domingo, 6 de agosto de 2017

Entrevista Dudé & A Máfia


O Blues Rock é uma das ramificações mais rica do planeta rock’n’roll, com adeptos em todos os cantos da Terra com shows acontecendo desde um palco minúsculo de um boteco até nos grandes estádios. Basta ligar os amplificadores para o som tomar conta do ambiente e deixar tudo bem legal, cheio de energia e satisfação no rosto de quem assiste as bandas. E Dudé um dos grandes nomes da cena paulista nos conceda esta exclusiva onde conta a sua trajetória, suas influências e sobre o novo cd que sai em breve. Caia de cabeça nessa aventura musical... isso é blues rock em alta voltagem!   



2112. Quando e como o blues e o rock entrou na sua vida?



Dudé. O Rock faz parte da minha vida desde muito cedo. O ponto de virada pra mim foi em 1985, assistindo ao primeiro Rock In Rio. Quando assisti ao show do Queen pela TV, pensei: ‘’É isso que eu quero fazer da minha vida!’’. Eu tinha 12 anos na época.

Apesar que minha família conta que aos 4 anos de idade, eu já cantava Raul Seixas brincando com meus carrinhos no chão da cozinha, enquanto minha mãe ouvia o disco Gita.

O Blues veio bem depois, já na adolescência. Comecei a me interessar por quem serviu de influência pra quem tinha me influenciado. Depois disso, teve a primeira banda que fiz parte pra tocar na noite paulistana e era justamente uma banda de Blues. Isso foi em 1989, eu tinha 17 anos na época.



2112. Quais são suas maiores influências?



Dudé.  Rapaz, tem tanta coisa que me serviu de influência que fica até difícil de contar (risos). Basicamente, o Blues dos anos 60 e 70, como B.B. King e Luther Allison entre muitos outros artistas. O Rock And Roll dos anos 60 e 70, o Hard Rock e Heavy Metal dos anos 80 também. Gosto tanto do Johhny Cash que o homenageio quando subo no palco vestido de preto. Minhas composições têm até influência do escritor maldito Charles Bukowski nas letras que escrevo. Minhas influências são um apanhado de muita coisa que acompanhou minha vida até aqui.



2112. Antes de formar a Dudé e a Máfia você participou de várias bandas com estilos voltados para o blues, o hard, o heavy metal... Fale um pouco sobre este período da sua vida e o que isso te ajudou no desenvolvimento como cantor!



Dudé. Fiz parte de muitas bandas. De lá pra cá, sempre teve o que aprender com elas. Tanto pro lado bom quanto pro lado ruim.



2112. Existe algum registro desse época?



Dudé. Sim, de algumas bandas. É possível achar material de bandas que fiz parte, tais quais: Asilo 70, Rockdelia, Easy Rockers, Allied Forces, A Velha Pantera e Blues Underwear. Tem bastante coisa dessas bandas no You Tube.


2112. Em 2013 você formou a Máfia com amigos que também eram fãs de blues e rock. Neste período vocês já compunham o próprio material ou apenas faziam covers?



Dudé. A banda Dudé e A Máfia já começou como autoral. Isso se deve ao fato de todos nós que já vínhamos de projetos cover e estávamos meio de saco cheio disso. O combustível pro surgimento da nossa banda foram dois fatores: o pretexto pra trabalharmos todos juntos e o tédio de ter passado muito tempo tocando sons dos outros.



2112. Quais as covers que não podem faltar num show?



Dudé. Desde o nosso primeiro show, nunca tocamos covers. Nada contra quem faz cover, mas bate uma preguiça da porra na gente dedicar tempo e grana pra tocar sons dos outros. Cada um, cada um.

