quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Entrevista Carlos Eládio (Raulzito e Os Panteras)

 

Em 2018 conversei com o baterista Carleba Castro da lendária banda Os Pantera e agora é vez do guitarrista Carlos Eládio que conta mais um pouco da história da banda e também de sua carreira solo. 

2112. Antes da pandemia você estava fazendo alguns shows tributos a Raul Seixas. Após tantos anos ele continua sendo uma das grandes referências do rock brasileiro, não é?

Carlos Eládio. Sim, tenho participado de várias homenagens a Raul, que continua sendo uma das maiores referências do rock brasileiro.

2112. O que chama a atenção é a quantidade de grupos dedicados a ele. A muito Raul deixou de ser apenas um músico/compositor/produtor para se tornar um verdadeiro mito, não é?

Carlos Eládio. Com certeza. Raul é um fenômeno artístico que permanece na memória de todos, até os dias atuais.

2112. Pessoalmente o que Raul Seixas significa para você? O que ele mais te influenciou como pessoa e músico?

Carlos Eládio. Raul era o amigo que dividia a sua inquietação criativa com todos nós. A sua determinação e o seu interesse pela pesquisa musical foram referências na nossa trajetória artística.

2112. Os Panteras surgiu no início anos 60 em meio a euforia da Jovem Guarda. Fale um pouco sobre aao começo da banda.

Carlos Eládio. Raulzito formou seu primeiro grupo musical pouco antes da euforia da Jovem Guarda. Com um repertório recheado de canções americanas, o grupo realizava shows em Salvador e pelo interior da Bahia. No início dos anos 60, o repertório já contava com músicas nacionais e arranjos musicais feitos pelos próprios integrantes do grupo. Em meados dos anos 60, o grupo "Raulzito e seus Panteras" passou a acompanhar os grandes nomes da Jovem Guarda, nas suas apresentações na Bahia.

2112. Antes de ficarem conhecidos como Raulzito e Os Panteras a banda teve vários nomes como Relâmpagos do Rock, The Panters e Os Panteras. Quando foi que você entrou para a banda?

Carlos Eládio. Não sei exatamente quando entrei para a banda, mas acredito que tenha sido em 1964. O grupo já se chamava "Raulzito e seus Panteras".  

2112. Porque a banda passou a se chamar Raulzito e Os Panteras e não apenas Os Panteras?

Carlos Eládio. "Raulzito e seus Panteras" foi o nome dado pelo próprio Raulzito, seguindo uma tendência da época, à exemplo de "Gene Vincent and his Blue Caps", "Bill Haley and his Comets", dentre outros. Com a saída de Raulzito, para se casar com Edith, o grupo passou a se chamar "Os Panteras". Com a volta de Raulzito, o grupo continuou sendo "Os Panteras", mudando para "Raulzito e Os Panteras", quando da gravação do álbum do mesmo nome, na Odeon.

2112. 1967 ano que os Beatles lançaram o genial Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band marca também a entrada de vocês no estúdio para registrarem o primeiro e único álbum da banda. Quais lembranças você guarda do período das gravações?

Carlos Eládio. As gravações foram realizadas em um clima de euforia, com bons momentos de descontração e algumas discussões com a Odeon, em virtude das mudanças propostas pelo grupo e nem sempre bem recebidas pela gravadora.

2112. Falando em Beatles, vocês incluíram uma versão para Lucy In The Sky With Diamonds que ficou "Você ainda pode sonhar". De quem foi a idéia?

Carlos Eládio. A ideia foi do próprio Raulzito, autor da versão. Várias canções dos Beatles já faziam parte do nosso repertório.

2112. Tudo o que vocês gravaram está nas doze faixas incluídas no disco ou ficou algum material de fora?

Carlos Eládio. Apresentamos várias outras músicas para serem selecionadas e gravadas, mas não recordo se ficou algum material gravado e não utilizado.

2112. Segundo historiadores "Nanny" incluída no álbum póstumo Let Me Sing My Rock’n’Roll teria sido gravada durante as sessões de Raulzito e Os Panteras. Isso procede? Se sim, porque ficou de fora do álbum?

Carlos Eládio. A música "Nanny" não foi gravada durante as sessões de gravação do nosso álbum. A gravação é bem mais antiga, feita na JS Discos.

2112. A capa faz uma alusão direta ao álbum White dos Beatles. O que vocês ouviam na época?

Carlos Eládio. Ouvíamos Chuck Berry, Little Richard, Elvis Presley, The Beatles e outros nomes consagrados da música internacional.

2112. Raul disse numa entrevista que a banda acabou em função das baixas vendas do álbum. Você tem idéia de quantas cópias foram vendidas na época do lançamento?

Carlos Eládio. Não lembro qual foi a vendagem do LP mas, realmente, foi muita baixa.

