terça-feira, 24 de março de 2020

Entrevista Marcello Pato


Conheci o Marcello no grupo Quem Sabe Faz Autoral e também através de suas inúmeras lives. E o que mais me chamou a atenção nele foi a sua persistência e simplicidade. E foi baseado nessas qualidades que considero imprescindíveis a todo músico que surgiu a idéia da entrevista. E apesar do Marcello ter se juntado recentemente a banda Crom espero ancioso pelo lançamento do seu trabalho solo.   

2112. Vamos começar com você contando a saga que envolve desde a criação das músicas até a sua entrada no estúdio.

Marcello. Oi Carlos, tudo bem? Esse meu primeiro álbum veio pra mim como quem recebe uma mensagem, uma benção. As músicas vieram uma a uma com uma vibração muito grande, quase que nasceram sozinhas, o que quero dizer ´que o processo de composição foi muito suave e paulatino. O engraçado é que cada uma delas falar de uma parte da vida de Jesus na Terra e em todas elas, vejo a cena rolando, como se fosse o vídeo clipe de cada música. Eu não tinha grana pra estúdio e resolvi gravar em casa, usando meu computador e uma interface M-AUDIO de US$40. Então escrevi a partitura de todos os outros instrumentos e usei o Garage Band para dar vida aos instrumentos. Estudei muito sobre som, ondas, hertz e o que mais pudesse estar ligado à gravação e masterização e fui fazendo. O que contou mesmo foi como eu ouvia o produto final. Claro que ainda está longe de ser premiado com um GRAMY de melhor gravação, mas o resultado ficou muito bom!

2112. Porque você optou por gravar um trabalho solo e não criar uma banda? O que mais pesou nessa sua decisão? 

Marcello. Orçamento e tempo. Não tinha grana pra bancar os ensaios nem pro estúdio e nem o cachê dos caras, apesar de eles declinarem em nome da amizade, não achei justo. Mas foram meus consultores na hora de escrever, principalmente a bateria, pois se você não tomar cuidado, vai parecer que o baterista que gravou tem oito abraços esquerdos, 12 direitos e uns 40 pés, hahahahahahahaha.

2112. Geralmente acontece de um músico ou banda entrar em estúdio com um trabalho na cabeça e sair com outro na mão. Isso aconteceu com você?

Marcello. Sim e não. Como escrevi tudo, tinha meio que as músicas prontas, tanto na minha cabeça, quanto na escrita. Mas na hora de gravar mesmo, com os fones na cabeça tendo todo o corpo tocando, aquela massa de som chegando, você sente que é preciso mudar aqui ou ali, pra dar uma outra cor, um outro sabor em certos pedaços de uma música. Teve horas que pedi ajuda para um aluno da escola onde dava aulas na época e para o dono da escola que é meu amigo. Como o Wander Taffo sempre disse: “Você está muito próximo do trabalho para poder produzir direito, ter a ótica certa”.
2112. Acredito que deva ser muito difícil para um músico ver "pessoas de fora" opinando na sua criação. Como você trabalhou isso na sua cabeça? 

Marcello.  Como disse eu pedi consultoria pros amigos que, claro, deram mil toques e dicas. Eu adorei dividir esse trabalho com eles, pois tudo cresceu muito e elevou o nível de tudo. Tem música que tem um monte de elementos e outras que é só batera, baixo e guitarra. A gente aprende e se diverte muito quando estamos com a turma, não é?

2112. E por mais profissional ou amigo que seja a pessoa envolvida no trabalho ela não participou do ato da criação que vem de um universo todo particular... só seu, não é?

Marcello. Sem dúvidas. Mas os caras que são dois monstros no baixo e batera, eles conseguiram pegar carona na minha vibe com facilidade

2112. Você mesmo quem fez o arranjos?

Marcello. A maioria sim. Eu sabia o que queria das músicas e pois elas mesmas já vieram meio prontas em meu coração, em meus ouvidos. Foi o toque desses amigos, Adriano, Renato, Eduardo e Derek que deram uma pitada especial no molho.

2112. Marcello, além de você quem mais participou das gravações?

Marcello. Meu MacBook! HAHAHAHAHAHAHAHAHA! Todos os instrumentos virtuais são do Garage Band e mesmo com filtro humanizer, que tira aquela cara de “bateria eletrônica”, eu mexi um pouco ali e aqui nas intenções das notas para que as dinâmicas ficassem boas, ou pelo menos dentro do aceitável.
2112. Ouvindo o trabalho pronto você tem a sensação de dever cumprido ou se pudesse mudava alguma coisa?

Marcello.  A gente sempre acha que pode fazer algo melhor… mas é onde tem que se tomar cuidado porque se não, não acaba nunca. Sim, eu acho que o dever está cumprido.

2112. Ouvi apenas Minha Dúvida e já deu aquela vontade de ouvir as demais para ter uma idéia da obra como um todo. O álbum já tem prazo de lançamento? Ele será lançado apenas nas plataformas digitais ou teremos cd e vinil também?

Marcello. Obrigado! Essa é a primeira música que compus na vida e foi em um tarde há 30 anos atrás. Claro que sem todo esse swing, mas é a mesma harmonia e as mesmas guitarras nos refrões.

2112. Particularmente... entre as músicas gravadas qual você diria: "Porra, essa ficou do caralho!"

Marcello. Minha Dúvida, sem dúvida. HAHAHAHAHAHAHAHAHA.
2112. Qual ou quais músicas gravadas mais sofreram mutação desde a sua criação até a finalização no estúdio?

