sexta-feira, 18 de março de 2022

Entrevista Fuzzy

Nem só de floresta, vitória régia, boto cor de rosa etc vive o estado do Amazonas. O cenário musical é bem diversificado e tem muita coisa bacana para ser ouvido e divulgado. Uma delas é o trio Fuzzy que faz um rock nervoso de primeiríssima qualidade. Procure ouvir e leia abaixo um pouco do sua história.        

2112. Como surgiu a Fuzzy?

Roosevelt. Quando eu fazia parte da Sentapua (outra banda do cenário amazonense), os ensaios já não eram mais constantes, por vezes tivemos que cancelar eventos ou ensaios. Isso meio que me desmotivou. Então pensei na idéia de fazer um novo projeto com o Gustavo Kawati, que por um período havia sido guitarrista da Sentapua. Daí na época, convidei um primeiro baterista que curtia o jeito dele tocar. Marcamos um ensaio despretensioso, com algumas covers... e assim surgiu a Fuzzy.

2112. O nome da banda é uma alusão ao pedal de distorção com o acréscimo da letra Y para dar um toque diferenciado?

Roosevelt. Na verdade, não deixa de levar pra essa ideia, já que sou muito fã de grunge e eu tinha a pretensão de sempre usar efeitos moduladores e distorcidos como o Fuzz. O que na verdade quis trazer é uma "INDEFINIÇÃO" no som da banda, sem rotulações. Pois temos diversidades de gostos/estilos. As músicas da banda acabam trazendo isso, uma "indefinição, cheio de modulações". Não à toa, a banda tem pegadas: hard rock, grunge, heavy e blues, mas sem querer fixar em um. (Não sei se respondi claramente... rsrs).

2112. Trabalhando com esses vários seguimentos musicais que bandas ou músicos vocês mais curtem e que são influências diretas no som de vocês?

Roosevelt. Eu, particularmente, sempre tive influência mais de rock nacional das clássicas dos anos 80. Titãs, Paralamas, Legião, Ira!, Biquini... nessa linha, além do som do Oficina G3, Alice in Chains, Nirvana, Metallica. O baterista, Guto, gosta do alternativo e bandas mais pesadas da década  de 90 (ele preferiu não citar nomes de bandas, pra não haver favoritismo e/ou injustiça... gosto eclético rsrsrs). Já o Kawati gosta de Blues, Metal, Angra, Shaman, Dr.Sin... e o Japa curte Dr. Sin, Rush, Deep Purple, Angra, AC/DC... e por aí vai!

2112. Essa pluralidade sonora dá mais liberdade na hora criar as próprias músicas, não é?

Roosevelt. Com certeza!! Na hora de compor, eu até brinco com o Japa (como chamamos o Gustavo Kawati - guitarrista), que ele é uma mente que não para. Se der espaço ele encaixa muitos riffs e solos. Então tem que frear. Mas as influências dão margem pra gente brincar e ter ideias diferenciadas nas músicas.

2112. Roosevelt, a banda surgiu de um projeto seu ao convidar amigos de outras bandas para tirarem um som. Quando você percebeu que a banda já havia se tornado um projeto viável?

Roosevelt. Com a mudança pro segundo baterista (Ciro Jamil)  foi o "estalo" pra que eu intensificasse a banda. E, infelizmente (e até felizmente), não havia mais atividade com a banda antiga, a Sentapua. Recentemente, a coisa ficou ainda mais concreta com a entrada do Augusto Nunes (Guto), que também é multi-instrumentista e produtor.

2112.  A Fuzzy começou tocando covers em bares e eventos. O que levou vocês a abandonarem o circuito de covers para criarem o próprio material? Pergunto isso levando em conta que bandas covers tem mais espaço e apoio que as autorais.

Roosevelt. Na verdade, a gente sempre fez um misto de covers e autorais. Quando começamos a nos apresentar, já havíamos ensaiado bastante, covers e quatro músicas próprias. Duas delas são de autoria do Márcio Denis e Sandro Nine, que, assim como eu, faziam parte da Nicotines (outra história). Nessa época da Nico, estas músicas (Medo de Altura e Dias Felizes) foram "terminadas" em ensaios mas nunca foram gravadas por esse projeto. Daí, quando resolvi fazer a Fuzzy, conversei com o Márcio e o Sandro, pra que me permitissem grava-las e executá-las. Então, os primeiros shows, já haviam três músicas autorais e algumas covers. Desde o início a gente vem garimpando espaços, até porque eu também sou um "tal produtor cultural" procurando promover eventos com bandas autorais, tentando criar espaços pra essas bandas, até pra mim mesmo poder me inserir quando tivesse oportunidade. E foi o que aconteceu: fazia eventos pra tocar com a Sentapua... e em seguida, com a Fuzzy. (desculpa, é longa a história). Já fiz eventos covers, autorais...os dois juntos. Mas, sempre buscando mais a valorização autoral.

