segunda-feira, 24 de junho de 2019

Entrevista Banda Bumerangue Carma


O pop sempre teve uma fama errática ao ser taxada de comercial, de música fabricada para as FM's... entre outras sandices. Mas ouvindo a Bumerangue Carma você sente que a música pode ter apelo popular sem soar vulgar. Pop de luxo!

2112. Primeiramente explique o que é Rock Vintage Eletrônico Atmosférico?

Denilson Carreiro: Bom, em primeiro lugar, obrigado Carlão pela oportunidade que você está nos concedendo em poder fazer parte da história das entrevistas do Blog 2112, um canal super importante, não só para o Rock Brasileiro, como também para outros gêneros. Nele há grandes entrevistas, com grandes músicos, e é uma honra poder estar ao lado deles. É primordial para bandas e músicos independentes que haja um espaço como esse para divulgação e principalmente que a vida nos prestigie com grandes incentivadores e formadores de opinião, como é o seu caso.
Nós adotamos o termo “Rock Vintage Eletrônico Atmosférico” meio que para definir o som do Bumerangue Carma. “Rock Vintage” porque no nosso DNA tem bastante das bandas clássicas; “Eletrônico/Atmosférico” porque utilizamos bastante elementos eletrônicos e procuramos criar nas nossas músicas um clima atmosférico que envolva o ouvinte de certa maneira.
De uma forma mais conceitual, podemos definir “Bumerangue Carma” como a música sendo o nosso “carma” pois estamos com ela desde muito cedo e o “bumerangue” como esse processo de “vai e volta” do artista...compõe, grava, lança e faz show. A cada novo ciclo desse processo, o “Bumerangue” vai mais longe...

2112. Essa definição me deixou curioso para saber que bandas vocês curtem....

Denilson Carreiro: Eu comecei ouvindo Elvis com 5 anos, depois Beatles com 8. Aí veio todo o resto, Stones, Hendrix, Led, Queen, Police, Duran Duran, INXS...os progressivos Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer. À parte desse caldeirão “roqueiro”, muita música brasileira também! Tudo o que tocava no rádio, eu acabava absorvendo de certa maneira. A minha lista de influências é longa...

Junior Corrêa: Na minha infância eu ouvia o que meus pais ouviam: Elvis, Ritchie Valens, Ray Charles... além de brasileiros como Roberto Carlos e Ney Matogrosso. Tenho muita referência, assim como o Denilson, minha lista seria longa, mas aos meus 11 anos eu virei beatlemaníaco. Minha maior referência, principalmente Paul McCartney. Hoje em dia procuro ouvir de tudo e tirar o melhor desses sons para meu trabalho.
2112. Como vocês trabalham todas essas informações sem que elas interfiram no resultado final da música da banda?

Denilson Carreiro: Acho que pela quantidade de informações e influências serem muito variadas, elas acabam tornando a nossa música mais rica. Eu, se não fosse da banda, conseguiria identificar vários elementos e influências dentro de uma música como “Quartzo Lunar” (nosso primeiro single), por exemplo.

Junior Corrêa: Na verdade essa influência está internalizada em nós. Sai naturalmente. Todas elas misturadas criaram uma personalidade para nós. Eu sempre procuro novas referências em bandas mais novas e juntar com o que já tenho dentro de mim.

2112. Cada músico tem um modo de compor suas músicas, de criar seus riffs e seus arranjos. Com vocês as músicas chegam inteiras ou em partes para depois serem costuradas?

Denilson Carreiro: Como disse o Roberto Frejat uma vez “Não há uma forma específica de se fazer música...cada hora é de um jeito”. Eu concordo plenamente com ele. No nosso caso, geralmente eu trabalho em partes da música, dou uma adiantada por assim dizer, e o Junior Côrrea vem com a parte dos teclados.

2112. O que é mais complexo: compor a letra em cima de uma música já pronta ou musicar uma letra? 

Denilson Carreiro: Como letrista, eu prefiro criar a letra geralmente a partir de uma melodia. 

Junior Corrêa: Eu já prefiro fazer o contrário. Gosto de ter uma letra quando vou iniciar uma melodia.

