quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Entrevista Veludo

2112. Como surgiu esse projeto de resgatar faixas nunca antes lançadas e também a gravação de músicas nunca antes registradas? 

Nelsinho. Tudo começa com a perda do meu grande amigo Elias. Com a sua partida tive que voltar no tempo e reviver a nossa trajetória que se inicia dois anos antes da estréia do Veludo, quando ainda adolescentes formamos o grupo “Antena Coletiva”. Fui o único músico que compareceu ao seu enterro e também o único músico que queria visitá-lo quando estava internado. Ligava todo dia para sua filha esperando a liberação para a visita. Mas os filhos tinham a prioridade. Quando finalmente marcamos o dia da minha visita, já era tarde. Então, sentado sozinho em frente ao cemitério, comecei a chorar e a pensar: Como um músico e compositor tão talentoso poderia ser esquecido? O que eu poderia fazer para deixar a sua obra eternizada? Foi a partir desse pensamento e desse fatídico dia que resolvi trabalhar neste novo projeto, pois ainda tinha comigo algumas gravações com ele e com o saudoso Paul de Castro que nunca foram registradas em disco (vinil ou cd). Além disso, muitas das minhas composições que eram tocadas na Antena Coletiva e no próprio Veludo ainda não tinham sido gravadas.

2112. Porque esse material não foi incluído no projeto lançado anteriormente pela Renaissance Discos? Você já tinha esse projeto em mente? 

Nelsinho. Sim. Todo o material estava comigo desde os anos 80. Guardei por todos esses anos com muito carinho. O problema é que Elias tinha caído no que eu chamo de “buraco negro” e já não tinha condições de participar profissionalmente de nenhum projeto. Seria impossível fazer algum trabalho com ele. Aconteceu com ele, algo parecido com o que houve com Arnaldo Dias Batista, Syd Barrett e do nosso Jorge Amiden (fundador de O Terço). Sendo assim, a música perdeu uns 20 anos do seu talento. Por tudo isso, achamos melhor não incluir nenhuma obra que tivesse sua assinatura.

2112. O Gustavo e o Elias sabiam da existência desse material? Essas gravações são de estúdio ou ao vivo?

Nelsinho. Na época (anos 80) Gustavo já estava na “A Cor do Som”. Chamamos o Sérgio Della Mônica. São seis faixas bônus com Elias e Paul, sendo quatro de estúdio e duas ao vivo. Abrindo o CD, são oito faixas com as minhas composições feitas nos anos 70 na época da Antena Coletiva. Algumas delas faziam parte dos nossos shows e foram gravadas esse ano em estúdio com os músicos que estiveram comigo nos últimos shows do Veludo, além de outros que fizeram participações especiais. Uma delas, a minha música “Balada Cigana”, foi citada em 1977 em uma crônica do jornal O Globo, na coluna do Nelson Motta, como sendo a composição mais original apresentada pela nossa banda.

2112. As músicas com as participações do Elias, do Paul e do Gustavo serão lançadas em seus registros originais ou foi preciso acrescentar overdubs?

Nelsinho. Já estavam ótimas, mas em algumas, colocamos algum teclado e percussão. Foi um trabalho de produção e ficou incrível.

2112. Não há dúvidas do grande valor histórico dessas gravações... mas no que diz respeito a qualidade de som está melhor que as do primeiro álbum? 

Nelsinho. Muito melhor. Não há comparação. A tecnologia avançou muito. Tudo foi remasterizado. Você vai se surpreender.

2112. O Gustavo participou do trabalho de resgate desse material ou mesmo tocou em alguma das músicas gravadas?  

Nelsinho. Gustavo só está em uma faixa bônus. Que é uma das gravações do Festival da Banana Progressiva que não entrou no primeiro disco que eu produzi nos anos 90.

2112. E as que foram gravadas em estúdio vocês seguiram à risca os arranjos originais de cada uma?

Nelsinho. Vou me permitir colocar o texto explicativo que está no livreto do CD. Isso vai responder muitas das suas perguntas. “Embora tenha tido alguns dos compositores mais brilhantes da história do Rock Progressivo Brasileiro, durante os anos 70, o Veludo não conseguiu gravar o seu disco naquela época. Essa lacuna só foi preenchida em 1995, quando Nelsinho Laranjeiras e Zaher Zein trouxeram à luz o CD “Veludo ao Vivo”, cópia de uma fita K7 gravada no festival Banana Progressiva (SP). A dupla de produtores nos brindaria, posteriormente, com o CD “Penetrando por todo caminho sem fraquejar”, de 2016, e contaria também com Claudio Fonzi para a produção do CD duplo ao vivo de 2018. Porém, muitas obras ainda não foram contempladas, músicas de incrível beleza e originalidade e que estavam no repertório dos grupos “Antena Coletiva” e “Penetrando por Todo Caminho”, que iriam originar o Veludo em 74. Agora, em 2022, depois de escutar os últimos “pergaminhos”, Nelsinho Laranjeiras arregimentou alguns componentes do Veludo que estiveram nos últimos shows e, juntamente com músicos convidados, revisita esse repertório de forma minuciosa e definitiva, como o reinventa lhe dando uma surpreendente textura contemporânea.

