domingo, 6 de agosto de 2017

Entrevista Eugênio Martins Júnior


O Blues é uma das manifestações culturais mais duradoura que se tem notícia... Desde os primeiros lamentos dos escravos nas plantações de algodão até os acordes num boteco muitos foram os que deram sua própria interpretação do gênero o que o torna o mais democrático entre todas as manifestações musicais. E este livro Blues, The Backseat Music do jornalista Eugênio Martins Júnior é um relato sincero ao contar parte da história do blues no Brasil e no mundo através de várias entrevista. Um documento histórico!!      

2112. Primeiramente o que mais o motivou a escrever um livro sobre o blues brasileiro num país dominado pelo samba, pelo sertanejo e pelo pagode?

Eugênio. Bom, já vou logo falando que gosto de samba e de funk carioca. O samba é a nossa música, e tenho orgulho do Brasil por isso. Samba de raiz, ou partido alto. Muita coisa boa derivou do samba. E acho que ele tem várias similaridades com o blues. Cara, sou um velho roqueiro, mas toquei instrumento em blocos e escolas de samba aqui em Santos. Cresci nos anos 80, curtindo Rolling Stones, Led Zeppelin, AC/DC, Chuck Berry e Elvis. Seria natural um dia dar de cara com o blues. E foi isso que aconteceu. Vi o filme A Rosa em um cinema aqui. Foi a primeira vez que ouvi a palavra "blues". Depois vi The Blues Brothers. Santos tinha uns 30 cinemas. Era demais. Então me apaixonei por esse gênero e comecei a ouvir e estudar de onde vinham todos aqueles caras, Muddy Waters, Blind Lemon Jefferson, Leroy Carr, Buddy Guy, Mississippi John Hurt, T Bone Walker, Sonnyboy Willianson, Brownie McGhee, Lightning Hopkins, Howlin' Wolf. Era muita gente boa, sacou? E Essas histórias ficaram na minha cabeça por anos. Até que eu me formei em jornalismo e comecei a trabalhar com música ao mesmo tempo. Aí as coisas começaram a tomar forma. Eu viajava e produzia show dos caras e tinha material inédito. mas a idéia vem desde o começo dos 90.      
2112. Apesar da pouca exposição deste gênero musical em nosso país temos muitos amantes espalhados por todo o Brasil, temos várias páginas na net sem contar os zines dedicados ao blues. Foi difícil coletar material para confecção dos textos?

Eugênio. Difícil? Mais ou menos. Como disse, eu viajava e produzia os caras. Então já chegava com o roteiro pronto para as entrevistas. Faço isso até hoje. Todo o meu material é inédito e exclusivo.

2112. Quantos anos você levou pesquisando o material utilizado no livro? O que foi mais difícil?

Eugênio. Entre maturar a ideia e começa a coletar o material levei dez anos. E o mais difícil, sem dúvida, foi acreditar. Como você disse, ninguém mais liga pra essa porra. Ninguém lê mais nada. Ninguém pesquisa. Está todo mundo conectado, mas está todo mundo meio que amortecido. Às vezes bate a preguiça da minha parte. às vezes falta grana pra continuar. Eu me banco com a minha empresa, a Mannish Boy Produções, e as coisas não estão muito bem para o blue e o jazz.   

2112. Você teve ajuda de músicos e bandas na reconstrução da história?  

Eugênio. Não tive ajuda nenhuma. Todas as viagens, todo o tempo gasto foi graças ao meu trabalho. O que fizeram foi conceder as entrevistas. Claro, cada um contou sua história até então. E sou grato por isso. 

2112. Qual o critério utilizado por você na hora de escrever os textos? Foi preciso deixar de mencionar alguma banda por falta completa de informação?

Eugênio. Bom, o primeiro critério foi o de o artista ter pelo menos um disco gravado. O segundo foi a disponibilidade. Se o cara estava para vir ao Brasil eu já me preparava para ir ao seu encontro. Tem de ter um certo planejamento e muita vontade. Às vezes pegava estrada de moto só pra falar com o cara. Outras, enchia o saco do produtor. E até entrava nos lugares sem ser convidado. E alguns artistas brasileiros fizeram corpo mole mesmo. Mas é assim mesmo.    
Eugênio e o Mestre Celso Blues Boy
2112. O que você sentiu quando pegou o seu livro pronto?

Eugênio. Pode parecer pedante, mas foi uma parada normal. Na verdade, senti que precisava fazer o segundo volume.   

2112. Você tem planos de lançá-lo no exterior?

Eugênio. Não pensei nisso ainda. Nem sei se é possível. Tem muitos nomes nacionais que os gringos nem conhecem e, na verdade, nem sei se se importam. Mas quem sabe?

2112. Uma curiosidade: Qual o estado com o maior número de bandas ou bluesmans?

Eugênio. São Paulo e Rio em segundo. Mas em praticamente em todos os estados têm bandas de blues no Brasil. 
2112. O microfone é todo seu...

Eugênio. O blues é uma música secular, fascinante e única como o samba. Mas ninguém está interessado. A gente escuta porque gosta. De teimosia mesmo. Contando essas histórias. Fazendo jornalismo e ouvindo música boa. Não existe pra mim uma coisa mais importante que essa música. Só fazer isso e vou levando.


Blues, The Backseat Music
Falar de Blues no Brasil é uma aventura, mas falar de blues brasileiro é uma mega aventura num terreno pontuado de armadilhas e bombas por todos os lados. A realidade é que não existe muitos registros confiáveis sobre a formação do movimento no Brasil, sobre as bandas e instrumentistas, os discos lançados e os eventos que promovem o estilo em solo brazuca. É um terreno virgem!
Poucos foram os corajosos que se aventuraram... Mas Blues, The Backseat Music do jornalista Eugênio Martins Júnior vem cobrir uma importante lacuna ao mergulhar de cabeça nas raízes do nosso blues e também do americano. E ao invés de textos explicativos (e muita das vezes monótonos!), entrevistas descontraídas com alguns dos maiores nomes deste sagrado monumento musical. O livro é um documento honesto e que merece ser adquirido e sempre relido pois sempre acharemos algo revelador nas entrelinhas... assim é o blues!
Entrevistados: 

Brazucas: Álvaro Assmar, André Christovam, Ari Borger, Big Chico, Big Gilson, Big Joe Manfra, Celso Blues Boy, Flávio Guimarães, Gibe Byblos, Igor Prado, Ivan Márcio, Jefferson Gonçalves, Mauro Hector, Nuno Mindellis e Sérgion Duarte.

Gringos: Bob Corritone, Coco Montoya, Corey Harris, Curtis Salgado, Duke Rolliard, Hampaté Sahel, Henry Buttler, John Paul Hammond, Lary McCray, Lynwood Slin, Lynwood Slin, Michael Hill, Peter Madcat, Roy Rogers, Shemekia Copeland e Shirley King.

Nenhum comentário:

Postar um comentário