Denilson Carreiro: Isso é bacana, porque na verdade há um complemento porque eu posso, de repente, escrever uma letra sem pensar na melodia, e o Jr por fim acaba desenvolvendo a música, e vamos nesse “ping-pong” até que ela esteja totalmente formatada.
2112. Mês passado vocês lançaram o single Velocidade da Luz. Como está sendo a aceitação?

Denilson Carreiro: Está sendo bem bacana, geralmente quando lançamos uma música nova, a galera que acompanha nos prestigia e dá um “feedback” legal. É importante lançarmos um single por vez. Dá pra sentir bem a receptividade, e dá pra fazer uma boa divulgação. “Velocidade da Luz” é uma música que reflete um pouco sobre o momento em que vivemos, esse turbilhão de incertezas que se transformou o Brasil. Tantos anos de desperdícios diversos, e agora o descaso está mostrando sua face mais amarga. A letra tem esse contraponto...os versos mostram toda essa nossa agonia e angústia, mas por outro lado o refrão acaba sendo acalentador e mostra positivismo, uma coisa que eu acho que temos que ter sempre...não há obstáculo que não possa ser superado. E ela está indo bem, as pessoas estão gostando e entendendo a mensagem.

2112. O mercado está saturado de músicas descartáveis o que prova que as velhas fórmulas ainda funcionam. Como fazer para furar esse bloqueio e apresentar uma música fora do esquema?

Denilson Carreiro: Eu creio, que o mais importante é você fazer aquilo que você acredita. É como disse o Sting certa vez: “Eu faço música primeiramente para agradar a mim, à minha família e aos meus amigos...” Eu concordo com ele. Se você não fizer aquilo que é genuíno seu, provavelmente você vai soar postiço e não vai poder estar em uma próxima onda. Essa questão de “mercado”, por si só, é um tema a parte. Há vários aspectos à serem considerados dentro desse assunto. As pessoas estão consumindo lixo, sem saber que isso é lixo, entende? A música é muito mais espiritual do que as pessoas imaginam. Durante o processo de composição, ela mesma vai te pedindo os elementos necessários até que se torne completa. Então, pelo menos pra nós, é difícil que sigamos qualquer “onda” que seja. No final das contas, é o seu legado que fica.

2112. Mas muita das vezes é necessário fazer certas concessões para sobreviver ou mesmo se manter num mercado cada vez mais competitivo e desleal. Como fugir das armadilhas e manter a integridade?

Denilson Carreiro: É, aqui no Brasil é bem complicado essa questão. Ou você fica “vivendo uma vida que não é sua” através do “cover”, que particularmente eu não tenho nada contra, mas que deixa o mercado bem preguiçoso. É mais fácil pro músico fazer cover, do que fazer autoral. A dor da cabeça é menor e o retorno é bem mais rápido. Por outro lado isso significa a morte da criação artística. Preferimos polir a nossa agulha, para que ela brilhe no palheiro.
2112. “Ciranda” teve uma ótima execução numa rádio holandesa. Isso ajudou abrir o mercado externo para vocês?

Denilson Carreiro: Hoje a música é globalizada. Tenho a oportunidade de ter contato com grandes músicos do mundo inteiro, algo que era inviável há anos atrás. Inclusive os dois últimos singles “Velocidade Da Luz” e “Déjà Vu” contam com a participação de dois guitarristas americanos, o Paul Curtis e o Hawkeye Pearce. Através desses contatos, consegui que a música do Bumerangue Carma fosse tocada na Europa. Tivemos vários elogios de grandes músicos de lá, que possuem grandes trabalhos. Tocar sua música no rádio já é uma vitória. Tocar no exterior, então, nem se fala. Lá fora, eles têm outra mentalidade. “Ciranda” foi muito bem recebida, assim como “Déjà Vu” também. É um tipo de som bem europeu. Familiar pra eles... E sim, é uma porta aberta, construída com amizades...é uma sementinha que plantamos, que um dia dará frutos.

2112. Gostei muito de “Déjà Vu” com um belo trabalho de teclados e um solo nervoso de guitarra que quebrou um pouco o estigma eletrônico da música. Ficou bem interessante...