2112. Quem participou das gravações em estúdio com você?

Nelsinho. Os músicos que estiveram nos últimos shows, além de alguns convidados: Sergio Conforti (bateria) Ronaldo Scampa (flautas) Sandro Lustosa (percussão) Bê Moreira (teclados) Carlos Coppos (baixo em 3 faixas) Fabio Rizental (guitarra). Eu fiz todos os novos arranjos e toquei os baixos, violões, bandolim e guitarra.

2112. Na sua concepção o Elias se estivesse vivo teria concordado com esse lançamento?

Nelsinho. Vamos deixar uma coisa bem clara. Existiram dois Elias. Eu conheci e convivi com os dois. O primeiro é o verdadeiro Elias, genial, ótimo músico e um parceiro fiel. O segundo é no que ele se transformou depois que caiu no “buraco negro” e nunca mais conseguiu sair. Se eu falasse com ele e, se ele já tivesse saído do buraco que se meteu, não tenho nenhuma dúvida que sim. Estaria do meu lado. Você não acha que se o Arnaldo Dias Batista tivesse em condições de tocar profissionalmente não estaria ao lado do seu irmão com os Mutantes? É o mesmo caso. Elias foi como um irmão pra mim.

2112. Ouvir essas gravações hoje é um prazer não só para nós fãs do Veludo mas para todos os que curtem rock de qualidade. A fonte esgotou ou você tem mais cartas guardadas na manga?

Nelsinho. Esse trabalho deve ser o definitivo. Mas nunca se sabe...

2112. Como foi trabalhar os registros originais e as gravações desse material inédito em estúdio? 

Nelsinho. Emocionante e gratificante. Chorei muito ao ouvir o violino do Paul e voz do Elias. Minha história e meus amigos inesquecíveis estavam ali.

2112. Existe possibilidades do trabalho ser lançado no exterior?

Nelsinho.  Se tivermos produtores interessados, é só entrar em contato. Seria ótimo.

2112. Qual a sua expectativa em relação ao álbum? Já tem uma data certa para o lançamento? 

Nelsinho. Ainda não temos data. O material (CDs) tem que chegar primeiro. É uma questão de semanas. Também estou ansioso.

2112. A edição será apenas em cd ou também será lançado nos formatos vinil e cassete? 

Nelsinho. Apenas em CD, mas se tivermos produtores interessados em produzir o vinil ...

2112. Que surpresas os fãs podem esperar para os shows de lançamento do álbum?

Nelsinho. Não penso em shows ainda. Essa é a parte mais complexa. Fazer os arranjos e produzir todo esse material já foi muito dispendioso. Vamos aguardar e ver para que lado o vento sopra. O fãs vão se surpreender e sentir como o nosso som e composições tinham uma originalidade própria.

2112. Vou deixar uma dica: Que tal a gravação de álbum ao vivo com todo esse material histórico?

Nelsinho.  Seria ótimo e emocionante, mas só com patrocinador.

2112. Qual e-mail/telefone para contratar shows e adquirir os cds da banda? 

Nelsinho. Metade dos CDs já foram vendidos antecipadamente. Quem quiser é só entrar em contato pelo meu e-mail: 
nelsonlaranjeiras@hotmail.com.

2112. ... o microfone é seu! 

Nelsinho. Agradeço mais uma vez a oportunidade de falar com o 2112. Meu objetivo é registrar as obras de incrível beleza e originalidade, minha e dos compositores que estiveram comigo no Veludo. Tem mais uma coisa que não foi falada e que tem muita importância neste projeto. O nosso som com o bandolim. Segue mais um texto do livreto: A FEBRE DO BANDOLIM NOS ANOS 70 “Não sei dizer como isso aconteceu, o fato é que muitos músicos da minha geração se interessaram por esse pequeno e simpático instrumento. Com ele, podíamos tocar quase todos os estilos musicais. Assim, a dupla violão e bandolim passou a frequentar, por um bom tempo, as nossas “apresentações” em reuniões com os amigos, nas viagens e festas, e, assim, mais tarde, ele estaria presente em muitos dos nossos shows. Como o Veludo era um grupo formado por músicos compositores, uma grande parte do nosso repertório surgiu quase que espontaneamente neste período. Eram obras com forte influência da música clássica (Vivaldi), que misturadas ao country, baladas, rock, baião e chorinho, davam um toque alegre, festivo e original ao nosso trabalho. São algumas dessas composições que estão presentes neste CD. Pra mim, seria uma grande injustiça musical se o Veludo não deixasse registrado a grande influência que o bandolim teve na nossa música”. Obrigado a todos e gostaria de complementar que esse CD intitulado “Nascimento e Morte” é dedicado aos saudosos Paul de Castro e Elias Mizrahi.

 
Capa do novo álbum
 
  

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