma banda
conseguir entrar no estúdio mesmo sendo de um porte de oito canais mas era o
Vice Versa que já era um estúdio consagrado, né. E a gente era tudo garoto
sem ideia nenhuma de como gravar. Tudo era novidade, bem diferente das
coisas de hoje. A gente não tinha ideia do que poderia acontecer. É lógico que
sempre sonhando em ser um Iron Maiden. A gente sonhava alto! Talvez foi o que
levou o heavy metal dos anos oitenta brasileiro chegar tão longe. O sonho, a
garra, a coragem e a união.
Paulão. Não, éramos muito jovens e
inexperientes, não tínhamos noção de nada ...hahaha
2112. Quando o Calanca os procurou com
o projeto do disco qual foi a primeira reação de vocês?
Paulão. Ficamos felizes mas também
apreensivos pois não tínhamos experiência alguma, mas fomos contudo ´porque
sabíamos que seria muito participar daquela coletânea.
China. O Calanca vinha fazendo alguns
testes com algumas bandas, né. As bandas que estavam se destacando na época
então a gente já sabia que ele tinha ido num show. O Luiz ele chegava com um
gravador de rolo e gravava o show da banda. Então ele já tinha feito isso com o
Centúrias... então a gente já tava sabendo. Para a nossa surpresa ele começou a
seguir a gente e gravando alguns shows. Só o fato dele ir até nós já foi uma
coisa bacana. E ai a expectativa que a gente poderia ser uma das bandas. E graças
a Deus a gente foi uma das bandas escolhidas. Foi bem bacana isso aí.
Luiz Teixeira. Foi realmente um momento de euforia e
perplexidade, um sentimento de vitória.
Davidson. Ficamos muito felizes com o convite do Calanca para o SP Metal ll uma
vez que bandas amigas haviam gravado o SP Metal l.
Caio. Foi muito emocionante pois
sabíamos que nosso esforço estava dando resultado. Só quem viveu naquela época
sabe o quanto era impossível para uma banda de heavy metal no Brasil gravar um
LP.
Micka. Explosão de alegria e confiança. Ser reconhecido
pelo seu trabalho é a busca de todo artista e vindo de quem veio somente
valorizou nosso passe...rsrsr...
Pompeu. Nossa... foi com o Dick... entramos em
parafuso, um mix de alegria, medo, transformação e esperança não víamos a hora
de gravar.
Paulo Rossi. Surpresa, emoção e felicidade, pois
gravar um disco naquela época era algo difícil e caro.
Ricardo. Muita satisfação! Seria nosso cartão de visitas para novos shows e quem
sabe para uma grande gravadora.
2112. Qual foi o critério utilizado na
escolha do material que iria ser gravado? O Calanca teve alguma influência ou
vocês levaram a aceitação das músicas nos shows?
Micka. O Calanca nos deu total carta branca, mas
certamente a repercussão das canções nos shows foram determinantes. Estavam
tornando-se hit antes das gravações e eram as canções que melhor
representavam nosso espírito naquele momento.
Luiz Teixeira. As músicas foram compostas
exclusivamente para o SP Metal, sem nenhuma interferência do Calanca, deveriam
ser músicas especiais para aquele momento especial, tanto que suas letras dizem
muito a respeito da luta eterna em defesa do Heavy Metal.
Paulo Rossi. A decisão da escolha das músicas foi
nossa. O Calanca nos deu liberdade total.
China. Sim, naquela época o público
contava muito. Então a reação do público já mostrava qual qual era a música, né?
As pessoas só ouviam as músicas no show porque não existia outro meio de
divulgação. Então de tanto elas irem nos shows atrás da banda elas tinham suas
preferências. E o Calanca teve participação por estar indo nos shows da gente. Ele
disse... Delírio Estelar e Cabeça Metal. E era exatamente as duas que a gente
também sentia porque o termômetro era o público nos shows.
Davidson. A banda escolheu duas músicas sem interferência do Calanca.
Ricardo. O Calanca é o cara! Liberdade total para fazer o que queríamos, do jeito
que achávamos que deveria ser feito. A única óbvia limitação era orçamentária.
