O Vírus é uma das colunas sagradas do metal mundial. Desde a
sua aparição nos palcos, a sua participação no lendário álbum SP Metal, o
seu retorno aos palcos e o lançamento do já histórico álbum Contágio serão
dissecados nesta entrevista. Num cenário cada vez mais pobre musicalmente falando o retorno do Vírus
deve ser saudado como um dos melhores "comebacks" dos últimos anos.
2112. Como muitos tomei conhecimento da Vírus a exatamente trinta e cinco anos atrás através do álbum SP Metal. Naquele tempo havia poucas informações, tudo era no sistema boca a boca, revistas importadas ou zines como a Rock Brigade. Como o Calanca tomou conhecimento da banda?
VÍRU. Primeiro de tudo é
um prazer imenso estar participando dessa entrevista com o Blog 2112, parabéns
pelo trabalho com todo conteúdo de qualidade que vocês disponibilizam !
Renato
RT.
Então, como vocês mesmo sabem o boca a boca era a rede social vigente na época,
isso ajudou muito para nosso nome chegar até ele. Já fazíamos vários shows na
capital de SP e no interior e as bandas se falavam entre si e comentavam umas
das outras. Em algum momento o Luiz ouviu algum som nosso e se interessou e o
convite foi feito.
2112. O que ele falou sobre o projeto do
álbum e como surgiu o convite para vocês participarem das gravações?
Flavio
Ferb. Eu
me lembro que na época algumas poucas lojas do centro de sampa é que traziam os
lançamentos das bandas gringas e trabalhavam com Lps usados etc, então nos
finais de semana elas viravam o point principal da galera que curtia o som pesado
– o Luiz como um produtor e dono de um selo sacou logo que havia um “movimento”
forte em cima do Metal e as bandas que eram mais atuantes foram as primeiras
que ele convidou para o projeto.
2112. SP Metal é considerado um marco na
história do rock brazuca ainda que o Stress já tivesse lançado o seu primeiro e
grande álbum. Para muitos um verdadeiro divisor de águas...
Flavio
Ferb. Sem
sombra de dúvidas! o SP Metal é o grande marco do Metal brasileiro, apesar de o
Stress ser a banda pioneira a registrar o Metal em vinil aqui no Brasil
(aliás um álbum sensacional). Penso que os SP Metal 1 e 2, por serem coletâneas
que traduziram um movimento atuante e crescente do Metal, já nasciam com essa
abrangência e importância.
2112. O Flávio inclusive foi quem criou as
artes dos dois álbuns...
Renato
RT.
Sim ! O Luiz Calanca tendo recebido informações de que o Flávio já trabalhava
na época com ilustração e criação ficou muito interessado e pediu para ele
desenvolver uma arte para a capa do SP Metal I, e foi aprovada! Como o projeto
já previa um lançamento de uma segunda coletânea, a mesma ideia foi
desenvolvida para o SP Metal II
2112. Ao contrário do Avenger, do Centúrias
e do Salário Mínimo vocês traziam elementos de um metal mais pesado e mais sujo.
O que vocês ouviam nesse período?
Renato
RT.
Nossas influências sempre forma muito diversificadas dentro do Hard Rock e do
Metal, mas no final sempre convergiam para um alinhamento. Só para você ter uma
ideia da “salada” que eram nossas audições e gostos a coisa variava entre
AC/DC, Rainbow, Kiss, Iron Maiden, Deep Purple, Uriah Heep, Pink Floyd, Judas
Priest, Ramones, Led Zeppelin, Raven, Blue Oyster Cult, Dust, Saxon, Metallica,
Rush e por aí vai, mas uma unanimidade entre os 5 sempre foi o Black Sabbath!
2112. Naquela época apenas a Woodstock
trazia as últimas novidades em bandas novas de metal. Vocês compravam os lps ou
como eu ouvia K7 gravado pelos amigos?
Renato
RT.
Cara eu fazia as duas coisas kkkk, e a maioria de nós também, tínhamos e ainda
temos uma coleção de Lps e K7 gravadas ou compradas originais, muitos comprados
na Woodstock, na Baratos, ou em sebos e lojas em alguns bairros como em
Pinheiros.
2112. Quando surgiu a idéia de formar a
banda e como era a cena na época? Havia muitas bandas?
Flavio
Ferb. A
banda surgiu meio que em consequência daquele grupo de adolescentes que ouvia
junto por horas a fio os álbuns do Kiss e do Sabbath - lembro quando tínhamos
13 anos de idade e construímos umas guitarras de madeira etc.. para imitar o
Kiss em festas de aniversário pelo bairro!! k kkk! A semente estava lançada!
Daí pra frente, numa evolução natural, começamos a querer aprender a tocar de
verdade.
Sim!
Haviam várias bandas nos bairros próximos, era um clima bem propício.
2112. A banda ficou conhecida por fazer
releituras do Maiden, Ozzy, Motörhead... mas soube que isso incomodava vocês.
Nesse tempo já rolava material autoral?
Renato
RT.
Pelo contrário, a gente primeiro começou compondo e fazendo músicas próprias.
