terça-feira, 31 de outubro de 2023

Entrevista Marcos Cordeiro

2112. Há trinta anos você está "live on the road" com passagem por diversas bandas. Como você resumiria esse tempo de aprendizado na sua vida?

Marcos. Eu diria que foi um período muito gratificante, o sonho de ser músico, tocar guitarra e fazer parte de bandas é uma das melhores experiências que se pode ter, apesar das dificuldades em se fazer música no Brasil. Toquei em grupos de blues, rock, rockabilly, bandas covers e trabalhos autorais, eu diria que nas bandas covers eu aprendi, me diverti, e nos trabalhos autorais eu me desenvolvi, criar é realmente a experiência mais prazerosa. 

2112. ... o interessante é que ao tocar em diferentes segmentos musicais você amplia seus horizontes como músico, não é?

Marcos. Sim, sem dúvida, cada novo trabalho é um desafio e um aprendizado. Eu trabalhei com vários amigos compositores, caras da minha geração como meu amigo Fabio Ribeiro. Eu gosto dos trabalhos autorais porque você tem liberdade de criar, é como uma página em branco esperando pra ser preenchida. Gostava muito de fazer arranjos de guitarra e solos para essas novas composições, e esses amigos sempre reconheceram meu trabalho por isso.

2112. Eu tenho o blues como referência... mas adoro explorar sonoridades étnicas além do jazz, soul, hard, psicodelismo, prog, música experimental etc. E você?

Marcos. Acho que também sou assim, gosto de ouvir música em geral, música boa, como quando você vai ao cinema e é surpreendido com uma música linda, de alguém que você nunca ouviu falar. Agora minhas influências como músico já não são tão abrangentes, rock anos 60 e 70 principalmente, blues, rockabilly e um pouco de jazz, gosto também da turma mineira, do pessoal do Clube Da Esquina.  Minha formação como guitarrista vem por esse caminho.

2112. ... dos grupos que participou existe registros disponíveis nas plataformas digitais?

Marcos. Há um trabalho antigo, do final da década de 90 do grupo Aerosilva. Participamos de muitos programas de TV nessa época, tivemos contato com gente da mídia, porém o grupo acabou não atingindo o grande público. No Aerosilva fiz parte do segundo álbum da banda. Esse trabalho foi produzido por Mauricio Nunes e Alexandre Fontanetti. Agora recentemente foi lançado o EP do amigo Duck Strada, participo na guitarra em duas faixas. Entre esses trabalhos houveram outras gravações porém nada disso está disponível na rede.

2112. Nessas idas e vindas entre uma banda e outra como surgiu a idealização do álbum "De Minas A Bangkok"? Você já tinha esse material pronto?

Marcos. Aconteceu de uma forma bem curiosa, a princípio não planejada.

Ao longo do tempo eu sempre colecionei algumas composições, normalmente temas instrumentais, de vez em quando surgiam essas ideias, eu desenvolvia e deixava guardado, não ligava muito pra essas músicas.  Um dia ao encontrar um amigo, Edson Machado, ele me disse que estava há pouco tempo com um equipamento de gravação em seu apartamento, e me convidou pra fazer uns testes, umas experiências, ele me disse que queria aprender a gravar. Marcamos um dia e apareci por lá, sem expectativas. Nessa primeira sessão gravei uma música que tinha composto há pouco tempo, chamada Cry Baby, fiz duas guitarras base, alguns arranjos e um tema solo seguido de um improviso. Foi rápido mas fiz tudo direitinho, como se faz uma gravação oficial pra um disco. Ao ouvir a faixa ficamos impressionados com o resultado, mesmo sem baixo e batera a música parecia pronta, talvez porque fiz várias camadas de guitarra, parecia que não precisava de mais nada, nesse momento pensei: “uau, a música é boa!” Daí marcamos uma segunda sessão, empolgado com a experiência de ouvir minha música gravada compus um segundo tema no período entre o primeiro e o segundo encontro. Fizemos esse novo tema na segunda gravação, novamente fiz todas as camadas de guitarra, caprichei nos timbres, e ao ouvir o resultado no fim da sessão quase cai de costas, essa segunda música tinha ficado ainda melhor que a primeira, foi aí que eu vi que realmente eu compunha coisas interessantes, eu precisei ouvir gravado para ter essa percepção... Daí resolvemos gravar esse álbum, produzimos juntos, e as músicas das duas primeiras sessões de gravação estão no disco, uma delas é o tema de abertura, chama-se “A Dança dos Pássaros”.

2112. As composições são todas suas ou você divide parceria com amigos ou membros da banda?

Marcos. As músicas são minhas, exceto a faixa “A Bicicleta e o Catavento”, que compus junto a cantora Marcela Maia.

2112. Você poderia falar um pouco sobre as gravações do De Minas A Bangkok?

Marcos.
A primeira parte da gravação do disco foi toda no apartamento do Edson, ele tem vizinhos muito pacientes, tivemos tardes de trabalho muito agradáveis e divertidas, sou muito grato ao Edson por isso. Gravamos assim todas as guitarras, baixos também. Na segunda etapa do projeto fui para bons estúdios para fazer a bateria e mixar, acabei refazendo algumas guitarras também, sou muito perfeccionista, como bom virginiano.

2112.. ...além de você, do Nilson e do Felipe houve a participação de outros músicos em estúdio?

Marcos. Primeiramente eu preciso agradecer a participação de Nilson Santos na bateria e Felipe Goulart no baixo, são músicos incríveis, sem eles dificilmente esse álbum teria a mesma consistência.  Fora isso contei com a participação de Cassiano Nogara no baixo, na faixa “Guitarras Tropicais.”

2112. Gosto muito do formato trio o que me lembrou de bandas lendárias como o Cream, Emerson, Lake & Palmer, Beck, Borgert & Appice, Motörhead, Triunvirat, ZZ Top, Rush etc. Mas você já pensou em incluir um tecladista na formação?

Marcos. Sim. Tenho essa ideia faz algum tempo, de contar com um tecladista, acho que ao vivo completaria bem a sonoridade que almejo. Agora o trio é legal né, além de simplificar a logística, ensaios e tudo mais, no trio todos tem que ser intensos o tempo todo, se entregar por completo, talvez por isso que esses trios que você citou se destacaram tanto, fora o “Experience”, do Hendrix, que transcendeu tudo que já havia sido feito na época, pra mim ele é o maior de todos.

2112. Vocês ainda estão em processo de divulgação do álbum ou já estão trabalhando material novo?

Marcos. O trabalho de divulgação do álbum ainda está muito no início, embora no show entram composições novas que provavelmente entrarão no segundo álbum, ainda não pensamos em gravar de novo.

2112. Nos shows vocês incluem apenas material autoral?

Marcos. Sim, só material autoral, embora tenho pensado em incluir uma música de Jeff Beck, outro cara totalmente anormal, fora da curva.

2112. Muito interessante vocês usarem elementos da música etérea do Cocteal Twins em "De Minas A Bangkok" Que outras curiosidades o ouvinte pode esperar? 

Marcos.  Eu gosto de ouvir a música e descobrir a que imagens mentais que ela me conduz; estradas, lugares, paisagens, De Minas A Bangkok me remete a essas imagens. A primeira vez que ouvi Cocteau Twins achei incrível aqueles climas viajantes das canções, pra mim aquilo era como uma viagem da alma, como que flutuando, há sensações que são difíceis de descrever.  No entanto não é uma banda que fez parte de minha formação musical, até porque conheci a banda um pouco depois, porém as coisas que você ouve e lhe causam um impacto acabam ficando em você de alguma forma, e isso passa a influenciar o que você faz daí pra frente, mesmo que essa influência não seja perceptível para o público em geral.

2112. ... e como está a aceitação do álbum? Além do formato CD ele também já está disponível nas plataformas?

Marcos. O álbum foi lançado pela distribuidora Cd Baby, ele está nas principais plataformas digitais. Já em relação à repercussão confesso que ainda estamos um pouco carentes de shows para sentir mais a reação do público. Trabalhar com música independente no Brasil é um desafio. 

2112. O mercado da música instrumental apesar de pouco divulgado em comparação a outros segmentos possui um público fiel que sempre consome os lançamentos/relançamentos e na maioria das vezes lota os shows, não é?

Marcos. Há uns tempos atrás a música instrumental em nosso país ficava muito restrita à praia do Jazz e da música brasileira, há grandes instrumentistas nessa área, agora de uns anos pra cá começaram a surgir alguns grupos de rock fazendo música instrumental, como o grupo “Macaco Bong”, por exemplo, acho isso bacana, abre novas possibilidades, o público  de rock, blues e jazz é aberto a esse tipo de som, o problema é você conseguir chegar nos espaços para que esse público te conheça, o som instrumental é algo bem segmentado, o nicho do nicho, para chegar ao público primeiro você tem que chamar a atenção dos produtores culturais, é necessário que os produtores de show olhem um pouco pra fora da sua bolha, abrir oportunidade pra quem ainda não teve muita projeção, sem isso não surge o novo.

2112. ... sem contar os inúmeros festivais espalhados por todo o país. Isso contradiz os que dizem que não existe público para esse segmento musical, não é?