Gravamos as músicas recém compostas sem grandes análises ou encanações. Era
aquilo ali que tocávamos e foi assim que decidimos.
Pompeu. Nós mesmos escolhemos as faixas, não houve
interferência do Calanca. O que ele queria era a energia que ele viu em um show
que participamos e deixamos boa impressão nele, não houve nenhuma negativa da
gravadora, pela nossa parte colocamos as músicas que nos agradavam mais naquele
momento
Caio. A música Mattew Hopkins pela
popularidade e Batalha no Setor Antares pois eram muito representativa do poder
criativo do Vírus.
Paulão. Eram dois sons que já tocávamos
nos shows, estavam acertadas e completas.
2112. As gravações foram feitas num
único take?
Davidson. Passamos a madrugada gravando, quando foi a vez do vocal, eu, o batera
e o guitarra base fomos tirar uma soneca no estúdio ao lado. Fechamos a porta e
depois de 15 minutos acordamos assustados com nosso próprio batimento cardíaco.
Pompeu. Basicamente, fizemos
bateria, baixo e guitarras, depois solos e vocais.
Paulo Rossi. Nós tivemos dois dias de estúdio para
gravar as músicas.
Paulão. A base sim ou seja, batera,
baixo e base de guitarra, já que o tempo do estúdio era muito curto, naquela
época a hora era muito cara.
Micka. Numa única madrugada em 8 canais, mas no formato
tradicional com as bases bateria e baixo, guitarra em seguida e vozes por
último.
Tudo muito embrionário mas para nós era um mundo novo e as descobertas foram
incríveis!
Ricardo. Em oito canais a base foi gravada em um único take. Os solos de guitarra
e vocais numa segunda passada. A captura foi feita em uma madrugada e a mixagem
em outra. Algo como 16 horas no total para duas músicas. O engenheiro de som
foi o José Luís Goes Carrato (Zé Heavy) também em início de carreira e com um
puta tesão de fazer acontecer. Aprendizado empírico para todos os envolvidos.
Davidson. Primeiro gravamos baixo, bateria e guitarra base. Depois a guitarra
solo e por fim os vocais.
Luiz Teixeira. Não, foram vários takes para cada
música, alguns problemas com timbres sempre acontecem, principalmente numa
gravação analógica.
Caio. As gravações foram feitas por
partes de cada instrumento.
China. Sim, só que era em sala dividida.
Foi num dia só para cada banda. Eram oito canais... então gravou o batera
separado, depois o baixo, depois a guitarra e depois o solo em outro canal
tinha os backing e a voz principal. Foi um momento único da nossa vida
quebrando o cabaço para falar em português claro.
2112. Vocês mesmo fizeram os arranjos?
Davidson. Os arranjos eram nossos.
China. Sim, os arranjos eram nossos, e
não tinha como criar no estúdio porque você tinha que gravar o mais rápido
possível porque o estúdio era uma fortuna, muito caro então o critério até era
"vá muito bem ensaiado". E a gente foi muito bem ensaiado e não havia
espaço financeiro para você ficar criando algo no estúdio. O que a gente deixou
para o estúdio foi timbragem de guitarra que deu um pouco mais de trabalho
porque todos nós éramos iniciantes né? Inclusive o próprio técnico por gravar
guitarra distorcida o Zé Luiz que virou o Zé "Heavy" Luiz né? Foi o
cara de uma importância muito grande para o SP Metal. Mas a gente criou tudo
fora e fomos para o estúdio.
Pompeu. Sim, nada foi mudado
do composto pela banda.
Paulo Rossi. Sim, as composições eram
contribuições de todos os integrantes da banda.
Luiz Teixeira. Sim, totalmente.
Caio. Todos os arranjos eram nosso.
Paulão. Sim, letra de Duas Rodas é minha
e Portas Negras do Edu e Marco Aurélio.
Micka. 100% nosso criados nos ensaios. Ensaiávamos muito.
E creio que esse era o processo com todas as bandas.
Ricardo. Sim
absolutamente tudo que tocamos, ou melhor, o pouco que tocamos foi culpa nossa.
