quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Entrevista Mr John Blues Combo


O blues foi e sempre será a grande matriz que alimenta todas as diretrizes da música universal. Seja no tom confessional de suas letras como nos seus riffs cortantes. Oriundo da Bahia o Mr. John é um digno representante desta vertente que encanta gerações e gerações e que agora chega as páginas deste blog.

2112. Quando você foi iniciado no blues?

M.J.B. Nos anos 80, época da minha adolescência não tinha um rumo e nem gosto musical que me atraia tanto. Chegava do colégio e sempre passava na “Sessão da Tarde” filmes do Elvis Presley, e a trilha sonora me despertou curiosidade, principalmente nas músicas voltadas ao blues. Mas só no final de 1986 que conheci um grande músico e amigo Marlon Villa, um super guitarrista e cantor que já tinha uma vasta bagagem do gênero, foi ai que falei: é isso que quero tocar.
2112. Suas influências vem de Freddie King, B.B. King, T-Bone Walker e Muddy Walters. E da nova geração do blues quem você ouve? Hendrix, Vaughan, Mick Taylor, Alvin Lee, Clapton...
M.J.B. Sim, todos esses que citou foram fundamentais pra que o amor ao blues crescesse a cada dia. Como percebeu minha influência é voltada mais ao blues tradicional, por mais que a linguagem de certos artistas descambe pro jazz, rock, country etc etc, acho que tenho a visão mais roots, digamos assim. Quanto a nova geração escuto de tudo, não tenho aquela coisa de ser tão purista no que escuto no dia a dia.
2112. Entre os zilhões de álbuns que você já ouviu e que por um motivo te marcou profundamente?
M.J.B. Ah! Freddie King foi o primeiro camarada que mexeu comigo, essas coisas não tem muita explicação, mas lembro que depois de ouvir Muddy Waters, B.B. King e outros que eram os mais badalados no estilo da época, Freddie King tinha algo diferente, tanto no fraseado da guitarra quanto na voz, pura energia, enfim. Havia um programa de blues na rádio Brasil 2000 FM (Blues as Sextas-Feiras) do Luis Fernando Vitral (Brother Bill) que sempre ouvia e gravava o programa em fita K7 foi quando rolou o CD inteiro “Live in Antibes” (França), aquilo me deixou fascinado e não parei mais de escutar e pesquisar. De tantos artistas sensacionais, ficar escutando somente um durante certo tempo marca bastante, amei, gostei, me entusiasmei, sei lá.
 Mr. John Blues Combo 
2112. Tenho comigo que o blues tem as letras mais confessionais e sinceras da história juntamente por partir de experiências próprias ou comunitárias como as works songs. Qual a sua opinião?
M.J.B. São letras simplórias que falam do cotidiano das pessoas e histórias, que na maioria das vezes são verídicas, relata muito sofrimento e dor, seja no amor ou fatos de sua vida, todos que conhecem o bom e velho blues já sabe, mas vai além disso, fatos da vida de certos artistas se tornaram canções eternizadas. Isso é maravilhoso, faz o feeling se aflorar, precisa mais?

2112. Entre 1987/89 você atuou como baixista na Power Trio Revolution Blues. A banda fazia apenas releituras de clássicos do blues ou também tinha material autoral?
M.J.B.  Clássicos do blues era o que rolava muito, como éramos jovens, cada um vinha com uma novidade pra mostrar e se exibir hahaha. Eu adorava “Highway” Freddie King, Marlon tudo de Muddy Waters e Wagner o baterista já curtia Stevie Ray Vaughan e blues alternativos. Música própria mesmo só rolou uma “Revolucion Blues” que era o nome da banda e com uma letra que falava na revolução do blues, não me lembro bem a letra.
2112. A primeira banda acaba sempre servindo de laboratório para o músico se aperfeiçoar aprendendo novas técnicas, a compor, arranjar etc. Com você também foi assim?
M.J.B. Com certeza, como falei todos queriam se exibir e mostrar algo que chama-se atenção, isso fez com que tivéssemos mais empenho, as vezes rolava um laboratório interessante e umas merdas também.

