Uma das vantagens da música é que
ela vive em constante mutação mas não esquece as suas raízes... esse é o seu
segredo! E o que O que o Bardo e o Banjo faz é justamente isso, trazer de volta
uma das muitas influências do rock: o bluegrass, um dos pais da country
music. Leiam atentamente, compre os cds e vá aos shows. Tenho certeza que irão
se divertir bastante!!
2112. O cenário musical tem se renovado com
uma série de bandas interessantes e ouvir o trabalho de vocês foi muito
gratificante. Como surgiu a idéia de montar uma banda de bluegrass no país do
samba?
Marcus Zambello. Realmente não foi algo
intencional o Wagner Creoruska, banjoista e fundador da banda, tocou em umas
bandas de rock e gostava de bandas como Lynyrdy Skynyrdy, Credence Cleawater
Revival e outras que tinha influência da música country norte americana e até
bandas como Hayseed Dixie que fazem covers versão bluegrass, foi ai que ele
conheceu o estilo e se apaixonou pelo banjo, depois disso ele comprou um banjo
e em 2012 ele resolveu experimentar tocar banjo nas ruas de São Paulo e foi um
experiência tão promissora que mais tarde acabou virando um banda
2112. Qual é a primeira reação das pessoas
quando vocês começam a tocar?
Marcus Zambello. São as mais variadas possíveis,
tocamos em vários tipos de lugares, quando tocamos em lugares que não tem
muitos fãs nossos é uma surpresa completa e as vezes você percebe que as
pessoas demoram até pra entender o que está acontecendo hahaha mas pelo fato da
música de ser tão animada as vezes a pessoas entram no clima de festa em poucos
segundos, mesmo se tocamos para uma platéia que não conhece a gente
2112. A cena underground está bem mais
forte e organizada com o advento da internet que gerou diversos veículos
alternativos de divulgação o que deixa vocês “bandas” mais independentes e
também mais próximas do seu público, não é?
Marcus Zambello. Sim a internet tem um lado bom
é uma ferramenta que possibilita isso a democratização dos espaços, hoje você
pode estar no meio do caminho entre uma banda "mainstream" e uma
banda "independente desconhecida", você pode gerenciar a sua carreira
e se livrar do monopólio que existia, no entretenimento hoje em dia você
consegue ser um artista seguido por milhões de pessoas e ao mesmo tempo um
completo desconhecido para as pessoas que não gostam daquilo, as coisas estão
mais segmentadas.
2112. Outra coisa bacana na minha opinião é
a diversidade de estilos. Afinal tem banda para todos os gostos e o que é
melhor gravado em português...
Marcus Zambello. Sim isso é incrível na minha
opinião também, acho que maior barreira para as bandas novas são os sentimentos
nostálgicos que o próprio público alimenta, tem muita banda experimentando
coisas novas. As bandas de rock clássicas experimentaram e misturavam muito, as
novas bandas são as variações dessas misturas que aconteceram no passado, seria
uma espécie de miscigenação da miscigenação hahaha uma que eu escutei
recentemente e achei incrível é El Efecto. Isso que acontece é um fenômeno
cultural que se renova e pelo fato das coisas estarem mais segmentadas só acha
isso quem procura, mas ainda sim é melhor do que antigamente onde talvez nunca iríamos
talvez ouvir de falar dessas bandas
2112. Essa valorização da língua portuguesa
é muito importante pois torna os trabalhos bem mais acessível ao ouvinte, não
é?
Marcus Zambello. Música tem haver com conexão
uma letra pode mudar a vida de uma pessoa, quantas vezes já ouvimos alguém
falar " nossa parece que essa música foi feita pra mim" " essa
música representa minha vida" quando você canta em uma língua que não é
nativa daquele povo isso já vira uma barreira, a pessoa às vezes não se sente
tão bem representada ou a conexão não é tão efetiva. É tão louco isso que
bandas que cantam em inglês e tem sotaque não tentam os mercados EUA logo de
cara, as vezes adotam estratégias de tentar lugares que o inglês é segunda
língua para ter uma melhor aceitação. Nos anos 70 80 e 90 o mercado era mais
controlado por grandes gravadoras eles podiam enfiar goela abaixo bandas
internacionais tocando e falando delas exaustivamente até a gente gostar e se
conectar com aquilo, hoje em dia não é mais assim você ouve o que quer.