2112. Quais as lembranças mais bacanas
que vocês tem do período no estúdio? Alguma curiosidade que os fãs desconhecem?
Luiz Teixeira. Muitas lembranças boas, desde o
encontro com os amigos das outras bandas, entre o início e o fim das gravações
do dia, da merecida cerveja na padaria da esquina, nas conversas animadas sobre
o futuro, até os momentos mágicos dentro de um estúdio, onde de fato a música acontece, inesquecíveis.
Pompeu. Putz brother, não me
recordo muito daqueles dias, mas sei que viramos a noite lá e nas minhas horas
sozinho ia no estúdio de 16 canais que não era o que estávamos trabalhando para
imaginar um dia estar ali.
Ricardo. Imagina uma molecada que nunca tinha entrado em um estúdio de verdade,
de repente ter a oportunidade de gravar duas músicas e prensar um vinil? Não
tínhamos nenhuma experiência anterior e durante todo tempo os caras mais velhos
e experientes, como por exemplo o Rubens Gioia (Chave do Sol), Hélcio Aguirra
(Golpe de Estado) e o próprio Calanca nos ajudavam numa atitude benevolente e
positiva. Os equipos não eram os mais adequados, o estúdio não era o mais
adequado, os músicos não eram os mais adequados, mas o vontade de fazer era
grande e acho que conseguimos um resultado até razoável diante das
circunstâncias.
China. A lembrança mais bacana era
principalmente uma banda que eu era muito amigo da Vírus então na gravação da
gente tava a turma do Vírus e a gente na gravação deles também. Então essa
troca de carinho, de participação de duas bandas que estavam bem ativas o
Salário e a Vírus, né? E foi momento bacana que eu lembro bem... o carinho do
Luiz Calanca em comprar até baquetas preocupado de alguém esquecer. Ele sempre
foi muito prestativo, bacana mesmo. Mas o momento mais legal mesmo foi essa
troca de energia entre Salário e Vírus. Sempre foram bandas bem próximas e
irmãs.
Paulo Rossi. As boas lembranças começam no
deslumbramento de estar no estúdio, a análise do resultado e o sentimento de
poder eternizar a obra da banda.
Paulão. Foi tudo muito rápido. Usamos a
mesma bateria para todas as bandas, guitarras plugadas na mesa de som, uma
banda gravava logo após a outra. Foi muito louco e nós do Centúrias trocamos de
guitarrista no meio das gravações saindo o Paulinho e entrando o Fausto
Celestino aliás os solos foram feitos por ele e o único que tinha um
amplificador Marshall.
Caio. Foi uma época muito mágica...
entrar em um estúdio pra gravar um LP era algo incrível.
Micka. Só de ter a chance de entrar em um estúdio já
valeria a jornada.
Foram horas que poderiam durar eternamente. No meu caso eu lembro bem no
momento do solo de "Espártacus, o Gladiador Rei" quando o nosso
eterno amigo Zé "Heavy" Luiz, que era o técnico de som e que também
estava descobrindo tudo junto conosco, abriu um reverber no fone de ouvidos e
aquilo "atravessou meu cérebro". Fui transportado para outro planeta.
Era só sorrisos e alegria. Uma experiência inesquecível.
2112. Todo artista é exigente com a
sua obra por isso se vocês pudessem mudar alguma coisa nas gravações o que
mudariam?
Ricardo. Falar depois de 40 anos sobre o que mudaríamos é meio difícil afinal a
evolução tecnológica e nossa evolução como músicos foi enorme. Mas se
fizéssemos uma viagem de volta àquela madrugada no Estúdio Vice-Versa, acho que
não mudaríamos nada. Deixamos ali tudo que tínhamos com os recursos que
dispúnhamos.
Luiz Teixeira. Poderíamos mudar muita coisa,
principalmente na parte técnica, mas, acho que uma única coisa muito simples, e
que poderia ter sido feita na própria época, daria a esse trabalho a sonoridade
que merecia, os instrumentos plugados nos amplificadores, antes da mesa, isso
mudaria tudo na qualidade final.
