quarta-feira, 5 de junho de 2019

Entrevista Flores do Fogo


Nos últimos anos temos assistido várias bandas promovendo o retorno do classic rock. E a Flores do Fogo mistura com maestria hard rock com rock’n’roll sem perder o peso e a harmonia. A banda já lançou dois álbuns que mostram bem o seu poder de fogo. Keep on rock!
2112. Antes de mais nada o que te impulsionou a deixar o sul e vim tentar a sorte no sudeste?
Ricardo. Olá Carlos Antonio, muito obrigado pela a entrevista que vamos fazer aqui, admiro muito seu trabalho, que é de imensa importância pra todos nós. Quando gravamos em Sampa o EP em 99, voltamos pra Canoas-RS, começamos a fazer muitos shows e chegou uma hora que sentimos que seria bom ir à luta e vir para sampa, pois achávamos que teríamos mais oportunidade, e realmente foi o que rolou, conhecemos Claudio Koetz e começamos a fazer vários shows por diversos sítios ao qual através dos shows na casa dele outros viam e queriam a banda em seus sítios também, Sampa é bem maior, mais oportunidades.

2112. Cara, vocês tem uma cena incrível lá: grandes bandas, grandes músicos, grandes trabalhos... O sul não perde em nada para o que se produz no resto do país. Puta cena! 
Ricardo. Sinto muita saudade do sul, sim grandes bandas, Foguetti Luz, Bandalheira e Astaroth eram as bandas que a gente mais curtia, “tive muita influência da banda Thule”, mas mais forte que a cena e bem melhor que a mídia de lá são as pessoas roqueiras, o público, muitos roqueiros massa na época.
2112. Recentemente adquiri o livro "Tá no Sangue, A História do Rock Pesado Gaúcho Anos 70 e 80" que conta a trajetória do rock vindo dos pampas. Um trabalho primoroso que merece ser lido e divulgado.
Ricardo. Sim, sem dúvida, "Tá no sangue" conta muito sobre a história do Rock Pesado do sul, recomendo!
2112. A Flores do Fogo trouxe de volta o rock pesado com elementos do rock'n'roll há muito esquecido. Poucas são as bandas hoje que se aventuram nesse terreno, não é? 
Ricardo. Pô, primeiramente muito obrigado, pois sempre foi essa nossa intenção, a imortalidade do Rock nessa pegada que grandes mestres do passado nos ensinaram, na época la no sul estava começando a rolar um rock mais a “La Beatles” ou mais “pop”, nada contra, mas o que a gente queria era outra coisa mais HARD 70, mas sem sugar nenhuma banda, aliás, o que a gente mais notou foi que antigamente as bandas eram muitas, mas cada uma com sua sonoridade, Led, Sabbath, Purple, Floyd, Jethro etc... então foi quando saquei que tinha que ser assim, o som a pegada à inspiração, mas sem ser uma cópia, pois na minha opinião o que aprendi foi como se essas grandes bandas estivessem nos ensinando assim: "Seja originalmente original", mas sem perder a pegada do hard , do rock’n’roll e Blues, aí deu no que deu e se criou FLORES DO FOGO!!
2112. Escuto de tudo um pouco... mas tenho preferência pelas bandas do final dos anos 60 e dos anos 70 como Cream, Mountain, Jimi Hendrix Experience, Led Zeppelin, Uriah Heep, Bad Company... E você?
Ricardo. Como disse antes, mestres, se tornaram imortais, todas essas aí, DIO \0/... são muitas as bandas, e cada uma com sua fórmula, mas todos sem preguiça de fazer aquele som, da alma, ah... e com muita qualidade, eram músicos muito bons, eram loucos, Hippies bruxos, mas MÚSICOS de muita qualidade e vontade em toda sua arte e verdade. 
2112. Entre os vocalistas quem mais o influenciou na decisão de ser cantor?
Ricardo. Na verdade eu achava que ia ser guitarrista kk, mas aí quando percebi que não conseguia solar, apenas fazer as bases e compor as músicas, e também percebi que como imaginava o vocal iria ser difícil encontrar alguém , pois imaginava uma voz alta e aguda kkk, aí pensei, já que não sei sola e o jeito de voz que imagino vai ser complicado , acho melhor tentar eu mesmo fazer a voz kk, ah, e também tinha muita facilidade em dar agudos , tipo imitava bem parecido na época os agudos do Ian Gillan, ai aproveitei e comecei a aprender a cantar, até hoje tentando né kkk, e pra mim quem sempre me inspirou foi Robert Plant, Ian Gillian, Janis Joplin, David Coverdale e Dio.
2112. O meu predileto sempre será o Plant... Quem você mais gostava de imitar em frente o espelho ou numa daquelas famosas "chuveiro sessions"? 
Ricardo. kkk, Plant...
2112. A vizinhança reclamava?
Ricardo. Cara, por incrível que pareça, os vizinhos sempre apoiavam, sabiam que iríamos respeitar aquelas duas horas ali na garagem e deu, e sem falar que eles de certa forma acreditavam na gente, sim era barulhento, mas diziam ver arte e futuro na banda :) kk
2112. A banda surgiu em 1997 e dois anos depois já estava em estúdio gravando o primeiro trabalho. Que caminhos vocês traçaram até chegar ali?
Ricardo. Bom, foi tudo muito rápido, minha irmã Andréa Vieira que fez a letra da música "Menino Pobre" estava morando em Sampa, e com muito pouco tempo de banda ela fez o convite para virmos gravar, foi aí que gravamos o EP AS PESSOAS TRILHAM, foi tipo, ou abraçamos a ideia ou ficamos assim do jeito que tá, e minha irmã sempre teve uma boa intuição, ai pra gente foi tipo o auge de uma banda, ir pra São Paulo, uhuuuulll, vamo que vamo  e abraçamos a oportunidade.
2112. Como surgiu a participação de Serj Buss (Steve Vai) na faixa Lacre?
Ricardo. Conhecemos o Serj Buss e Edu Ardanuy no Manifesto Bar. Serj nos indicou o Estúdio Criative Sound do Phillip e do eterno Ricardo Nagata. Um dia Serj disse “quem sabe uma participação minha com vocês heim rapaziada?” bha a gente adorou a idéia. Imagina a nossa felicidade. Acho que ele até pensou em dar um ‘empurrãozinho’ na banda, tipo uma força, ele sempre dizia que admirava muito nossa união, que era raro de se ver bandas no estilo, e na época eram poucas mesmo, ainda mais cantando em português. Participou num duelo com o Luís no fim da música Lacre, composta por mim e Fabiano Freitas, primeiro guitarrista da banda e também fez alguns efeitos na música Menino Pobre na primeira gravação da música no EP As Pessoas Trilham.