Depois de um certo tempo e alguns ensaios resolvemos incluir nas apresentações
alguns covers de bandas que eram nossas influências na música pesada, nessa
época o público começou a se referir como “aquela
banda que toca Phanton, etc’ Tudo isso faz parte de uma cena que não
existia na época, com bandas covers profissionais. Não raramente incluímos
algum cover nos shows, e fazemos isso por um motivo bem simples, a gente gosta
pra c... rsrsrs!
2112. SP Metal foi gravado em oito canais e
com orçamento baixo o que forçava vocês gravarem tudo rápido. Falem um pouco
sobre as gravações. Rolou muita tensão?
Flavio
Ferb.
Pensando hoje, acho que a tensão foi até pouca! Éramos bem crus em estúdio,
tudo era uma novidade e um deslumbramento: “caralho! estamos gravando um disco!
Inacreditável!”, então isso superava maiores tensões.
2112 ... não podemos deixar
de comentar a inexperiência de vocês na hora de gravar, não é?
Renato
RT. Sim,
éramos totalmente inexperientes em sessões de gravação.
2112. Apesar da produção tosca Batalha no
Setor Antares e Matthew Hopkins ainda soam pesadas para os padrões atuais do
metal.
Flavio
Ferb.
Acredito que isso se deve à química entre as influências dos caras da banda. Os
gostos que variavam de Kiss, Iron, Sabbath e Metallica, somados à criatividade
de riffs do Fernando Piu resultaram numa sonoridade não datada.
2112. Além do som a banda tinha também um
visual bem agressivo... A intenção era mesmo chocar, mostrar total
insatisfação?
Renato
RT.
Nada disso! Hoje até podem pensar isso da gente na época, mas a intenção era
trazer para a cena brasileira tudo aquilo que assistíamos lá de fora e simplesmente
não víamos nas bandas daqui, já com um certo profissionalismo. A motivação de
incorporar um visual praticamente todos era espelhada nos seus ídolos
internacionais.
2112. O sucesso do álbum deu a vocês o
título de "Melhor Grupo de Heavy Metal Nacional" durante uma enquete
realizado pela Revista Metal. Com isso a agenda de shows melhorou?
Renato
RT. Sim,
essa matéria rendeu alguns shows a mais na época!
2112. Os shows da banda impressiona bastante
quem assistia pois além da porrada metálica havia muitos efeitos. Acima de tudo
o profissionalismo e o respeito aos fãs, não é?
Renato
RT.
Respeito é a base de tudo na vida! A entrega de um show faz parte disso. Com
nossos fãs não era diferente, e a vontade de trazer um show onde a produção
completava a inspiração musical sempre esteve presente, para nós isso era e
ainda é natural.
2112. Não tem como deixar de mencionar a Vírus
Roadies liderado por Calil (primeiro baixista da banda), Guilherme, Bigode,
Paulinho etc. Os rodies apesar de pouco festejados são fundamentais... é uma
extensão da própria banda, certo?
Renato
RT.
Você já disse praticamente tudo! Hoje já é uma realidade essa profissão
que muitos exercem, o glamour é menor do que o do artista, mas a importância é
fundamental. No nosso caso todos são amigos também, mas espero que no Brasil a
importância da equipe de produção, técnica e de apoio só aumente cada vez mais,
e tenha seu retorno valorizado!
2112. Em 1986 vocês assinam com a Lunário
Perpétuo para gravarem o tão esperado primeiro LP da banda. Porque depois do
início das gravações tudo veio abaixo? O que realmente aconteceu?
Flavio
Ferb. Me
lembro que naquela época a sociedade que formava a Lunário se desfez, parece
que houveram atritos entre eles, também houveram aqueles planos econômicos do
governo o que quebrou muita gente - imagine um pequena gravadora underground...
etc então todo o aporte que seria feito simplesmente foi cortado - não tínhamos
como continuar a gravar.
2112. Esse material ainda existe ou se
perdeu?
Flavio
Ferb.
Pode-se dizer que sim. O que passaram para nós foi uma fita de rolo com as
bases de baixo e batera, e algo de guitarra guia… infelizmente.
2112. Apesar do sucesso conquistado a banda
fez seu último show em 1988 no Teatro Mambembe em função da falta de um
empresário, produtor e a saída do baterista Caio.
Flavio
Ferb. Na
ocasião já estávamos com o Lúcio na batera, onde fizemos, se não me engano, o último
show no Teatro Mambembe.
2112. O que o Caio alegou para deixar a
banda num momento que mais precisava de união?
Flavio
Ferb. Na
verdade foi uma somatória de condições que fizeram todos se desanimarem um
pouco – o Caio se uniu a um projeto pessoal ligado a religiosidade etc e também
preferiu sair numa busca mais interior...
2112. Apesar dos ventos soprarem contra
vocês ainda tentaram reconstruir a banda com um novo baterista ou já não havia
mais como continuar?
Flavio
Ferb.
Sim tentamos algo. Foi o momento em que o Renato e o Piu chamaram o baterista
Lucio Del Ciello. Ela já era amigo e tocava em algumas bandas que conhecíamos
ali por perto do nosso bairro. Fizemos alguns shows com o Lúcio, que se
encaixou perfeitamente no Vírus. Mas era um momento estranho. Eu também não
estava muito motivado e estava mais inclinado a deixar sampa entre outras
ideias, etc..