Davidson. Mudaria o solo final da música Guerreiro da Paz.
Paulão. Claro que sim, se pudéssemos
regravá-las hoje seria muito melhor. Claro que com bons equipamentos e
estrutura, afinal 40 anos depois hahaha.
China. Carlos, mudar uma coisa que
virou histórica é bem complicada. Quem acompanhava os shows do Salário antes da
pandemia, antes da minha saída viu que Cabeça Metal e Delírio já é tocado bem
diferentes... Aliás Delírio nós regravamos no Simplesmente Rock com dois
bumbos, guitarras mais pesadas e quem assistia aos nossos shows no YouTube,
Cabeça Metal é um rolo compressor, né, perto da gravação do SP Metal, muito
mais pesado, os refrões mais fortes. Só que você acredita que mesmo com toda a
estrutura que nós gravamos no Simplesmente Rock existe pessoas que gostam
daquela forma como foi concebido no SP Metal e aí então o que a gente teria que
mexer a gente mexeu nos shows. Então quem acompanhou os shows viu. Mais
sonoridade mesmo que a própria construção da música. Seria mais uma atualização
de componentes, de qualidade do que mexer na própria concepção da música.
Pompeu. Eu nada, claro que não é tudo aquilo pro
momento de hoje, mas naquela época era demais.
Caio. O resultado ficou muito abaixo
do esperado, porém estávamos felizes com o álbum. As músicas do SP Metal foram
regravadas no álbum Contágio.
Micka. O retrato de um momento é o que fica. Sabemos das
deficiências e tudo o que poderia ser melhor. Sabíamos disso lá na hora mesmo,
mas era o que podia ser feito com os recursos disponíveis. Era melhor ter algo
registrado pois tudo tem o seu momento e aquele foi especial.
Paulo Rossi. Atualmente, mudaríamos muita coisa,
pois na época éramos jovens sem experiência e com aquele sentido de imediatismo
característico da idade.
2112. Participar do projeto de uma
certa maneira alavancou a agenda de shows de vocês?
Micka. Muito. Uma banda sem um registro é uma promessa.
Aquilo transformou todo o esforço em algo real. Rapidamente o país inteiro
estava ouvindo as canções e mesmo sendo de forma independente e sem os grandes
investimentos das gravadoras tradicionais, o disco atravessou fronteiras. Fomos
a primeira banda brasileira a tocar no exterior.
E aonde fossemos tocar as pessoas já estavam cantando as músicas.
Davidson. A gravação ajudou muito a banda, porém já tínhamos agenda cheia.
Paulão. Com certeza, participamos de um
projeto pioneiro, nos deu muita mídia e visibilidade, aumentou shows e público.
Caio. A fama logo veio após o álbum.
Começamos a fazer shows por todo o interior de São Paulo e tocamos no Rio de
Janeiro também. A grande mídia e casas de shows antes fechadas para o heavy
metal se abriram. Foi uma explosão! Faz de todo o Brasil e também de outros
países surgiram até no Japão. Outra coisa importante foi que pudemos dar o SP
Metal para vários dos nossos ídolos mundiais. Demos uma cópia para o Angus
Young no Rock In Rio em 1985.
Pompeu. Não só isso como fez
o Korzus existir de vez.
Ricardo. Sem dúvida. Após o lançamento pudemos fazer shows bem legais e em maior
número. Lira Paulistana, Madame Satan, Palmeiras, Círculo Militar de Campinas,
Clube de Jundiaí, Santos e alguns bares como o histórico Rainbow Bar do Betão
Cruz.
China. Sem dúvida nenhuma. SP Metal
ficou um tempão... tudo era SP Metal. A gente tocava por São Paulo e o Brasil
inteiro. ...sem dúvida nenhuma abriu agenda sim, fantástica. Em 85 nós tocamos
muito, 86 nós tocamos muito foi realmente graças ao SP Metal e ao Rock In Rio
que veio simultâneo. O Luiz foi muito visionário nisso... ele lançou o SP Metal
próximo do Rock In Rio. Foi um sucesso!
