quarta-feira, 5 de julho de 2017

Entrevista Marcos Valle



Marcos Valle é um dos maiores nomes da MPB e aqui nesta entrevista exclusiva ao Blog 2112 ele nos conta sobre o lançamento do dvd Live At Birdlland em parceria com a cantora Stacey Kent. Valle nos conta desde os primeiros preparativos até o resultado final do projeto além de falar sobre a descoberta de sua música pela nova geração, sobre os novos nomes que estão surgindo e transformando a MPB. Um momento mágico na companhia de um grande artista e também um homem simples voltado para novas experiências musicais e novas parcerias.


2112. Live At Birdland é um belo trabalho com grandes canções e músicos maravilhosos. Como surgiu a idéia do show e a participação de Stacey Kent no projeto? Você já a conhecia?  


Marcos Valle. A idéia surgiu primeiro porque houve uma comemoração do aniversário do Cristo Redentor e resolveram então fazer um grande show com vários artistas. E resolveram juntar um artista brasileiro que seria eu com uma atração internacional que seria Stacey Kent pra cantar uma música minha chamada Samba de Verão que tem letra do meu irmão Paulo Sérgio. E como é uma música conhecida no mundo inteiro seria uma maneira de fazer essa junção desses dois artistas. Então ali eu fiz a primeira apresentação com ela... foi ali que ela pode me dizer o quanto era fã da minha música, eu não sabia e eu pude dizer pra ela como eu tinha gostado do trabalho dela, como eu tinha conhecido e tal. Então, nesse mesmo dia tivemos um encontro, primeiro na minha casa e eu e minha mulher e ela e o marido dela ficamos muito ligados e parecíamos que já nos conhecíamos a muito tempo e ficamos com a idéia de fazer alguma coisa mais pela frente. E aí surgiu a oportunidade um pouco depois deu fazer um show no Rio de Janeiro com a participação de algum artista e eu e a minha mulher pensamos exatamente na Stacey, ver se havia uma possibilidade dela fazer isso comigo e então resolvemos fazer este show na Miranda que é uma casa que não existe mais aqui no Rio de Janeiro só com músicas minhas e que foi uma idéia minha e dela. Ela também quis fazer isso e assim foi que surgiu a idéia desse show.    


2112. Como foi feita a escolha do repertório?  


Marcos Valle. Foi conversando com a Stacey porque como eu já disse ela já conhecia o meu trabalho, já conhecia discos que eu tinha gravado e tal. Eu queria ver o que ela mais se identificava com o meu repertório e isso era uma primeira idéia de fazer o que ela gostasse. Segundo, o que tinha a letra em inglês também porque a idéia era botar música minhas já conhecidas. E terceiro queria colocar músicas novas e botar algo para ela cantar em francês. Eu já estava com a idéia quase certa que estaria comemorando meus cinquenta anos de carreira porque estava coincidindo. Muito bem, aí então foi assim de comum acordo entre eu e ela e escolhemos aquelas músicas que tinha letras em inglês e algumas músicas que ela queria cantar, outras escolhemos algo em português, fiz músicas novas pra ela cantar e uma música em francês que eu tinha chamada La Petite Valse que não tinha letra e que acabamos botando uma letra em francês do letrista que já costumava fazer as coisas pra ela em francês.     


2112. Você mesmo escolhe os músicos?


Marcos Valle. Sim, eu me baseio nos músicos que já tocam comigo, na minha banda a muito tempo. Então a idéia seria eu no piano acústico, embora também eu use um Fender Roads mas nesse acaso eu achava que nessa linguagem que seria entre o jazz, a bossa e o groove o piano acústico seria melhor. Na bateria ficou o Rento Massa, Alberto Continentino, o Jim Tomlinson que é marido dela que toca saxofone e além disso o Jesse Sadoc, trumpet, o Marcelo Martins no saxofone, o Aldir Vaisares no trombone e resolvi também botar um violão... neste caso botei o Luiz Brasil porque eu queria que tivesse aquele clima também da bossa em algumas coisas para eu poder ficar mais solto no piano. Então a escolha foi feita dessa maneira!   