Calibre 12 Blues Band (1990)

2112. O que mais te marcou durante esse tempo na Power Trio e o que levou a sair da banda?
M.J.B. A primeira banda de blues que fiz parte, o entusiasmo e o amor que tenho até hoje pelo blues, dou graças a esse começo. O que marcou mesmo foi os fins de semana no pátio da escola Dr. Alberto Badra (Vila das Belezas), onde rolava os ensaios e sempre curiosos iam ver a bagunça, o clubinho tava montado, amigos que até hoje não esqueco. As apresentações da banda foram pouquíssimas, creio que desmotivou todos um pouco, e cada um seguiu seu caminho, não rolou aquela história “a banda acabou” bla bla bla.
2112. O que te levou a se mudar para São Paulo?
M.J.B. Nasci numa cidade pequena da Bahia, “Olindina”. Meu velho pai cuidava do pequeno pedaço de terra do meu avô que se intitulava “Fazenda Cana Vieira”, onde tinha algumas cabeças de gado,cabra, galinha... etc, etc, essas coisas da roça, além de ser o sanfoneiro da região mais popular “Jonga”. Amigo de um seresteiro que passou por lá certa vez chamado Noca do Acordeon decidiu vir para São Paulo tentar a vida, a princípio trabalhando como cozinheiro e tentando a vida de artista, é assunto pra outra entrevistas essa história. Foi assim.
2112. Como surgiu o convite para você participar da lendária Calibre 12 uma das bandas pioneiras do cenário blues paulistano.
M.J.B. Depois de dar uma pausa na “Revolucion Blues” fui ver o show da Calibre 12 (1989) no extinto bar Persona no Bixiga, onde rolava blues, jazz de altíssima qualidade, sai de lá com brilho nos olhos com a performance da banda e principalmente do guitarrista Fábio Siri que parecia entrar em transe quando atuava nos solos, um puta feeling pra resumir. Fiquei com aquele show na cabeça e comecei a ir onde se apresentavam. Num desses shows no também extinto “Blue Note” troquei algumas palavras com o Siri e peguei seu telefone já com a idéia de estudar guitarra, passou algum tempo e no começo de 1990 liguei para iniciar minhas aulas, aula por sinal inesquecível, detalhes pra outra conversa, enfim, perguntei da banda quando comentou que estava parada por falta de baixista, reagi logo dizendo que tinha um baixo e curtia blues pacas, ficou quieto e não me disse nada, achei normal diante de um aprendiz de guitarra a atitude. Finalizando a aula com um bate papo sobre guitarristas de blues e tudo mais, me disse: traz o baixo na próxima aula... uhoooo fiquei bem feliz só de poder levar o instrumento e fazer um som com ele. Creio que peguei mais no baixo aquela semana do que nos dias habituais hahaha. Chega o dia da aula e já nem penso mais na aula de guitarra, queria mesmo era ta no meio da bagunça fazendo um som com aquele cara, acabando a aula perguntou se não tava afim de fazer um som com ele... opa!!!!! Não excitei!!!! Claro!!!!!! Uhooooo. A triste notícia é que a banda tava se desfazendo com a saída do vocalista (Carlito), e em seguida o baterista Luis Kruc teria desanimado também. Restou o Luis Fernando (gaitista) e o Siri da formação original, não queriam acabar a banda, foi quando sugeri chamar o baterista Sidney Lélis (Cidão) com quem tinha amizade no bairro onde morava e de ter feito algumas sessions com a “Revolucion Blues”. A história foi aumentando com shows, festas, viagens e deu no que deu, ficou pra história e faz parte da cena blues brasileira.

Zona Blues (2004)