Uma ocasião, tocamos a Stormbringer do Deep Purple na nossa passagem de som antes do nosso show na Fofinho. Quem estava nessa casa naquele momento disse que gostou, mas a gente tocou na pura ‘’orelhada’’ só pra testar o som antes do show. Me aparece brotoejas por todo o corpo só de pensar em entrar num estúdio pra ensaiar cover (rindo muito)



2112. O que mais os influenciam na hora de compor?   



Dudé. Cada um contribui na banda da sua forma. O Sérgio e o Ed Navarrette são a veia pesada da Dudé e A Máfia. O Lennon é o cara das misturas e ideias ousadas, o Luiz Cazati é a guitarra groovada e com solos pra viajar na maionese. O Leandro, nosso tecladista, é o cara do Blues e eu sou o retardado que liga o microfone e berra feito um zé ruela (rindo muito)



2112. Os anos 60 e 70 foram a base evolutiva das mais variadas vertentes musicais que dominaria os anos seguintes: funk, soul, psicodelismo, hard, folk, blues rock, reggae, punk etc. Muito do que se ouve hoje é reflexo direto destas duas décadas que lançou bandas e músicos que até hoje são influências (e referências!) para meio mundo. Na sua opinião como está a atual cena do rock e do blues? O que você indicaria de interessante hoje?



Dudé. Tem muita coisa nova nesse sentido pra ser ouvida. Coisas boas. Fica até difícil listar, mas fazendo uma busca meticulosa, se acha muita coisa legal tanto aqui dentro, quanto lá fora.



2112. Você acha que para se criar um estilo próprio independente do estilo torna-se necessário que o músico ouça vários estilos musicais?



Dudé. Identidade é tudo nessa vida e em muitas ocasiões, vejo uma galera confundindo estilo com influência.

Uma vez, uma banda entrou em contato comigo procurando vocalista. Quando perguntei qual era a pegada da banda, me responderam: ‘’Nosso trampo é estilo Led Zeppelin’’. Caramba, Led Zeppelin é uma banda e não um estilo (risos). Se você pensar assim, corre o risco de ser a cópia de um troço que já existe e mil desculpas pela sinceridade, mas ao invés da cópia, eu sempre optarei por ouvir o Led Zeppelin original (risos).

Esse tipo de confusão ainda existe e alguns músicos precisam entender que é perfeitamente possível criar um som com as mesmas influências do Led Zeppelin (Blues, Folk, Hard Rock, Heavy Metal, etc), mas com identidade sua. Aliás, as bandas que todos nós amamos até hoje se tornaram importantes na nossa vida justamente por darem ênfase na identidade a partir do que eles se influenciaram.



2112. O que você ouve além do blues e do hard?



Dudé. Gosto muito de Jazz também, além da MPB na sua vertente mais psicodélica.



2112. Tenho reparado que muitas bandas nos últimos anos tem forjado seu som calcado em bandas destes dois períodos. Você acha isso positivo ou negativo?



Dudé. Eu acho isso meio que a evolução natural das coisas. Afinal, esse tipo de influência sempre existiu.

A diferença foi o ‘’suporte’’ da mídia de massa que dá a esse processo que sempre oscila com os anos. Mas com o advento da Internet ficou claro que essas influências sempre estiveram por aí.

Aliás, a Internet veio comprovar que não é porque não aparece mais na TV que determinada influência deixou de existir.




2112. Mudando um pouco de assunto conte como foi a gravação do primeiro Ep da banda? O material já estava definido quando vocês entraram em estúdio?



Dudé. Sim, já tínhamos ideia do que iria pro EP. Inclusive, esse material já estava pronto já há um tempinho. Sendo assim, achamos legal lançar essas músicas pra servir de degustação pro álbum oficial.



2112. O que foi mais difícil em estúdio?



Dudé. Não deixar a tiração de sarro entre a gente fugir ao controle e a ressaca malvada no dia seguinte (rindo muito)



2112. Como foi a recepção do trabalho entre os fãs da banda?



Dudé. A banda Dudé e A Máfia depende e se mantém graças à atenção e carinho daqueles que acompanham nosso trabalho, simples assim! Quando lançamos nosso EP virtual, a recepção dessa galera foi fantástica, algo que me emociona até hoje ao lembrar.

A banda que tripudia, ou menospreza, seus fãs merece o fuzilamento em praça pública.