Marcos. Esses festivais acontecem em muitas cidades diferentes, me refiro aos festivais de música independente tá, não mainstream, acho que é muito legal, é importante para a criação de novas cenas musicais e tenho admiração pelas pessoas que tem a iniciativa de criar esses festivais. No entanto reitero a necessidade desses curadores olharem para o lançamento de novos artistas. Há grupos independentes que participam desses festivais que já tem décadas de carreira, e não tem problema, são artisticamente relevantes e importantes para atrair o público, porém não podemos deixar de pensar na renovação, às vezes o cara tem que se arriscar um pouco e trazer um grupo novo, ainda com pouca história.

2112. Exatamente. Mas qual é a sua visão de mercado hoje? O que melhorou e o que piorou nos últimos anos?

Marcos. Mudou totalmente com o avanço da tecnologia. Um lado bom é que a internet democratizou de certa forma, pois todos podem utilizá-la para divulgar seus trabalhos. No entanto aconteceu um fato curioso, quando começamos a curtir som, vou falar por mim, lá na década de 80, conhecíamos as bandas através do rádio, as vezes da tv e nos discos, através de amigos que às vezes te gravavam uma fitinha, ou seja você conhecia primeiro o som, a música, só depois você vinha a conhecer o artista. Hoje em dia é ao contrário... Com a massificação da internet e dos smartphones a imagem se tornou mais importante, a pessoa tem acesso a imagem do artista muitas vezes antes da música.

2112. ... uma coisa que mudou muito é como se ouve música nos dias atuais. Por onde os fãs de material físico?

Marcos. Hoje há mais formas de ouvir música e isso é bom, quanto mais se facilita o acesso a informação melhor. Já quanto aos fãs do material físico, como eu, eles sempre vão existir, hoje em menor quantidade, devido à facilidade de se ouvir música na internet, porém isso não destrói o nicho dos cds e vinis, é só você ir na Galeria do Rock em São Paulo e ver, tá todo mundo lá, porque ter as coisas que você gosta é um grande barato, eu particularmente sou fã do vinil, é o melhor som que há.

2112. Existe projetos para shows no exterior?

Marcos. Já pensei nessa possibilidade, porém estamos no início de um trabalho, ainda temos muito a fazer por aqui, no futuro quem sabe.

2112. Qual e-mail/telefone para contratar vocês e adquirir o cd?

Marcos. marcoscordeiro222@yahoo.com.br, fone : 11986314174 gostaria de passar meu canal do YouTube: @marcoscordeiro9698

2112. Obrigado pela entrevista... o microfone é seu!

Marcos. Eu que agradeço pela oportunidade. Gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho que você tem feito divulgando a cena rock nacional e a música independente de forma geral. Vivemos uma época muito complexa no mundo, muitas divisões e conflitos, precisamos cada vez mais da música e da arte de uma forma geral, acho que a arte genuína não está na grande mídia, no mainstream, não nos dias atuais. Quem tem os meios de ação na área cultural e nas mídias independentes tem a oportunidade de agir de forma a facilitar a chegada de gente nova e talentosa, como o que você faz através do blog 2112, muito obrigado!

Obs.: Todas as fotos são do arquivo pessoal do entrevistado.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Entrevista Gabe O'Meare (O Peso)

2112. Primeiramente, o que te trouxe ao Brasil em plena ditadura militar?

Gabe. Eu estava viajando como músico com vários grupos musicais de apoio incluindo uma estadia de seis meses em Las Vegas com Tom Jones.  Meu último show foi com Wayne Cochran, um cantor de soul branco. Viajamos durante seis meses. Teve vez que nem sabia em que cidade eu estava. Depois de alguns anos decidi que precisava de um período de férias. Meu pai morava no Brasil e então decidi fazer uma visita e ficar por alguns meses. A Gal Costa precisava de um guitarrista porque Pepeu Gomez saiu após o grupo dele Os Novos Baianos lançaram um LP. Fui pego novamente tocando para cantores e de novo na estrada. Tentei fazer jornalismo escrevendo artigos musicais para a revista Rolling Stone. Também tive aulas com Luis Claudio Ramos, um guitarrista incrivelmente talentoso (arranjador do Chico Buarque), que me acolheu como amigo e me orientou na música brasileira. Devo imensamente a ele.

2112. Como foi o seu começo na música?

Gabe. Provavelmente é uma boa ideia começar esta resposta informando que tenho 76 anos, minha influência musical foi principalmente meu pai, que era um ávido fã e músico de Jazz e Blues. Lembro-me de ouvir sua coleção de velhos discos que tinha cantores como Bill Big Bill Broonzy, Robert Johnson, Muddy Waters e Charlie Patton e no lado do jazz Louis Armstrong, Kid Ory e uma série de pianistas como Tampa Red e Jelly Roll Morton. Nos mudamos para a Venezuela no início dos anos 50, onde fui exposto a música latina como La Sonora Matancera com Celia Cruz e os boleros do Trio Los Panchos e Lucho Gatica. Também por volta de 1955 fui exposto a Elvis Presley Bill Haley e seus Cometas, Little Richard e Gene Vincent. Atendia uma escola para americanos e a nova onda do rock and roll estava na moda. Em 1965, me liguei na soul music. Fiquei hipnotizado com os sons vindos de Memphis Tennesse e Muscle Shoals Alabama. Cantores como Wilson Pickett, Otis Redding, Johnnie Taylor, Aretha Franklin, Rufus Thomas entre outros. Mais tarde, também ouvia Yardbirds e Jeff Beck, Eric Clapton, Led Zeppelin, Allman Brothers e Rod Stewart. No início dos anos 70 eu tocava semi-profissionalmente em grupos de bailes e bandas de cover. Fui contratado por um empresário que me colocou entre outros músicos para fazer backing de cantores em Las Vegas, entre eles, o Tom Jones e os Righteous Brothers. Eu não fazia gravação profissional na época, mas com certeza toquei muitas dos Top Forties (as 40 musicas mais tocadas) nos cassinos e em clubes da cidade. Foi uma verdadeira experiência de aprendizado pois conheci todos os tipos de pessoas e músicos num ambiente de trabalho difícil onde tínhamos que aprender musicas que faziam sucesso quase que na hora de tocar.

2112. Que músicos mais o influenciou no seu jeito de tocar?

Gabe. Minhas primeiras influências foram os guitarristas acústicos de country blues, como big Bill Broonzy e Robert Johnson. Mais tarde passei a ouvir Chuck Berry, Scotty Moore que tocou com Elvis Presley, James Burton e Ricky Nelson. Meu pai me ensinou algumas progressões de acordes e ao me tornar músico de estúdio e guitarrista de apoio, fui altamente influenciado por guitarristas como Steve Cropper, Chips Moman, Reggie Young, Jimmy Johnson, Eddie Hinton, Cornell Dupree e outros. Certamente BB King e, eventualmente, Eric Clapton, têm influência na minha maneira de tocar blues.

2112. Já em solo brasileiro você toca com Gal Costa, fica amigo de Tim Maia, fez shows com Zé Ramalho. Em algum momento você pensou em criar uma banda?

Gabe. Toda a experiência brasileira como tocar com a Gal Costa, Tim Maia e outros músicos foi uma surpresa muito grande para mim. Eu nunca planejei ficar no Brasil, nunca pensei em montar uma banda porque nunca tinha feito isso nos Estados Unidos. Sempre toquei em bandas, mas nunca montei uma. Na verdade, eu acho que no colégio eu tinha um grupo de muito sucesso chamado TC And The Boys que tocavam uma mistura do som inglês dos Beatles e um pouco de pop americano.

2112. E como você conheceu o Luiz Carlos? O Peso já existia como banda?

Gabe. A banda O Peso não existia, era uma dupla formada por Luis Carlos Porto e um pianista chamado “Gordo”. Eles fizeram uma apresentação no Festival FIC com uma musica chamada O Pente. As referencias a droga era o tema principal da música.  Mas a letra foi tão bem escrita que a censura não pegou. Nessa época a Polygram se interessou muito pelo Luis Carlos Porto. O Guti foi o produtor que por sinal nunca teve reconhecimento suficiente por produzir nosso LP. Na época eu era um guitarrista de rock and roll bastante requisitado tocando com Raul Seixas, Leno e qualquer gravação de rock and rol. O Guti me pediu para montar um grupo para apoiar o Luis Carlos Porto. Não era para fazer um grupo, mas apenas uma banda de apoio para o cantor. O Luis Carlos não queria ser só um cantor, queria ser integrante de uma banda de rock pesado. Ele realmente era uma super-estrela, um cantor de muito talento. Olhando em retrospecto, acho que ele poderia ter se tornado uma estrela mundial de renome se as coisas não tivessem saído fora dos eixos.

2112. Você participou da gravação de Pente?

Gabe. Não participei da gravação. Não tenho certeza quem participou mas acho que pode ter sido algum dos músicos do Azimuth.

2112. E qual foi a reação do público e dos jurados quando vocês a tocaram no IV Festival Internacional da Canção?

Gabe. Não toquei no 4º Festival Internacional.

2112. Me responde uma coisa... como foi que "A Volta do Ponteiro" creditado a Beto Scala foi parar no lado b do compacto? Foi sugestão da gravadora?

Gabe. Me desculpe, mas não estou ciente dessa música creditada à Betto Scala. Deve ter acontecido antes de eu fazer parte do projeto O Peso.