2112. Soube que a banda fazia muitos shows em bares, pubs, festivais, projetos de rua... A banda era bem popular, não?
M.J.B. Se tornou bastante popular mesmo, João Hashish amigo e produtor da banda armava muitos eventos na cidade e estados do Brasil, por exemplo o Festival de Lavras até hoje é inesquecível, mas também não tinha tantos grupos na cidade de São Paulo, se resumia em três que mais atuava: Expresso 2222 do bluesman  Paulo Meyer, Blue Jeans do super guitarrista Alan, o primeiro guitarrista brasileiro que vi, escutei e presenciei tocar Stevie Ray Vaughan à risca, e foram surgindo vários grupos e artistas, 3 Em Blues, Banda Cara de Pau, Orquestra Paulista de Soul, Blues For Sale, Blues Connection, Ventura Blues Band, Dr Felgood Blues Combo, Companhia Paulista de Blues, Spirit Blues,Urublues, Blue Trip, Black Dog Blues Band, Mr Mojo Blues Band e assim cresceu a cena blues paulistana, tem assunto de bandas até os dias de hoje. Espero não ter esquecido alguma banda que fez parte desse começo... presenciei vários shows em meados dos anos 90, ficou difícil lembrar todas.
2112. Durante o Nescafé Blues Festival em 1996 vocês recepcionaram os artistas do evento como participou de uma jam session junto a lendas com Luther Allison, Pinetop Perkins, Jeff Healley, Eric Burdon, Derek Trucks etc. Isso é uma experiência única, não é?
M.J.B. Ahhhh!! sim. É outra atmosfera, linguagem, afinal a cultura não é nossa, e ver esses caras do lado e dividir o palco não tem preço. “RESSALTANDO” que nesse festival não fiz parte da banda, apenas participei das memoráveis noites de Jam no Hotel Transamérica.
2112. Existe gravação desta jam?
M.J.B. Deve existir sim, mas eu particulamente não tenho nem vídeo e nem áudio, existe fotos e matéria em jornal, revista. Falar em revista antes da Blues’n’Jazz a revista chamava-se Black & Blues que cobria todos os acontecimentos do gênero na época, sem palavras pra agradecer o grande colega e jornalista Helton Ribeiro.
 Programa Talentos Record News (09/03/2016)
2112. Apesar das performances incendiárias a Calibre 12 acabou em 1998. O que de fato aconteceu? Vocês chegaram a gravar algum material?
M.J.B. Tinha shows abeça, época fantástica pra banda, porém da formação original só ficou o Fábio Siri, eu mesmo sai duas vezes por um período curto, brigava com os integrantes das outras formações, sei lá, grandes músicos mas não curto esse papo de fazer pose de Pop Star num gênero respeitado porém muito ingrato em certos aspectos. Gravações em áudio tem um CD com 12 músicas (1993) que não foi lançado pelo fato do Luis Fernando (gaitista/vocalista) ter saído e vídeos tem vários publicados no Youtube e um monte engavetado ..logo mais alguém publica. Belas canções com letras em português compostas pelo Fábio Siri, Luis Fernando, Sérgio Campiani, algumas no meu canal do YouTube Mr John Mr John https://www.youtube.com/channel/UCTcV9G1E7r0mZjgsCRmsf9g?view_as=subscriber

