sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Entrevista Guto Goffi

Nos anos oitenta muito do verdadeiro rock ficou para traz com o advento da New Wave, Tecnopop, Teenpop etc. E como sempre acontece não poderia ser (e soar) diferente em terras brazillis. Mas o Barão Vermelho peitou a cena de frente como seus rocks, blues e letras super irreverentes e venceu a batalha. Quarenta anos depois estou entrevistando o batera e criador da banda.         

2112. Já são quarenta anos de estrada, três vocalistas e uma identidade musical que vem sendo forjada ao longo desses anos. O que podemos esperar para os próximos anos?

Guto. Eu espero tudo da arte e da música, como estou há muito tempo nisso, eu me posiciono sempre esperando centelhas e fricções pra acender a minha fogueira. Gosto do novo e adoro sair da minha zona de conforto. Aí consigo surpreender a mim mesmo…

2112. O interessante é que o Barão tem um público que sempre os apoiam nessas mudanças o que garante liberdade para experimentar. Isso é muito importante para uma banda, não é?

Guto. As coisas nunca foram fáceis mesmo, e trocar de cantor é uma coisa muito difícil no Brasil. O cantor quando sai da banda acaba carregando os sucessos da banda para a sua carreira solo. Mas é sempre um bom desafio.

2112. Mas após diversas experimentações vocês retornam ao rock básico em Barão Vermelho (2004). O que motivou a banda a tomar essa decisão?

Guto. Não sinto essa volta ao rock clássico nesse disco de 2004. É um dos álbuns que menos gosto do Barão Vermelho. Gosto de Cara a cara, Embriague-se e A máquina de escrever.

2112. Os três primeiros álbuns da banda eram todos voltados para os blues e rock o que diferenciava vocês das demais bandas da época usando e abusando do pop eletrônico, dark music, rock britânico etc. O Barão chegou remando contra a maré, não é?

Guto. De certa forma sim. Primeiro as letras do Cazuza que eram bem marginais, comparadas aos demais roqueiros. O som do Barão sempre flertou com o lado negro do rock, o que realmente nos contra punha as bandas de São Paulo e de Brasília. Na primeira leva do rock 80 nós botamos pra andar esse tal de rock’n’roll.

2112. O vocal rasgado e a postura elétrica do Cazuza no palco ajudava bastante... Outra bola na cesta! 

Guto. Cazuza era a irreverência em pessoa. Foi um Freddie Mercury tupiniquim.

2112. Numa conversa entre amigos comentávamos a atualidade das letras das bandas safra 80's principalmente no que diz respeito ao atual cenário político. Qual a sua opinião sobre o assunto?

Guto. Acho que a geração 80 estudou em bons colégios e tomou boas drogas e falou o que queria. A arte está sempre na frente…

2112. Acompanho vocês desde o primeiro álbum e sempre que acontecia mudança nos vocais cria-se uma grande expectativa. Como vocês digeriam internamente essas mudanças?

Guto. Sempre com expectativas boas e preocupados com a aceitação, as vezes lenta por parte do grande público Às vezes ouço: Só curto Barão com o Cazuza. Já outro diz: Barão sem Frejat não existe. E recentemente: o Suricato toca e canta melhor que o Frejat. Não ligo pra nada disso, pois gosto de todos os Barões e suas diferentes formações.

2112. Cazuza e Frejat... qual foi a saída mais traumática?

Guto. Toda saída é uma quebra de elos irreparáveis.

2112. A entrada do Rodrigo trouxe novos ares para a banda. Como foi que nome dele surgiu para substituir o Frejat?

Guto. O Suricato veio por indicação do Maurício Barros.

2112. Guto, o Rodrigo manterá o Suricato na ativa num trabalho paralelo ao seu posto no Barão Vermelho?

Guto. Pelo que tenho visto sim.

