quinta-feira, 28 de março de 2019

Entrevista Santa Jam Vó Alberta


Mais uma descoberta interessante via internet e que sai muito do convencional ao misturar várias influências somado a belos vocais o que resulta numa música articulada e interessante. Um conselho: Para quem conhece continue curtindo e para quem não conhece procure ouvir...      

2112. Achei muito bacana a homenagem que vocês prestaram a grande Alberta Hunter ao incluir o nome dela no da banda. De quem foi a idéia?

Zito. Eu eu o Bubba (mandolim e voz da Santa Jam) tínhamos um projeto chamado Open Mic Vó Alberta já homenageando a Alberta Hunter... Em função do Open Mic conhecemos muitos músicos e reunimos muitos amigos que tocavam conosco e daí começou o projeto e daí veio o nome da banda.

2112.Chega ser estranho e ao mesmo tempo fascinante ver toda uma nova geração de músicos curtindo a sua obra. Como vocês tomaram conhecimento do trabalho dela?  

Zito. Todos na banda amam blues e ela ainda é um dos maiores nomes do estilo. Há quem a considere a embaixatriz do blues!
Quando você começa a investigar um estilo musical, um movimento, é inevitável recair sobre seus alicerces e claramente ela tem uma influência muito grande em tudo o que foi construído desde 1895 (ano do seu nascimento) até hoje.

2112.É possível que muitos de vocês nem tivessem nascido quando ela morreu. O que explica essa admiração pela sua obra?

Zito. A admiração por ela é uma equação de fatores emblemáticos! Ela foi uma das primeiras mulheres negras a se apresentar na década de 20, ainda como blueseira. Complexo. Um contexto onde o jazz tradicional estava se consolidando num cenário muito fechado e muito pouco claro no que tudo aquilo iria dar. Quando, então, ela vai consolidar sua carreira no jazz e parar tudo na década de 50 pra virar enfermeira. Ela bordava “eu gosto de cuidar das pessoas com a música ou com as mãos mesmo”. E volta pros palcos em 70 para o ápice da sua carreira apoteótica. Fala se não é uma vida difícil, inspiradora, densa e linda?

2112. Além de Miss Hunter o que vocês ouvem?

Zito. Johnny Cash, Sister Rosetta Tharpe, Jelly Roll Morton, Loui Armstrong, Puppini Sisters, Pokey LaFarge, Gonzagão, Secos e Molhados, Almir Sater, Antonio Nóbrega e muita coisa recente boa que tem por aí: Tekô Porã, Mustache e os Apaches, Perota Chingo, Wood Brothers... vai chão aí! Tá com tempo?

2112. Achei bem interessante essa mixtura que vocês promovem ao injetar no blues elementos do folk, do baião, da valsa, da violada, da música cigana, do jazz tradicional... Como vocês definem o som da banda?

Zito. Música Tradicional

2112. Seria essa a fórmula do tão sonhado blues brasileiro?

Zito. Bicho, a fórmula do blues tá na alma de quem toca. A fonte tá no Rio Mississipi, claro. Tal qual o baião tá lá no Velho Chico e difundida pelo sertão. Mas teu esforço, teu estudo e teu trabalho permitem que você com seu repertório (musical e de vida) interaja com isso e desenvolva o sotaque do seu blues. Saca?

2112. E os puristas nunca reclamaram dessa miscigenação sonora não?

Zito. Sinceramente nunca rolou nenhum baixo astral dessa ordem com a gente. Deve ser porque purista gosta de encher o saco e a gente ama fazer música. Meu chapa, música feita com amor num tem como sair errado! (Mentira. Tem sim!! Mas ficou uma puta frase linda pra terminar essa pergunta.)

2112. Uma vez fui duramente criticado ao afirmar que Cartola é tão importante quanto Robert Johnson. Fico extasiado só de imaginar suas músicas vertidas para o blues...

Zito. Cartola: gênio que mostrou como se consolidava a linguagem do samba com tudo o que ele tinha (sofrimento, alegria, amor, pouca grana, musicalidade). Robert Johnson: gênio que mostrou como consolidar o blues com tudo o que ele tinha (sofrimento, alegria, amor, pouca grana, musicalidade). São linguagens diferentes e sentimentos muito parecidos. Eu acho essa analogia entre os dois foda de boa! Manda os caras que te encheram o saco me ligarem. Eu amo falar no telefone!

2112. Cartola é um gênio da música popular brasileira. Um visionário que trouxe para o samba de raiz uma poesia visceral.

Zito. É isso, mano! O cara num era só um gênio. Mozart não era só um gênio! Eram caras que conheciam o que tavam fazendo, que estudavam, que sabiam se expressar. Que tinham conteúdo, que se aprimoravam todo dia, que buscavam na música a alma da porra toda. Música é um compromisso com você mesmo, com a tua polidez em expressar teu sentimento mais profundo.
2112. Mas voltando a Santa Jam falem um pouco sobre o surgimento da banda.

Zito. Bando de gente numa marcenaria numa segunda a noite depois do expediente fazendo uma roda de blues-baião. O resto eu JURO que não lembro!

2112. Hoje o blues está muito bem representado no cenário brasileiro com várias bandas e instrumentistas maravilhosos que inclusive tem público cativo no exterior. Isso apenas afirma que algo novo está acontecendo independente da opinião da grande mídia, não é?

Zito. Tá tudo aí! Se você fuçar, você vai achar coisas lindas na grande, na média, na pequena e na mídia-brotinho. ps. Eu amo fazer analogias de mídia com pizza.  Pizza é bom pra cacete, né!?

2112. Vocês inclusive já andaram fazendo shows pela Costa Oeste dos EUA. Como foi a recepção por parte do público americano?

Zito. Surreal!! Eles amam música brasileira, curtiram pacas nossas autorais e piraram quando tocamos Johnny Cash e June Carter. Um clássico ouvido lá: “oh god!! Do you really know Johnny Cash?” tipo… não não. Estamos tocando porque não conhecemos! Cazzo!

2112. Soube que o ponto alto dessas apresentações ocorreram em San Francisco e Carson City, Nevada. Isso é real?

Zito. Foda!! Também tocamos em Reno, Lake Tahoe e nos trens que ligam essas cidades! Que dias!!! Puta merda!

2112. Vocês chegaram a tocar no lendário Filmore?

Zito. O dia que tocarmos lá a gente vai fazer um banner do tamanho de Goiás e estender no mar. Ainda não rolou, mas quando rolar, você vai ficar sabendo por fotos da NASA. Fica relax!

2112. E o público argentino? Eles são realmente fanáticos por blues e rock como afirma as bandas que já tocaram lá?

Zito. Madre mia!! Amam. Enlouquecem. Ficam extasiados e deixam a gente com ainda mais tesão de tocar! Papo sério. Muito massa tocar lá.
2112. Falem um pouco sobre “Sinfonia Caipira” que registrou parte dessas viagens e que ganhador de melhor documentário musical e melhor filme do festival em Carson City.

Zito. Foi ideia do Nielsen (Denis Nielsen - Diretor e Roterista do documentário). Ele pira na banda e sugeriu de nos gravar indo tocar no Festival de Blues de Ibitipoca. Aí isso rendeu um documentário maravilhoso que nos levou para os EUA, México e agora pra Portugal. Lá em Carson City ganhamos melhor filme da categoria e melhor documentário do festival. O Nielsen é um cara foda demais!

2112. Este ano vocês estarão ocupados com agravação do primeiro álbum e a preparação da segunda parte do documentário. Pelo visto, será um ano bem intenso para a banda, não?

Zito. Demais. Mas criamos uma agenda do google que ninguém (da banda) usa e parece que agora tudo (não) vai dar certo!
ps. Zito adora usar entrevistas para alfinetar seus amigos de banda e de vida. Realmente ele é de um sarcasmo interessantíssimo, não é!?

2112.As composições já estão prontas?

Zito. Sim. Temos um rio de coisas prontas, mas estúdio dá um trabalho do demônio, então vamos soltar em fases durante os próximos anos. A ideia é que o primeiro EP seja mais autoral e os próximos tenham as autorais com releituras de canções tradicionais mais contundentes.

2112. Vocês já tem uma data prevista para a entrada no estúdio?

Zito. Tô indo pra lá depois de te responder esses trem todo aqui!
2112. Além do material autoral vocês pretendem incluir alguma releitura?

Zito. Pra esse disco, não! Mas pros próximos, sim!

2112.Vocês estão muito ansiosos? O que os fãs podem esperar deste trabalho?

Zito. Sim. Mas a gente usa droga pra ficar calmo! Mentira, crianças. Saiam dessa!

2112. ... o microfone é de vocês!

Zito.  Fazer música é do caralho! É difícil, mas é do caralho. Se você que estiver lendo isso gosta de música, pelo amor de deus, larga isso e vá tocar suas parada! Sai na rua cantando alto. As pessoas piram nisso. beijomeliga

Santa Jam é:

Ivan Staicov - Zito - Vocal / Banjo / Mandolin / Violão 12 / Gaita / Piano

Pedro Cury - Pedrinho - Vocal / Violão / Mandolin / Mala-bumbo / Percussão

Danilo Ruiz - Dan Daniel Cantor que só anda a cavalo - Vocal / Violão / Banjo / Percussão

Pedro Marini - Magrão - Vocal / Contrabaixo / Mandolin

João Paulo Lopes - Juju Sanfoneiro - Vocal / Sanfona / Caixa / Zabumba / Surdo / Washboard

Daniel Oliveira - Déniel - Vocal / Piano / Violão
Bruno Motta - Bubba - Vocal / Mandolin / Violão 12 / Violão / Lap Steel / Piano e só

@santajamvoalberta
cargocolective.com/santajam 

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