quarta-feira, 19 de junho de 2019

Entrevista Banda Lepra



O movimento punk foi um momento único na história do rock ao trazer de volta toda a sua urgência e simplicidade inicial. E a Lepra após um período de hibernação ressurge no cenário com força total nos palcos e no estúdio.

2112. Vocês ficaram vários anos fora de cena e eis que a banda renasce das próprias cinzas. O que mais motivou essa volta?

Reverendo Duda. Ficamos 10 anos praticamente parados, depois ensaiamos sem apresentações públicas, por muito tempo, tipo uma brincadeira de amigos, sem perder o estilo anárquico punk. Notamos que basicamente nada mudou, a periferia ainda era a mesma periferia, os explorados continuavam sendo explorados e o pais continuava sendo mandado pelo mercado financeiro ou seja grandes Bancos. Na parte musical percebemos que pouco mudou também, que não apareceu coisas novas. Ficamos motivados com o ressurgimentos das bandas que tocamos no anos 80 como Olho Seco, Vulcano entre outros. Nossos fãs sempre perguntavam a onde estava o Lepra. Ai resolvemos voltar para quebrar tudo pela frente!!!

2112. Olhando o cenário hoje o que piorou e o que melhorou desde o fim e o retorno da Lepra?

Reverendo Duda. O compromisso das pessoas com as bandas, a ausência de espaço para tocar som autoral, a falta de tempo imposto pelo sistema capitalista, a exploração do ser humano, a relação do capital e trabalho, a falta de ideologia e consciência política deram uma boa piora para atrapalhar o cenário do Punk Rock Autoral. As Bandas Cover sempre repetindo o mesmo repertório nos bares das Cidade também colaboraram com a alienação do gosto musical das pessoas que acabam por não conhecerem os sons autorias. 
Creio que a forma de divulgar nas redes sociais, gravações de sons, participações em estúdio e até a profissionalização do som Punk, a qualidade musical são os aspectos positivos de agora, bem com o fácil acesso aos instrumentos musicais, letras e composições das músicas, acesso internacional do cenário em outros Estados ou Países estão mais tranquilos e acabam por colaborar com o Movimento alternativo e Autoral do Rock como um todo. 
2112. Nessa atual confusão político/social que o país está atravessando com certeza serve de inspiração para muitas letras, não é?

Reverendo Duda. Sim e como!! Agora estamos produzindo: "Paciente terminal" que fala um alerta para nosso meio ambiente, "80 Tiros" sobre a família de Negros que foram metralhadas pela Policia Militar do Rio de Janeiro e "Os idiotas querem dominar o mundo": Que fala sobre o fim da aposentadoria, do emprego e dos direitos individuais. Acredito que hoje o Cenário Punk está ficando novamente forte em resposta contrária ao avanços dos Governos Fascistas de extrema Direita.

2112. Músicas como Fome, Anti-Militar, PPI, Estado de Paranóia, Sem Moral, Atentado ao Pudor, Pão e Circo... continuam bem atuais. Qual a saída para um país cada vez mais afundado na corrupção?

Reverendo Duda. Nossas músicas tentam alertar as pessoas para alcançarem uma certa independência política, uma liberdade contra a alienação que é imposta por quem está no poder. Acreditamos que um povo com consciente política poderá fazer as verdadeiras transformações básicas e sociais. Quando nosso povo tiver consciência política plena poderá fazer melhor, votar melhor, escolher melhor, fiscalizar melhor, cobrar melhor até colocar um fim no sistema que provoca a corrupção que assola o país. Lutamos por um povo consciente, livre e independente.

2112. De uma certa maneira todos nós temos um parcela de culpa nessa merda toda...

Reverendo Duda. Sim, porque todos estamos dentro do mesmo sistema que tem seus vícios. É importante lutar para quebrar esses sistema.

2112. Outro ponto negativo é essa guerra entre direita e esquerda que não está ajudando o país a sair dessa merda toda. Não está na hora de rever os conceitos e juntar forças ao invés de ficar nesse mi mi mi?

Reverendo Duda. Sim a sociedade está perdida caminhando para o grande precipício como diz a letra do som da Banda Olho Seco. E hora do povo mostrar e expressar o que quer para ter avanços e não aceitar retrocesso que acabam por conflitar com seus próprios interesses, sem intervenção religiosa ou do interesses do capital financeiro.
2112. Saindo um pouco do âmbito político e voltando para a banda quais os projetos de vocês para este ano?

Reverendo Duda. Terminar as 04 novas canções que estão no forno, desenvolver nosso CD com uma capa bombástica, atualizar nossas apresentações e tocar em tudo que é canto do Brasil. 

2112. O AI-5 outra lenda punk lançou um cd contendo material dos primórdios da banda. Vocês também pensam em relançar o material antigo da banda em cd ou vinil? 

