segunda-feira, 1 de abril de 2019

Entrevista Sunroad



O Sunroad é um dos maiores expoentes do metal goiano com trabalhos lançados em vários países, shows por todo o Brasil... e nesta exclusiva o baterista Fred Mika nos conta um pouco da história da banda e dos novos projetos.  

2112. Em fevereiro deste ano Wing Seven completou dois anos que foi lançado. Vocês não acham um tempo muito longo fora do mercado? O que houve nesse intervalo?

Fred Mika: Na verdade não ficamos fora do mercado, Wing Seven foi lançado no Brasil pela Musik Records (que o distribuiu pela rede de lojas Saraiva), foi também licenciado em todo os EUA e Europa via Roxx Records e no Japão a Anderstein Music fez a distribuição por lá. Para promover o álbum fizemos uma tour com o Narnia em várias cidades brasileiras em abril e maio/2017, além de vários moto-eventos pelo Centro-Oeste sendo que o maior desses foi o Capital Motoweek de Brasilia-DF, em julho daquele ano. Os shows se estenderam até o final de dezembro daquele ano e toda a prensagem inicial de Wing Seven esgotou. Eu e o vocalista Andre Adonis entramos para a lista dos 10 melhores músicos daquele ano, pesquisa realizada pela maior revista especializada de rock da América Latina, Roadie Crew. 

2112. Atualmente vocês mantém contrato com algum selo ou estão esperando propostas?

Fred Mika: Já fechamos com as mesmas gravadoras que lançaram Wing Seven em 2017, o álbum próximo será lançado dia 13/abril nos EUA e Europa pela Roxx Records e no Brasil dia 22/abril. No Japão ainda não tem data definida mas será ao início de maio.

2112. A chance de uma carreira internacional veio quando o Sunroad assinou com a Avantage Records que distribuiu Arena Of Aliens em vários países. Como surgiu a proposta?

Fred Mika: Em 2003 foi que as coisas engrenaram de fato para o Sunroad (a banda foi fundada em 1996). O Edu Bonadia, que foi o co-fundador e editor da maior revista de rock brasileira da década de 1980 e até meados dos anos 1990, a Rock Brigade, passou a empresariar o Sunroad assim que lançamos o álbum "Arena Of Aliens" naquele mesmo ano. Com uma boa repercussão e como conseguimos um nome forte então na cena nacional, fechamos um contrato com a Avantage Records que lançou dois álbuns nossos no mercado nacional e internacional, Arena Of Aliens (2003) e Flying N´Floating (2006). 

2112. Vocês tem uma discografia respeitável no cenário metálico. Afinal, são dois EP's, 5 álbuns, uma coletânea e um DVD. Que conselhos vocês dariam para quem está começando agora? 

Fred Mika: Na verdade é apenas um EP de 2001 que foi relançado dez anos depois com a inclusão de uma regravação. E são 6 álbuns full-lengh, sendo que agora vem o sétimo. Daí a discografia completa, cronologicamente, é a seguinte:

. Heat From The Road (1999) (Independente)
. Light Up The Sky - EP (2001) (Golden Music)
. Arena Of Aliens (2003) (Avantage Records)
. Flying N´Floating (2006) (Avantage Records)
. Long Gone (2009) (Oxigenio Records). E a nova prensagem -independente
. Carved In Time (2013) (MS Metal Records)
. Wing Seven (2017) (MusiK Records/ Roxx Records)
. Heatstrokes (2019) (MusiK Records/ Roxx Records)

O conselho mais valioso é usar a intuição, tanto para a canalização, elaboração e aperfeiçoamento da musicalidade e personalidade da banda. Claro, isso tudo apoiado em muita pesquisa e estudo instrumental. Descobrir o seu nicho no mercado e desenvolvê-lo, e isso tudo, com o tempo, se acha o foco que é uma dupla imprescindível para dar certo: um bom booker/assessor de imprensa, uma boa distribuidora

2112. Está ficando cada vez mais comum bandas que mal foram formadas lançarem cds sem ao menos amadurecer o seu som. Qual a opinião de vocês acerca disso?

Fred Mika: Eu acho meio que contraproducente, pois a musicalidade, por melhores que sejam os instrumentistas, só vem com certo tempo. O Sunroad, por exemplo, lançou o primeiro álbum só depois de três anos de início da banda e mesmo assim, muito aquém dos álbuns posteriores.

2112. Além do hard que é o som raiz do Sunroad vocês também citam o blues e o prog como influências. Em que músicas essas vertentes musicais ficam mais visíveis?   