2112. No intervalo entre os álbuns Barão Vermelho e Viva você lança seu primeiro álbum solo: Alimentar. O que mais pesou na decisão de lançar um solo e não um novo álbum com o Barão?

Guto. Na minha carreira solo faço de tudo, componho, escrevo as letras, faço arranjo e toco. Escolho os músicos e tenho o poder de decisão final. Fica mais fácil dar um passo e depois outro. Na banda isso é mais complicado, amarrado, todos querem protagonismo, o que está certo.


 

2112. Existe uma correlação musical entre seus álbuns solos ou você aproveitou o máximo que pode para experimentar nos dois álbuns?

Guto. O que desejo na carreira solo é ser diferente do Barão. Tenho uma vivência na música que mudou muito nos últimos 20 anos. Sou um baterista de rock, que sabe tocar samba, maracatu, bossa-nova, Jongo, côco, baião e outros ritmos, isso me diferencia um pouco dos que curtem rock inglês…

2112. Mick Jagger disse certa vez em entrevista que um músico quando lança um álbum solo é porque o material não se encaixa no trabalho de sua banda ou simplesmente porque ele quer tocar com outros músicos. Isso aconteceu também com você?

Guto. Certamente, Jagger sabe o que diz!

2112. Fale um pouco sobre as bandas Bicho de Pau e Guto Goffi Quinteto. Elas já tem trabalhos gravados?

Guto. O Bicho-de-Pau tem um disco gravado e ainda não lançado e é dos trabalhos mais lindos e livres que já construí. Quero muito que dê certo. O GG quinteto era mais pra tocar em bares e pubs pequenos.

2112. E como foi gravar com lendas do quilate de Robertinho Silva e Laudir Oliveira?

Guto. Eu tenho um disco gravado com esses dois monstros da percussão. Somos só nós três no disco. Vou lançar mais à frente também. 

2112. A Maracatu Brasil além de loja de instrumentos também ministra aula de bateria/percussão. Essa aulas são apenas presenciais ou também tem on line para quem não mora no Rio de Janeiro e região?

Guto. Eram presenciais, particulares e coletivas. A Maracatu Brasil funcionou de 2000 à 2020 e fechamos na pandemia.

2112. 2020/2021 ficará marcado como os anos mais difíceis para a classe artística devido a pandemia. Muitos foram os bares, restaurantes e teatros que tiveram que fechar ou cancelar diversos projetos. Como está sendo sobreviver nesse período tão conturbado e sombrio...

Guto. É verdade, hoje sem shows vivo de direito autoral, dando aulas de bateria e vendendo os meus três cds lançados e trabalhos de arte digital que faço. E a vida segue…

2112. E para os próximos meses quais são os seus projetos?

Guto. Vou lançar um livro que ficará pronto em agosto de 2021, que reúne 40 letras e 40 ilustrações.

2112. A primeira vez que assisti o Barão Vermelho foi num show em minha cidade. A banda tinha acabado de lançar o single Bete Balanço. Cara, aquele show me marcou profundamente...

Guto. Época boa e fértil, todos queriam nos ver…

2112. Qual telefone/e-mail para contratação dos seus shows solo e do Barão Vermelho e mesmo para a aquisição de material de merchandising?

Guto. No meu in-box do Messenger. 

2112. ... o microfone é seu!

Guto. Um abraço à todos. Comprem meus discos e se gostarem indiquem, ao melhor amigo ou pior inimigo, vais estar me ajudando. Amém!

Obs.: As fotos foram todas solenemente surrupiadas do Facebook do batera e identifiquei apenas o nome do Marcelo Magon (desenho) e Roberto Sant'Anna. Se alguém souber o nome dos demais fotógrafos favor enviar para o meu e-mail: furia2112@gmail.com para que eu possa fazer as devidas correções.

Dedico esta entrevista a um grande amigo, irmão e companheiro de viagem nas estradas do rock’n’roll e um dos grandes fãs (como eu!) do Barão Vermelho: Gustavo Aguiar.  

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