2112. Logo você funda o Instituto Música Blues & Jazz ministrando aulas de guitarra e contrabaixo além de integrar a banda do gaitista Fernando Naylor. Como você conciliava a sua agenda?
M.J.B. Essa época me dediquei mais a aulas e estudar guitarra, o fato de ser conhecido como baixista sempre acompanhava os artistas mas sem compromisso. Fernando Naylor sabe muito do estilo, foi e é sempre um aprendizado pra mim, é uma pena que não leva a vida musical em primeiro plano, ta certíssimo diante da profissão que tem (Neurologista). Um super gaitista, todo respeito.
2112. Conte um pouco sobre a participação da banda na gravação da música A Gaita e a Sanfona do cantor Téo Azevedo. Não deixa de ser curioso a junção de dois rítmos tão distintos. O que você achou da experiência?
M.J.B. Atuava com a banda do Dr Felgood Blues Combo (Fernando Naylor) e a sua amizade com Flávio Guimarães proporcionou essa session. Vamos lá: com a vinda do gaitista Charlie Musselwhite ao Brasil, onde a turnê passava por São Paulo, Charlie Musselwhite encontrou um CD do Téo Azevedo numa dessas andanças (loja) e curtiu bastante, rolou a idéia do Téo gravar uma mistura de blues e forró, no meio de tantos elogios recebido pelo gringo Flávio Guimarães armou essa tur que facilitou o contato com o Fernando Naylor. Lembro bem de estar no estúdio onde os Mamonas Assassinas tinham gravado (sinistro) na Serra da Cantareira, depois de vários takes até sair do jeito que o Téo queria, colocaram um agogô eletrônico, pois o Cidão (Sidney Lélis) baterista não tinha levado e nem imaginava que iria usar. A experiência foi demais, só não imaginava como seria a aceitação na época, hoje em dia tá tudo junto e misturado na modernidade musical.
 Coral Spiritual Blues
2112. O que mais te influenciou a fundar a Zona Blues? Você ainda fazia parte da banda do Naylor?
M.J.B. O tédio... kkkkkk só dava aula e saia as vezes pra tocar com alguns bons músicos do blues, a vontade de tocar guitarra também deu um UP. O brother Marcio Halcksik (gaitista) esteve presente nessa época que surgiu a idéia de armar um time. O bar do Fred em Santo Amaro era o point pra passar noites com a gaita e o violão, com muito blues claro...ahhhh tinha a sinuca também, éramos rivais hahaha, enquanto trocávamos idéias de blues a sinuca era a distração. A banda do Fernando Naylor como disse não era prioridade na vida dele e sim hob, ficou difícil assumir um compromisso e me dispor. Voltando a história da Zona Blues, Marco Guto (baixista) tínhamos sociedade no ”Instituto de Música Blues & Jazz”, conheci o Ed Blues (cantor) através do baterista Osnir vendo o show da banda “Boca de Valores”, uma puta voz rouca e negróide me chamou atenção e convidei pra se integrar ao grupo, até então era só diversão, foi ficando sério e sugeri o nome da banda Zona Sul Blues Band, o Ed com sua visão mais ampla me convenceu de que ficaria muito rotulada e bairrista e sugeriu “Zona Blues”, baterista era sempre um problema depois da saída do Osnir que tinha muitos shows com bandas covers, Antony King filho do Mauricio Pedrosa (tecladista), Fernando Rappolli, Fabio Pin, Luís Fernando, e finalmente Victor Busquets esse super baterista que dispensa comentários, Mauricio Pedrosa foi o último que entrou no grupo e deu outra cara pras músicas com sua experiência em atuações na banda Tutti-Fruti (Rita Lee), Nuno Mindelis e outros. 
2112. Durante uma apresentação no Juke Joint o cantor americano J.J. Jackson subiu ao palco e deu uma canja memorável. Isso é tipo de coisa que dinheiro nenhum paga, não é?
M.J.B. Momentos da vida que faz a gente amar essa vida de músico, artista ou qualquer outra coisa do tipo, e o saudoso J.J.Jackson era um show man conduzia não um show, mas um espetáculo.

2112. Esse show inclusive gerou um convite para que vocês participassem da primeira Virada Cultural de Tiradentes em 2005. Como foi o show?
M.J.B. Confesso que fiquei apreensivo em ver o resultado, mas foi massa pra caramba, uma platéia sensacional que participava e gritava aquelas palavras chavões que tem nos shows de blues, o camarim era uma tenda cheia de frescura pra artista, só tomei as cervejas mesmo. O J.J.Jackson deixava   todos a vontade, parecia que era o milésimo show juntos, era só o primeiro, e no repertório só os clássicos. Um único número fez a capela “Wonder Full Word”... dukaráleo.
 Show Bourbon Street (com Robson Ferandes) (12/09/2006)
2112. Em 2005 é lançado o cd The Basement Tapes gravado ao vivo nos estúdios da Rádio Kiss. Essa gravação pertence a algum especial da rádio?
M.J.B. Participamos do programa “The House of Blues” do ator e radialista Ricardo Corte Real que conseguiu o espaço no estúdio da rádio, independente de fazer o programa com ele. As sessions foram em dois finais de semana se não me engano, com alguns convidados fazendo parte, infelizmente não saiu no CD todas as faixas onde Igor Prado, Marcio Abdo,Luis Fernando Lisboa, Leandro Pó, Paulo Sagui fizeram parte. Assunto pra quando tiver a oportunidade de falar com a turma da Zona Blues.
2112. A gravação foi realizada num único take como se fosse uma apresentação da banda?
M.J.B. Foi tudo ao vivo, algumas músicas saíram de primeira e foram registradas no CD outras foram mais takes, enfim, era em pique de show a gravação mesmo.
2112. O material pelo visto ficou muito bom a ponto de ser lançado oficialmente em cd. O que impulsionou vocês a tomarem essa decisão?
Jam Blues (Feat. Lorenzo Thompson) 


M.J.B. A idéia de gravar um cd já havia amadurecido com o convívio que tínhamos na banda, a oportunidade surgiu em ótima hora, sem motivos pra dizer não: um puta estúdio da Kiss FM, todos animados com o trabalho, vários shows, era a hora.
 

