quinta-feira, 5 de março de 2020

Entrevista Dellaz Fest


Sábado teremos esse grande evento que contará com Heloísa Lucas, Lu Vitti, Confraria Fusa, Ex Machina, Electric Banda, Banda Power Blues, Banda Fábrica de Animais e Harppia. Aproveitando o momento conversamos Amanda, Sandrine e Regiane.      

2112. Dellaz Fest é um projeto ambicioso que pode ser interpretado sobre vários aspectos... mas vejo que o principal é a valorização de vocês mulheres como peça fundamental na engrenagem do rock brazuca. Qual o ponto de vista de vocês?

Amanda. Eu agradeço a existência desse evento, a fibra da Gigi sempre lutando pela sobrevivência do Rock, e nesse caso específico, exaltando as mulheres. Ter espaço pra ser visto é fundamental pra ser lembrado e valorizado.

Sandrine. Acho muito importante a valorização feminina sempre, embora o Ex Machina vê fundamentalmente o coletivo.

Regiane.  Acredito nas oportunidades...O trabalho autoral sempre esteve as margens do cenário do rock nacional e em se tratando de mulheres neste cenário o caso fica mais escasso...Por isso estou muito feliz com essa iniciativa de você.


Aya. Dellaz Fest é o início de uma revolução na forma como mercado e o público encara as músicas e shows. O rock precisava dessa harmonização de gêneros. A música em sim não existe gênero sexual especifico. Mas acredito que é a união dos dois pólos Yin (feminino) e masculino (Yang) torna o rock mais rico. 
2112. Hoje é comum ver mulheres comandando e participando de bandas mistas ou não, ministram work shops, são empresárias..., mas até chegar aqui foi um longo caminho, mas ainda falta muita coisa para ser feita, não é?

Regiane. Eu sempre fui conjunteira... rsrs. Desde meus 15 anos ja montava grupos pra tocar por ai...Mas também fui muito determinada...e o rock sempre foi minha grande paixão...Mas logo percebi que viver da noite não iria me trazer segurança...Por isso parti para educação e passei a dar aulas de músicas pra crianças, isso me levou ao teatro criando um dos primeiros shows infantis com música ao vivo e autoral em Sampa... Como empreendedora tive que aprender tudo sobre produção, criação, publicidade e sobre iluminação e sonorização...Uma escola que durou uns 15 anos...Hj em dia mantenho meu grupo musical "Bando da Floresta", com composições minhas para crianças, na minha primeira formação tive o prazer de contar com a participação da guirarrista Aya Maki...Criei minha banda de Blues o "Blues Beer" e tive o prazer em ser convidada pra cantar as músicas do poeta e compositor Paulo Sa no Confraria Fusa. Além de ser dubladora... Mas o caminho nunca está no fim...Enquanto o prazer de cantar se mantiver em meu coração meu destino será um microfone....


Aya. Na minha opinião falta as mulheres voltarem a se valorizarem como mulheres. Resgatar o Sagrado Feminino. Terem orgulho de menstruar e ser mãe (não somente gerar, mas acolher e orientar os mais novos). Perderem a vergonha de derramarem lagrimas e coragem de seguir em frente na luta. Durante muitas décadas a mulher se via obrigada a abrir mão de sua natureza feminina para serem aceitas e se impuserem no meio. Deixaram de ser mulheres para se moldarem aos padrões masculinos de pensamentos e visão.

Sandrine. É sim e esse caminhar é infinito. Precisamos estar sempre vigilantes, espertas.

Amanda. Sim. Defendo muito o equilíbrio, mas como historicamente estamos no ‘negativo’, temos que dar esse boost na mulherada pra chegar a uma igualdade, um dia.
2112. Acredito que Billie Holliday, Besse Smith, Janis Joplin, Tina Turner, Grace Slick, Rita Lee, Tibet... estariam/estão felizes com o avanço no território onde o que deve contar é o talento e não a sexualidade.


Aya. Eu diria que não só as mulheres têm o mérito por terem acreditado e lutado com muita coragem, mas os homens também por se abrirem e começarem um processo de aceitação, desta forma também estão iniciando um processo de parceria com as mulheres.

Sandrine. Não creio que regras devam ser impostas.

