domingo, 12 de março de 2017

Entrevista Luiz Carlos Calanca



É com muito orgulho que apresento esta entrevista com Luiz Carlos Calanca, dono do lendário selo Baratos Afins que acreditou no rock brasileiro numa época em que as nossas queridas “majors” pouco se lixavam para o que estava verdadeiramente acontecendo no cenário rocker. Foram realizados grandes discos como SP Metal I & II, Não São Paulo e mesmo lançando nomes de peso como Arnaldo Baptista, Lanny Gordin, Coke Luxe, Harpia, Serguei, Golpe de Estado, Patrulha do Espaço etc. Hoje se as bandas tem mais liberdade de expressão este cara é um dos responsáveis...

2112.  Como surgiu a idéia de transformar a sua loja de discos em um selo independente?

Luiz Carlos Calanca. Eu a princípio tinha pensado em fazer alguns relançamentos de discos que eram raros e que considerávamos importantes. Então eu procurei o Arnaldo Baptista  para  fazer uma reedição do álbum  Loki, mas ele estava fazendo o segundo álbum que era o Singin Alone, depois do acidente ele ficou impossibilitado de terminar e ele quem me procurou para concluir o trabalho e eu aceitei fazer. Submetemos o disco a censura federal e mudamos nossa razão social para poder fazer o disco na legislação vigente daquela época, e ai não teve mais sentido parar.

2112.  Você tinha experiência em gravação/produção ou você se atirou no escuro com a cara e a coragem? ,

LCC. Eu já fui de banda, era discotecário ( DJ ), fazia bailinhos e cuidava do som e luz, a partir de meu terceiro álbum, acabei me enfurnando em estúdios e não parei mais.
2112.  Como é o processo de seleção das bandas? 

LCC. Antes eu achava a banda legal e contratava a banda e ninguém interferia na minha escolha. Depois percebi que muitas bandas (principalmente as dos anos 80) queriam responsabilizar só a mim pelo fracasso delas. Então, hoje eu sou mais criterioso nas escolhas e procuro conhecer melhor o caráter das pessoas independente de banda, e deixar bem claro para elas o nosso papel e posição. Então hoje a coisa além de ter que gostar da banda tenho que ter afinidades também a nível pessoal, e graças a Deus, aqui está virando uma grande família,

2112. Você é tido como um dos responsáveis pelo resgate de lendas como Arnaldo Baptista e Lanny Gordin e mesmo na divulgação de bandas brasileiras numa época em que o rock brasileiro vivia feito bandido pelas esquinas. Na sua opinião o cenário para o rock brasillis melhorou?,

LCC. Não, na minha opinião o rock andou muito para traz, ainda tem muitas bandas bacanas, mas não existe mais uma radio rock,  nem programas de TV, nem publicações em revista  e críticos musicais com credibilidade para falar do assunto  e vergonhosamente nem os grandes jornais dedicam uma coluna frequente para abordar assuntos do gênero. 

2112.  Qual a sua opinião acerca de bandas que tão logo são formadas e já querem gravar? Você acha isso é necessário?

LCC. Depende, da criatividade de cada banda, penso que algumas perdem o timer e até  permitem que a música desanda para caminhos diferentes, as vezes pode sim  ter uma melhora, mas no geral não, são poucas as bandas que superam a  síndrome do segundo álbum, os gritos primais no rock sempre foram os mais impactantes ,

2112.  Que conselho você daria para essas bandas? 

LCC. Penso que cada uma delas tem que perceber, o momento em que elas se sentem maduras para registrar o trabalho, uma gravação precipitada pode enterrar boas ideias que poderiam amadurecer melhor para ficar mais doce, kkkk

2112.  Quem você gostaria de produzir e lançar pela B.A.?

LCC. Demorei muito para responder essa pergunta, porque estava vasculhando minha mente  na busca de  uma resposta, mas não encontrei. Eu queria gravar o Ira  até os dois primeiros álbuns, hoje eu não faria mais, e o que eu lamento foi não ter gravado o Sergio Sampaio, que morreu no dia  da gravação que tínhamos agendado.  E o disco acabou não saindo por aqui.
2112.  O Selo Baratos Afins já teve lançamento no exterior? Quais?

LCC. Teve vários, SP.Metal, Salário Mínimo, Harppia, Patrulha do Espaço, Gonzalo Labrada Trio, Itamar Assumpção, Mercenárias, Serguei, Ratos de Porão (em vários países)  e a coletânea Sexual Life of Savages da Soul Jazz Records, uma compilação de São Paulo post punk com 19 bandas  das quais 16 era de nosso selo.

2112. Muitos fãs de rock e críticos dizem que o rock brasileiro é inferior ao produzido pelos gringos. Você concorda com isso? Qual a sua opinião?  

LCC. Acho muito subjetivo discutir isso, claro que também copiamos coisas de fora ,e vice versa, mas também  tem  um monte de bandas gringas muito inferior as nossas, e no geral  diferentemente  do ouvinte  brasileiro, os músicos de fora respeitam  muito nossas culturas e produções.

2112. Selecione dez lançamentos do seu selo que mais te orgulha!

Arnaldo Baptista - Singin Alone
Patrulha do Espaço - III
Centúrias - Última Noite
A Chave do Sol,
Harppia - a Ferro e Fogo
Golpe de Estado - Segundo álbum
Lanny Gordin - 2.000
Kafka -Musikanervosa
Coke Luxe - Rockabilly Bop
Itamar Assumpção - As Orquídeas do Brasil  (Trilogia)

2112. Dos muitos discos de sua loja qual o mais raro

LCC. Eu tenho discos tão raros, tão raros, mas tão raros mesmo que é ainda mais raro achar alguém interessados por ele.

2112. Algum recado?  

LCC. Quando abri minha loja de discos, eu pensava que entendia alguma coisa de musica. Hoje 39 anos depois de conviver num mar de discos e conhecer outras tantas coisas,  acabei descobrindo que não entendo absolutamente nada de música. Se eu tivesse essa consciência antes, estaria ainda vendendo drogas farmacêuticas e não drogas  musicais, então as opiniões dadas aqui não é a voz da verdade, apenas minha opinião  pessoal.


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