Luiz Teixeira. Sim, tivemos convites para vários
eventos, durante um curto período, mas, infelizmente não conseguimos
prosseguir, a banda acabou.
Paulo Rossi. Não muito, pois a banda acabou no ano
seguinte.
2112. Vocês tem noção de quantos álbuns foram vendidos?
Paulo Rossi. Sabemos que o SP Metal foi o Best
Seller da Baratos.
Pompeu. Não faço a mínima ideia,
não nos preocupávamos com números ou dinheiro só queríamos ser e estar ali.
Davidson. Não.
Caio. Não sei as quantidade de álbuns
na época, creio que a primeira tiragem foram 3.000.
Ricardo. Não sei.
Paulão. Não temos ideia, vende até hoje.
Inclusive foi lançado na Finlândia com uma edição bem luxuosa. e essa pergunta
o Luiz Calanca pode responder melhor.
China. A gente ouviu falar em dezoito
mil na época, né. Hoje eu acredito que superou esse número, né? Na época nós
ouvimos dizer em dezoito mil. O Luiz não confirma... fica aquele mistério, né?
O SP Metal também na Finlândia, correu o mundo inteiro. Na época em 84, 85 até
87 falava em dezoito mil cópias. Eu acredito que vendeu muito mais do que isso.
Luiz Teixeira. Não exatamente, mas foram feitas
reedições, e o SP Metal é o disco mais vendido do selo, dito pelo próprio
Calanca.
Micka. Sabemos que a tiragem foi acima da média dos
discos independentes no estilo. Acredito que os dois álbuns tenham sido os mais
vendidos do heavy metal em português em todos os tempos e vendem até hoje. Mas
não tenho os números oficiais. A Baratos Afins sempre foi muito correta
conosco.
2112. Não podemos deixar de mencionar
o acabamento gráfico inovador que após tantos anos ainda influencia bandas e
fãs de rock, não é?
Caio. A arte da capa do SP Metal foi
criada pelo nosso vocalista, o Flavio, um super artista. Realmente tinha um
nível alto e chamou a atenção de todos. A foto do Vírus na contra capa também
virou referência pra todas as bandas do Brasil.
Pompeu. Sim, sem dúvida, o
Calanca sempre foi inovador em tudo eu tiro o chapéu pra história dele.
Davidson. O acabamento gráfico ficou top.
Micka. Aquilo foi uma obra do nosso amigo Flávio Ferb,
vocalista do Vírus, que era uma banda que tinha extremo cuidado com a imagem em
todos os sentidos. Isso mostra o envolvimento de todos, o que era uma coisa
muito especial naquela cena.
Paulo Rossi. A capa ficou bonita, mas não era
nossa escolha. Hoje é um ícone da música pesada.
Paulão. Sim, pra época foi muito legal e
original. A capa feita pelo vocalista da Vírus.
China. É impressionante como o Flavio Ferber
fez a capa do SP Metal do vinil, ele era vocalista do Vírus. Ele é um cara
muito competente, acho que ele nunca foi tão feliz como na capa do SP Metal.
Não poderia ser mais acertivo e marcou uma época e até hoje ela é hiper atual.
Esse é o grande barato da arte, né. Você olha e parece que ela foi feita hoje.
Sensacional!
Luiz Teixeira. Sim, sem dúvida a arte final e o
acabamento gráfico da capa ficaram muito bons, conseguiram expressar o clima do
momento.
Ricardo. Sim, o Flavio que desenhou as capas do SP Metal I e II. Os caras do
Vírus aliás sempre foram muito inspirados e sempre que dava fazíamos um som
juntos e íamos aos ensaios uns dos outros. Muito legal!
2112. Estes dois álbuns deu um forte
impulso para o surgimento de novas bandas, novos lançamentos e a própria
consolidação e profissionalização da cena metálica brasileira. O que vocês tem
a dizer respeito desses álbuns?
Caio. Foi um divisor na história do
metal do Brasil. Muitas outras coletâneas foram lançadas e depois os álbuns
individuais.
Paulo Rossi. Os dois SP Metal conjugados com o
Rock in Rio fizeram o metal nacional explodir, mostrando ao mundo que o brasileiro
também sabe fazer música boa e pesada.