Junior Corrêa: Essa música foi minha estreia na banda. Eu tinha o riff e a melodia “guardados na gaveta” para ser usado num momento apropriado. Eu mandei para o Denilson e começamos a trabalhar. Quando juntamos com os outros instrumentos criamos uma identidade para ela. O público gostou muito. O solo foi uma surpresa. Denilson convidou Hawkeye Pearce para tocar conosco. Deixamos ele a vontade para criar e ficamos surpreendidos! Porém, tivemos um pouco de dúvida no começo se deveria ser “nervoso” assim. No final concordamos que deveria. Acredito que foi o correto. Essa quebra com o eletrônico caiu bem ao som.

Denilson Carreiro: Inclusive quando o Jr me passou a música para trabalharmos, eu escrevi uma outra letra pra ela. Ela se chamaria “Espelho Meu”. Mas achamos que ficou uma letra politizada demais e a guardamos para um outro momento. Provavelmente será uma das faixas do EP “Realidade Virtual” que pretendemos lançar até o final do ano.
2112. Essa música me fez lembrar da atitude revolucionária de bandas como Joy Division/New Order, The Cure, Ultravox e as brazucas Agentss e Azul 29 que souberam usar acertadamente elementos eletrônicos em sua música sem abrir mão dos instrumentos convencionais. Na música não deve existir regras...

Denilson Carreiro: É, acabamos tendo todas essas influências mesmo, de coisas bacanas que escutamos. Mas procuramos buscar elementos mais modernos para nosso som. Um cara, uma vez definiu o nosso som assim: “Vocês tem um quê de 80, mas é um som que mira o futuro”. Eu concordo com ele. É bem por aí. Você mencionou o Agentss e o Azul 29. Eles foram bandas visionárias que não tiveram o devido valor, mas que foram contemporâneas do que estava rolando fora daqui no começo dos 80. Embora o Azul 29 surgisse depois do Agentss com membros oriundos desse, elas deram frutos...músicos do Zero, como Eduardo Amarante, que eu particularmente acho um dos melhores guitarristas de Rock no Brasil tocou nessas duas bandas. Eles semearam a música eletrônica no Brasil. E nós caminhamos por essa trilha.

2112. ... o heavy metal é um exemplo: antes fechado em si mesmo se deixou influenciar por outros sons gerando uma música bem mais ampla, não é?

Denilson Carreiro: Exatamente. Você, quando mencionou isso, me veio logo na cabeça o Sepultura e a sua mistura com ritmos brasileiros. A música só tende a crescer quando você tem a mente aberta. A criação não pode ser tolhida em nenhum momento. A música é uma energia viva que conduz...não é conduzida!
2112. “Solaris” me fez lembrar da cena prog eletrônica dos anos 70. Bem viajante e climática.

Denilson Carreiro: Exatamente. Eu estava escutando muito Vangelis e resolvi compor algo nessa pegada. Sou muito fã de Rock Progressivo. Acho que o Progressivo é o que mais se aproxima da música como ela é em sua essência... a verdadeira música que faz bem pros sentidos. E a coisa dos teclados dá um opção timbrística gigantesca. A música pode ser bem explorada com todos os recursos eletrônicos que dispomos hoje. Me admira muito que, mesmo com todos os recursos disponíveis, as pessoas ainda produzam “músicas” de gosto duvidoso!

2112. Vocês ainda tem mais um single e um EP para ser lançados. Dá para adiantar alguma coisa? 

Denilson Carrreiro: Sim, claro! Acabamos de lançar o nosso último “Velocidade Da Luz” no final do mês passado, e em julho sairá um outro single...uma balada chamada “Bailarina”. Depois disso, vamos começar a trabalhar no nosso primeiro EP “Realidade Virtual” com 6 músicas. Nesse interim lançaremos também o video oficial de “Déjà Vu” que está em fase final de edição.