2112. Em 2006 a Revista Blues'n'Jazz realiza uma noitada de blues e você dá início ao "Movimento Blues". Explica como ele funciona?

M.J.B. Sim, uma bela noite no Bourbon Street, casa lotada e vários convidados pra tão esperada Jam. As festas da revista Blues’n’Jazz já era ponto de encontro de músicos e admiradores do blues que ocorria uma vez por mês no Bourbon. Helton Ribeiro mentor dessa façanha conseguia articular um grande público e músicos de diversas partes do Brasil, agradeço até hoje por fazer parte dessa história, 12 de setembro de 2006 pra mim será inesquecível. Jam Sessions na cidade já rolava a muito tempo, a idéia veio mesmo no final de 2006 depois dessa super festa com o nome “Blues 100 Teto”, a princípio. O objetivo e pretensão era alcançar pelo menos 100 casas, entre bares, pubs, algo relacionado a periferia e espaços que aderissem o projeto. João de Simoni, grande publicitário e pai do meu querido Gian Carlo, exímio aluno de guitarra foi fundamental pra concluir o nome do projeto, pois tinha o nome “Blues Sem Teto” na cabeça com a intenção de evidenciar  a falta de espaço que o gênero estava sofrendo, me convenceu em segundos com o nome “Blues 100 Teto”, já que queria pisar em pelo menos 100 lugares pra iniciar o movimento.Com a parceria da “Agenda Cultural da Periferia” comecei o projeto juntando poucos amigos do blues, cachê reduzido e a vontade de levar o bom e velho blues a periferia era difícil sem a colaboração dos artistas Top do momento, infelizmente o blues nacional não atinge o povão, tornou-se elitizado. Seguindo a vida blues continuei as Jam, mas em lugares que tinham melhores condições em receber os músicos com um suporte financeiro, bons lugares, e poucas aparições na periferia ou bairros mais humildes. O Ventania, bar em Moema rolava a Zona Blues e sempre com ilustres convidados, Celso Sallim é um que não esqueço com suas aparições, que resultou em Jams no bar “Carro de Bois” junto com Rodrigo Mantovani indicado ao prêmio de melhor baixista de Chicago recentemente, mas foi em 2014 que tive a idéia de mudar o nome para “Movimento Blues” com a visão mais ampla, afinal blues só pra elite não vai mudar e nem acrescentar nada ao povão em relação a música negra norte americana, no morro chega a Black Music, Funk, Soul, Reggae, Rap, cultura de outra nação que o brasileiro curte e já conquistou seu espaço na periferia, por menos que seja os admiradores. A falta de mostrar e levar pra comunidade o que é o blues, faz com que a dificuldade se torne maior, não depende só de mim, claro, é só a idéia que enfatizo a tempos e não desanimo. Páginas, blogs, revistas, tv, rádio etc etc, ajuda, mas nada direcionado a comunidade, independente das Fábricas de Cultura, Casas de Cultura ou algo assim, os artistas poderiam mostrar um pouco da arte blues, histórias e suas vivências com o gênero. É muito massa se apresentar em bons lugares com cachês dignos, porém a cena não se fortalece como deveria e só lamentações, reclamações e pretensões ilusórias.

2112. Vocês realizam shows, festivais, encontros, jams... Tem algum endereço/e-mail para contato caso algum músico ou banda se interesse?