2112. Lúcifer foi gravada numa época em que pouco ou nada se falava sobre ocultismo. Vocês tiveram problemas com a censura ou líderes religiosos?

Gabe. A música Lúcifer foi sugerida para nós porque Ozzy Osbourne e o Black Sabbath estavam no auge de seu sucesso. Nós realmente não gostávamos de nada disso e, francamente, escrevemos a música sem muita inspiração, tanto que juntei algumas tiradas tipo Led Zeppelin e juntamos algumas palavras. O solo era mais menos um "place holder" que eu iria refazer mais tarde. Nós apenas deixamos como estava. Nunca tivemos problema com o pessoal da censura. A única vez que tive problema com a igreja foi que gravei uma música chamada Saco Cheio com o cantor Almir Guineto. O chefe da igreja no Rio era o Ivo Loksheider, um religioso muito conservador, e ele fez a música sair da rádio, porém eu conhecia o chefe da censura, o Coronel Sá. Fui ao escritório dele com um gravador e enquanto eu tocava a música ele chamou outros caras que conheciam a música de cor e começaram a cantá-la juntos. Ali mesmo ele disse para o inferno com isso deixa tocar eu vou cuidar disso é fim de papo.

2112. Você e o Luis Carlos eram os principais compositores da banda. Como funcionava essa parceria?

Gabe. Luis Carlos Porto além de ser um excelente cantor, também era um ótimo letrista, meu português não era exatamente bom mas minhas idéias eram boas para as músicas. Eu dava a ele a idéia e ele trabalhava febrilmente para dar corpo a música. No final nós acabávamos a música e assinamavos a parceria. Trabalhamos muito bem um com o outro e temos algumas músicas que nunca foram gravadas. Algumas delas tinham um sabor muito nordestino, pena que nunca conseguimos lançar um segundo álbum. Não tenho registro dessas músicas. Acredito que elas se perderam no tempo.

2112. Quais eram as influencias da banda?

Gabe.  A banda foi altamente influenciada por Led Zeppelin, Rod Stewart com Jeff Beck e os Allman Brothers.

2112. Muitas foram as bandas nos anos 70 que não tiveram a chance de registrar sua obra por falta de apoio das gravadoras. Como foi que vocês conseguiram esse feito sendo uma banda de som tão pesado?

Gabe. Quando Luis Carlos apresentou a música Pente, esse tipo de swing estava na moda, meio que Raul Seixas apoiado por Renato e seus Blue Caps. Era isso que a gravadora estava procurando, porém conforme nossos ensaios progrediram, descobrimos que a maioria de nós estava ouvindo Led Zeppelin e o álbum Jeff Beck Truth, e esse é o som que emulamos. No final foi nosso grande erro, a gravadora estava realmente procurando esse som e não foi o que eles conseguiram com O Peso.

2112. O que você poderia contar sobre os bastidores das gravações do Em Busca do Tempo Perdido?

Gabe. A maior parte ou todo o disco foi ensaiado minuciosamente no Studio do Constant Papineannu, em Laranjeiras. Fomos para o estúdio com tudo arranjado e não houve muitas discussões sobre o que tocar. Para um dos solos... acho que foi Me Chama De Amor, o Lulu Santos me emprestous sua Fender Stratocaster que tinha o som que eu procurava. Queríamos um grande coro então contratamos um grupo chamado Os Meninos de Deus para cantar e também o Tony Bizarro que faleceu recentemente e foi considerado o último soul man depois do Tim Maia. O Zé Roberto Bertrami, do Azimuth tocou um dos primeiros sintetizadores de cordas em Me Chama de Amor. Queríamos uma conga em Lucifer, um dos técnicos do estúdio tinha uma lá e ele tocou, não saiu tão bem quanto queríamos, mas na maioria das gravações americanas a conga sempre foi mal tocada e assim ficou. Eu disse que o estúdio era de oito canais, mas era realmente um estúdio de quatro canais. Nós fizemos milagres com quatro canais, fazendo pingue-pongue indo e voltando. Novamente o Gutii foi um expert nisso e conseguiu o som que queríamos.

2112. ... e como foi feita a escolha do repertório? Qual foi o critério usado por vocês?

Gabe. O repertório foi montado pelo Luis Carlos e por mim. Não havia nenhuma organização ou uma idéia preconcebida do que tínhamos que fazer.

2112. Quem indicou o Guti Carvalho para produtor?

Gabe.  Guti Carvalho era produtor de rock and roll e pop na gravadora. Ele foi fundamental na montagem daquele grupo e foi muito diligente durante a mixagem dessas músicas. Na verdade não haveria O Peso sem a participação do Gucci.

2112. Vocês registraram o álbum em várias sessões ou foi tudo gravado direto ao vivo? Quanto tempo vocês gastaram em estúdio?

Gabe.  Gravamos o álbum em cerca de 3 dias em uma máquina de oito faixas.

2112. Para promover o disco a gravadora lançou o single Sou Louco por Você/Me Chama de Amor. Ele teve uma boa aceitação na programação das rádios?

Gabe. Infelizmente nosso som não era compatível com o rádio, não tínhamos muita penetração no rádio, nem mesmo nas rádios FM, eles gostavam mais de soft rock como Rita Lee e um rock mais pop

2112. Gabe, tudo o que foi gravado está no álbum ou ficou algum registro de fora?

Gabe. Não tivemos muito tempo, tudo o que escrevemos está naquele álbum, não há faixas sobrando que eu saiba.

2112. "Em Busca do Tempo Perdido" ao longo do tempo se tornou um dos álbuns mais cultuados dos anos 70. Qual a sua visão sobre o assunto?

Gabe. ... talvez porque o som fosse único comparado ao que estava sendo gravado na época. Nosso disco se destaca como uma espécie de som icônico do rock and roll. Basicamente tentamos emular o som pesado produzido por Jimmy Page e talvez por isso conseguimos nos destacar do resto da galera do rock and roll que se inclinava mais para um som mais leve ou tropical.

2112. ... você ainda ouve o álbum?

Gabe. Eu o ouço algumas vezes por ano e ainda me pego sorrindo quando o faço, foi uma boa gravação e me traz muitas recordações.

2112. A banda continuou até 1977 quando encerrou carreira e você passa a trabalhar como produtor e músico de estúdio. O que te levou a retornar para os Estados Unidos?

Gabe. Voltei para os Estados Unidos em 1990. Passei 20 anos no Brasil e senti que precisava voltar para o meu país e trazer minha família para cá. Na época que as ruas do Rio ficaram muito violentas e eu não estava feliz com o jeito que as coisas estavam funcionando para mim na indústria fonográfica, eu me tornei um compositor e tive vários sucessos com Tim Maia, Sandra de Sá e outros cantores.  Mas pensei que gostaria de voltar para os Estados Unidos e atualizar meus conhecimentos musicais e técnicas de produção. Na verdade, mudei-me para Memphis, Tennessee, onde tornei-me um músico de estúdio, mas não funcionou tão bem quanto eu queria. Eu falo vários idiomas e decidi abrir uma empresa de tradução que se tornou muito bem-sucedida. Ganhei muito dinheiro e ainda estou nesse negócio.

2112. A banda tentou um comeback em 1984. Você foi contactado para essa reunião?

Gabe. Nunca fui contactado por ninguém para refazer a banda. Pelo o que sei, Luis Carlos gravou alguns discos, um que nunca foi lançado porque ele não deixou. Houve algumas ressurreições do grupo e até alguns músicos alegando que eram o guitarrista original do conjunto. Eu meio que dispenso comentários disso e desejo a todos boa sorte e sucesso.

2112. Após a sua saída da banda você não pensou em formar uma nova banda ou mesmo gravar um álbum solo?

Gabe. Depois de sair da banda tornei-me um produtor de discos de samba bem-sucedido produzindo a música Reunião de Bacana (Se gritar pega Ladrão) e alguns outros sucessos que se tornaram minha paixão depois do rock and rol. Eu não tinha interesse em ser um artista solo o participar de um outro conjunto de rock.

2112. Atualmente você continua atuando como músico, produtor ou se aposentou?

Gabe. Sou semi-aposentado, faço traduções para alguns escritórios de advocacia e também trabalho como locutor geralmente em espanhol porque falo espanhol fluentemente. Também assumi o cargo de síndico do condomínio onde moro entre a aposentadoria, um trabalho burocrático e algumas coisas artísticas que sou capaz de fazer. Sou um velho feliz que anseia por passar os fins de semana com sua filha e os netos. Isso não significa que eu não toque violão, tenho uma bela coleção e realmente toco várias horas por dia, principalmente Bossa Nova e um pouco de Jazz. Eu gostaria de tocar como George Benson... mas talvez na próxima vida eu chegue perto.

2112. ... o microfone é seu!

Gabe. Obrigado!