2112. Já pensaram em juntar todo esse material mais algumas inéditas, uns remixes e lançar tudo num único álbum?

Denilson Carreiro: Seria até interessante, mas hoje em dia, com as plataformas digitais e o single estando com tudo, não acreditamos que seja viável um álbum, porque ele acabaria sendo mal aproveitado... como já era na época das gravadoras. Você trabalhava em 12 músicas e as pessoas só ficavam conhecendo 1 ou 2. Preferimos esse formato de “singles” e “EP’s” porque podemos trabalhar tranquilamente com esse formato reduzido e as pessoas acabam conhecendo todas as músicas. A questão de relançá-las, passaria por aquele processo de ir para um estúdio para gravar no mínimo 12 músicas. Provavelmente gostaríamos de corrigir uma coisa ou outra no material que foi lançado até agora, mas há uma questão de um investimento pesado para a confecção de um álbum, cujo retorno não compensa. Por essa razão a galera está deixando esse formato um pouco de lado e apostando nos singles e nos EP’s. Creio que, com certeza, haveriam muito mais álbuns se a realidade econômica fosse outra. Como mencionamos em “Ciranda”... o Brasil é infantil ainda... precisa crescer!
2112. Trabalhar no estúdio dá uma maior liberdade de criação com o uso de overdubs, simulação de orquestras, efeitos diversos... Como é transpor a perfeição do estúdio para a improvisação dos palcos? Vocês utilizam os recursos pré-gravados no teclado?

Denilson Carreiro: Esse é o grande problema quando você grava uma música com 500 mil tracks. Na hora de tocar ao vivo, ou você se adequa pra tocar essas 500 mil ou acaba mexendo no arranjo. Geralmente procuramos ser fiéis ao trabalho que foi feito no estúdio porque geralmente, as pessoas gostam de escutar a música da maneira que ela foi lançada.

Junior Corrêa: Nós procuramos ser fieis ao arranjo. Então as bases e sequenciadores são pré-gravadas. Ao vivo executo os riffs e solos.

2112. Vocês quando entram no estúdio já chegam com tudo esquematizado ou muita coisa surge no decorrer das gravações, na criação dos arranjos...

Denilson Carreiro: Geralmente temos a música pronta. Um, ou outro detalhe é acrescentado. Mas é tudo feito antes na pré produção.

2112. O underground vem produzindo uma série de bandas diferentes das que ouvimos nas "paradas de sucessos". O que vocês tem escutado de interessante?

Junior Corrêa: Das bandas brasileiras atuais eu escuto bastante Selvagens a Procura de Lei, Scalene, Vivendo do Ócio, O Terno, Boogarins e outras. Eu também procuro ouvir o trabalho das bandas da região e de amigos. Gosto de ir aos shows e pequenos eventos underground.

Denilson Carreiro: Essas bandas que o Jr citou são bastante importantes pra cena do novo Rock Brasileiro e só não são mais conhecidas ainda por causa das políticas de gravadoras conforme já mencionamos. A letra de “Brasileiro” dos Selvagens à Procura de Lei, por exemplo é uma porrada...demonstra a preocupação da nova geração com o textual, que, eu particularmente como letrista, acho importantíssimo! Eu citaria também o Maglore, que apesar de já ter um certo tempo de estrada, mostra a força do Rock Brasuca fora do eixo Rio-SP.
2112. Quem vocês indicariam para uma entrevista?

Denilson Carreiro: Nós falamos há pouco sobre o Agentss e o Azul 29 e como o Blog 2112 é um pouco “old school” também, eu sugeriria uma entrevista com o Eduardo Amarante. É um cara que com certeza dará uma entrevista bem enriquecedora! Além de grande músico, foi um dos donos do Dama Xoc, uma casa referência para as bandas de Rock no final dos anos 80, até meados dos anos 90.

Junior Corrêa: Eu indico dois amigos: Luiz Lopez do Rio de Janeiro e a Banda Rockstrada de Socorro-SP.

2112.
... o microfone é de vocês!

Denilson Carreiro: Agradecemos demais Carlão a oportunidade, como já mencionei, de fazermos parte do histórico de entrevistas do Blog 2112. O seu trabalho é essencial para que músicos e artistas que não têm um acesso legal a mídia, possam expor suas ideias; onde o público que não tem acesso e/ou não conheça, possa conhecer, se interessar e acompanhar o trabalho.
Como já dissemos, nesse restante de 2019 estaremos praticamente em trabalho de estúdio, mas a partir de 2020 começaremos os ensaios para podermos, através do shows, levar a música do Bumerangue Carma para o maior número possível de pessoas.

Junior Corrêa:  Acessem as nossas redes sociais para acompanhar o nosso trabalho, que com absoluta certeza é um trabalho feito com amor pela Arte e pela Música. Muito obrigado pela oportunidade!

Integrantes:

Denilson Carreiro - baixo e voz
Júnior Corrêa - teclados
Thiago Maggiore - guitarras

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