M.J.B. Sim. Mais detalhes do trabalho Mr John Blues Combo pelo e-mail mrjohn.blues@gmail.com na página https://www.facebook.com/MrJohn.Blues/?ref=bookmarks . A mais de dez  anos o brother Alexandre Zequi realiza a Jam Blues da cidade no Clandestino Estúdio, pico massa na rua Augusta e sempre que posso me faço presente. A Escadaria do Jazz dia 9 de novembro comemora os 5 anos do projeto e aproveitando o mês da “Consciência Negra” com uma feira de “Afro Empreemdedores”, uma super produção realizada por Luiz Tim Ernani que acontece todo segundo sábado do mês com jazz, blues, soul, black music, hip hop e vertentes da música de hoje. Mr John Blues Combo fazendo parte dessa festa com muito entusiasmo e feliz em ter projetos que se sustentam a anos com tudo que precisamos pra fazer um bom espetáculo.
Jam Blues com Alexandre Zequi e Diego Basa
2112. Foi numa dessas jams que você reuniu Robson Fernandes (gaita e voz), Adriano Grineberg (piano, órgão e voz), Izal de Oliveira (contrabaixo) e Caio Dohogonne (bateria) para uma jam resultando na criação do Movimento Blues, não é?
M.J.B. Como falei anteriormente foi o passo que deu origem a idéia do “Movimento Blues”. Time intitulado de “Dream Team do Blues” por Helton Ribeiro, cada um com seu trabalho, mas com o objetivo de acender a fogueira no palco do Bourbon Street.
2112. No ano seguinte é lançado Pela Paz com composições autorais em português. Como foram as gravações e o processo de composição?
M.J.B.  O cd “Pela Paz” da banda Zona Blues eu já não fazia mais parte do grupo e foi lançado em 2017 com letras muito massa do cantor Ed Blues, assunto pra eles contarem em alguma oportunidade.

2112. Você compõe tudo sozinho ou os demais integrantes da banda também contribuem?
M.J.B. As idéias de arranjos geralmente são minhas, mas todos contribuem com suas idéias também, as letras das músicas autorais são composições do brother Rodrigo Barrales com grande influência do delta blues que transformei pro blues elétrico, e letras minhas que estão em fase de gestação ainda.
Mr. John (Jam session no Carro de Bois) 
2112. Como disse antes vejo o blues como um movimento muito confecional. Você escreve suas letras a partir de experiências próprias ou tudo que acontece em torno de você te influencia?
M.J.B. Na parte instrumental tenho várias idéias e temas que se encaixam em determinadas letras, pra esse cd o Barrales é quem está no comando, além de ter o domínio da língua, tem idéias de letras que curto e trabalhamos as divisões da melodia aos poucos pra termos um bom resultado.
2112. Você poderia contar sobre o projeto "Música Pra Pular Blues Brasileira"?
M.J.B. “Música Pra Pular Brasileira” é o projeto do colega Marcio Abdo com composições próprias em português, letras marcantes e simples, fácil de gravar e cantar, refrões que ficam na cabeça em instantes.
2112. Foi a partir desse movimento que nasceu a Márcio Abdo Blues Band e o cd Plano B, não é?
M.J.B. Deixar claro que o movimento ainda não se consolidou como deveria, há grupos que não se misturam e não agregam outros, fatores financeiros, pessoais, e postura de alguns, vai entender o ser humano. Enfim, o Marcio Abdo sempre fizemos Jam e guigs pra defender uns trocados, e numa dessas Jam me convidou pra fazer parte da banda dele, um baita gaitista de calibre internacional topei na hora, como tinha a luthearia de gaita e queria estar atuando nos palcos também resolveu gravar uns vídeos pra divulgar, ficou tão bacana que prensou a bolachinha (cd)...vou deixar o link dessa entrevista do programa “Talentos” na Record News com as palavras dele.
https://www.youtube.com/watch?v=Y-e2J0NjWvM&t=440s
2112. Por quanto tempo você participou da banda do Márcio e quando foi que você decidiu que era a hora de sair para formar a sua própria banda?
M.J.B. Fiquei de 2015 até 2018. Não sai da banda, fui mandado embora por divergências com o baixista, rolou um box e tudo mais, minha atitude não poderia esperar algo diferente. É brother até hoje, sem ressentimentos, e o baixista se entendemos a pouco tempo atrás. 
 Alessandro de Lima, Mr. John & Dom Paulinho Lima 
2112. O blues tem avançado terreno ao longo dos anos com o surgimento de bandas e instrumentistas notáveis sem contar os muitos eventos dedicados ao estilo. Estamos num período bom, não é?
M.J.B. Muito bom em se tratando de músicos, em relação a espaços em São Paulo são poucos, muitas bandas e artistas de primeira, complicado na cidade. O lado bom é o cenário blues no Brasil, vários festivais, casas e bares com gringos sempre dando um UP nos eventos. 
2112. Você acompanha o crescimento da cena de perto? O que você tem ouvido de interessante?
M.J.B. Acompanho bastante, principalmente os jovens talentos. Guitarristas e gaitistas é o que mais tem aparecido com propriedade, nomes como Diego Nicolay (gaita), Mauricio Miguel (guita), Léo Duarte (guita), Enéias Ribeiro (gaita), Éric Gaúna (gaita e voz) a banda Heartfellaz todos jovens fazendo um som de primeira e outros que não vi ainda apenas acompanho nas redes sociais, prefiro presenciar o show desses jovens ao vivo pra poder comentar algo ou até mesmo pegar dicas, sempre aprendendo com eles.
2112. O que você mais sente falta nas bandas de hoje?
M.J.B. A maioria falta mojo, linguagem, ás vezes comento com algum amigo quando vou em algum desses shows que parece blues de academia, tudo muito certinho, timbre, a mecânica dos improvisos reta, harmonia básica demais, resumindo não tem feeling, creio que não arriscam soltar algo que não fique preso a regras, sabendo que existe 12 compassos pra contar a história com pontos, vírgulas e acentos. Agora a velha guarda ta demais só evoluem, um que admiro é o guitar man Décio Caetano de Curitiba, blues pra dedel, Igor Prado sem palavras, os irmãos Simi fodásticos, meu parceiro Dan Marques da Mr Jonh Blues Combo sensacional e tem uma leva ainda, assunto pra várias entrevistas.