China. Não, sem dúvidas o lançamento do
SP Metal I já foi uma coisa absurda, né? Aí todo mundo começou a se mexer,
porque despertava o sonho de outros meninos que estavam nas garagens. E logo
veio o segundo que cresceu um pouco mais em qualidade, não qualidade das
bandas, apesar que as bandas eram muito boas, mas em qualidade de produção
mesmo, já se acertou um passo melhor. Você pode ver que a qualidade de gravação
é melhor. Então tudo isso foi um aprendizado. E a gente viu grandes nomes como
André Mattos e vários outros artistas citando o SP Metal como referência. O SP
Metal virou uma referência para as bandas de heavy metal inteiro e algumas até
do mundo. Porque nós temos algumas bandas que cantam em português fora do
Brasil como o Força Macabra que é da Finlândia que se inspirou no SP Metal.
Então o SP Metal foi uma referência para o mundo.
Micka. Dois álbuns seminais, honestos e verdadeiros. Retratos
de um momento e inspiração para as próximas gerações. Quem ouvir buscando
defeitos vai encontrar dezenas. Quem ouvir com o espírito livre vai encontrar
verdade.
Luiz Teixeira. São álbuns icônicos, muito relevantes
para o Heavy Metal Brasileiro, não só no sentido musical, mas, no mais profundo
sentido da luta por um ideal, a conquista de um sonho.
Pompeu. Você já disse tudo
na pergunta, na minha humildade concordo com tudo que disse e basicamente foi
isso mesmo que aconteceu, todos queriam estar nos dois ou ter um contrato com a
Baratos.
Ricardo. Olha um cara que conseguiu conta toda essa história com muita
assertividade e com muita qualidade e riqueza de detalhes foi Mika do Santuário
com o longa Brasil Heavy Metal. As bandas que vieram depois ou mesmo que se
consolidaram no cenário como a Salário Mínimo, Centúrias, Golpe de Estado e
Korzus com certeza deram um salto de qualidade incrível após todo movimento dos
SP Metal I e II.
Paulão. ... como disse foi um projeto
pioneiro e inovador para o Brasil, foi o alicerce para o que viria depois,
graças ao visionário e guerreiro Luis Calanca.
Davidson. Somos muito gratos ao Luiz Calanca pelos dois álbuns SP Metal l e ll.
2112. Devo dizer que foi muito bacana
fazer esta entrevista com todos vocês comentando estes dois álbuns históricos.
O microfone é de vocês...
China. Parabéns Carlão, jamais desista,
você tem o seus seguidores e eu aqui China Lee reconheço o seu trabalho. Siga,
nem que seja por um número reduzido de pessoas que amam o seu trabalho.
Sucesso!
Paulo Rossi & Luiz
Teixeira. Nós
ficamos muito felizes e agradecemos imensamente essa oportunidade tão gostosa
de reviver o passado que infelizmente não volta mais. E parabéns por tão
gratificante iniciativa. Abraços a todos! LONG LIVE HEAVY METAL!!!!
Caio. Agradeço muito a oportunidade de
dar continuidade na história através de vocês. É emocionante dar uma entrevista
tantos anos depois. Abraços!
Pompeu. SP Metal marca o
início do metal em São Paulo, a indústria nasceu dele, a imprensa tinha seus
heróis nacionais, foi um marco histórico e me sinto honrado por fazer parte
disso.
Paulão. Muito obrigado Carlos, é um
prazer falar desses felizes momentos que vivemos no início do heavy metal no
Brasil, tenho muito orgulho em ter participado dessa história de amizade,
união, batalha e atitude. Obrigado abraço a todos e longa vida ao nosso rock
pesado.
Davidson. Muito obrigado pela entrevista foi um prazer. Forte abraço. Espero ter
contribuído.