 

Interview Gabriel O'Meare (O Peso)

2112. First of all, what brought you to Brazil in the middle of the military dictatorship?

Gabe. I had been traveling as a musician with various backing music groups including a 6 month stay in Las Vegas with Tom Jones. My last concert was with a singer called Wayne Cochran who was a white soul singer. We traveled almost every single day for 6 months. There were times when I didn’t even know which city I was in. After a few years of this routine, I decided I needed a vacation. I didn’t know who I was or where I was. My father lived in Brazil and I decided to pay him a visit and stay for a couple of months. Since Gal Costa needed a guitarist because Pepeu Gomez quit his group when his group Os Novos baianos released the album. I was caught again playing for singers and again on the road. I tried to attend journalism by writing music articles for Rolling Stone magazine. I also took lessons from Luis Claudio Ramos, an incredibly talented guitarist (arranger of Chico Buarque), who took me as a friend and guided me in Brazilian music. I owe him immensely.

2112. What was your start in music like?

Gabe. Probably it is a good idea to start this answer by letting you know that I am 76 years old. My musical influence was from my father who was an avid Jazz and Blues fan and musician. I remember listening to his 78 record collection which had singers like Big Bill broonzy, Robert Johnson, Muddy Waters, Charlie Patton, and on the Jazz side with Louis Armstrong, kid Ory, in a series of piano players like Tampa Red and Jelly Roll Morton. We moved to Venezuela in the early 50s where I was exposed to Latino music La Sonora matancera with Celia Cruz and boleros by Trio Los Panchos and Lucho Gatica. Also around 1955 I was exposed to Elvis Presley Bill Haley and his comets Little Richard and Gene Vincent. I attended to na American School and the new wave of rock and roll was the fashion at the time. I picked up on soul music around 1964, and my guitar Heroes were folks like Steve Cropper, Chips Moman, Reggie Young, BB King and Bobby Womack. I was mesmerized by the sounds coming from Memphis and Muscle Shoals Alabama, singers like Wilson Pickett, Otis Redding, Johnnie Taylor, Aretha Franklin, Rufus Thomas among others. Later I was also listening to the Yardbirds and Jeff Beck, Eric Clapton and Led Zeppelin, Allman Brothers and Rod Stewart by the early 70s I was playing semi-professional in dance bands and cover groups. I was hired by a manager who placed me among with other musicians to back up singers in Las Vegas among them Tom Jones and the Righteous Brothers. I haven’t done any professional recording at the time but I sure played a lot of top 40 Tunes in the casinos and around town. Later, I was contracted by a singer called Wayne Cochran who his guitar player got ill and I had to cover him immediately. We traveled throughout the United States playing what is called the chitlin circuit and in small clubs. It was a real learning experience. I met all kinds of people and musicians. It was a tough work atmosfere where we had to learn some of the top songs to be able to perform them at some of the clubs that requested these songs.

2112. Which musicians have influenced you the most in the way you play?

Gabe. My early influences were country Blues acoustic guitar players such as big Bill Broonzy and Robert Johnson later I started picking up on guitar players like Chuck Berry, Scotty Moore who played for Elvis Presley and James Burton who played for Ricky Nelson. My father taught me some chord progressions. Later as I started developing into a studio musician and backing guitar player I was highly influenced by guitarist like Steve Cropper, Chips Moman, Reggie Young, Jimmy Johnson, Eddie Hinton, Cornell Dupree and others. Certainly BB King and eventually Eric Clapton have some influence in my Blues playing.

2112. Already on Brazilian land you play with Gal Costa, you become Tim Maia's friend, you play with Zé Ramalho. At some point did you think about creating a band?

Gabe. The whole Brazilian experience with Gal Costa and Tim Maia and other musicians was a very big surprise for me. I never really planned on staying in Brazil since I came only as a vacation after 3 years of traveling as an itinerant and backing musician. I have never thought of putting together a band because I had never done that before in the United States. I always played in bands but I never put one together. Actually, I take that back in high school I had a pretty successful group called TC and the boys which played a mixture of the English sound, The Beatles and some American pop.

2112.  And how did you meet Luiz Carlos? Did Peso already exist as a band?

Gabe. The band O Peso didn’t exist, it was a duo formed by Luis Carlos Porto and a piano player called Gordo. They made a presentation in the FIC Festival with a song called O Pente, of course the references to drugs was the main theme of the song but it was so well written that the censorship didn’t catch on to it. At that point PolyGram became very interested in Luis Carlos Porto. Guti was the producer who by the way, has never got enough recognition for producing our record. At the time I was a sought after rock and roll guitarist playing with folks like Raul Sexas, Leno, and any rock and roll recording. Guti asked me to put together a group to back Luis Carlos Porto. it was not supposed to be a group but merely a backing band for the singer. Luis Carlos did not want to be just a singer but an integral part of a heavy rock group. He really was a superstar and a very unique singer. Looking back in retrospect I think he could have become a world-renowned singer if things hadn’t gotten off track.

2112. Did you participate in the recording of Pente?

Gabe. I did not participate in the recording of the song O Pente, I’m really not sure who recorded that I think it might have been some of the musicians from the group Azimuth.

2112. And what was the reaction of the audience and the judges when you played it at the IV International Song Festival?

Gabe. I did not play in the 4th Festival International.

2112. Answer me one thing... how did "The Turn of the Pointer" credited to Beto Scala end up on the b-side of your single? Was it the music record company's suggestion?

Gabe. I’m sorry but I’m not even aware of this song which was credited to betto Scala it must have happened before I became part of the O peso Project.

2112. Lucifer was recorded at a time when little or nothing was said about the occult. Have you had problems with censorship or religious leaders?

Gabe. The song Lucifer was actually suggested to us because Ozzy Osbourne and Black Sabbath were at the peak of their success at the time we really weren’t into any of that and quite frankly we wrote the song without much inspiration so much so that I threw together some Led Zeppelin type riffs and threw some words together. The solo was more less a place holder which I was going to re-do later. We just let it go as it was. We never had a problem with the censorship people and the only time I had a problem with the church was when I recorded a song Saco Cheio, with the singer Almir Guineto. The head of the church in Rio at the time was Ivo Locksheider, a very conservative priest and he had the song pulled out of the radio, however I knew the head of the censorship, Coronel Sá. I went to his office with a tape recorder and while I was playing the song he called other guys who knew the song by heart and started singing it together. Right there he said to hell with that let it play I'll take care of it and that is it!

2112. You and Luis Carlos were the main composers of the band. How did this partnership work?

Gabe. Luis Carlos Porto besides being an excellent singer was also a great lyricist, my portuguese was not exactly good but my ideas were good for the songs I gave him the idea and he worked feverishly to give body to the music, in the end we both finished the mucica and signed the partnership. We work really well with each other and we have some songs that have never been recorded. Some of them had a very northeastern taste, too bad we have never got to release a second album. I have no record of these songs and they have been lost in time.

2112. What were the band's influences?

Gabe. The band was highly influenced by Led Zeppelin, Rod Stewart with Jeff Beck and The Allman Brothers.

2112. Many were the bands in the 70s that did not have the chance to record their work due to lack of support from the record industry. How did you achieve this feat being a band with such a heavy sound?

Gabe. When Luis Carlos presented the song O Pente, that type of Swing was in fashion at the time. It was kind of like Raul Seixas backed up by Renato and his Blue Caps. That what the recording company was looking for however as our rehearsals progressed we found out most of us were listening to Led Zeppelin and the Jeff Beck Truth album and that’s the sound we emulated. In the end I think that was are downfall with the recording company, they were actually looking for that other sound and that not what they got with O Peso.

2112. What could you tell us about the behind-the-scenes footage of Em Busca do Tempo Perdido?

Gabe. Most of all of the album was thoroughly rehearsed at Constant Papineannu's studio in Laranjeiras. We went into the studio with everything arranged and there weren't many discussions about what to play. For one of the solos and I think it was Me Chama De Amor, Lulu Santos lent me his fender Stratocaster that had the sound I was looking for. We wanted a great choir, we hired a group called The Children of God to sing on the song. Also on I don't know anything, Tony Bizarro who passed away recently and he was considered the last Soul Man after Tim Maia, did vocals on that song. Zé Roberto Bertrami of Azimuth played one of the first string synthesizers in the summer Me Chama de Amor. We wanted a conga on Lucifer, one of the studio technicians had one there and he played it, it didn't come out as well as we wanted, but on most American recordings the conga was always badly played, so it stayed. I said before that the studio was an eight-channel studio, but it was really a Four-channel studio We did miracles with four channels, ping-pong going back and forth. Again Gutii was an expert at this and got the sound we wanted.

2112. And how was chosen the repertoire? What was the criterion you used?

Gabe. The repertoire was put together by Luis Carlos and by me there really was no organization or a preconceived idea of what we had to do.

2112. Who nominated Guti Carvalho as a producer?

Gabe. Guti Carvalho was the producer of rock and roll and pop of the recording company, he was actually key in putting that group together and was very diligent during the mixing of these songs, in fact there would not be the Peso without the participation of Gucci.

2112. Did you record the album in multiple sessions or was it all recorded live directly? How much time did you spend in the studio?

Gabe. We recorded the album in about 3 days on an eight-track machine.

2112. To promote the album, the record company released the single Sou Louco por Você/Me Chama de Amor. Was it well received on the radio?

Gabe. Unfortunately our sound was not radio friendly, we did not have a lot of penetration in radio not even on FM radios, they more liked soft rock like Rita Lee and some of the more popish rock and roll which was being recorded at the time.

2112. Gabriel, is everything that was recorded on the album or was there any record left out?

Gabe. Because we haven't had much time, everything we wrote is on that album, there's no tracks left that I know of.