2112. O Birdland é considerado um dos templos do Jazz o que deve ter tornado este show especial para você. Foi sua a idéia de gravação do dvd?     


Marcos Valle. O Birdland eu já vinha me apresentando a muitos anos. Todo ano eu toco e a Stacey também por coincidência... cada um faz o seu show. E logicamente é uma casa como você disse, um dos templos do jazz e como eu já tinha tocado lá várias vezes pensamos exatamente da gravação do dvd porque a gente já conhecia a casa, sabia do como era o ambiente, como o som seria e a importância musical da casa então isso tudo nos levou a pensar em fazer a gravação ali. Logicamente consultamos o dono da casa, o Diane e ele adorou a idéia e assim nós fizemos uma montagem perfeita de câmera, de tudo pra fazer a gravação e a filmagem lá dentro. 


2112. O que você achou do resultado final?  


Marcos Valle. Eu achei o resultado final melhor que eu imaginava porque eu sabia que o shows tinha saído muito, muito bonito não tenha dúvida, que a atuação no palco tinha sido ótima pra gente. Mas a gente nunca sabe né, do resultado de câmera, de capitação de voz, de som, de tudo... E quando eu vi a montagem final foi muito bonito realmente, tanto a parte de câmera, como a parte de som ficou muito bonito e mais isso junto também com a parte de entrevista o que ela falou, o que eu falei, o que o Charles Gavan também participou com a minha mulher nessa parte de documentário e tal, foi feito no Japão e depois em Nova York então tanto a parte de palco como a parte de entrevistas ficou tudo muito bem cuidado, foi tudo feito com muito carinho e realmente tanto eu como a Stacey Kent a gente realmente ficou muito feliz com a resultado final.     


2112. A nossa MPB mais clássica tem sido redescoberta por uma nova geração o que tem levado as gravadoras a relançarem trabalhos a muito esquecidos. Em sua opinião o que levou essa mudança?  


Marcos Valle. Eu acho o seguinte, houve uma época que a música brasileira ficou muito dependente das rádios, das gravadoras, dos caminhos indicados pelo mercado, pelas músicas mais comerciais e isso tudo levou a música pra uma outra direção. E essas músicas comerciais elas venderam muito uma época e naquele momento a música brasileira ela perdeu seu rumo digamos assim de cultura, ela partiu para um lado de mercado, né? Mas acontece que isso passou e de repente parece que o próprio público cansou disso aí e as gravadoras não tendo mais venda desses discos fora que também pelo próprio mercado mudou tudo com a vinda do digital. Hoje em dia cd, dvd tem uma venda limitada, quer dizer, você depende muito também da parte digital e isso tudo tirou a grande importância que você tinha das grandes gravadoras. Então as pessoas puderam cada vez mais fazer seus trabalhos independentes e as grandes gravadoras que tinham esses discos no seu catálogo de vários artistas como o meu, como do Edu, como do Dori e de vários artistas eles começaram a ver que realmente que aquilo era um certo tesouro que eles tinham lá e que havia um público querendo comprar e principalmente querendo ter um relançamento com nova masterização e então eles começaram a mergulhar no que eles tinham e começou a vender muito bem. O público realmente começou a procurar isso de uma maneira muito grande e foi ótimo logicamente pros artistas daquela época e muito bom pra música que pode trazer para uma nova geração aquilo que eles não estavam ouvindo até então.                      