Reverendo Duda. Sim, estamos para lançar nosso CD "Atentado ao Pudor" com canções antigas misturada com as novas músicas e fazer um grande lançamento que vai destruir todo o sistema político atual. 

2112. Uma coisa que sempre admirei no punk eram suas gravações toscas livre de qualquer retoque de estúdio. Isso deixa as músicas mais brutas e reais, não é?

Reverendo Duda. Isso é uma marca sensacional, algo mágico da história do punk. Hoje conseguimos repetir esse mesmo feito com qualidade. A gravação caseira ou mesmo ao vivo no estúdio, permite trazer essa essência da gravação livre, mas agora ouvindo de maneira clara o baixo, guitarra, vocal e bateria. Eu adoro gravações live em estúdio para não perder essa característica que é a alma ou essência da gravação punk. 

2112. Acredito que o Clash foi uma das poucas bandas que soube usufruir dos recursos de estúdio sem perder a sua essência.

Reverendo Duda. Sim, mas com os avanços tecnológicos, já temos outras bandas do cenário punk que estão usando bem os recursos do estúdio. 

2112. Vocês pretendem regravar alguma música do material mais antigo de vocês?

Reverendo Duda. Sim, Músicas "FOME", "ATENTADO AO PUDOR" e "FALSOS PROFETAS" estarão presente nas novas regravações. São canções do começo dos anos 80 presentes e super atuais.
2112. A letra de "Atentado do Pudor" foi escrita a partir de um treta entre vocês e a polícia. Como foi que aconteceu?

Reverendo Duda. Essa história é super engraçada KKKK. Foi no final da Ditadura Militar, no início da transição dos Militares para o José Sarney. Naquela época várias escolas públicas e particulares organizavam festivais de músicas. A única chance tocar era participar de um festival das escolas. Assim abriu inscrições para festival de MPB em uma escola pública do Bairro Aclimação da Cidade de São Paulo. Fizemos uma gravação da música "FOME" com violão na versão lenta, mas sem mudar a letra para ser aprovados por um juro, que aceitou nossa participação.
Entramos em cena no meio de várias bandas com flauta, violão, bandeiro, que faziam sons acústicos meio bossa nova com seco e molhados, na hora do Lepra foi guitarra, baixo, bateria e uma juventude rebelde que colocou a escola para baixo. Nesse momento, a Diretora da Escola chamou a polícia e fomos presos, fui colocado no camburão mesmo sendo menor. Ao chegar na delegacia o Delegado não sabia o que fazer com os meninos arruaceiros, até notar nossas calças rasgadas, onde declarou voz de prisão por "Atentado ao pudor". Depois de horas gancho, o delgado descobriu que éramos menores e liberou nossa saída.    

2112. Vocês citam como influências diretas The Clash, Sex Pistols, Sham 69, Dead Kennedys, GBH, Garotos Podres, Olho Seco, Cólera... E hoje, que bandas mais recentes influenciam o som da banda?

Reverendo Duda. Hoje temos um pessoal novo que é super foda, que pelo som ou comportamento acaba por influenciar, tais como Injetores, Desacato Civil e Banda Afronta de Fortaleza. Gostamos muito de tocar com os amigos do Insurreição que faz um Rock Horror com pegadas Punk.
2112. Vocês ouvem apenas sons punks ou como o The Clash estão aberto a vários tipos de músicas?

Reverendo Duda. Somos aberto a ouvir todos os som e tocar junto com todas as Tribos, a exclusão é fascista, somos da inclusão e já tocamos em festivais com Banda de Chorinho, MPB, Black Metal, Hard Rock, Roca Billy, Big Bandas de Blue e Jazz.
Eu e o Guitarrista Ronaldo adoramos tomar umas biritas ouvindo JAZZ e Blues, foi assim que nasceu nossa Canção Punk em homenagem a cantora dos EUA: "NINA SIMONE". Nosso Baterista Felip Gut toca em outras bandas de Rock’n’Rool, Heavy Metal e Jazz. Somos aberto e não temos preconceito musical, gostamos da boa música com cerveja gelada KKKKK

2112. O que vocês tem ouvido de relevante na cena hoje?

Reverendo Duda. Na Cena curti pacas o último show do Rattus e da Banda Juventude Maldita. Nos últimos dias ouvi bastante o som do Trassas e dos amigos Insolentes.

2112. ... o microfone é de vocês?

Reverendo Duda. Estamos na estrada com mais de 30 anos de idade para fazer o som forte do Punk Rock. Somos Eu, Reverendo Duda no vocal, Ronaldo na Guitarra, Felip Gut na Bateria e Pro no baixo. Não paramos e não estamos cansados por que nosso público vibra, canta nossas canções e bate cabeça para a conquista de um mundo melhor.

Próxima entrevista: Bumerangue Carma, dia 24

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