2112. Em Busca do Tempo Perdido" over time became one of the most cult albums of the '70s. What's your take on it?

Gabe. ... maybe because the sound was unique compared to what was being recorded at the time, our record stands out as a kind of iconic rock and roll sound, basically, we tried to emulate the heavy sound produced by Jimmy Page and maybe that's why we were able to stand out from the rest of the rock and roll crowd that leaned more towards a lighter or tropical sound.

2112. ... Do you still listen to the album?

Gabe. I listen to the album a couple times a year and still find myself smiling when I do it was a good recording and it brings back a lot of memories.

2112. The band continued until 1977 when it ended its career and you went on to work as a producer and studio musician. What prompted you to return to the United States?

Gabe. I returned to the United States in 1990, I spent 20 years in Brazil and felt I needed to go back to my country and bring my family here. V at the time when the streets of Rio got very violent and I wasn't happy with the way things were working out for me in the music industry, I became a composer and had several hits with Tim Maia, Sandra de Sá and other singers, but I thought I would like to go back to the United States and update my musical knowledge and production techniques. I actually moved to Memphis, Tennessee, where I became a studio musician, but it didn't work out as well as I wanted. I speak several languages and I decided to open a translation company that became very successful. I made a lot of money and I'm still in that business.

2112. The band attempted to return in 1984. Were you contacted for this meeting?

Gabe. I was never contacted by anyone in 1984 to remake the band as far as I know, Luis Carlos recorded some records, one that was never released because he did not leave. There have been some resurrections from the group and even some musicians claiming they were the original guitarist of the set, I kind of dispense with comments on that and wish everyone good luck and success.

2112. After leaving the band you didn't think about forming a new band or even recording a solo album?

Gabe. After leaving the band I became a very successful samba record producer I produced the song Reuniao de Bacana (Se gritar pega Ladrão) and some other hits that became my passion after rock and roll. l had no interest in being a solo artist or participating in another rock ensemble.

2112. Are you currently still a musician, producer, or have you retired?

Gabe. Although I am semi-retired I do translations for some law firms and I also work as an announcer usually in Spanish because I speak Spanish fluently, I also took the position of trustee of the condominium where I live between retirement, a bureaucratic job and some artistic things that I am able to do. I am a happy old man who longs to spend the weekends with my daughter and grandchildren. That doesn't mean I don't play the guitar, I have a beautiful collection and I actually play several hours a day, mostly Bossa Nova and some jazz. I wish I could play like George Benson, but maybe in the next life I'll get close.

2112. ... o microfone é seu!

Gabe. Thank you!

 

Obs.: Esta entrevista foi realizada após Gabe se recuperar de uma embolia pulmonar que o deixou fora de circulação por um tempo. Ele foi super gentil respondendo em português e inglês. Fica aqui o meu muito obrigado por todo o seu esforço e atenção. 

Aproveito a oportunidade para agradecer a ajuda do amigo/irmão Luiz Carlos Figueiredo na revisão do inglês da qual não entendo nada. Só thank you.

domingo, 22 de outubro de 2023

40 anos SP Metal: Bandas (Parte II)

Ano que vem o projeto SP Metal I completa seus heróicos quarenta anos de lançado... e uma data tão importante não poderia deixar de ser comemorada. Essa entrevista tentando juntar pelo menos um integrante de cada banda para falar sobre ambos os álbuns começou em 2015, mas somente agora foi possível realizá-lo. Agradeço a todos os músicos que prontamente responderam as perguntas e em especial ao China Lee que além de responder pela segunda vez (a primeira se perdeu em função de um vírus no meu celular!) e me ajudou com alguns contatos. Espero que gostem, curtam as histórias e se possível divulguem entre amigos e conhecidos. E vida longa ao metal brazuca!    

2112. Trinta e nove anos já se passou desde o lançamento do primeiro volume do SP Metal que se tornou um divisor de águas no cenário metálico brasileiro. Vocês tinham noção do momento histórico que estavam participando?

Micka. Olá Carlos e todos do Blog 2112. Obrigado pela contato e lembrança do Santuário. Claro que quando você está "no meio do rodamoinho" talvez não consiga imaginar o impacto futuro daquilo que esteja fazendo. Porém de alguma forma tínhamos a sensação de que algo daquilo era inédito pois não havia nada igual ao nosso redor pois procurávamos e não encontrávamos. Mas somente ao longo dos anos percebemos o quão importante os álbuns se transformaram.

Davidson. Não tínhamos noção histórica da cena. Só percebemos mais tarde.

Ricardo. O cenário estava fervilhando de bandas boas e sabíamos que era um momento muito especial. Havia um ar de novidade e explosão sonora. A distorção, o som alto, solos de guitarra cada vez mais elaborados, os vocais rasgados eram a tendência. Éramos uma mistura das incríveis bandas que iniciaram de fato o rock brazuca como Mutantes, Patrulha do Espaço, O Terço, e as bandas de metal e hard rock britânico e americano.

Luiz Teixeira. Nunca imaginaríamos que o SP Metal seria esse divisor de águas, mas, com certeza tínhamos consciência do momento histórico que a gravação de um disco de Heavy Metal significava, principalmente como precursor de um movimento tão marginalizado, inclusive dentro do próprio rock.

Paulo Rossi. O movimento já era forte, mas ainda restrito ao underground, pois a grande mídia, até hoje, não dá espaço para o heavy metal, ou mesmo qualquer tipo de música bem elaborada. Luiz Calanca foi o pioneiro que acreditou naqueles jovens cabeludos e barulhentos que frequentavam a Galeria do Rock.

Pompeu. Sem dúvidas que não!

China. A gente nem tinha ideia do que seria já era pra gente um absurdo. Naquela época era muito difícil uma banda conseguir entrar no estúdio mesmo sendo de um porte de oito canais mas era o Vice Versa que já era um estúdio consagrado, né. E a gente era tudo garoto sem ideia nenhuma de como gravar. Tudo era novidade, bem diferente das coisas de hoje. A gente não tinha ideia do que poderia acontecer. É lógico que sempre sonhando em ser um Iron Maiden. A gente sonhava alto! Talvez foi o que levou o heavy metal dos anos oitenta brasileiro chegar tão longe. O sonho, a garra, a coragem e a união.

Paulão. Não, éramos muito jovens e inexperientes, não tínhamos noção de nada ...hahaha

2112. Quando o Calanca os procurou com o projeto do disco qual foi a primeira reação de vocês?

Paulão. Ficamos felizes mas também apreensivos pois não tínhamos experiência alguma, mas fomos contudo ´porque sabíamos que seria muito participar daquela coletânea.

China. O Calanca vinha fazendo alguns testes com algumas bandas, né. As bandas que estavam se destacando na época então a gente já sabia que ele tinha ido num show. O Luiz ele chegava com um gravador de rolo e gravava o show da banda. Então ele já tinha feito isso com o Centúrias... então a gente já tava sabendo. Para a nossa surpresa ele começou a seguir a gente e gravando alguns shows. Só o fato dele ir até nós já foi uma coisa bacana. E ai a expectativa que a gente poderia ser uma das bandas. E graças a Deus a gente foi uma das bandas escolhidas. Foi bem bacana isso aí.

Luiz Teixeira. Foi realmente um momento de euforia e perplexidade, um sentimento de vitória.

Davidson. Ficamos muito felizes com o convite do Calanca para o SP Metal ll uma vez que bandas amigas haviam gravado o SP Metal l.

Caio. Foi muito emocionante pois sabíamos que nosso esforço estava dando resultado. Só quem viveu naquela época sabe o quanto era impossível para uma banda de heavy metal no Brasil gravar um LP.

Micka. Explosão de alegria e confiança. Ser reconhecido pelo seu trabalho é a busca de todo artista e vindo de quem veio somente valorizou nosso passe...rsrsr...

Pompeu.  Nossa... foi com o Dick... entramos em parafuso, um mix de alegria, medo, transformação e esperança não víamos a hora de gravar.

Paulo Rossi. Surpresa, emoção e felicidade, pois gravar um disco naquela época era algo difícil e caro.

Ricardo. Muita satisfação! Seria nosso cartão de visitas para novos shows e quem sabe para uma grande gravadora.

2112. Qual foi o critério utilizado na escolha do material que iria ser gravado? O Calanca teve alguma influência ou vocês levaram a aceitação das músicas nos shows?

Micka. O Calanca nos deu total carta branca, mas certamente a repercussão das canções nos shows foram determinantes. Estavam tornando-se hit antes das gravações e eram as canções que melhor representavam nosso espírito naquele momento.

Luiz Teixeira. As músicas foram compostas exclusivamente para o SP Metal, sem nenhuma interferência do Calanca, deveriam ser músicas especiais para aquele momento especial, tanto que suas letras dizem muito a respeito da luta eterna em defesa do Heavy Metal.

Paulo Rossi. A decisão da escolha das músicas foi nossa. O Calanca nos deu liberdade total.

China. Sim, naquela época o público contava muito. Então a reação do público já mostrava qual qual era a música, né? As pessoas só ouviam as músicas no show porque não existia outro meio de divulgação. Então de tanto elas irem nos shows atrás da banda elas tinham suas preferências. E o Calanca teve participação por estar indo nos shows da gente. Ele disse... Delírio Estelar e Cabeça Metal. E era exatamente as duas que a gente também sentia porque o termômetro era o público nos shows.