Fred Mika: Faixas como "All I Need" (do álbum Long Gone), é um hard blues cadenciado, além da regravação do Scorpions "Sun In My Hand". O álbum Flying N´Floating é praticamente todo baseado na mistura de hard rock com rock progressivo setentista, E no "Arena Of Aliens" tem faixas como "AmaDeus Journey" e "Chains Must Be Hard" (que tem início e meio hard rock, e depois tem um final psicodélico).

2112. Sunroad significa: "... uma viagem interna para o aprofundamento espiritual e a ligação entre o homem-cosmo." O que isso influencia nas composições e na vida pessoal de vocês?

Fred Mika:
As mensagens do Sunroad se baseiam em ideias reflexivas, existencialistas, e a partir disso uma conexão entre nosso interior com o mundo externo mas sempre levando em conta o lado positivo.
2112. Por um tempo vocês foram comparados com os alemães do Scorpions. A resposta a essas acusações veio com Flying N' Floating lançado no ano seguinte. O que mais estimulou vocês a darem uma reformulada no som da banda?

Fred Mika: Decidimos, com o Flying N´Floating (2006) inovar e com isso abraçar de vez o rock progressivo, tal qual fazia os ingleses do Uriah Heep na primeira década de existência que era unir hard rock ao rock progressivo. Com isso nos livramos do estigma de sermos sempre comparado aos Scorpions se bem que no álbum seguinte, "Long Gone" (2009) entramos na ideia do hard rock puro e mais cru, com duas guitarras já, só que bem diferente dos álbuns anteriores. Depois, nos três álbuns posteriores, "Carved In Time" (2013), "Wing Seven" (2017) e "Heatstrokes" (2019) decidimos apenas investir num hard rock mais sofisticado e mais trabalhado com muitas nuances, detalhes e melodias diversas

2112. A balada First Day Without You ficou entre as Top 5 das rádios universitárias norte americanas. Isso serve como uma espécie de "cala boca" para muitas pessoas que afirmam que nossas bandas não tem a mesma qualidade das bandas gringas, não é?

Fred Mika: É, pode ser, rs. Mas quando a compusemos queríamos apenas uma boa balada para tanto no mercado nacional como no internacional, pois estávamos cientes que aquele álbum, "Flying N´Floating", seria distribuído nos EUA pela Avantage Records. Em 2018, lancei um álbum solo, "Withdrawal Symptoms" que há a regravação dessa balada só que em formato acústico.

2112. É dessa época os convites para se apresentarem nos EUA e também por vários países da América do Sul? Quais lembranças vocês tem desses shows? 

Fred Mika: Tem muita coisa estranha mas tem muita coisa boa que rolou, o interessante são como as pessoas tem costumes muito diferente, principalmente em relação a horários, alimentação e tratamento para com as bandas, mas em quase todo caso, a memória é quase sempre positiva, fora alguns imprevistos

2112. Não podemos deixar de mencionar a participação da banda nos principais festivais do centro-oeste brasileiro. Essa exposição ajudou em muito popularizar o nome da banda além de abrir diversas portas para a banda, não é?

Fred Mika: Temos como os moto-eventos o nosso principal público, já devemos tido apresentados entre cinquenta a sessenta deles desde nossa fundação. O melhor disso tudo é que nos 5 primeiros anos da banda, até conseguirmos um bom contrato e um bom empresário, esses shows nos proporcionou uma boa ideia do que viria a ser nossa música, forjou nossa musicalidade, nossa performance de palco e o nosso público. 

2112. É quando a banda deixa de ser uma mera promessa...

Fred Mika: Creio que quando ela molda de vez, é fiel consigo mesma, constrói seu público e uma boa reputação, mesmo que ainda não atinja o mainstream.

2112. Em pouco tempo vocês assinaram contrato com o empresário Eduardo Bonadia e regravam a música "Sun In My Hand" dos Scorpions autorizada pelo guitarrista Uli Jon Roth. Conte como foi essa história? 

Fred Mika: A gente já havia lançado um álbum, "Arena Of Aliens" sob o empresariamento do Bonadia e com a distribuição da Avantage. No ano seguinte entrevistei o Uli e acabei por enviar esse álbum do Sunroad a ele. Ele gostou do disco e conversa vai, conversa vem (sempre sobre música) comentei que a gente iria então gravar o próximo álbum e que tal uma cover com a letra SUN no nome? Daí acabamos escolhendo "Sun In My Hand" que saiu no álbum "Flying N´Floating" (2006)

2112. Vocês mandaram a gravação para ele?

Fred Mika:
Sim, claro! Ele aprovou pois não mexemos na idéia das harmonias e melodias iniciais da faixa, ou seja, fomos bem fidedignos com a regravação em todos os detalhes. Esse fato deixou Uli bem satisfeito com nosso resultado final.

