2112. Antes de falarmos sobre a sua carreira solo me explica o que levou o Bumerangue Carma a decretar o seu fim?
Denilson. Em primeiro lugar, quero te agradecer Carlão pela oportunidade de estar novamente presente no Blog 2112. Bom, dentre vários motivos que levaram ao fim da banda, talvez o principal deles tenha sido um certo cansaço da minha parte em ter que continuar com algo que não estava sendo mais produtivo.
2112. ... confesso que fiquei surpreso com a notícia visto que a música de vocês era bem produzida além de radiofônicas. Quem decidiu pelo fim da banda?
Denilson. No começo de 2020 durante minhas férias, em um desses “insights” que todo mundo tem quando está mais tranquilo... pensando nas coisas da vida, foi quando percebi que o Bumerangue Carma não iria mais longe do que havia ido até aquele momento. A sensação que eu tinha, como bem disse um amigo, era de “carregar um cavalo morto!”. A mesma motivação que eu tinha em fazer a coisa acontecer, não era compartilhada, então pensei: “Vou concentrar essa energia, que está sendo desperdiçada na banda, em algo pessoal!”.
2112. Não teria sido mais viável ter realizado reformas internas e manter a banda a partir de um novo posicionamento musical?
Denilson. Sinceramente não! Quem me conhece pessoalmente, sabe o quanto eu lutei para trabalhar com a banda. E olha que eu insisti nisso por tempo demais...muito mais do que eu deveria! Mas uma banda deixa de ter sentido quando um quer ir para um lado, e outro quer ir para outro. É tipo a 1º Lei de Newton: “A inércia é gerada por duas forças contrárias de mesma intensidade...”. E foi justamente isso que aconteceu com o Bumerangue Carma. Mas eu tenho bastante orgulho do que foi produzido, e inclusive, para fechar a tampa definitivamente, será lançado em dezembro, como comemoração da criação dos 10 anos da banda, um álbum compilando todos os singles que foram lançados em versões remixadas e remasterizadas, e terá como bônus, algumas demos, e um vídeo inédito de “Dèjá Vu” com a participação dos amigos Paul Curtis e Hawkeye Pearce lá de Utah nos Estados Unidos.
2112. A sua intenção em manter uma carreira solo já vinha antes mesmo do fim da banda?
Denilson. Sim, como te mencionei antes, eu já comecei a arquitetar o trabalho solo por volta de fevereiro de 2020. Por exemplo, “A Bela Canção” foi composta antes de “Pulsar”, que foi o último single do Bumerangue Carma.
2112. As músicas gravadas em Um Lugar no Tempo são todas inéditas ou tem material da época do B.C.?
Denilson. São todas inéditas, e elas não tem relação com o Bumerangue Carma. Muitas delas foram compostas antes da existência da banda.
2112. Você pode contar como Um Lugar no Tempo foi concebido e gravado? Você mesmo tocou todos os instrumentos e fez todos os arranjos?
Denilson. No momento, estou dando os retoques finais nesse álbum que foi gravado no meu próprio estúdio. Nele, além da voz, eu toco todos os instrumentos, no caso baixo, guitarras, teclados e arranjos de bateria. Todas as composições são de minha autoria. É um álbum 100% solo! Na verdade, inconscientemente eu já vinha concebendo esse álbum ao longo dos anos. Por exemplo, o último single que eu lancei “Vício”, foi originalmente composta em 2008. As composições que eu achava que não se encaixavam no formato banda, eu ia guardando para um futuro projeto, que acabou evoluindo para o álbum “Um Lugar No Tempo”.
2112. O nome do álbum é bem interessante pois dá margem para diversas interpretações. Mas o que você quis dizer com o título?