Davidson. A banda escolheu duas músicas sem interferência do Calanca.

Ricardo. O Calanca é o cara! Liberdade total para fazer o que queríamos, do jeito que achávamos que deveria ser feito. A única óbvia limitação era orçamentária. Gravamos as músicas recém compostas sem grandes análises ou encanações. Era aquilo ali que tocávamos e foi assim que decidimos.

Pompeu.  Nós mesmos escolhemos as faixas, não houve interferência do Calanca. O que ele queria era a energia que ele viu em um show que participamos e deixamos boa impressão nele, não houve nenhuma negativa da gravadora, pela nossa parte colocamos as músicas que nos agradavam mais naquele momento

Caio. A música Mattew Hopkins pela popularidade e Batalha no Setor Antares pois eram muito representativa do poder criativo do Vírus.

Paulão. Eram dois sons que já tocávamos nos shows, estavam acertadas e completas.

2112. As gravações foram feitas num único take?

Davidson. Passamos a madrugada gravando, quando foi a vez do vocal, eu, o batera e o guitarra base fomos tirar uma soneca no estúdio ao lado. Fechamos a porta e depois de 15 minutos acordamos assustados com nosso próprio batimento cardíaco.

Pompeu. Basicamente, fizemos bateria, baixo e guitarras, depois solos e vocais.

Paulo Rossi. Nós tivemos dois dias de estúdio para gravar as músicas.

Paulão. A base sim ou seja, batera, baixo e base de guitarra, já que o tempo do estúdio era muito curto, naquela época a hora era muito cara.

Micka. Numa única madrugada em 8 canais, mas no formato tradicional com as bases bateria e baixo, guitarra em seguida e vozes por último.
Tudo muito embrionário mas para nós era um mundo novo e as descobertas foram incríveis!

Ricardo. Em oito canais a base foi gravada em um único take. Os solos de guitarra e vocais numa segunda passada. A captura foi feita em uma madrugada e a mixagem em outra. Algo como 16 horas no total para duas músicas. O engenheiro de som foi o José Luís Goes Carrato (Zé Heavy) também em início de carreira e com um puta tesão de fazer acontecer. Aprendizado empírico para todos os envolvidos.

Davidson. Primeiro gravamos baixo, bateria e guitarra base. Depois a guitarra solo e por fim os vocais.

Luiz Teixeira. Não, foram vários takes para cada música, alguns problemas com timbres sempre acontecem, principalmente numa gravação analógica.

Caio. As gravações foram feitas por partes de cada instrumento.

China. Sim, só que era em sala dividida. Foi num dia só para cada banda. Eram oito canais... então gravou o batera separado, depois o baixo, depois a guitarra e depois o solo em outro canal tinha os backing e a voz principal. Foi um momento único da nossa vida quebrando o cabaço para falar em português claro.

2112. Vocês mesmo fizeram os arranjos?

Davidson. Os arranjos eram nossos.

China. Sim, os arranjos eram nossos, e não tinha como criar no estúdio porque você tinha que gravar o mais rápido possível porque o estúdio era uma fortuna, muito caro então o critério até era "vá muito bem ensaiado". E a gente foi muito bem ensaiado e não havia espaço financeiro para você ficar criando algo no estúdio. O que a gente deixou para o estúdio foi timbragem de guitarra que deu um pouco mais de trabalho porque todos nós éramos iniciantes né? Inclusive o próprio técnico por gravar guitarra distorcida o Zé Luiz que virou o Zé "Heavy" Luiz né? Foi o cara de uma importância muito grande para o SP Metal. Mas a gente criou tudo fora e fomos para o estúdio.

Pompeu. Sim, nada foi mudado do composto pela banda.

Paulo Rossi. Sim, as composições eram contribuições de todos os integrantes da banda.

Luiz Teixeira. Sim, totalmente.

Caio. Todos os arranjos eram nosso.

Paulão. Sim, letra de Duas Rodas é minha e Portas Negras do Edu e Marco Aurélio.

Micka. 100% nosso criados nos ensaios. Ensaiávamos muito.
E creio que esse era o processo com todas as bandas.

Ricardo. Sim absolutamente tudo que tocamos, ou melhor, o pouco que tocamos foi culpa nossa.

2112. Quais as lembranças mais bacanas que vocês tem do período no estúdio? Alguma curiosidade que os fãs desconhecem?

Luiz Teixeira. Muitas lembranças boas, desde o encontro com os amigos das outras bandas, entre o início e o fim das gravações do dia, da merecida cerveja na padaria da esquina, nas conversas animadas sobre o futuro, até os momentos mágicos dentro de um estúdio, onde de fato a música   acontece, inesquecíveis.

Pompeu. Putz brother, não me recordo muito daqueles dias, mas sei que viramos a noite lá e nas minhas horas sozinho ia no estúdio de 16 canais que não era o que estávamos trabalhando para imaginar um dia estar ali.

Ricardo. Imagina uma molecada que nunca tinha entrado em um estúdio de verdade, de repente ter a oportunidade de gravar duas músicas e prensar um vinil? Não tínhamos nenhuma experiência anterior e durante todo tempo os caras mais velhos e experientes, como por exemplo o Rubens Gioia (Chave do Sol), Hélcio Aguirra (Golpe de Estado) e o próprio Calanca nos ajudavam numa atitude benevolente e positiva. Os equipos não eram os mais adequados, o estúdio não era o mais adequado, os músicos não eram os mais adequados, mas o vontade de fazer era grande e acho que conseguimos um resultado até razoável diante das circunstâncias.  

China. A lembrança mais bacana era principalmente uma banda que eu era muito amigo da Vírus então na gravação da gente tava a turma do Vírus e a gente na gravação deles também. Então essa troca de carinho, de participação de duas bandas que estavam bem ativas o Salário e a Vírus, né? E foi momento bacana que eu lembro bem... o carinho do Luiz Calanca em comprar até baquetas preocupado de alguém esquecer. Ele sempre foi muito prestativo, bacana mesmo. Mas o momento mais legal mesmo foi essa troca de energia entre Salário e Vírus. Sempre foram bandas bem próximas e irmãs.

Paulo Rossi. As boas lembranças começam no deslumbramento de estar no estúdio, a análise do resultado e o sentimento de poder eternizar a obra da banda.

Paulão. Foi tudo muito rápido. Usamos a mesma bateria para todas as bandas, guitarras plugadas na mesa de som, uma banda gravava logo após a outra. Foi muito louco e nós do Centúrias trocamos de guitarrista no meio das gravações saindo o Paulinho e entrando o Fausto Celestino aliás os solos foram feitos por ele e o único que tinha um amplificador Marshall.

Caio. Foi uma época muito mágica... entrar em um estúdio pra gravar um LP era algo incrível.

Micka. Só de ter a chance de entrar em um estúdio já valeria a jornada.
Foram horas que poderiam durar eternamente. No meu caso eu lembro bem no momento do solo de "Espártacus, o Gladiador Rei" quando o nosso eterno amigo Zé "Heavy" Luiz, que era o técnico de som e que também estava descobrindo tudo junto conosco, abriu um reverber no fone de ouvidos e aquilo "atravessou meu cérebro". Fui transportado para outro planeta. Era só sorrisos e alegria. Uma experiência inesquecível.

2112. Todo artista é exigente com a sua obra por isso se vocês pudessem mudar alguma coisa nas gravações o que mudariam?

Ricardo. Falar depois de 40 anos sobre o que mudaríamos é meio difícil afinal a evolução tecnológica e nossa evolução como músicos foi enorme. Mas se fizéssemos uma viagem de volta àquela madrugada no Estúdio Vice-Versa, acho que não mudaríamos nada. Deixamos ali tudo que tínhamos com os recursos que dispúnhamos.

Luiz Teixeira. Poderíamos mudar muita coisa, principalmente na parte técnica, mas, acho que uma única coisa muito simples, e que poderia ter sido feita na própria época, daria a esse trabalho a sonoridade que merecia, os instrumentos plugados nos amplificadores, antes da mesa, isso mudaria tudo na qualidade final.

Davidson. Mudaria o solo final da música Guerreiro da Paz.

Paulão. Claro que sim, se pudéssemos regravá-las hoje seria muito melhor. Claro que com bons equipamentos e estrutura, afinal 40 anos depois hahaha.

China. Carlos, mudar uma coisa que virou histórica é bem complicada. Quem acompanhava os shows do Salário antes da pandemia, antes da minha saída viu que Cabeça Metal e Delírio já é tocado bem diferentes... Aliás Delírio nós regravamos no Simplesmente Rock com dois bumbos, guitarras mais pesadas e quem assistia aos nossos shows no YouTube, Cabeça Metal é um rolo compressor, né, perto da gravação do SP Metal, muito mais pesado, os refrões mais fortes. Só que você acredita que mesmo com toda a estrutura que nós gravamos no Simplesmente Rock existe pessoas que gostam daquela forma como foi concebido no SP Metal e aí então o que a gente teria que mexer a gente mexeu nos shows. Então quem acompanhou os shows viu. Mais sonoridade mesmo que a própria construção da música. Seria mais uma atualização de componentes, de qualidade do que mexer na própria concepção da música.