 Jam Session no Carro de Bois (Feat. Celso Salim, Everson Mira, Alamiro Sazueda e Mr. John)
2112. Apesar da abertura do mercado com o advento das plataformas digitais o que mais dificulta manter uma banda na ativa?
M.J.B. A ilusão de escolher um gênero onde não existe POP STAR BLUES no planeta a ponto de lotar estádios e achar que o fato de ser um grande músico vai ficar famoso ao extremo, milionário ou coisa parecida, outros fatores como comportamento é bem fácil pra mim, não rola dividir o palco com fulano, então sigo a minha trilha e o camarada a dele. É quase loteria fazer parte de uma banda de blues que seja duradoura hahaha.
2112. A banda tem algum projeto para lançar um álbum ou mesmo um single ainda este ano?
M.J.B. Sim. Já estamos em fase de gestação pro álbum.

2112. O que você pode adiantar nesse sentido?
M.J.B. Mr John Blues Combo conta com meu parceiro Dan Marques (guitarra e voz), Fábio Pagotto (baixo) e Pablo Marchatto (bateria). No momento temos músicas com letras em inglês e duas instrumentais que estamos elaborando ainda, sendo que uma das faixas regida pelo brother de longa data Dom Paulinho Lima e coordenação de Alessandro Lima, letra do parceiro Rodrigo Barrales e arranjos Mr John. Participações de convidados sensacionais como o gaitista Márcio Halcsik, Victor Busquets e Alex Campelo (tecladista). Barrales pode falar um pouco das letras que curto que é exatamente relatos da vida blues.
R.B. Minhas letras muitas vezes são momentos, acontecimentos ou vivências, tentando sempre usar um inglês simples e coloquial, como nos antigos blues da Fazenda, uma frase que leio, um desenho que vejo e muita conversa de bar.
 Abdo Blues Band (Sesc Belenzinho)
2112. Vocês já compuseram algum material novo?
M.J.B. Sim. Oh Night é uma que em breve estará nos shows com mais evidência, instrumentais é o que mais fazemos, até pra servir de espécie de laboratório no momento. Canções com letras como falei ao longo dos shows vamos colocando e acertando antes de sair a bolacha.
2112. Para contratar a Mister John Blues Combo qual o telefone/e-mail de vocês?
M.J.B. Na página Mr John Blues Combo tem sempre novidades de nossa atuação shows, eventoshttps://www.facebook.com/MrJohn.Blues/?ref=bookmarks  e-mail: mrjohn.blues@gmail.com Telefone (11) 9 8929-4434
2112. ... o microfone é seu!
M.J.B. Só agradecer esse espaço que você nos dá pra contar um pouco da história da gente, vida longa ao bom e velho blues. O Blog 2112 é um dos poucos que leva informação de tudo que rola de músicos e artistas brazuca com tanta determinação e sem custo. Show.
 Eu e meu mestre Fábio Siri no Ventania Bar (Moema)

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