Regiane. Pois é o rock sempre manteve a sensualidade longe da sexualidade... Um paradoxo desleal desde que a mídia passou a se colocar como formadora de opinião e o sucesso instantâneo o alento de seus sonhos...As meninas partiram pra essa tal vulgaridade... Quem quer cantar ou tocar de verdade não encontra espaço pra sexualidade...Por isso amo o rock, o blues os padrões tem berço...

Amanda. Com certeza. Feliz em imaginá-las felizes por nossos passos.

2112. O que mais incomoda vocês dentro do rock hoje e qual seria a solução a curto prazo?


Aya. Falta união entre as bandas consagradas/mainstream e as bandas novas/underground, interação melhor entre produtores culturais e produtores de shows.  Eu sei que vocês estão se empenhando muito para mudar esse panorama. Mas falta um pouco mais de maturidade emocional e postura profissional da parte dos músicos e das bandas.
Amanda. Acho que uma das funções do Rock é incomodar, quem sabe incomodados unidos mudem o cenário. Pensando em solução, me veio Diversão...

Sandrine. A princípio não pensamos em soluções mágicas, inéditas, o rock sempre foi uma resistência, irreverência e subvenção... (é a particularidade e o diferencial que cada um imprime na sua expressão) e como outros segmentos artísticos precisa de investidores audaciosos, criativos. Isso gera diversidade e novos empregos alavancando crescimento.

Regiane. Sempre afirmei que o espaço pra tocar ainda é muito escasso... Mas projetos como o Dellaz Fest que a Stay Rock está  produzindo com tanto carinho nos dá a esperança de inspirarem outros a seguirem esta linha incrível de oportunidades. 
2112. Esse projeto da Stay Rock serve para alavancar outros shows dessa natureza. Particularmente sempre gostei de ver bandas com mulheres levando em conta a intensidade e a sensibilidade de vocês.


Aya. Com certeza. Nós temos emoção a flor da pele e a música é a forma que escolhemos para canalizar essa energia.

Regiane. Tudo é uma questão de determinação e paixão, acredito que outras garotas possam se espelhar nessa loucura e serem felizes em ousarem sem se perderem pelo caminho....

Sandrine. Nós também pensamos assim e onde tocamos levamos o nosso “Espírito do Rock´n´ Roll”.

Amanda. Que bom, torcemos por isso também. Apreciamos muito o talento da mulherada.
2112. A início o que vocês acharam do projeto quando foram convidadas e como andam os preparativos? O que vocês estão maquinando para surpreender os fãs? Afinal de contas vocês mulheres sempre foram um ser pulsante, enigmático... uma verdadeira caixa de surpresas.

Regiane. Eu fiquei muito feliz de cara com o convite da Gigi, pelo menos pra mim foi como um presente porque o Confraria Fusa me permitiu realizar um sonho... Colocar minha interpretação, minha voz minha experiência em prol de músicas em que acredito. Isso me rejuvenesceu... Trouxe de volta aquela garota cheia de energia e irreverência ...E como o Paulo além de compositor e escritor é também um poeta escolhi uns poemas para extravasar a linguagem musical durante o show...

Sandrine. Foi muito bom o convite para o festival, quanto as surpresas são surpresas... rsrsrs.


Aya. Aguardem e vocês poderão ver o resultado na nossa apresentação do dia 7 de março.
Amanda. Adoramos o convite, e pretendemos aproveitar muito o momento! Vai ser lindo.
2112. A primeira mulher que eu ouvi cantar foi Rita Lee & Tutti Frutti, e vocês?

Regiane. Eu era uma roqueira progressista...Gostava de Pink Floyd, Yes, Led, Renaissance... aí surgiu os Mutantes e depois Rita claro...mas quem rasgou minha alma foi Janis Joplin... Aí as coisas mudaram de vez...Encontrei nela a irreverência que sempre esteve dentro de mim...Dai fui me aperfeiçoar no canto porque outras cantoras como Tina Tuner, Koko Taylor Etta James, etc começaram a exigir maior dedicação e comprometimento 

Sandrine. Minha mãe e as lavadeiras do rio.


Aya. Rock: Lita Ford (guitarra e voz). Heavy Metal: Show-ya (banda feminina japonesa de Heavy Metal).
Amanda. Não me lembro exatamente da primeira. Mas as primeiras que apreciei e estudei foram Marisa Monte, Zélia Duncan, Rita Lee, Cássia Eller, Whitney Houston, Mariah Carey, e - assumo - Sandy e Ivete Sangalo.
2112. Algum álbum em especial?