2112. O bluegrass é um dos ancestrais do
country e consequentemente um dos padrinhos do rock’n’roll. Quais bandas mais
influenciam o trabalho de vocês?
Marcus Zambello. Nossa a gente ouve Bluegrass
raiz como Bill Monroe, Earl Scruggs ... Bluegrass moderno como Punch Brothers,
Greensky Bluegrass ... Country Outlaw como Hank Willians ... os clássicos do
rock que é nossa formação musical da nossa adolescência Lynyrdy Skynydy, Allman
Brothers ... Folk Moderno como Mumford and Sons ... e claro as bandas dos
nossos amigos que tem haver com a gente como Hillbilly Hawhide, Terra Celta ...
2112. Esse estilo musical se utiliza
basicamente de instrumentos acústicos como o banjo, guitarra acústica, violão,
baixo acústico, dobro e violino com os músicos se revezando entre solos e
improvisos e os demais fazendo o acompanhamento. Vocês mesmo fazem os arranjos?
Marcus Zambello. Sim, o processo de composição é
sempre alguém fazer a letra e/ou a música e depois nos reunimos para criar os
arranjos juntos e vamos opinando e lapidando até chegamos em um ponto que
ficamos felizes com o que ouvimos
2112. A banda já lançou quatro álbuns sendo
dois de releituras e dois autorais além de dois EP’s. Como é o processo de
composição de vocês?
Marcus Zambello. Os covers normalmente são
música que gostamos ou que achamos que vais ser legal no show. O processo de
composição do CD Homepath foi o Wagner Creoruska Jr. (banjo, percussão e voz)
que veio praticamente com todas as ideias de músicas e letras e a gente fazia
os arranjos das músicas em conjunto. Já esse nosso novo CD O Tempo e a Memória
a banda toda compôs para o CD a maioria das músicas ainda são do Wagner mas tem
partes de letras que eu compus, refrões que o Maurício escreveu ... então foi
mais participativo e tem um pouco mais da característica de cada músico.
2112. O novo álbum “O Tempo e a Memória”
foi todo gravado em português num fato inédito dentro do estilo. O que levou
vocês a tomarem essa decisão?
Marcus Zambello. Uma parcela dos nossos fãs
pediam isso fazia um bom tempo, nós achávamos uma boa idéia, mas tínhamos a
ressalva de não saber se ia dar certo se íamos realmente gostar e o desafio de
fazer algo novo, sem muitas referências da onde íamos chegar, mas no final
adoramos o resultado
2112. O álbum está tendo uma boa aceitação?
Marcus Zambello. Sim está sim, agora tem muita
mais gente cantando nossas músicas nos shows hahahah
2112. Vocês também fazem o circuito
sertanejo de shows como rodeios, vaquejadas...
Marcus Zambello. Isso é muito louco, nosso maior
público é a galera que gosta de rock e tem um pessoal que gosta de sertanejo
também que gosta da gente, mas hoje em dia o sertanejo que está em alta não é o
sertanejo raiz ou o sertanejo romântico do Xitãozinho e Xororó que tinha como
grande influência muita coisa da música country, talvez seja por isso que não
estamos nesse mercado, mas seria legal ver O Bardo e o Banjo nesse circuito eu
acho que tem haver principalmente com o sertanejo raiz.
2112. Como já mencionei acima a banda tem
dois álbuns de releituras de rock. Qual foi o critério utilizado por vocês na
hora da escolha das músicas?
Marcus Zambello. O critério era a gente gostar,
depois pensávamos " se a gente tocar de outro jeito será que fica legal?
" então experimentamos algumas coisas, pra ver se funcionava.
2112. Vocês seguiram os arranjos originais
ou incluíram algumas mudanças nos andamentos?
Marcus Zambello. Depende da música tem músicas
que simplesmente era só a gente tocar do jeito que ela era apenas transpondo
para os nossos instrumentos e pronto, mas tem algumas que precisam de muitas
adaptações. Os andamentos normalmente mudam pra mais rápido hahaha
2112. Em 2015 a banda teve a música “You
Need Some Hope” do álbum Homepath foi incluída na novela I Love Paraisópolis. A
participação na trilha sonora de uma certa maneira abriu portas para a banda?
Marcus Zambello. Sim, no final tudo que você faz
movimenta de alguma maneira, aparecer na novela em si não mudou muita coisa, no
final acaba sendo muito mais do trabalho que você desenvolve como todo e das
pessoas que se identificam com você, mas a novela ajudou naquele momento.