2112. Quais as memórias que você tem da gravação não só desta faixa... mas do álbum como um todo? 
Ricardo. Ah são muitas boas, outras não boas que que no fim acabou sendo melhor kk, bom a do Serj, que logo depois depois de confirmar a participação muito entrestecido nos pediu desculpas pois não iria mais poder participar (coisas pessoais que aconteceram com ele). E que já já estava indo embora de Sampa e não daria tempo até rolar as gravações. Foi aí que um dia e bem quando estávamos gravando a música "LacreE" apertaram a campainha e era o Serj com a guita nas costas, chegou e disse: “pessoal, será que ainda dá tempo de eu gravar?”... bhaaaa sóse for agora kkk e assim foi. Também lembro de estarmos passando uma barra, sem grana pro aluguel, jantando pipoca todo dia, isso já em 2005 na gravação do Álbum Rock’n’Roll é Eterno, quando fui gravar Barco a Deriva, tinha só o passe de ônibus um pão seco sem mistura que levei pro estúdio, pois sabia que lá tinha café preto pra acompanhar o pãozinho kk,, aí disse pro Japa Ricardo Nagata: Japa, rola Barco a Deriva antes de começar a gravar, só pra eu desabafar um pouco cantando, aí ele largou a música no fone e eu cantei , só que ele gravou!!!!, e quando terminou ele disse ,,," essa é a voz que eu quero", na hora não concordei , mas aí arrumamos apenas um detalhe e ficou a voz inteira do desabafo na Barco a Deriva kkk. E outra vez que dei o EP AS Pessoas Trilham pro André Mattos, pois eles também gravavam lá, ai passou um ou dois dias e de repente apareceu no estúdio e disse: “Ricardo, eu vim aqui pra vocês autografarem esse EP”, kkk eu disse: “tu tá louco!!!!!”, “é eu que tenho que te pedir um autografo” kkk ele disse; “eu escutei e entendi o que tem aqui, e vim aqui só pra pegar o autografo e uma foto”, que até hoje não sei que fim deu a foto de nós dois, na época não tínhamos redes sociais e a foto se perdeu :( mas isso pra mim foi incrível, admirei de mais a humildade desse fera e mestre também.

2112. Achei muito bacana a ideologia pacifista e consciência interior que vocês passam nas letras da banda. Num mundo cada vez mais violento isso faz toda a diferença... 
Ricardo. Obrigado Carlos, esse é o intuito do FLORES DO FOGO, levar o rock forte mas com letras que sejam a favor da espiritualidade e da nossa melhora, acreditando na melhora das pessoas para melhora do mundo.
2112. No ano seguinte vocês lançaram "Rock’n’Roll é Eterno" que trouxe a participação especial de Eduardo Ardanuy do Dr. Sin.
Ricardo. Poxa, Edu é outro gente boa demais, e como todos sabemos um “excelente guitarrista”, um dia dando um rolê juntos na noite coloquei uma fita de um ensaio nosso no carro que andávamos e ele disse: poxa achei bem bacana, eu disse: bacana seria uma participação sua numa música e dei rizada. Aí ele disse: Ricardão, é só chamar, manda a música e diz onde quer um solo que tô dentro hehe, e assim surgiu a participação do Ardanuy no segundo solo da música "O Rei" :)