Denilson. Nesse álbum haverá canções de diversos períodos. Tem canções compostas em 1991, 1992, 1996, 1998...então o título de certa forma procura contextualizá-las em um certo lugar no tempo... no caso hoje! Fora a foto para a capa do álbum, que você não tem como saber quando, e onde foi feita. Quando vi aquela foto, na hora eu disse: “Essa foto será a foto do meu álbum algum dia!”, e o título já veio na hora, justamente por essa sacada do lance atemporal.
2112. ... em que lugar do tempo você colocaria a sua música atualmente?
Denilson. No momento atual 2022. Apesar de serem canções compostas em períodos diferentes, elas verão a luz do dia juntas!
2112. O Bumerangue Carma seguia um estilo eletrônico bem interessante. Em sua carreira solo você está aberto a todos os estilos musicais?
Denilson. Dentro do universo do Rock sim! Eu cresci com aquela estética Beatle, que pode-se ter uma “Eleanor Rigby” mas também pode-se ter “Helter Skelter”. Por exemplo “Vício” é diferente de “A Bela Canção”. Acho interessante essa pluralidade, uma vez que a música é muito, muito ampla!
2112. Você também está aberto a parcerias?
Denilson. No meu trabalho o qual eu assino “Denilson Carreiro” provavelmente não. Mas não sei o dia de amanhã. Nunca diga nunca! Mas a princípio não está nos meus planos. O que talvez, em uma chance muito ínfima, possa acontecer, é uma colaboração em outros projetos que não tenham nada a ver com o meu próprio trabalho, como eu já fiz anteriormente com músicos de fora, e daqui também. Mas eu estou cada vez menos interessado nisso, e mais interessado no meu trabalho, que é onde está o meu foco principal. Até em colaborações há um certo nível de “discussão” musical, que eu, sinceramente, não tenho mais paciência, nem tempo para lidar! Para você ter uma ideia, já tenho 2 álbuns gravados, e estou alinhando as ideias para um 3º. Pelo menos até o final de 2024 eu já sei por onde caminharei! Então o volume de trabalho é grande!
2112. Muito do que se ouve hoje na verdade é uma sucessão de fórmulas já testadas a exaustão. A seu ver a música atualmente se encontra num beco sem saída?
Denilson. Dentro dessa sua pergunta há questões muito complexas para serem explicadas, mas eu vou tentar ser sucinto. Acho que a pobreza musical que vem do “Mainstream” é intencional. Povo sem Cultura é igual a povo dominado. Então por aí você vê! Acho que já chegamos no fundo do poço, e por estarmos inertes a tanta coisa, estamos cavando mais e mais. Eu me impressiono com certos ruídos sonoros presentes no “funk” que tem milhões de visualizações, cujo conteúdo é totalmente obsceno... pesado mesmo, e as pessoas estão hipnotizadas por esse “conteúdo”. Te falo com 100% de certeza que isso não tem nada a ver com música. Mas enfim, cada ser humano tem o livre arbítrio para fazer o que quiser...mas que há um grande plano maligno por trás desse deterioração midiática, não tenho dúvidas disso!
2112. O que poderia ser visto hoje como novidade ou não existe mais essa possibilidade?
Denilson. A música oferece uma gama infinita de possibilidades para o músico fazer algo interessante. Por mais que ele utilize algo que já ouviu, ainda assim ele é capaz de acrescentar algo interessante na música, principalmente porque a questão timbrística é infinita! O novo sempre vem... mas no meio de milhões de lançamentos diários, tem que ser garimpado! Eu fico apreensivo com essas coisas feitas rápidas demais. É tudo muito “fast-food” demais! É só olharmos a natureza. Ela é cíclica, e corre em uma velocidade mais lenta. Honestamente, eu não sei onde toda essa ânsia de lançar algo novo a cada mês levará os artistas. Eu trabalho no meu tempo, e não me preocupo com esse tipo de “exigência de mercado”. As coisas são tão rápidas que as pessoas nem prestam atenção nas coisas, e já querem mais! Por exemplo: Um pouco depois de eu ter lançado o single mais recente “Vício”, um amigo perguntou: “Você não vai lançar música nova?”. Eu respondi: “Pô cara, acabei de lançar, você não viu?”. Então toda essa velocidade das coisas está afetando a capacidade de compreensão das pessoas, e isso é preocupante!