Marcello. Vale das Sombras e Quero Ser um Guitar Hero. Essas foram tomando vida durante a gravação. Chegavam certos momentos em que elas pediam uma outra parte, o que é algo bem grande de se fazer qual você já está em processo de gravação.
2112. Fale um pouco sobre a sua formação musical e o que mais te excita na música.

Marcello.
Eu era um guitarrista. Via e ouvia meus mestres tocando com palhetadas incríveis, sonoridades nunca antes percebidas por mim e resolvi mudar de patamar quando comecei a dar aulas. Fiz umas aulas de teoria com um colega também professor de guitarra, fiz um ano de violão clássico para aprender a ler partitura, entender melhor de harmonia e sempre que faltava um aluno, fazíamos jams para trocar figurinhas e aumentar o vocabulário. E passei a respeitar o metrônomo regiamente. Cheguei a fazer uma exercício de deslocamento de mão esquerda em cima dos módulos gregos por 6 horas seguidas.

2112. Tenho verdadeira veneração por Hendrix, Page, Beck e Kim Kell. E você? Qual guitarrista mais marcou a sua vida?

Marcello. Eddie Van Halen. Pra mim, é O guitarrista. Tocar o que toca com uma guitarra de US$150 e com pintura de bicicleta, sem saber ler partitura… o cara é um Deus. A maioria das coisas que temos hoje como padrão foram invenção dele, tipo parafinar a bobina do captador, só pra mencionar sua genialidade e criatividade. Fora o bom gosto. Mas tenho outros ídolos como Brian May, Jimmy Page, Paul Gilbert, Wander Taffo, Faíska, Edu Ardanuy e Kiko Loureiro e por aí vai.

2112. Antes de partir para a carreira solo quais bandas você tocou e até onde elas tiveram influência direta ou indireta nas composições do seu álbum?

Marcello. Tínhamos a Banda Taypan (Táipã) que eu não sei o quer dizer, que foi a minha banda de moleque, depois fiz muito sub no AI-5 (banda de covers da noite), cheguei a fazer teste para entrar no Rock Memory quando o Ronaldo saiu para tocar com a Rita Lee ou Guilherme Arantes. Toquei em uma de som autoral em inglês chamada Dirtness que terminou e hoje o bateria e guitarrista original estão na Balls, e em muitas jams por aí. A gente aprende muito nas jams, principalmente a dar espaço pros colegas mandarem suas improvisações e dando aula. 

2112. Você compôs todas as músicas sozinho ou teve alguma parceria?

Marcello. Sozinho. Quer dizer, elas só vieram pra mim, pedindo que as tocasse.
2112. Alguma música criada especialnente para a Gigi?

Marcelo. Tenho, mas ainda não gravei nem escrevi nada.

2112. Das músicas gravadas alguma surgiu a partir de suas lives (eu assisti várias delas)?

Marcello. Todas elas surgem à partir de improvisos. Gosto de fazer as lives exatamente pra deixar fluir. Não crio regras tipo ‘agora vou compor algo novo e tal’, só vou tocando e não me importo se erro ou se sai algo horrível, medíocre, pois depois, quando ouço, vejo coisas fantásticas mesmo naquela nota mais na trave do mundo, hHAHAHAHAHAHAHH.

2112. O álbum já tem nome?

Marcello. Sim. “Ira de Deus!” Que é o nome de uma das músicas.

2112. Tirando as eternas parceiras Stay Rock Brasil e Alternativa2 como está o trabalho de divulgação nas rádios? É um trabalho muito árduo e que requer muita perseverança mas que no final tem as suas compensações, não é?

Marcello. Sim. E tenho que enaltecer o que essas web rádios fazem, assim como seu blog. O Brasil tá sem nenhum cultura musical de qualidade e a coisa só piora. Claro que tem que ter espaço pra todo mundo, mas essa massificação de “ir até o chão” é de lascar. Já deu, já. VOLTA VILLA LOBOS!!!!
2112. Outro ponto importante foi a inclusão de Minha Dúvida na coletânea da Stay Rock que conta com vários tipos de bandas o que garante que ela será ouvida por públicos de diversas tribos. Isso é super bacana...

Marcello. Não é? Fiquei super lisonjeado em ver uma música minha junto com trabalhos de gente que está aí dando a cara a tapa como eu, em uma coletânea. É muito gratificante!

2112. Em meio a divulgação você pretende montar uma banda para fazer shows? O que você tem em mente nesse sentido?

Marcello. Uma ópera rock. Como o álbum todo tem um único tema, a Gigi deu a idéia de mostramos um espetáculo teatral, o que eu ADOREI pois sempre curti ver filmes bíblicos e só de pensar que eu posso ter um trabalho grande como um espetáculo, vou às nuvens! E a idéia é ter uma banda de 12 músicos, como os 12 apóstolos, que vão entrando e saindo do palco, serão convidados especiais!

2112. Álbum pronto nas mãos quais são os seus projetos para este ano?

Marcello. Encontrar um produtor que compre a idéia.

2112. Qual o seu telefone/e-mail para shows?

Marcello. +55 11 98486-5537, falar com Gigi Jardim, minha produtora!

2112. Te desejo toda a sorte do mundo meu camarada... o microfone é seu!  

Marcello. Obrigado a você Carlos, pelo trabalho, pela luta com a sua divulgação e espero que saiamos logos todos do underground, até porque, alguém pode estar querendo chegar e ainda estamos aqui, não é? Adorei a entrevista, o papo! E você, produtor que esteja quando montar um espetáculo, dá um toque no telefone da Gigi e vamos conversar! Um abraço e rock live for ever!

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