Sandrine. Ás vezes começo a cantarolar coisas antigas que não sabia que sabia, mas estão ali no HD.



Aya. Outterlimits (Show-ya). 
Amanda. Decorei Zélia Duncan - Zélia Duncan de 1994.

Regiane. Janis Joplin "Pearl".

2112. O que mais pesou na hora de vocês decidirem pela música?

Regiane. O desafio... kkk.

Aya. Chamado interior. Não podemos fugir do nosso dom por muito tempo.
Sandrine. Livros, cinema, teatro, leitura, e as coisas foram se encontrando. A música antes de tudo é uma expressão primitiva, está em tudo. Pode ser amor?

Amanda. Hoje a música é a maior leveza que carrego... Por enquanto eu aproveito sem pesar.

2112. Vivemos num país conservador, machista e que pouco se valoriza a própria cultura. Vocês sonham viver um dia apenas da música?

Regiane. É na verdade um sonho de todo músico, independente de ser homem ou mulher...Uma autonomia artística na area do rock nacional chega a ser uma utopia... Mas as "pedras" fazem parte do caminho do Rock ... rsrs

Amanda. Uma temporada dedicada a isso seria maravilhoso. Mas sempre com muito dinamismo envolvido.


Aya. Sim.

Sandrine. Gosto de viver, de desafios, sou muito curiosa, acho que posso fazer muitas coisas
2112. Recentemente li o livro Jazz Ladies, de Stéphane Koechlin (Companhia Editora Nacional) e vi o quanto aquelas mulheres sofreram para defender seu desejo de ser cantora. Indico a leitura...

Sandrine. Kiki de Mont Parnasse, Strange Fruit, Clementina de Jesus, Amy Winehouse, Etta James, Elza Soares, brasileiríssimas...

Amanda. Obrigada pela indicação :)

Regiane. Bacana... gostei da indicação. Mas o que posso relatar com minha experiência de 30 anos de música é que pra cantar de galo no meio do "clube do bolinha"... você tem que ter muita
competência. Só isso lhe dará o respeito necessário pra passar de Canaria para cantora... 



Aya. Eu sempre pesquisei muito sobre as mulheres no rock e como instrumentistas. Outra leitura muito boa também tem a ver com Jazz: "Elas também tocam Jazz" e apresenta grandes nomes feminino e histórias fantásticas das mulheres instrumentistas na cena.
2112. Olhando um passo à frente... quem vocês indicariam para a Stay Rock para participarem de uma segunda edição do evento?

Sandrine. Nossa amiga santista Xandra Joplin e a banda Los Volks.

Regiane. Tem muita moçada esperta por aí... a Taty Pacheco é uma garota de fibra e canta muito. 


Aya. Tenho um monte! Ajna, Fórmula Rock, Hexwyfe, Blues Ladies, Valentinas, Constantine, Pamplona.
Amanda. Melinda e os Crushes, Anna Lu.
2112. Em algum momento vocês estarão juntas no palco para algum número?

Sandrine. Infelizmente nesse momento não.

Regiane. Nessa edição não houve tempo para combinarmos, mas acredito que em um próximo evento isso possa se realizar


Aya. Não sei...kkk vai depender da produção do evento. 
2112.... meninas o microfone é de vocês!

Sandrine. Curiosidade sempre! Ex Machina adverte: Não durma antes de ler.

Regiane. Quero aqui agradecer a essa grande oportunidade e dar os parabéns pela linda iniciativa. Estarei com o Confraria Fusa quebrando tudo e realizaremos um puta show! Vocês não perdem por esperar. E viva as mulheres roqueira ... Sangue quente e sem papas na lingua!!

Amanda. Agradeço muito a esse acontecimento, e a toda oportunidade e visibilidade envolvida no Dellaz Fest. Long live Rock'n'Roll!!!


Aya. Sou muito grata pelo espaço e apoio que você, Carlos, está dando para todas as bandas autorais. 

2112. Eu é que agradeço a confiança de todos vocês no meu trabalho. 
Dedico esta entrevista a todos a mulheres do planeta independente da sua posição. E agradeço imensamente a Sandrine, a Regiane, a Aya  e a Amanda pela sua contribuição ao responder as perguntas.     

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