Pompeu. Eu nada, claro que não é tudo aquilo pro momento de hoje, mas naquela época era demais.

Caio. O resultado ficou muito abaixo do esperado, porém estávamos felizes com o álbum. As músicas do SP Metal foram regravadas no álbum Contágio.

Micka. O retrato de um momento é o que fica. Sabemos das deficiências e tudo o que poderia ser melhor. Sabíamos disso lá na hora mesmo, mas era o que podia ser feito com os recursos disponíveis. Era melhor ter algo registrado pois tudo tem o seu momento e aquele foi especial.

Paulo Rossi. Atualmente, mudaríamos muita coisa, pois na época éramos jovens sem experiência e com aquele sentido de imediatismo característico da idade.

2112. Participar do projeto de uma certa maneira alavancou a agenda de shows de vocês?

Micka. Muito. Uma banda sem um registro é uma promessa.
Aquilo transformou todo o esforço em algo real. Rapidamente o país inteiro estava ouvindo as canções e mesmo sendo de forma independente e sem os grandes investimentos das gravadoras tradicionais, o disco atravessou fronteiras. Fomos a primeira banda brasileira a tocar no exterior.
E aonde fossemos tocar as pessoas já estavam cantando as músicas. 

Davidson. A gravação ajudou muito a banda, porém já tínhamos agenda cheia.

Paulão. Com certeza, participamos de um projeto pioneiro, nos deu muita mídia e visibilidade, aumentou shows e público.

Caio. A fama logo veio após o álbum. Começamos a fazer shows por todo o interior de São Paulo e tocamos no Rio de Janeiro também. A grande mídia e casas de shows antes fechadas para o heavy metal se abriram. Foi uma explosão! Faz de todo o Brasil e também de outros países surgiram até no Japão. Outra coisa importante foi que pudemos dar o SP Metal para vários dos nossos ídolos mundiais. Demos uma cópia para o Angus Young no Rock In Rio em 1985.     

Pompeu. Não só isso como fez o Korzus existir de vez.

Ricardo. Sem dúvida. Após o lançamento pudemos fazer shows bem legais e em maior número. Lira Paulistana, Madame Satan, Palmeiras, Círculo Militar de Campinas, Clube de Jundiaí, Santos e alguns bares como o histórico Rainbow Bar do Betão Cruz.

China. Sem dúvida nenhuma. SP Metal ficou um tempão... tudo era SP Metal. A gente tocava por São Paulo e o Brasil inteiro. ...sem dúvida nenhuma abriu agenda sim, fantástica. Em 85 nós tocamos muito, 86 nós tocamos muito foi realmente graças ao SP Metal e ao Rock In Rio que veio simultâneo. O Luiz foi muito visionário nisso... ele lançou o SP Metal próximo do Rock In Rio. Foi um sucesso!

Luiz Teixeira. Sim, tivemos convites para vários eventos, durante um curto período, mas, infelizmente não conseguimos prosseguir, a banda acabou.

Paulo Rossi. Não muito, pois a banda acabou no ano seguinte.

2112. Vocês tem noção de quantos álbuns foram vendidos?

Paulo Rossi. Sabemos que o SP Metal foi o Best Seller da Baratos.

Pompeu. Não faço a mínima ideia, não nos preocupávamos com números ou dinheiro só queríamos ser e estar ali.

Davidson. Não.

Caio. Não sei as quantidade de álbuns na época, creio que a primeira tiragem foram 3.000.

Ricardo. Não sei.

Paulão. Não temos ideia, vende até hoje. Inclusive foi lançado na Finlândia com uma edição bem luxuosa. e essa pergunta o Luiz Calanca pode responder melhor.

China. A gente ouviu falar em dezoito mil na época, né. Hoje eu acredito que superou esse número, né? Na época nós ouvimos dizer em dezoito mil. O Luiz não confirma... fica aquele mistério, né? O SP Metal também na Finlândia, correu o mundo inteiro. Na época em 84, 85 até 87 falava em dezoito mil cópias. Eu acredito que vendeu muito mais do que isso.

Luiz Teixeira. Não exatamente, mas foram feitas reedições, e o SP Metal é o disco mais vendido do selo, dito pelo próprio Calanca.

Micka. Sabemos que a tiragem foi acima da média dos discos independentes no estilo. Acredito que os dois álbuns tenham sido os mais vendidos do heavy metal em português em todos os tempos e vendem até hoje. Mas não tenho os números oficiais. A Baratos Afins sempre foi muito correta conosco.

2112. Não podemos deixar de mencionar o acabamento gráfico inovador que após tantos anos ainda influencia bandas e fãs de rock, não é?  

Caio. A arte da capa do SP Metal foi criada pelo nosso vocalista, o Flavio, um super artista. Realmente tinha um nível alto e chamou a atenção de todos. A foto do Vírus na contra capa também virou referência pra todas as bandas do Brasil.  

Pompeu. Sim, sem dúvida, o Calanca sempre foi inovador em tudo eu tiro o chapéu pra história dele.

Davidson. O acabamento gráfico ficou top.

Micka. Aquilo foi uma obra do nosso amigo Flávio Ferb, vocalista do Vírus, que era uma banda que tinha extremo cuidado com a imagem em todos os sentidos. Isso mostra o envolvimento de todos, o que era uma coisa muito especial naquela cena.

Paulo Rossi. A capa ficou bonita, mas não era nossa escolha. Hoje é um ícone da música pesada.

Paulão. Sim, pra época foi muito legal e original. A capa feita pelo vocalista da Vírus.

China. É impressionante como o Flavio Ferber fez a capa do SP Metal do vinil, ele era vocalista do Vírus. Ele é um cara muito competente, acho que ele nunca foi tão feliz como na capa do SP Metal. Não poderia ser mais acertivo e marcou uma época e até hoje ela é hiper atual. Esse é o grande barato da arte, né. Você olha e parece que ela foi feita hoje. Sensacional!

Luiz Teixeira. Sim, sem dúvida a arte final e o acabamento gráfico da capa ficaram muito bons, conseguiram expressar o clima do momento.

Ricardo. Sim, o Flavio que desenhou as capas do SP Metal I e II. Os caras do Vírus aliás sempre foram muito inspirados e sempre que dava fazíamos um som juntos e íamos aos ensaios uns dos outros. Muito legal!

2112. Estes dois álbuns deu um forte impulso para o surgimento de novas bandas, novos lançamentos e a própria consolidação e profissionalização da cena metálica brasileira. O que vocês tem a dizer respeito desses álbuns?

Caio. Foi um divisor na história do metal do Brasil. Muitas outras coletâneas foram lançadas e depois os álbuns individuais.

Paulo Rossi. Os dois SP Metal conjugados com o Rock in Rio fizeram o metal nacional explodir, mostrando ao mundo que o brasileiro também sabe fazer música boa e pesada.

China. Não, sem dúvidas o lançamento do SP Metal I já foi uma coisa absurda, né? Aí todo mundo começou a se mexer, porque despertava o sonho de outros meninos que estavam nas garagens. E logo veio o segundo que cresceu um pouco mais em qualidade, não qualidade das bandas, apesar que as bandas eram muito boas, mas em qualidade de produção mesmo, já se acertou um passo melhor. Você pode ver que a qualidade de gravação é melhor. Então tudo isso foi um aprendizado. E a gente viu grandes nomes como André Mattos e vários outros artistas citando o SP Metal como referência. O SP Metal virou uma referência para as bandas de heavy metal inteiro e algumas até do mundo. Porque nós temos algumas bandas que cantam em português fora do Brasil como o Força Macabra que é da Finlândia que se inspirou no SP Metal. Então o SP Metal foi uma referência para o mundo.

Micka. Dois álbuns seminais, honestos e verdadeiros. Retratos de um momento e inspiração para as próximas gerações. Quem ouvir buscando defeitos vai encontrar dezenas. Quem ouvir com o espírito livre vai encontrar verdade.

Luiz Teixeira. São álbuns icônicos, muito relevantes para o Heavy Metal Brasileiro, não só no sentido musical, mas, no mais profundo sentido da luta por um ideal, a conquista de um sonho.

Pompeu. Você já disse tudo na pergunta, na minha humildade concordo com tudo que disse e basicamente foi isso mesmo que aconteceu, todos queriam estar nos dois ou ter um contrato com a Baratos.

Ricardo. Olha um cara que conseguiu conta toda essa história com muita assertividade e com muita qualidade e riqueza de detalhes foi Mika do Santuário com o longa Brasil Heavy Metal. As bandas que vieram depois ou mesmo que se consolidaram no cenário como a Salário Mínimo, Centúrias, Golpe de Estado e Korzus com certeza deram um salto de qualidade incrível após todo movimento dos SP Metal I e II.

Paulão. ... como disse foi um projeto pioneiro e inovador para o Brasil, foi o alicerce para o que viria depois, graças ao visionário e guerreiro Luis Calanca.

Davidson. Somos muito gratos ao Luiz Calanca pelos dois álbuns SP Metal l e ll.

2112. Devo dizer que foi muito bacana fazer esta entrevista com todos vocês comentando estes dois álbuns históricos. O microfone é de vocês...

China. Parabéns Carlão, jamais desista, você tem o seus seguidores e eu aqui China Lee reconheço o seu trabalho. Siga, nem que seja por um número reduzido de pessoas que amam o seu trabalho. Sucesso!