2112. A Odeon gravadora de vocês na época chegou a manifestar interesse em gravar um novo álbum ou mesmo um single?

Carlos Eládio. A Odeon lançou um compacto simples com as músicas "Brincadeira" e "Um minuto mais", extraídas do álbum, mas não demonstrou interesse em gravar um novo disco.

2112. Como foi que vocês chegaram a conclusão de que acabar com a banda era o mais acertado a ser feito naquele momento?

Carlos Eládio. Não houve um momento de tomar essa decisão. O grupo foi se desfazendo ao longo do tempo, com a saída dos integrantes. Mariano e Raul voltaram para Salvador e eu fiquei um tempo no Rio de Janeiro acompanhando Jerry Adriani, juntamente com Carleba.

2112. Você, Carleba e Mariano chegaram a pensar na possibilidade de continuar com a banda sem Raul?

Carlos Eládio. Nós continuamos com a banda, após a saída de Raulzito. Emmanoel (Neco) passou a integrar o grupo e, após a volta de Raulzito, o grupo ficou com cinco integrantes por um longo período.

2112. O álbum com o passar do anos se tornou um verdadeira relíquia não apenas entre os fãs de Raul mas para todos que curtem um bom rock'n'roll. Como você explica todo esse culto?

Carlos Eládio. Mitos não se explicam.

2112. Ao ser relançado o álbum esgotou em pouco tempo o que confirma o que estamos conversando, não é?

Carlos Eládio. Pois é. É um disco emblemático.

Carlos Eládio. Não tem como deixar de mencionar os nomes de Valdir Serrão, Chico Anysio e Jerry Adriani que muito ajudaram vocês no começo da banda, não é? 

Carlos Eládio. Waldir Serrão foi o grande amigo, parceiro e promotor de vários eventos musicais, quase sempre com a participação de Raulzito e Os Panteras. Chico Anysio foi o grande responsável pela nossa ida para o Rio de Janeiro e abriu as portas dos programas de televisão para o grupo. Roberto Carlos foi quem abriu as portas das gravadoras e Jerry Adrianni garantiu nossa sobrevivência financeira durante algum tempo, após a baixa vendagem do nosso álbum.

2112. Infelizmente não existe informações precisas sobre as bandas de rock brasileiro dos anos 60/70. Portanto, o que você fez depois que a banda acabou? Você chegou a participar de outras bandas? Como foi o sua entrada nos anos 70?

Carlos Eládio. Voltei aos estudos, continuei participando de atividades artísticas com amigos, ingressei no universo da publicidade e trabalhei com produção cultural.

2112. Depois do fim da banda você ainda continuou mantendo contato com Raul?

Carlos Eládio. Continuamos conversando e mantivemos contato até o início da sua carreira solo. Em seguida ficamos um tempo sem notícias. Em meados dos anos 70 recebi o convite dele e voltamos a tocar juntos durante a gravação e lançamento do álbum Novo Aeon.

2112. Em conversa vocês nunca cogitaram refazer a banda para alguns shows, compor novas músicas ou mesmo gravar um novo álbum?

Carlos Eládio. Conversamos em alguns momentos sobre essa possibilidade mas não concretizamos esse projeto.

2112. Você viveu o princípio do rock brasileiro com o advento da Jovem Guarda e o experimentalismo do Tropicalismo. O que você tem ouvido de interessante no atual cenário?

Carlos Eládio. Meu instrumento inicial foi o violino, pois eu estudava música clássica. Comecei a tocar violão e guitarra no final dos anos 50 e passei a tocar música popular brasileira e internacional, especialmente rock and roll. Continuo ouvindo os grandes mestres da música, mas ouço pouca coisa do cenário atual.

2112. Dez vez em quanto Os Panteras se apresentam em shows para homenagear Raul Seixas. Não seria interessante um novo registro da banda?

Carlos Eládio. Acredito que sim. Quase sempre conseguimos atender os convites que recebemos para shows musicais.

2112. Uma última pergunta... você já pensou em escrever um livro contando a sua visão da história da banda?

Carlos Eládio. Pensar, já pensei... mas ainda permanece em pensamento.

2112. Qual o seu e-mail/telefone para contratação de futuros shows pós pandemia?

Carlos Eládio. carlos.eladio@gmail.com

Obs.: As fotos usadas nesta postagem foram retiradas do Facebook do Eládio, Carlebra Castro e de uma pagina dedicada ao grupo Os Panteras. Identifiquei apenas o nome de Ivan Cunha. Quem souber o nome dos demais fotógrafos favor enviar o nome para o meu e-mail: furia2112@gmail.com para que eu possa fazer as devidas correções.   

Esta entrevista é dedicada as memórias de Raul Seixas, Waldir Serrão, Chico Anysio e Jerry Adrianni.

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