2112. Depois de trabalhar com grandes nomes da MPB a nova geração como Marcelo Camelo, Céu, Crioulo... ainda te empolga?   


Marcos Valle. Sempre me empolga! O que eu trabalhei, o que eu fiz com pessoas desde o início da minha carreira passando por diversas gerações, diversas culturas do Brasil e fora do Brasil até os mais recentes como você falou Marcelo Camelo, Céu, isso tudo me empolga sim e continua me empolgando porque eu tô sempre muito querendo ouvir coisas novas. Não que eu fique em busca disso mas eu fico preparado para ouvir. Quando eu ouço alguma coisa no rádio ou mesmo alguém que me mostrou ou trouxe na minha casa eu fico vendo o que que eu gosto né? Não que eu goste de tudo, mas tem muita coisa ainda a gostar nessas gerações novas. Sempre tem gente boa fazendo coisas novas e que hoje tem muito mais chance de mostrar o trabalho deles na internet sem depender de gravadoras tal... Então eu continuo me empolgando e o que me empolga também sempre é uma parceria nova, gosto muito disso. Eu sou estimulado por isso... coisas novas, parcerias novas, shows novos. Isso é muito bom pra mim e da mesma maneira que eu sei que é bom para a pessoa que chega e que gosta da minha música. Eu continuo a me empolgar muito por cada coisa nova que eu ouço e por cada coisa nova que eu faço.  


2112. O que você gosta de ouvir quando está em casa?


Marcos Valle. Depende! Eu ouço desde coisas que eu gosto como Dorival Caymi, Tom Jobim, Edu... eu vou ouvir um Ray Charles, eu vou ouvir Sinatra, eu vou ouvir música clássica Sattir, Ravel, Debussy; eu vou ouvir coisas mais recentes, novas, ouvir Gal, Céu, Marcelo Camelo... depende do momento que eu tô em casa. Eu ouço muita coisa no carro e as vezes eu procura nas rádios mais pop o que tá rolando de novidade, as vezes eu mergulho no Jornal do Brasil para ouvir coisas mais calmas. Sinceramente depende do momento. Mas eu ouço de tudo desde as coisas que me estimularam no início até as coisas que podem me estimular no presente.           



2112. Algum recado para a nova geração que está descobrindo sua música e mesmo para os músicos que estão começando agora?   


Marcos Valle. Para essa geração que está descobrindo a minha música agora o recado em primeiro lugar é que isso me traz um estímulo muito grande, fico muito feliz com isso acho que quando você passa sua música para uma outra geração é aí que a sua música continua, não adianta você ficar apenas se comunicando com a sua geração. Acho isso ótimo conseguir transferir para outras gerações, é um presente pro compositor. E o recado que eu posso dizer é que procure aos poucos conhecer tudo o que eu fiz porque logicamente depende de cada um... as vezes cada um é atraído por uma música, um disco, um show e dali ele pode caminhar pras outras que eu fiz. Logicamente eu já estou com 53 anos de carreira e nem sei quantos discos eu gravei... quase trinta. Então as vezes uma pessoa é atraído pelo disco Garra, mas ele pode depois chegar ao Viola Enluarada ou vice versa. Quer dizer, eu fico esperando as pessoas que gosta de mim e pouco a pouco ele tenha o conhecimento de tudo o que eu fiz.

E para quem tá começando agora e tem muita gente boa, de talento, que acredite mesmo no que está fazendo, lógico que tem coisas melhores e piores da época que eu comecei. Quando eu comecei havia mais espaço, as rádios tocavam mais as músicas que a gente fazia sem pensar em muita coisa comercial, mas por outro lado o momento passou dessa coisa tão comercial e eu acho que também existe um espaço pra outro tipo de música por causa exatamente da coisa digital, dos estúdios que você pode fazer em casa tal, gravações caseiras, formar um público teu sem depender das gravadoras. Então tem muita gente de valor que eu acho que tem que acreditar e seguir no seu caminho. É difícil financeiramente eu sei né, como é que vai se manter, mas de repente a pessoa pode até fazer duas coisa ao mesmo tempo... ela tá estudando, segue seu lance, ter um trabalho fixo mas ao mesmo tempo segue a sua música. Você tem que insistir e uma dia você chega a conclusão que não insistiu, não tentou tudo e que poderia ter tentado aí você vai ficar frustrado. Agora, se você tentou e não consegui você sabe que tentou. Então o meu conselho é esse, acredite em você e siga, tente ao máximo o que você puder.      
                     

Live At Birdland - New York City: Abertura / Intro - The White Puma (Puma branco)/ The Face I Love (Seu encanto) /  The Answer (A Resposta) / Drift Away / My Nightgale / Amando demais / So Nice (Samba de Verão) / Gente / Passa por mim / La Petite Valse / Look Who’s Mine (Dia de Vitória) / Batucada (Baturcado surgiu) / If You Went Away (Preciso aprender a ser só) / Pigmalião 70 / Crickets Sing For Anamaria (Os grilos) / She Told Me, She Told Me (Sonho de Lugar).