2112. Como foi o preparo do álbum desde a composição até as gravações?
Ricardo. O processo de composição e gravação foi tudo muito natural. Sempre compus músicas e certa vez escutei uma voz que dizia: não desista, continue fazendo as músicas, pois quando encontrar os caras já terão as músicas. Dito e feito, quando encontrei os caras tudo o que eles queriam era tocar e assim juntou a fome com a vontade de comer. kkk  
2112. O que torna este álbum diferente do ep? 
Ricardo. Acho que sempre será diferente um álbum do outro, no Rock n Roll é Eterno o que mais queríamos era manter o som mais cru e mais vivo, e acho que conseguimos chegar na sonoridade que queríamos na época, como imaginamos. Já o EP foi bem rápido, tipo a banda começou a surgir em 97, mas depois da entrada de Luís Dias que começou a firmar. O Luís é primo dos irmãos Fábio Dias (Fá) no baixo e Cristiano Dias (Pretinho) na bateria e isso foi no final de 98, ensaiávamos mais no meio do mato de violão imaginando a pegada, fazendo bateria nas pernas com as palmas da mão kk e 4 meses depois viemos a Sampa e gravamos, baixo e batera juntos e sem metrônomo (nem sabíamos direito o que era), e assim gravamos "As Pessoas Trilham” no dia do Índio 19 de abril de 1999.
2112. Uma grande sacada foi a regravação de Jardim das Acácias do trovador Zé Ramalho. A releitura ficou muito interessante garantindo a ela uma nova visão. Como surgiu a ideia? 
Ricardo. Sempre tivemos essa ligação com Zé Ramalho, pra gente ele é como Led, Purple e Sabbath e temos vontade de fazer mais isso, essa versão foi como aprendi na época em roda de violão, com meus amigos Toco e Ganço, dois Hippies mais velho que eu na época que tocava assim, bem simples, como eu não conhecia a música, até porque era super difícil conseguir ouvir, adaptei esse jeito pra cantar sem conhecer a música original, eu mesmo não tinha discos de ninguém, apenas uma fita cassete com Led, um Purple e uma da Janis gravado por um conhecido cabeludo da minha cidade, que por dó, gravou pra mim pois ele sabia que não tinha condições de comprar disco.
2112. O Zé Ramalho tem conhecimento da gravação?
Ricardo. Sim, tivemos que enviar cd para seu empresário para mostrar ao Zé, pois ele disse que Zé sempre gostava de ouvir as gravação de suas músicas, pra ver se estava ok.
2112. A Flores de Fogo já participou de vários eventos bacanas inclusive no Lollapalooza realizado em Santo André-SP dividindo o palco com grandes nomes do rock. O que uma pessoa que nunca foi a um show de vocês pode esperar?
Ricardo. bom, o LOLLAPALOOZA é uma casa de shows tradicional de Santo André, logo que viemos a sampa tocamos muito lá.. bom, AS PESSOAS PODEM ESPERAR muita energia, diversão ao embalo PEGADO de um forte ROCK N ROLL, muita alegria com um papo de protestos sociais verdades e LUZ.
2112. O que uma pessoa que nunca foi a um show de vocês pode esperar?
Ricardo. As pessoas podem esperar muita energia, diversão ao embalo pegado de um forte Rock’n’Roll, muita alegria com um papo de protestos sociais verdades e luz.
2112. Rock’n’Roll é Eterno completa nove anos este ano e com certeza os fãs da banda já devem estar ansiosos por um novo álbum. Há projetos para entrar em estúdio este ano? 
Ricardo. Simmmmm!!! Se sai esse ano eu não sei, tomara que sim, mas estamos fazendo o possível pra quanto antes, também estamos ansiosos, na verdade temos músicas para gravar uma meia dúzia de álbuns ou mais, é que tivemos uma grande demora até acertar novos integrantes , que agora conta com Leonardo Collino no baixo e o Guilherme Palladino na bateria. Já demos entrada em músicas novas, inclusive duas regravações do EP Aa pessoas Trilham assim como o Álbum Rock’n’Roll é Eterno também teve também teve duas músicas do EP, Menino Pobre E Pássaro Fênix. 
2112. ... o microfone é seu!
Ricardo. Muito obrigado meu irmão, seu trabalho é admirável, FLORES DO FOGO agradece. Lembro que quando começamos era raro ver bandas no estilo, temos uma música que chama "Sonhos de um novo Rock’n’Roll", ao qual falamos na época de uma forma que acreditávamos que um dia outras bandas surgiriam e juntos iriamos contribuir para a imortalidade do Rock’n’Roll, e acho que isso está acontecendo, muita banda boa surgindo e ressurgindo, não vou citar nomes, pois não quero parecer injusto com nenhuma caso esqueça de alguma, e até porque tem tantas outras que talvez não tenho intimidade ou conhecimento , mas que com certeza faz parte dessa imortalidade do Rock’n’Roll. Na letra tem uma parte que diz assim: 

“Sonhos de um novo rock n roll
Sonhos de uma nova canção
Juntos com as “Flores” se ergueram
Bandas que a verdade é proteção
Sonhos que o tempo nos mostrou
Que o que for eterno sempre será som
E o que é eterno “sempre é bom som”.”

Próxima entrevista: Harry, 12/06

Nenhum comentário:

Postar um comentário