2112. As paradas de sucessos estão cada vez mais sem conteúdo. Falta profundidade nas letras... algo que te faça sentir o desejo de parar para ouvir. O que você tem escutado atualmente?
Denilson. Tenho escutado o meu álbum porque estou lapidando coisas de mix e master. Fora isso eu acabo escutando algo dos colegas quando eles tocam no rádio junto comigo.
2112. ... não lembro no momento quem foi que disse que “o futuro da música seria o da flauta de bambu.” Isso faz sentido para você?
Denilson. Acho que não, como mencionei, a música te possibilita através dos timbres, velocidade, intensidade, combinação das notas, uma variedade infinita de opções criativas. Mas como estamos vivendo em um mundo onde tudo é rápido, as pessoas acabam descartando essas excelentes opções de fazer algo mais elaborado. Preferem viver em função de conteúdos rasos, superficiais, banais e apelativos. E isso é uma pena!
2112. Uma novidade se torna velha em questão de segundos. Como você trabalha o conceito de suas músicas para que elas não se incluam dentro desse contexto?
Denilson. Eu procuro não me ater em fórmulas que estão bombando porque eu componho através da intuição. Eu deixo que a Música me conduza! Eu posso até ter um conceito predefinido, mas sempre a composição caminha para aonde ela quiser. Quanto as letras, eu sempre tive a preocupação de escrever letras atemporais, que tenham o mesmo sentido em 1988,1992, ou 2032. Se você escreve algo datado, você aprisiona a canção em um determinado período no tempo.
2112. Você vem concedendo entrevistas a diversas rádios. Isso ajuda a abrir portas ou são apenas ossos do ofício?
Denilson. De modo algum são “ossos do ofício”. Toda e qualquer oportunidade tem que ser abraçada e agradecida de forma igual, e são portas que, uma vez abertas, com certeza o artista passará por elas mais de uma vez. Por exemplo, se me cederem espaço em uma TV que é especializada em forró por exemplo, eu irei com todo o prazer. Porque em determinado momento do programa vai aparecer o “Denilson Carreiro” com sua proposta Rock, e não o “Layrton dos Teclados”, entende? Eu tenho vários colegas que eu sei que jamais fariam isso! Mas aí você corre o risco de ficar preso só na sua área, e isso, por conseguinte acaba restringindo o seu trabalho. Talvez seja esse um dos principais motivos pelos quais o rock seja ensimesmado, e esteja há quase 40 anos longe da mídia. Fora a questão de custo para a montagem de uma banda de rock...assunto, que por si só, já renderia outra entrevista!
2112. Em meio a tantos produtos enlatados Vício e A Bela Canção soam atemporais... tem lindas melodias e letras bem interessantes. Parabéns pelo belo trabalho!!
Denilson. Muito obrigado pelo elogio, e te agradeço muito por isso! Como já te mencionei, o lance do atemporal, é um cuidado que tenho no meu trabalho, tanto em termos de letras, como arranjos. Combinar sons que aparentemente não se conversam, mas que no fim acabam soando coesos... resultam em algo interessante e inovador. “Vício”, por exemplo, foi composta em cima de arranjos de música clássica com metais e cordas. Mas ali também tem um guitarra de “flanger” conduzindo. O cuidado que eu tenho com os arranjos, e principalmente a fluidez que eu permito para a Música, sejam características que imprimem no meu trabalho essas particularidades que você mencionou.