Paulo Rossi & Luiz Teixeira. Nós ficamos muito felizes e agradecemos imensamente essa oportunidade tão gostosa de reviver o passado que infelizmente não volta mais. E parabéns por tão gratificante iniciativa. Abraços a todos! LONG LIVE HEAVY METAL!!!!

Caio. Agradeço muito a oportunidade de dar continuidade na história através de vocês. É emocionante dar uma entrevista tantos anos depois. Abraços! 

Pompeu. SP Metal marca o início do metal em São Paulo, a indústria nasceu dele, a imprensa tinha seus heróis nacionais, foi um marco histórico e me sinto honrado por fazer parte disso.

Paulão. Muito obrigado Carlos, é um prazer falar desses felizes momentos que vivemos no início do heavy metal no Brasil, tenho muito orgulho em ter participado dessa história de amizade, união, batalha e atitude. Obrigado abraço a todos e longa vida ao nosso rock pesado.

Davidson. Muito obrigado pela entrevista foi um prazer. Forte abraço. Espero ter contribuído.

Ricardo. Nós que agradecemos pela oportunidade de relembrarmos um pouco da história maravilhosa do SP Metal. Fizemos um show de comemoração de 30 anos no SESC Belenzinho e não acreditamos quando o público cantou as músicas conosco. Foi inacreditável perceber que após tantos anos tem gente que ainda curte aquele que foi um projeto pioneiro bolado pelo Calanca e executado com muito prazer por todas as bandas. Hoje em dia, juntamos parte dos músicos do Abutre; Ricardo Giudice - Guitarra, Tomas Catafay - Baixo e Adalberto Rosado - Bateria, com o ex-guitarrista do Centúrias, Adriano Giudice, aquele que gravou o LP Última Noite, por pura diversão. Estamos selecionando repertório, estudando e ensaiando regularmente para, em 2019 voltamos a fazer umas gigs por ai. Saudações aos amigos!

Micka. Eu nome da banda agradeço a você e todo o apoio que sempre dá ao rock em todas as vertentes. Obrigado a você e AVANTE GUERREIROS!


 Obs.: Peço desculpa pela qualidade das fotos... mas fiz o melhor que pude.  

 

SP Metal I

Missão Metálica (Avenger) . Duas Rodas (Centúrias) . Mattew Hopkins (Vírus) . Cabeça Metal (Salário Mínimo) . Portas Negras (Centúrias) . Delírio Estelar (Salário Mínimo) . Cidadão do Mundo (Avenger) . Batalha no Setor Antares (Vírus) .

Ficha Técnica: Idealização, direção e produção: Luiz Calanca - Lançamento: Baratos Afins - Capa: Flávio Fernando de Barros - Gravado em oito canais no Estúdio Vice-Versa em agosto/setembro de 1984 - Técnico de gravação: Nico Bloise - Assistentes: Zé Luiz e Edu (Vice-Versa).

 

SP Metal II

Espártaco, Gladiador Rei (Santuário) . Princípe da Escuridão (Korzus) . Rock, Rock, Rock (Abutre) . Viajante Perdido (Performances) . Quando o fogo começa a arder (Abutre) . Guerreiro da Paz (Performances) . Santuário (Santuário) . Guerreiros do Metal (Korzus).

Ficha Técnica: Idealização, direção e produção: Luiz Calanca - Lançamento: Baratos Afins - Capa: Flávio Fernando de Barros - Gravado em oito canais no Estúdio Vice-Versa em 1985 - Técnico de gravação: Zé Luiz - Corte e prensagem: RCA.

 

Curiosidades das entrevistas: Paulão Thomaz (Centúrias 2015), Caio Montenegro De Capua (Vírus 2023), China Lee (Salário Mínimo 2023), Marcelo Pompeu (Korzus 2018), Ricardo Giudice (Abutre 2015), Micka Michaelis (Santuário 2023), Davidson Miranda (Performance 2023) e Paulo Rossi & Luiz Teixeira (Avenger 2023).


O que os fãs acham do SP Metal I & II:

 

“Havia um clube do disco na cidade onde eu moro e lá se alugava Lps para gravação em fita cassete. Naquela época os discos eram caros. Não bastasse o aluguel, precisávamos ir à loja comprar a fita. De propósito ficava dias com os Lps. A proprietária somava tudo e o valor excedia o dos discos, assim era melhor comprar os mesmos. Numa ala, havia as clássicas bandas gringas e na outra as independentes cujo valor era barato e numa promoção comprei o Lp “Salário Mínimo - Beijo Fatal” e as clássicas coletâneas “SP Metal” com bandas de metal em português cujo estilo estava soterrado nos anos 90s. Fiquei tão fascinado que pensei em voltar a ter banda já que havia saído de dois projetos. Em uma das visitas encontrei Laércio Costa (V) e soube que ele curtia Judas Priest, Saxon e as nacionais Golpe de Estado, Madame Terra entre outras. Após umas jans sessions eu disse a ele: Quero montar uma banda autoral de metal em português. Como base mostrei os dois volumes da coletânea SP Metal. Compus as letras, algumas com ele e os dias se passaram. Até que fui a uma loja de ferragens comprar a chave allen para a guitarra e encontrei o Ismael Moreira, um amigo baterista que trabalhava lá e me convidou para uma jan de blues com outro camarada que cantava Steve Ray Vaughan, notei que ele era o cara que iria fazer a bateria e ele topou meu convite para um projeto totalmente adverso ao que ele e eu havíamos cogitado naquele ensaio de blues. Houve uma oportunidade para tocar em uma escola local onde estavam abertas as inscrições para um festival de música. Lembrei de Reginaldo Honda que estudou no Conservatório Musical comigo para fazer o baixo. Nos inscrevemos no festival em novembro de 1995 e mandamos as primeiras músicas do projeto de nome: Prellude. As músicas eram: "Razões para Vida" e 'Anjos da Noite". Marcamos presença, com a energia e influência dos bolachões. Tocar no festival foi o jogo. Forjamos a espada e fiz o logo... Ao longo do tempo surgiram mais música e mais shows dando origem ao primeiro cd "A Estrada do Rock" em 1998. Hoje, 28 anos depois daquela iniciação, estou com o projeto Thorzel e continuo com o que foi o embrião do meu conhecimento em Metal em Português, ou seja, os intactos e icônicos Lps da minha coleção, as fantásticas coletâneas "SP Metal I e II".”

Christian Lima (V/G) das bandas Prellude e Thorzel - Mogi das Cruzes/SP

“Xará, tenho 50 anos e mergulhei no oceano do Rock n Roll aos 17. Até então, ouvia muita coisa que os meus pais, principalmente minha mãe, ouvia: Roberto Carlos, Julio Iglesias, Fado (que eu amo), música folclórica portuguesa. Depois deste meu mergulho no Rock, sempre deixei o Heavy Metal de lado. Curtia muito as bandas nacionais dos anos 80, muito new wave e synth-pop, muitas bandas dos anos 60 e 70, muito progrock setentista. No início dos anos 90, com o estouro do Black Album, do Metallica, é que comecei a ouvir o estilo, mas sem querer conhecer muito .... coisas de cabeça-dura. Quando eu cheguei na casa dos 30, é que Heavy Metal começou a ganhar espaço. E aí, como bom "rato" de internet, comecei a ler, a "baixar", a pesquisar e principalmente a ouvir!!! E, nestas pesquisas, descobri a existência dos álbuns "SP Metal", que são um verdadeira preciosidade do estilo, e que me serviram de base para conhecer as bandas que deles participaram e descobrir o quão rico é o Heavy Metal Brazuca. Agora, por fim, 2 curiosidades: a primeira, eu e o China Lee frequentávamos o mesmo clube, a famosa Portuguesa de Desportos, em Sampa, da qual ele é um fanático adepto (como dissem aqui em Portugal). O Salário Mínimo, todo ano, fazia um show nas famosas Festas Juninas da Portuguesa e eu adorava este dia por conta das fãs do SM que lá apareciam... rs rs rs. A Segunda: eu era vizinho de muro do Roger Vilaplana e, "por tabela", do local de ensaio dos Centúrias, no Jabaquara...  Era ouvir metal a tarde toda.”

Antonio C. S. Lopes

“A primeira banda que eu curti foi a Salário Mínimo justamente por estar próximo do tipo de som que eu ainda curto que é o hard rock/hard blues. Com o passar do tempo fui me familiarizando com o Centúrias, o Avenger... mas confesso que a Vírus me chocou com aquele som extremamente pesado e seus trajes/adereços carregados de tachinhas que até então só tinha visto com o Motörhead e o Judas Priest. E o segundo álbum seguiu o mesmo curso. Tenho os SP Metal I & II como porta de entrada para tudo que aconteceu depois do lançamento dos dois álbuns sem esquecer dos pioneiros Stress e Karisma.”    

Carlos Antonio Retamero Dinunci 

 

Mande seu depoimento contando o impacto que esses dois álbuns causou na sua vida para furia2112@gmail.com ou retamero2112@gmail.com que serão incluídos aqui.  

 

Esta matéria é dedicada ao lendário guitarrista Celso Vecchione da banda Made In Brazil que infelizmente nos deixou hoje.