Ricardo. Nós que
agradecemos pela oportunidade de relembrarmos um pouco da história maravilhosa
do SP Metal. Fizemos um show de comemoração de 30 anos no SESC Belenzinho e não
acreditamos quando o público cantou as músicas conosco. Foi inacreditável
perceber que após tantos anos tem gente que ainda curte aquele que foi um
projeto pioneiro bolado pelo Calanca e executado com muito prazer por todas as
bandas. Hoje em dia, juntamos parte dos músicos do Abutre; Ricardo Giudice -
Guitarra, Tomas Catafay - Baixo e Adalberto Rosado - Bateria, com o
ex-guitarrista do Centúrias, Adriano Giudice, aquele que gravou o LP
Última Noite, por pura diversão. Estamos selecionando repertório, estudando e
ensaiando regularmente para, em 2019 voltamos a fazer umas gigs por ai. Saudações
aos amigos!
Micka. Eu nome da banda agradeço a você e todo o apoio
que sempre dá ao rock em todas as vertentes. Obrigado a você e AVANTE
GUERREIROS!
Obs.: Peço desculpa pela qualidade das fotos... mas fiz o melhor que pude.
SP
Metal I
Missão Metálica (Avenger) . Duas Rodas
(Centúrias) . Mattew Hopkins (Vírus) . Cabeça Metal (Salário Mínimo) . Portas
Negras (Centúrias) . Delírio Estelar (Salário Mínimo) . Cidadão do Mundo
(Avenger) . Batalha no Setor Antares (Vírus) .
Ficha
Técnica: Idealização,
direção e produção: Luiz Calanca - Lançamento: Baratos Afins - Capa: Flávio
Fernando de Barros - Gravado em oito canais no Estúdio Vice-Versa em
agosto/setembro de 1984 - Técnico de gravação: Nico Bloise - Assistentes: Zé
Luiz e Edu (Vice-Versa).
SP
Metal II
Espártaco, Gladiador Rei (Santuário) .
Princípe da Escuridão (Korzus) . Rock, Rock, Rock (Abutre) . Viajante Perdido
(Performances) . Quando o fogo começa a arder (Abutre) . Guerreiro da Paz
(Performances) . Santuário (Santuário) . Guerreiros do Metal (Korzus).
Ficha
Técnica: Idealização,
direção e produção: Luiz Calanca - Lançamento: Baratos Afins - Capa: Flávio
Fernando de Barros - Gravado em oito canais no Estúdio Vice-Versa em 1985 -
Técnico de gravação: Zé Luiz - Corte e prensagem: RCA.
Curiosidades das entrevistas: Paulão Thomaz (Centúrias 2015), Caio
Montenegro De Capua (Vírus
2023), China Lee (Salário Mínimo 2023), Marcelo Pompeu (Korzus 2018), Ricardo
Giudice (Abutre 2015), Micka Michaelis (Santuário
2023), Davidson
Miranda (Performance 2023) e Paulo Rossi & Luiz Teixeira (Avenger 2023).
O que os fãs acham do SP Metal I
& II:
“Havia um clube do disco na cidade
onde eu moro e lá se alugava Lps para gravação em fita cassete. Naquela época
os discos eram caros. Não bastasse o aluguel, precisávamos ir à loja comprar a fita.
De propósito ficava dias com os Lps. A proprietária somava tudo e o valor
excedia o dos discos, assim era melhor comprar os mesmos. Numa ala, havia as
clássicas bandas gringas e na outra as independentes cujo valor era barato e
numa promoção comprei o Lp “Salário Mínimo - Beijo Fatal” e as clássicas
coletâneas “SP Metal” com bandas de metal em português cujo estilo estava
soterrado nos anos 90s. Fiquei tão fascinado que pensei em voltar a ter banda
já que havia saído de dois projetos. Em uma das visitas encontrei Laércio Costa
(V) e soube que ele curtia Judas Priest, Saxon e as nacionais Golpe de Estado,
Madame Terra entre outras. Após umas jans sessions eu disse a ele: Quero montar
uma banda autoral de metal em português. Como base mostrei os dois volumes da
coletânea SP Metal. Compus as letras, algumas com ele e os dias se passaram.