2112. Denilson, você pretende montar uma nova banda ou algum projeto para apresentar esse material em shows?
Denilson. Eu tenho essa intenção, mas a questão econômica me faz refletir sobre isso. No meu caso, agora sendo artista solo, eu teria que contratar músicos para me acompanhar, e isso acarretaria em um custo, que não sei se seria compensador para mim em um primeiro momento. Especialmente pela proposta do trabalho ser estritamente autoral. As poucas casas de show que abraçam o rock preferem que o camarada toque “Tempo Perdido”, que já é algo pra lá de batido (tem quase meio século!!), do que dar oportunidade e condições para que o novo artista mostre o seu trabalho autoral inédito. Então esses fatores fazem você pensar bem, porque ninguém investe dinheiro para perder. Se, pelo menos, o que você investiu com músicos, equipamentos, etc, você conseguisse de volta, com um mínimo de lucro pra reinvestir, já valeria a pena! Mas essa não é a realidade do artista independente. Mas, apesar de todas as limitações, esse trabalho será apresentado no “DC Music Live Sessions” que já está no meu canal do Youtube, que é um programa que eu criei no intuito de mostrar músicas, em formato acústico, que foram importantes na minha formação musical, e principalmente o meu próprio trabalho. Mas tudo pode acontecer... de repente eu tenha condições de fazer um super show, com estrutura. Pra Deus, nada é impossível, e eu acredito nisso! As condições surgem de onde se menos espera!
2112. Um Lugar no Tempo tem alguma chance de ser lançado em cd, vinil, cassete ou ficará restrito apenas as plataformas digitais?
Denilson. Provavelmente não. Ele estará disponível no Youtube e no meu site (www.denilsoncarreiro.com). Essa questão de prensar o trabalho em mídias físicas obedece o mesmo critério que conversamos no tópico anterior: Investimento! Se houver uma demanda por parte do público para isso, com certeza eu farei, mas acho que essa questão das mídias físicas é algo mais saudosista. Como já mencionei, na questão do investimento, você tem que pelo menos ter a certeza que o seu investimento não lhe trará prejuízos. Acho que não adianta o artista investir em mídias físicas por vaidade, só para falar que tem um disco, ou um cd, ou um cassete, para depois ter 1000 cópias encalhadas em casa, entende?
2112. Qual o telefone/e-mail para contratar você?
Denilson. O meu contato é através do e-mail: denilson.carreiro@gmail.com
2112. ... o microfone é seu!
Denilson. No decorrer da entrevista, falamos bastante sobre o álbum “Um Lugar No Tempo”, e eu quero adiantar para o seu público algumas informações sobre ele. Será um álbum com 12 músicas, das quais 2 serão instrumentais, inclusive uma delas já foi lançada como single o ano passado que é “Mater”. Pra quem não conhece, é só acessar o meu canal do Youtube através do site (www.denilsoncarreiro.com) para conferir. É um álbum basicamente de Rock Clássico, com rocks, baladas, e muito pouco eletrônico, onde condensei todas as minhas influências desses anos todos. Ele deve ser lançado no segundo semestre, mas antes será lançado o 4º single desse trabalho, que é uma música chamada “Melhor Viver”. Após o lançamento do álbum, eu trabalharei em mais dois singles dele durante o ano que vem. As pessoas podem conhecer o meu trabalho, como mencionei aqui, através do site (www.denilsoncarreiro.com). Lá está registrada toda a minha trajetória até o presente momento, incluindo o acesso para todas as minhas redes sociais. Te agradeço Carlão mais uma vez pela oportunidade de estar presente no blog 2112, e é sempre muito bom poder conversar com você, que é um profundo conhecedor de música. O meu muito obrigado, e tenha sempre a minha gratidão, e amizade! Aproveito para agradecer os leitores do 2112 pelo interesse no meu trabalho musical. Agradecimento extensivo a todos aqueles que também me apoiam desde o lançamento do trabalho solo em dezembro de 2020 com “A Bela Canção”. Que Deus esteja na vida de todos, e até um próximo encontro!
Fotos: Todas cedidas por Denilson Carreiro.
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