2112. Vocês ainda tocam alguma coisa nos shows? O que o público mais pede ou gosta de ouvir?

Roosevelt. Sim. Nada que o público peça, exatamente. Tocamos o que gostamos, e que sai bem no ensaio. Mas, tem alguns eventos que fazemos pra levantar alguma grana e até mesmo pra promover a banda em certos bares que não conhecem a gente (e tem um bocado de gente que não conhece hehehehe). E lá fazemos um set mais intenso de covers tipo Black Sabbath, Deep Purple, Golpe de Estado, Pink Floyd, Barão Vermelho, Ira!.... as influências.

2112. Entre um show e outro vocês aproveitaram para fazer a pré-produção do primeiro trabalho da banda gravado entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019. Como é trabalhar, ensaiar, fazer shows e gravar? Como vocês ministram o tempo de vocês?

Roosevelt. A gente procura manter um dia de ensaio mais fixo pra trabalhar a banda. Mas, no geral, é correria rsrsrs.  Eu, assim como o Guto, somos funcionários públicos, e dividimos nosso tempo com outras coisas, além da família. O Japa vive de música quase que 24horas e também tem família toca em alguns projetos covers, pois é o sustento dele. Então a gente procura administrar nosso tempo juntos no grupo de WhatsApp acertando eventos, ensaios... E ultimamente temos feito algumas reuniões pra justamente definir melhor outras ações. Um novo EP, inclusive, já vem sendo pensado pois tem músicas novas. Mas, há períodos menos intensos, e outros mais. De qualquer forma, a gente administra bem.

2112. O material gravado foi testado primeiramente nos shows e como foi feita a seleção das músicas?

Roosevelt. Exatamente. As músicas autorais foram testadas primeiramente nos shows, depois fizemos poucos acertos pra gravar. Até mesmo pra  gente perceber nos shows como seria os "acertos e erros" pra quando fosse pro estúdio. E, de qualquer forma, já queríamos tocar as músicas. Como eram poucas composições de um projeto novo de banda, então não houve seleção pra esse primeiro EP. Mas estamos estudando regravar algumas, e talvez lançar no segundo. (Apenas experimento de gravação e algumas alterações de andamento, já que a pegada ficou mais intensa).

2112. Muitas bandas fazem isso antes de gravar. Acredito que esse tipo de atitude deixa a banda mais confortável em estúdio e na escolha do material a ser gravado, não é?

Roosevelt. Isso mesmo! A gente precisa desse "felling" pra entender a evolução do show, a percepção do público, coisas assim. E até mesmo revisar e adaptar os timbres, solos, coisas de produção mesmo da gravação.

2112. Como foi a recepção de “Uma Dose de Veneno” entre os fãs da banda e também na mídia? Qual música foi mais executada?

Roosevelt. No geral, foi bem elogiado. Creio que o pessoal sempre reage assim: "gostei mais dessa, mais daquela...". Mas gostaram do peso das músicas. Agora, ao vivo, é muito melhor com certeza. Porque é o que penso quando assisto, até a percepção da música que até então você não dá  muita bola, ao vivo traz uma emoção diferente. Não houve muito trabalho de mídia, na verdade... Nem sequer fizemos um lançamento oficial. Execuções? Só no show mesmo. E algum ou outro programa de rádio web. Mas, trabalharemos nisso melhor!

2112. Achei o título super interessante pois ele dá margens para diversas interpretações. A intenção é essa mesmo?

Roosevelt. Sim. Ele tem suas provocações mesmo  kkkk além de ser titulo de uma das faixas não deixa de ser uma indireta aos que sacaneam um dia, e são sacaneados depois.

2112. Roosevelt, você é ex-integrante da Nicotines do meu camarada Sandro Nine. Você chegou a participar das gravações de A Mil por Hora?

Roosevelt. Não. Mas estive nos ensaios embrionários de uma das músicas: Rosa Junkie. Mas eu já havia saído da banda.

2112. O que te levou a sair da banda?

Roosevelt. De verdade, não há resposta, nem houve motivação. Acho que me distanciei e o Sandro convidou outro com uma outra pegada. Somente.

2112. A cena aí no Amazonas é muito atuante? Que bandas ou músicos  você indicaria com um trabalho bacana?

Roosevelt. A cena no Amazonas é oscilante, mas não estável. Mas, muito mais por falta de incentivo cultural do governo, do público e até mesmo das próprias bandas. Existem muitas delas fodas em vários estilos. Algumas  até nem existem mais, o que é uma pena, bandas que considero sensacionais, como a Several, Sentapua, Charlie Perfume, Espantalho... Mas existem bandas formadas por integrantes de algumas destas ou de uma galera  nova que tem talento de sobra. Pessoal da Pacato Plutão, Tudo Pelos Ares, Evil Syndicate, Brutal Exuberância, Líbito, Antiga Roll, The Mones, Underflow, Platinados, Escândalo Fônico... viiiixe uma infinidade.