Até que fui a uma loja de ferragens comprar a chave allen para a guitarra e
encontrei o Ismael Moreira, um amigo baterista que trabalhava lá e me convidou para
uma jan de blues com outro camarada que cantava Steve Ray Vaughan, notei que
ele era o cara que iria fazer a bateria e ele topou meu convite para um projeto
totalmente adverso ao que ele e eu havíamos cogitado naquele ensaio de blues.
Houve uma oportunidade para tocar em uma escola local onde estavam abertas as
inscrições para um festival de música. Lembrei de Reginaldo Honda que estudou
no Conservatório Musical comigo para fazer o baixo. Nos inscrevemos no festival
em novembro de 1995 e mandamos as primeiras músicas do projeto de nome:
Prellude. As músicas eram: "Razões para Vida" e 'Anjos da
Noite". Marcamos presença, com a energia e influência dos bolachões. Tocar
no festival foi o jogo. Forjamos a espada e fiz o logo... Ao longo do tempo
surgiram mais música e mais shows dando origem ao primeiro cd "A Estrada
do Rock" em 1998. Hoje, 28 anos depois daquela iniciação, estou com o
projeto Thorzel e continuo com o que foi o embrião do meu conhecimento em Metal
em Português, ou seja, os intactos e icônicos Lps da minha coleção, as
fantásticas coletâneas "SP Metal I e II".”
Christian Lima (V/G) das bandas Prellude e Thorzel - Mogi das Cruzes/SP
“Xará, tenho 50 anos e mergulhei no oceano do Rock n Roll aos 17. Até
então, ouvia muita coisa que os meus pais, principalmente minha mãe, ouvia:
Roberto Carlos, Julio Iglesias, Fado (que eu amo), música folclórica
portuguesa. Depois deste meu mergulho no Rock, sempre deixei o Heavy Metal de
lado. Curtia muito as bandas nacionais dos anos 80, muito new wave e synth-pop,
muitas bandas dos anos 60 e 70, muito progrock setentista. No início dos anos
90, com o estouro do Black Album, do Metallica, é que comecei a ouvir o estilo,
mas sem querer conhecer muito .... coisas de cabeça-dura. Quando eu cheguei na
casa dos 30, é que Heavy Metal começou a ganhar espaço. E aí, como bom
"rato" de internet, comecei a ler, a "baixar", a pesquisar
e principalmente a ouvir!!! E, nestas pesquisas, descobri a existência dos
álbuns "SP Metal", que são um verdadeira preciosidade do estilo, e
que me serviram de base para conhecer as bandas que deles participaram e
descobrir o quão rico é o Heavy Metal Brazuca. Agora, por fim, 2 curiosidades:
a primeira, eu e o China Lee frequentávamos o mesmo clube, a famosa Portuguesa
de Desportos, em Sampa, da qual ele é um fanático adepto (como dissem aqui em
Portugal). O Salário Mínimo, todo ano, fazia um show nas famosas Festas Juninas
da Portuguesa e eu adorava este dia por conta das fãs do SM que lá apareciam...
rs rs rs. A Segunda: eu era vizinho de muro do Roger Vilaplana e, "por
tabela", do local de ensaio dos Centúrias, no Jabaquara... Era ouvir
metal a tarde toda.”
Antonio C. S. Lopes
“A primeira banda que eu curti foi a Salário Mínimo
justamente por estar próximo do tipo de som que eu ainda curto que é o hard
rock/hard blues. Com o passar do tempo fui me familiarizando com o Centúrias, o
Avenger... mas confesso que a Vírus me chocou com aquele som extremamente
pesado e seus trajes/adereços carregados de tachinhas que até então só tinha
visto com o Motörhead e o Judas Priest. E o segundo álbum seguiu o mesmo curso.
Tenho os SP Metal I & II como porta de entrada para tudo que aconteceu depois
do lançamento dos dois álbuns sem esquecer dos pioneiros Stress e
Karisma.”
Carlos Antonio Retamero Dinunci
Mande seu depoimento contando o impacto que esses dois álbuns
causou na sua vida para furia2112@gmail.com ou retamero2112@gmail.com que serão incluídos aqui.
Esta matéria é dedicada ao lendário guitarrista Celso Vecchione da banda Made In Brazil que infelizmente nos deixou hoje.