2112. Uma possível volta da banda ventilava
pelos quatro cantos depois do relançamento do SP Metal. E depois da
apresentação no Blackmore Bar não tinha mais como negar. O que mais motivou o
retorno de vocês?
Renato
RT.
Algumas apresentações foram feitas nesse iato de tempo, mas o retorno não se
concretizou por motivos diversos, muitos eu nem lembro rsrsrsrs. A vontade
sempre existiu, mas acabou se formatando com a comemoração do SP Metal em 2015.
2112. Soube que a apresentação foi do
caralho com todos cantando as letras de Batalha no Setor Antares e Matthew
Hopkins. O que vocês sentiram naquele momento?
Flavio
Ferb.
Durante os ensaios já percebemos que a coisa estava rolando fácil e empolgante
novamente, apesar de não estarmos com o Cássio no baixo e sim, com nosso irmão
o Déio. Durante o show, quando sacamos que muita gente cantava junto, inclusive
fãs mais jovens que vieram com camisetas do Vírus pintadas à mão (e eram
muitos!). Houveram muitos motivos que fizeram decidir pela volta!
2112. Foi baseado nesse momento histórico
que vocês tomaram a decisão de prosseguir com a banda e gravar Contágio?
Flavio
Ferb. Sim!
Ressurgiu a esperança de finalmente gravarmos o álbum. Aquela sensação ruim de
algo não terminado desde os anos 80, provavelmente conseguiríamos resolver!
2112. Falem um pouco sobre a pré-produção,
escolha do repertório e a gravação do álbum. Vocês tiveram mais tempo de
estúdio?
Renato
RT. Fizemos
toda a pré-produção das dependências do Estúdio Orra Meu. Desta vez tivemos o
tempo ideal para preparar o material, e isso fez toda a diferença!
2112. As músicas são todas do antigo
repertório ou houve a inclusão de composições inéditas?
Flavio
Ferb. Sim!
São composições sensacionais que estavam no limbo. Elas tinham que ser
registradas são as músicas que tocávamos nos shows dos 80’s e fizeram nossa
história.
2112. Vocês mantiveram os arranjos originais
ou deram uma atualizada?
Renato
RT.
Todas as que já tínhamos composto naquela época receberam novos arranjos.
2112. ... deve ter sido emocionante para não
dizer especial ver o trabalho pronto nas mãos depois de tantos anos de espera,
não é?
Flavio
Ferb. Sem
dúvida! Pra te dizer a verdade às vezes nem parece real… Mas é, e é fruto de
bastante dedicação e trabalho persistente desde 2015.
2112. O que você diria para os fãs da banda
e mesmo para os que curtem um bom metal sobre o cd? O contágio é
imediato?
Flavio
Ferb.
Na minha visão é um álbum que ficou fantástico, arrepiante! Ele tem o DNA do
Metal oitentista, mas a pegada e agressividade do Metal contemporâneo e, o que
mais me impressiona é a multiplicidade criativa das músicas, coisa que
realmente não é muito encontrada por aí… aliás, penso que esse é o grande
diferencial do “Contágio”.
2112. Cd lançado... quais são os projetos da
banda?
Renato
RT. Cara,
contribuir para a cena do Heavy Metal no Brasil, que é o que sempre curtimos
fazer. Levar um show empolgante e de qualidade até onde conseguirmos
atingir. E, é cedo pra falar mas, assim que possível, partiremos para a
gravação de um próximo álbum!
2112. Esperamos não ter que esperar tantos
anos para ouvir um novo trabalho da banda. Sucesso para vocês.
Renato
RT. Sim,
a gente espera também, já temos o material pra lapidar e vamos trabalhar para
isso. Obrigado, sucesso ao Blog 2112, e tamo junto sempre que precisar, valeu.
É de inciativas assim como a de vocês que uma cena precisa, sabemos que não é
fácil, mas constrói um movimento maior e mais sólido, obrigado mesmo!
2112. Qual o e-mail/telefone para
contratação da banda e mesmo para a compra do cd?
Renato
RT.
Para comprarem o cd é só acessar as lojas virtuais das lojas da Galeria do Rock:
A Baratos e Afins, A Die Hard, a Animal Records, ou deixem mensagem inbox em
nossas redes sociais no Facebook e Instagram: virus contagiometal. Contato para
shows pelo whatsapp: (11) 97500-6705 (12) 98256-7113 ou na página oficial
das redes sociais!
2112. ... o microfone é de vocês!
Flavio
Ferb
- Bom, queremos agradecer a todos que de alguma maneira colaboraram e
trabalharam junto com a gente para a concretização do álbum e, também a todos
os fãs que acompanham e curtem o Vírus. Mas aqui deixo o principal recado:
COMPAREÇAM AOS SHOWS! Nossa força depende principalmente da PRESENÇA de vocês.
Valeu!
Obs.: As fotos utilizadas nesta postagem fazem parte do arquivo pessoal da banda.
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