Nota: Eis o DVD que deu origem a esta entrevista... A muito que a MPB merecia um concerto deste nível recheado de músicas que marcou toda uma geração com músicos de alto gabarito e uma plateia impressionada com a presença mágica de Marcos Valle e da cantora Stacey Kent. Uma noite incrível, perfeita e se existe uma classificação para este concerto é cool!  



Outros tesouros:


Ensaio: Nova Bossa Nova / Sonho de Maria / Samba de Verão / Preciso aprender a ser só / Meu herói / Viola enluarada / Terra de ninguém / Gente / Mustang cor de sangue / Com mais de 30 / Black is beautiful / Azimuth (Mil milhas) / Pigmalião 70 / O cafona / Quarentão simpático (Renatão) / Alegria da vida / Cinto de inutilidade / Um novo tempo / Escape (Para de fazer besteira) / Moshi, Moshi


Nota: Este programa foi exibido pela TV Cultura nos anos 70 e até o seu lançamento em DVD não foi mais exibido. A set list apresenta os grandes sucessos de Valle numa performance incrível e intimista que deixa qualquer fã do cantor feliz diante desta performance incrível. Histórico!    




Homenagem a Marcos Valle (Som Brasil): Samba de verão / Gente / Viola enluarada / Black is beautiful / Mentira / Que bandeira / Mustang cor de sangue / Os grilos / Preciso aprender a ser só / Estrelar / Capitão de indústria / A Paraíba não é Chicago (Baby don’t stop me) / Com mais de 30 / Azimuth (Mil milhas)


Nota: A Rede Globo de vez em quanto acerta a mão em sua pálida programação como esta série do Som Brasil dedicada aos grandes nomes da MPB. E neste volume Marcos Valle recebe a participação de uma nova geração de admiradores da sua música como Tulipa Ruiz, Jair Oliveira e Monique Kessous que se derretem diante do ídolo que também se emociona diante de seus discípulos.  


Conecta (Ao vivo no Cinemathéque): Selva de Pedra / Jet Samba / Valeu / On line / Garra / Wanda Vidal / Brasil X México / Água de coco / Próton, Elétron, Nêutron / Nem paletó, nem gravata / Mentira / Batucada surgiu / Cara valente / Samba de verão / Nem paletó, nem gravata - O vencedor / Dragão / Boa hora / Homem ao mar / Estrelar / Não tem nada não / Sincerely hot – O cafona / Os grilos / Lost in Tokio Subway


Nota: Marcos Valle sempre foi um cantor/compositor/instrumentista com um pé no passado e os olhos no futuro. Este show gravado no Cinemathéque é a prova desta verdade quando Marcos se une a Alberto Contimentino, aos Dj’s Plínio Profeta e Nado Leal; Marcelo Camelo (ex-Los Hermanos), Fino Coletivo, +2, Palmeira e Mauro Bermam para produzir este belo espetáculo.


Coleção Bossa Nova - Marcos Valle (Livreto/CD): Gente / Ainda mais lindo / Preciso aprender a ser só / Seu encanto / Passa por mim / Samba de verão / A resposta / Deus brasileiro / Terra de ninguém / Viola enluarada / Ao amigo Tom / Não tem nada, não / Vem / Próton, Elétron, Nêutron / Os grilos


Nota: Verdade seja dita... pouco ou nada se lança ou lançou (alguns itens raros estão a anos a espera de um relançamento!) sobre a história da música brasileira e seus heróis. Este precioso livreto contendo um pouco da história deste grande músico e compositor é um verdadeiro achado num país sem memória e que a cada dia se rende mais a imbecilidade. Junto ao libreto um cd com vários hits do compositor. Vale a pena a aquisição pois conhecimento nunca é demais!   


Querem um conselho? Vasculhem sites de sua confiança e adquira estas preciosidades antes que saiam de catálogo e você tenha que pagar uma fortuna em algum sebo.  

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