2112. O trabalho musical de vocês é bem
criativo ao misturar o bluegrass ao rock, música brasileira, música irlandesa,
blues... tirando o ritmo de sua área segura para se jogar num terreno de
experimentações constantes. Os puristas não reclamam?
Marcus Zambello. Acho que se fosse em outra
época sim, mas eu sempre me surpreendo com a aceitação do nosso público, às
vezes eu particularmente tenho uns receios nesse sentido e no final eu penso
" a música está boa?" "eu estou sendo verdadeiro comigo mesmo
" " eu acredito nisso que eu faço " e quando as respostas para
essas perguntas são "sim" assustadoramente o público adora. No final
parece que quando você é verdadeiro com você mesmo a coisa flui melhor. Sempre
tem um chato, mas na maioria das vezes esse comentário não existe ou não chega
até a gente.
2112. Esse fato me lembrou da gravação de
Like a Rolling Stone do Bob Dylan que ao misturar folk com rock foi vaiado e
xingado em vários shows. Vocês já passaram por uma situação semelhante?
Marcus Zambello. A música mais ousada na minha
opinião é " Moda de Banjo " mistura Bluegrass, Moda de Violão, Baião,
Xote ... e no final ela á a música mais escutada no nosso Spotify eu acho
maravilhoso isso, acho que vivemos em outra época realmente as pessoas que
gostam de música estão com a cabeça mais aberta, com certeza tem pessoas de
mente fechada, mas acho que esse número reduziu e como tudo está mais
segmentado talvez as pessoas que não gostariam do nosso som simplesmente não
chegam a nos conhecer.
2112. Recentemente entrevistei a banda Vlad
V de Santa Catarina que incluiu num álbum de releituras a gravação de Child In
Time do Deep Purple com um belo solo de flauta. Acredito que sem ousadia na
gravação ela deixa de ser uma releitura para ser apenas uma mera cover. Além do
mais o artista tem o direito de se expressar como quiser não é?
Marcus Zambello. Os caras do Vlad V são
incríveis já fizemos um show com eles em Santa Catarina muito tempo atrás,
realmente arte não tem limite ela existe para nos expressarmos e acho que impor
muitos limites e regras para isso você perde oportunidade de ser único.
2112. Além dos shows de divulgação do novo
álbum vocês tem novos projetos na pauta?
Marcus Zambello. Estamos tentando gravar vídeos
clipes para divulgar esse nosso álbum, mas a vida de banda independente sem
investidores tem algumas limitações hahaha estamos fazendo shows de divulgação
viajando o Brasil e estamos estruturamos novos planos, temos alguns, mas um
passo de cada vez estamos nos organizando para novos voos
2112. Qual o balanço que você faria após
seis anos de existência da banda?
Marcus Zambello. Seria o aprendizado que tivemos
como banda, como amigos trabalhando juntos e entendendo sobre o mercado musical
e batalhar pelo sonho de falar com as pessoas através da música, tudo isso
cansa quem tem banda sabe, mas é algo realmente gratificante trabalhar com
música
2112. Além de vocês existem outras banda de
bluegrass no Brasil?
Marcus Zambello. Existem, tem o Conjunto
Bluegrass Portoalegrensse, Cartas na Rua, Gigito ... muitas vezes não considero
a gente como uma banda de Bluegrass porque a gente mistura tanta coisa com
Bluegrass que fica difícil dizer que somos uma banda de Bluegrass, as vezes
falo que a gente é uma banda de Folk Rock, mas as vezes falo Bluegrass porque
algumas pessoas acham nosso som tão diferente que elas querem ouvir uma palavra
diferente para definir nosso som hahaha.
2112. Confesso que foi um grande prazer
entrevistar a banda e saber um pouco mais sobre a sua história. O microfone é
de vocês...
Marcus Zambello. O prazer é todo nosso, obrigado
pela oportunidade. Eu quero convidar a todos para ouvir nosso novo CD O Tempo e
a Memória que está em todos os streamings de música e principalmente para irem
nos nossos shows é a melhor maneira de incentivar a música que você gosta.
O Bardo e o Banjo:
Wagner Creoruska – Banjo
Marcus Zambello - Bandolim
Maurício Pilcsuk – Baixo Acústico
Peter Harris - Violino
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