2112. Em 2015 vocês começaram a produzir seus próprios clipes, participaram de vários shows organizados pelas empresas Dow Interprises e Serasa Sperian que contava com você na produção executiva, tocaram na Virada Inclusiva organizado pela Secretaria Estadual da Pessoa com Deficiência além de abrirem o show do Chico César no Memorial da América Latina. Foi um período bem intenso para vocês não?



Dudé. Cada ano apresenta uma rotina diferente, esse é o grande barato de ter uma banda. 2015, recebemos convites pra tocar em empresas que trabalham a diversidade de uma forma que mereciam se tornar referência no resto do país. Foi uma grande honra pra todos nós celebrar a diversidade humana com essa galera.

Assim foi a Virada Inclusiva de 2015 que está entre os maiores shows que fizemos até aqui. É por isso que eu falo que a música deve ser feita em torno das pessoas e não em torno de egos inflados.



2112. Se você não se importar poderia comentar um pouco sobre o Movimento IncluSom patrocinado pela Natura? Acho bacana que todos conheçam e apoiem não por pena de ninguém, mas para que respeitem a todos os seres humanos da mesma maneira.



Dudé. O Movimento Inclusom visa produzir festivais de bandas independentes em locais com acessibilidade pras pessoas com deficiência terem a oportunidade de curtir o evento como todo mundo. Essa é uma bandeira que levanto há anos e o que posso adiantar no momento é que esse sonho está bem próximo de se realizar.



2112. Como está a gravação do novo trabalho? O que nós fãs podemos esperar: mais blues, mais hard ou tudo junto e mixturado?



Dudé. Desde o começo da banda, a gente estipulou que nosso primeiro álbum seria um apanhado de tudo o que já citei aqui, um tipo de celebração a todos os estilos que moldaram nossas vidas de lá pra cá.

Além das músicas que sempre estão no repertório dos nossos shows, existem aquelas que tocamos pouco ou simplesmente ainda não executamos ao vivo. Acho que o pessoal terá uma grande surpresa quando o lançarmos.



2112. Dá para adiantar alguma coisa?



Dudé. Lógico que não. É surpresa! (rindo descontroladamente)



2112. O blues apesar de ser uma grande influência em todas as vertentes musicais contemporâneas nunca alcançou o seu merecido lugar de destaque. No Brasil pouco ou nada se fala apesar de ter fãs espalhados por todo o país, temos vários festivais e várias páginas dedicadas ao gênero na net. Você acha o blues injustiçado?      



Dudé. O Blues é muito injustiçado ao meu ver. Ao começar que ele é considerado comercialmente inviável o que é uma baita de uma bobagem. Já toquei Blues em praças públicas e parques de São Paulo e a reação do público sempre foi maravilhosa. O que existe é preguiça em divulgar algo que não advenha de uma produção meia boca com conteúdo mastigadinho.

Quer saber o quanto o Blues emociona o povão? Pega uma gaita e toque no centro de São Paulo ou na Avenida Paulista e observe a reação das pessoas!



2112. Meu amigo, o microfone é seu... mete o pé na porta!



Dudé. Apoiem as bandas nacionais. Sim, as bandas gringas são fantásticas, eu mesmo adoro um montão delas, mas se a porra do cenário nacional desaparecer, aí que você terá motivo de sobra pra reclamar do sertanejo universitário que trancou matrícula.

Pensa que as alternativas são:

1 – Apoiar a cena, curtir sons animais, se surpreender com novidades que você desconhecia, se divertir pra cacete com os coleguinhas

2 – Passar o restante de uma existência de martírio desnecessário reclamando no Facebook feito uma tia velha e ajudando a divulgar tudo aquilo que você detesta.



A escolha é sua. E aí, o que vai ser?



Integrantes:



Ed Navarrette - Guitarra e backing vocal

Lennon Fernandes - Baixo

Sérgio Navarrette - Bateria e Backing Vocal

Luiz Cazati - Guitarra

Leandro Voinschi Lantin - teclado

Dudé - Vocalista

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