2112. Em comemoração aos dez anos de atividades da banda é lançado a coletânea 1996-2006 Ten Years Treating Deafness. Esse "trabalho" foi uma maneira de presentear os fãs da banda?

Fred Mika: A coisa veio meio que de repente, depois de findo o contrato com a Avantage Records, eu estava negociando um álbum apenas para uma gravadora local, Allegro Discos, mas essa tinha uma boa distribuição através da Tratore Records. Como foi logo após o álbum "Flying N´Floating" e a gente não tinha muita coisa em andamento ainda, eu sugeri uma coletânea para comemorar os dez anos da banda reunindo faixa dos três álbuns e do EP até então. Só que essa coletãnea acabou demorando a ser lançada, só saiu em 2008, quando a gente já estava já quase finalizando as composições para o próximo álbum, que sairia no ano seguinte, "Long Gone" (2009)
2112. Vocês nunca pensaram em lançar um "live" já que a Sunroad tem a reputação de produzir shows super técnicos e dinâmicos? Os fãs cobram isso?  

Fred Mika: A gente lançou em 2015 faixas que seriam um DVD, o problema foi que a captação do áudio não ficou legal daí logo o retiramos da mídia. Mas em 2019 planejamos lançar um extenso DVD até o final desse ano mesmo.

2112. O álbum Long Gone de 2009 deixou o som da banda ainda mais hard rock que os anteriores. Vocês gostam de estar em constante mutação? 

Fred Mika: Sim, gostamos de inovar e como expliquei aqui, como o álbum anterior, "Flying N´Floating" (2006) havia entrado de pé e cabeça no rock progressivo; então decidimos mudar tudo, tiramos quase todos os teclados, adicionamos mais um guitarrista e deixamos o som mais cru e direto. "Long Gone" (2009) é nosso álbum mais visceral de toda discografia

2112. O Sunroad já abriu shows para diversos nomes importantes do rock e também para bandas de White Metal como o Petra, Whitecross, Stryper... que não são bem vistos por roqueiros mais radicais levando em conta a temática cristã de suas letras. A experiência no entanto foi boa?

Fred Mika: Foram boas, sempre é uma experiência a mais, bem diferente que quando tocamos como LA Guns, Joe Lynn Turner ou Doogie White (vocalista do Michael Schenker Group) por exemplo. 

2112. Como é o processo de composição de vocês? 

Fred Mika: Eu faço todas as letras, mas antes disso, o guitarrista ou o baixista chega com as idéias, riffs, passagens, etc. Daí a gente monta a estrutura musical e paralelamente contamos com o vocalista para trabalharmos as melodias a medida que vou fazendo as letras e encaixando as partes vocais. Depois disso gravamos uma guia com as partes, letras e melodias já pré-definidas. Ás vezes mudamos algumas coisas, outras vezes não. Daí gravamos a guia final, onde a primeira parte a ser gravada definitivamente é a bateria, daí vem as guitarras bases, baixos, teclados, todas as vozes e por fim solos e arranjos de guitarras, sempre nessa ordem.

2112. Qual o balanço que vocês fazem depois de vinte e três anos de estrada? O que vocês fariam tudo de novo e o que não repetiriam? 

Fred Mika: O que não faríamos são coisas como nos primeiros anos de banda como confiar em produtores sem exigir contratos, tocando em equipamentos ruins, em furadas e tomando muitos canos. E muitas brigas internas, a maioria por razão musical, também poderíamos terem sido evitadas com a experiência que já temos hoje. As tours são a melhor parte disso tudo, repetiríamos tudo novamente. O período de composição também é muito agradável e interessante, que venham muitos álbuns ainda, heheh.

2112. Vocês tem projeto de lançar algum álbum ou mesmo um single este ano?

Fred Mika: Como mencionei anteriormente, um álbum (que já será lançado agora em abril), "Heatstrokes" e um DVD até o final do ano.

2112. ... o microfone é seu!

Fred Mika: Música no Brasil vale o chavão eterno é complicado mas com perseverança e dedicação, compensa e se torna bem agradável. Sigam seus corações. Agradeço a oportunidade em nome do Sunroad e nos veremos na estrada a partir desse abril/2019. Keep on rockin!

 Proxima entrevista: Peu Abrantes Dia 04


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