2112. Fico imaginando o rico folclore amazônico sendo utilizado pelas bandas de rock. Você conhece alguma que faz uso dessas influências?

Roosevelt. Sim, por aqui tem bandas com sonoridade que chamamos "regionais", com influências de musicalidade que o povo conhece por aqui como "beiradão" (beira de rio, flutuantes). Teve até banda de rock com influências do folclore do boi bumbá. Uma das bandas que fala muito de questões ou de folclore da região é a Zona Tribal (uma das bandas antigas daqui, já tem mais de 20 anos). Muito foda, inclusive!

2112. Durante anos e anos a mídia só falava das bandas do eixo Rio/São Paulo/Minas o que levou muitas bandas ao ostracismo. Mas graças a internet que gerou diversos grupos, blogs e sites a história está sendo devidamente corrigida. Na sua opinião o que ainda falta ser feito nesse sentido?

Roosevelt. A intensificação do público em divulgar estas bandas, além delas mesmo também se divulgarem mais, e criar seus próprios eixos. A conscientização de quem está inserido nas organizações culturais, ou políticos do país, voltando seus valores pra essa cultura que também alimenta as cidades e o público que curte o rock. Precisa ter mais interatividade entre as bandas, até mesmo pra se conhecer a dificuldade que cada uma tem, sua região e viabilizar idéias que facilitem essa expansividade do cenário rock no Brasil.

2112. Essa atitude por parte dos fãs e mesmo por parte de algumas bandas/músicos é digna de nota para nós amantes do rock brasileiro. Quem sabe um dia algum escritor corajoso não resolve contar tudo isso em um livro. Seria muito interessante, não? 

Roosevelt. Olha... vai dar uma coletânea, porque tem muito o que contar, o que discutir, o que informar, o que apresentar. Nosso cenário (ainda que apagado) é muito amplo e consegue se manter por quem ama muito o estilo. Mas, pra haver maior massificação, é necessário toda essa galera se envolver mesmo, e fazer acontecer. Não esperemos dos grandes, sejamos nós pequenos, enquanto isolados, porém grandes quando unidos. Isso faz diferença. Espero que o(s) corajoso(s) tenha(m) força e coragem (além de apoio), pra colocar tudo isso em muitas páginas. Seria massa!

2112. Qual o e-mail/telefone para contratar a banda e adquirir o material de merchandising de vocês?

Roosevelt. Nossos contatos são as redes sociais: @fuzzyband (face, insta, youtube), além do email: fuzzymanaus@gmail.com / Telefone: (92) 99142-6630 / 98130-6080 (shows, ep fisico...). Quem quiser ouvir as músicas, só procurar nas Plataformas Digitais: @fuzzyband (Spotify, Deezer, iTunes...).

2112. ... o microfone é seu!

Roosevelt. Cara, primeiramente gratidão por esta entrevista, este contato, esta iniciativa em querer alavancar, divulgar, continuar falando sobre rock no Brasil, nas suas regiões, o que não é fácil. Mas que deve ser persistido por pessoas como você, e por quem gosta também do estilo, pelas bandas. Temos que ser uma constante. A música não para, não devemos parar. Ela nos conecta com nosso melhor, e afaga a alma, suaviza os problemas, trabalha o cérebro e eterniza nossa vida. O rock é atitude, mesmo com suas latitudes e longitudes diversas e é assim que a gente alcança (ou resgata) quem precisa ouvir nosso rock ‘n' roll. Valeu demais, Carlos. Grande Abraço. Sucesso sempre para o 2112 e pra todas as bandas.

2112. Eu que agradeço em poder ajudar de alguma maneira.

Roosevelt. Estou procurando articular uma espécie de coletivo de bandas autorais em Manaus. Assim como outras já fazem seus movimentos, as vezes isoladas mesmo, mas a intenção é agregar. E, quem sabe, conectar a outros pelo Brasil a fora. Então, já deixo mais um canal pra galera conhecer aí algumas das bandas e seus trampos: ENCHENTE S.A. (pode procurar no face, insta: @enchentesa ).  Qualquer coisa, pode também passar pelo meu insta: @therooss. A gente vai se comunicando!

2112. Com certeza, estamos apenas começando!!!

Obs.: As fotos utilizadas nessa postagem foram retiradas do Facebook da própria banda. Não consegui identificar os nomes dos autores das fotos. Quem tiver alguma informação favor enviar para o meu e-mail: furia2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário