quinta-feira, 21 de março de 2019

Entrevista Medusa Trio


Assistindo aos vídeos no YouTube vejo que a cena brasileira é bem mais interessante e diversificada do que mostra as revistas e jornais. E foi numa dessas visitas que conheci o Medusa Trio e levei um baita susto ao saber do seu tempo de estrada. Uma bandaça que merece todo o nosso respeito e admiração e que me deixou muito orgulhoso em aceitar fazer esta exclusiva.

2112. Recentemente o Medusa Trio lançou o segundo álbum em comemoração aos seus dez anos de estrada. Vocês poderiam traçar um perfil da evolução dos trabalhos desde a sua pré-produção até o término das gravações?  

Fernando Tavares. Foi legal ajudar o Medusa na pré-produção. O bacana foi que um dia sentamos para bater um papo e o Medusa me falou sobre a vontade de lançar um álbum completo e no meio das conversas, peguei um papel e começamos a anotar o que o Milton tinha de composições e percebemos que o álbum estava completo. A pré, foi feita na minha sala de aula, nos intervalos que tínhamos e foi super legal, gravamos tudo juntos e montamos as linhas de baixo ali, durante a pré.

Milton Medusa. Como o Fernando disse, ele me ajudou muito na organização do repertório e arranjos. Dessa forma, tudo fluiu tranquilamente, pois algumas músicas já faziam parte do repertório desde o nosso início e outras foram surgindo no decorrer dos anos. Basicamente, elaboramos tudo em 7 meses, e gravamos as guias com bateria eletrônica para facilitar o processo, mas assim que terminávamos um novo arranjo, encaminhávamos para o Pagoto trabalhar em cima do material. Sendo assim, testamos os arranjos em alguns shows e em audições antes de iniciarmos as gravações. Este processo otimizou demais a gravação, pois cada um gravou sua parte com tranquilidade e eu tive bem mais tempo para explorar as camadas de guitarra que foram surgindo no estúdio, ao longo de 6 meses.

Luis Pagoto. O Fernando e o Medusa gravaram as guias com bateria eletrônica na pré-produção, com mapas certos e sugestão de batidas e feels, então, acatei algumas e mudei outras. Em apenas três seções gravei o cd todo, que foi muito bem captado pelo Edson (técnico do estúdio).

2112. Para muitos críticos o segundo álbum é a prova de fogo de uma banda. Como vocês vêem esse momento?

Milton Medusa. Acho que é um momento de afirmação e de registro de um trabalho sério que vem sendo desenvolvido há muitos anos, pois muitas pessoas nos cobravam um álbum completo e assim o fizemos, com uma campanha de crowdfunding que nos ajudou muito a lança este trabalho! A repercussão está sendo acima de qualquer expectativa, pois as resenhas foram as melhores possíveis e ainda tivemos os integrantes do Medusa Trio como os melhores do ano de 2018, em duas votações: eu fui o primeiro colocado no Rock Brasileiro Ponto Net e Quem Sabe Faz Autoral; Fernando Tavares foi o primeiro colocado no Quem Sabe Faz Autoral, além de Luis Pagoto ter sido o terceiro colocado no mesmo site.

Fernando Tavares. O álbum tem recebido várias críticas positivas e estamos muito felizes com isso.

Luis Pagoto. Mais velhos e experientes.

2112. Qual o elo de ligação entre o novo trabalho e o EP lançado em 2009? Afinal são oito anos entre um trabalho e outro...

Milton Medusa. O primeiro EP foi gravado quando tocávamos com frequência as 3 músicas presentes no trabalho, sendo que somente a faixa "Anos 70" teve seu arranjo finalizado na véspera das gravações. Então, tudo foi feito naturalmente e aproveitando ao máximo os recursos de então, do estúdio da gravadora Som Original. Depois disso, tivemos mudanças constantes de baixistas e continuamos desenvolvendo vários projetos especiais com outros artistas. Creio que amadurecemos bastante como músicos e pessoas nesse hiato entre uma gravação e a outra. O elo de ligação principal é que regravamos 2 faixas: a já citada "Anos 70" e "O Blues do Rock", que ficaram com arranjos mais enxutos, além de aproveitarmos a gravação de "Blues do Medusa", pois creio que esta tem uma performance definitiva e quase não a tocamos mais ao vivo. Portanto, nada a mexer nela.
2112. As gravações foram realizadas num dos melhores e mais modernos estúdios do país: o Estúdio Purosom. Foi tudo tranquilo?

Milton Medusa. Foi tudo tranquilo, feito com muita alegria e disposição para fazer o melhor possível. O Edson Paulino foi o meu primeiro professor de guitarra, em São Paulo, então, tínhamos muitas figurinhas para trocarmos durante o processo de gravação. Ele gentilmente me cedeu vários instrumentos que acabei utilizando em dobras e até em alguns improvisos, como guitarras Gibson Les Paul, Fender Strato e Violão Martin, além de cerca de 7 amplificadores diferentes. Gravei as principais partes com a minha guitarra hand-made, feita pela Hourneaux Oficina de Luthieria, e meu amplificador Mesa Boogie, modelo Subway Rocket. Exploramos ao máximo todas as combinações possíveis com pedais de butique, também, e, na minha opinião, a variedade de timbres ficou acima da média.

Fernando Tavares. O Edson é um excelente cara e muito dedicado, também. As gravações do baixo foram super divertidas e ele soube extrair os melhores timbres do instrumento. Tínhamos dois modelos de baixos para a gravação, um PJ e um Jazz Bass e escolhemos o melhor timbre para cada passagem.

Luis Pagoto. A captação de bateria foi ótima, pois o meu gosto e do Edson é o mesmo, tanto na afinação como na captação. Foram usados vários microfones de ambiência e usei a bateria do estúdio, além de várias caixas. O resultado foi maravilhoso.

2112. O trabalho contou com um verdadeiro elenco estelar de grandes músicos como Willie de Oliveira (ex Rádio Taxi, ex Tutti Frutti), Daril Parisi (ex Platina), Fernando Cardoso (Violeta de Outono e Som Nosso de Cada Dia), Sérgio Hinds (O Terço), Robertinho do Recife, Mozart Mello (Terreno Baldio) e o grande bluesman André Christóvam. Como foi juntar toda essa turma no estúdio?

Milton Medusa. Bom, foi uma grande alegria ter todos estes grandes artistas que são nossos amigos e parceiros, que fazem parte da nossa história, nesta gravação! Nem todos puderam comparecer ao estúdio, mas enviaram arquivos de outros lugares. Willie de Oliveira, Daril Parisi e Sérgio Hinds, estiveram conosco no Estúdio Purosom, em São Paulo, e foi um grande aprendizado trabalhar com eles. Fernando Cardoso gravou o órgão Hammond comigo no estúdio Audio Freaks, em São Paulo, também. Já Robertinho de Recife e Mozart Mello, enviaram suas partes de seus próprios estúdios. André Christóvam reside na Escócia, e gravou sua parte num estúdio local. Então, essa acabou sendo até uma participação internacional. Os guitarristas participaram da mesma faixa, "6 Cordas & Muitas Alegrias", composta especialmente para eles. Fernando Cardoso gravou o Hammond em 4 faixais e Willie e Daril, fizeram os vocais na única música cantada do álbum, "Ganhar e Perder".

2112. Ao contrário do primeiro EP mais voltado para o blues rock o novo trabalho abriu as portas o progressivo, o hard rock, o fusion, temas instrumentistas e elementos do mítico Clube da Esquina. O que mais motivou vocês a fazerem essa mudança?

Milton Medusa. Bem, no início do Trio, o trabalho era mais voltado ao Blues Rock, mas como temos muitas influências distintas e em comum, foi uma evolução natural compor nos estilos citados. Eu comecei tocando Hard Rock e Rock'n Roll, então, estes estilos são muito naturais para mim e, sendo o principal compositor, não tem como fugir dessas referências. Todos nós gostamos muito de progressivo, como Rush, Yes e Kansas, e gostamos de improvisar bastante ao vivo, da mesma forma. Já o Clube da Esquina, é uma paixão em comum, e já fizemos até um show temático sobre o estilo. Acabamos regravando "O Trem Azul", como uma homenagem aos músicos mineiros e, consequentemente, por representar o nosso repertório de versões instrumentais para o estilo.

Fernando Tavares. A minha identificação com o Medusa foi imediata, pois gostamos de várias coisas semelhantes. Ele só é um pouco mais Hard Rock e eu um pouco mais progressivo (risos), mas a paixão pelo blues e pelo clube da esquina é igual.
2112. Sendo professores de música torna necessário ouvir vários estilos musicais. Isso de uma maneira direta ou indireta acaba influenciando o trabalho de vocês não?

Fernando Tavares. Sim, tenho uma mente aberta para escutar o que me é mostrado, principalmente pelos alunos, é muito divertido entrar no universo musical deles e descobrir coisas novas muito legais. A influência sempre se dá pelos elementos que absorvo de cada músico que escuto e aquilo que consigo trazer de característico para o som que estou pensando em fazer no momento.

Milton Medusa. Sim! Todos nós temos larga experiência na área didática, trabalhamos juntos e aprendemos muito com os alunos. É uma troca de conhecimentos, na verdade. É legal, pois ficamos sempre antenados com o gosto das novas gerações e é bom para poder compararmos com o que estudamos e aplicamos em nosso trabalho autoral.

Luis Pagoto. Sim. Ouvir e tocar vários estilos. No Brasil, se você não fizer isso, fica limitado para os trabalhos que possam surgir.

2112. Eu sempre digo que um músico/banda só cria uma identidade própria quando ele se abre para vários tipos de sons. Vocês concordam com isso?

Milton Medusa. Concordo plenamente! Acho que o que funcionou no Medusa Trio desde o início, foi que cada integrante trouxe uma vivência diferente e isso acabou sendo o nosso diferencial, pois tocamos de uma forma bem aberta, sem ficarmos presos aos padrões tradicionais de cada estilo, por exemplo.

Fernando Tavares. Hoje em dia isso é verdade, pois temos contato com uma gama muito grande de músicos e estilos, mas é difícil dizer que isso sempre foi uma "regra", já que se imaginarmos um músico lá no pantanal brasileiro na década de 60, por exemplo, acho que a probabilidade dele ter alguma influência fora da música que conhecia era bem difícil, mas mesmo assim tivemos uma Helena Meirelles que foi reconhecida mundialmente pelo seu estilo 

Luis Pagoto. Concordo, também.

2112. Aproveitando o momento deixe eu tirar uma dúvida: Tem músicos que defendem a tese que a técnica é o mais importante, outros já dizem que o feeling é tudo e por último tem aqueles que só querem ligar a tomada e tocar. Afinal, quem está certo?

Fernando Tavares. (risos) Essa será uma discussão eterna. Eu penso que a técnica deve servir para você executar aquilo que está na sua mente ou que você está sentindo, ou seja, se você estiver sentindo uma nota cheia de cor, vibrato e tudo o mais, mande com toda a certeza e bem executada, agora se você estiver sentindo um milhão de notas e quer colocá-las para fora, fique à vontade. O importante é ser honesto com aquilo que você acredita, deste modo a música sempre retribuirá.

Milton Medusa. Acho que todo músico se expressa da melhor forma que pode, incluindo todos estes elementos ou não. No meu caso, sou considerado um guitarrista bastante técnico, mas sempre prezo minhas performances pelo que a música pede, não tem como ser diferente. Acho necessário desenvolver técnica para você ter a habilidade devida, para se expressar ao máximo em seu instrumento.

Luis Pagoto. Músico do futuro é aquele que une feeling com técnica e tecnologia.

2112. Nos workshops que vocês ministram o que vocês mais gostam de frizar e quais são as maiores dúvidas dos músicos presentes?

Fernando Tavares. Harmonia é um assunto que a galera tem um certo fetiche. Geralmente gira em torno disso, mas quando eu começo a explicar que na música existem outros parâmetros com igual importância, como o ritmo, a dinâmica, a técnica, entre outras coisas, o pessoal costuma ser bem receptivo também e os meus alunos, por exemplo, se interessam muito por estas ideias.

Milton Medusa. Os participantes tem muita curiosidade em saber sobre o que nos influenciou e como é a vida de músico, em geral, e estes assuntos descontraem bastante o ambiente. Costumo dizer que independentemente da linha que for seguir, o músico deve sempre fazer com paixão e dedicação máxima, pois é assim que você pode se diferenciar no meio musical. Ou seja, passar a sua verdade, como já citado.

Luis Pagoto. Dúvidas técnicas, em geral.

2112. Que conselhos são essenciais para um músico seja ele novato ou não?

Fernando Tavares. Sempre faça o que a música pede. O baixista tem que entender que a região aguda não lhe pertence na maior parte do tempo (risos), ele pode ir lá de vez em quando beliscar um pedacinho, mas ele tem que fazer a música rolar e com certeza tem alguém trabalhando naquela região, quando alguém te der um espaço você vai lá e faz acontecer. Me incomoda brigar por frequência com outros músicos, por isso escolhi tocar contrabaixo, já que a parte grave me pertence (risos). 

Milton Medusa. Leve a música a sério e se divirta estudando-a! Estudar música não é como uma matéria comum, com todo o respeito às demais. As dificuldades são muitas e você só vai superá-las com muita dedicação e paixão!

Luis Pagoto. Horas bunda (senta no banco e estuda).

2112. Como as pessoas podem adquirir matérias de divulgação ligado à banda?

Milton Medusa. Através das páginas do Facebook e Instagram, sendo que o álbum "Medusa Trio 10 Anos!", também está disponível nas plataformas digitais, mas sem a música “O Trem Azul”. Além disso, em nossos shows sempre temos o nosso merchandising à venda, como os cd's, camisetas, palhetas e apostilas de cada integrante.

2112. E para agendar shows?

Milton Medusa. Através das mesmas páginas citadas.

2112. O Medusa Trio tem doze anos de estrada e com certeza muitas histórias bacanas para contar. Como contar uma trajetória de dez anos em dez minutos?

Milton Medusa. Conseguimos manter o nosso trabalho instrumental, desenvolvendo vários projetos em paralelo para nos mantermos em atividade, pois os espaços para o nosso estilo ainda são restritos. Então, continuamos acompanhando artistas e já tocamos com muitos músicos, em diversas formações, e somos muito gratos à todos que dividiram o palco conosco, em algum momento!

2112. ... o microfone é de vocês!        

Fernando Tavares. Apoiem a música autoral, seja ela cantada ou instrumental. É importante para o músico ter público e as pessoas precisam conhecer coisas novas para o mercado sempre se reciclar. Tem muita gente fazendo música legal. E o mais bacana é que hoje está tudo aí para todos. E não se esqueçam, a música sempre abraça aqueles que se dedicam a ela!

Luis Pagoto. Obrigado pelo espaço!

Milton Medusa. Muito obrigado ao Blog 2112 pelo espaço e por divulgar os bons sons! Continuamos na estrada e espero que vocês possam conhecer melhor o nosso trabalhos, através das mídias digitais, principalmente no nosso canal do YouTube. Muito obrigado pelo apoio de todos em todos estes anos. Abraços para todos!

Próxima entrevista
 

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