segunda-feira, 16 de abril de 2018

Entrevista Claudio Dantas


Quando se fala em rock progressivo brasileiro um dos primeiros nomes que vem à mente é o do Quaterna Réquiem, justamente por ser uma das colunas sagradas do movimento. O grupo lançou apenas quatro álbuns e um quinto que está sendo projetado em 32 anos de carreira... E quem nos conta toda essa história e mais algumas novidades é o seu incrível baterista Claudio Dantas. Acomode-se, pois vamos começar a nossa viagem rumo ao planeta prog!


2112. A primeira vez que ouvi falar do Quaterna Réquiem foi em 1990 quando vocês lançaram o vinil de Velha Gravura. Fui surpreendido com o som que muitos diziam estar morte desde o surgimento do punk rock. Velha Gravura é um belo disco, uma verdadeira obra de arte...  


Claudio Dantas. Obrigado Carlos. Gravamos o Velha Gravura após aproximadamente um ano de ensaios e alguns shows. Temos muito orgulho deste álbum, pois consideramos quem foi um dos que reabriu as portas do Rock Progressivo no mundo. Na época pouquíssimas banda ainda se enveredavam pelo estilo.  



2112. Mas o punk de uma certa maneira deu uma balançada no cenário musical prog visto que bandas como Yes, Pink Floyd, Emerson, Lale & Palmer, Genesis... deixaram de lado as grandes suítes e experimentações e passaram a produzir músicas com tempos menores. Qual a sua opinião a respeito disso?


Claudio Dantas. É o ciclo da vida, eu acho. O que lamento é se a maioria dos fãs realmente escutassem pelo amor à música, o estilo não seria destruído como foi no final dos anos 70. Mas considero que após 1990 o prog voltou com muito mais força e não parou mais. Nunca tivemos tantas e tão boas bandas e seguidores no mundo, e principalmente no Brasil.     



2112. Álbuns como Drama/90125 (Yes), Love Beach (Emerson, Lake & Palmer), And Then There Were Three (Genesis), A Momentary Lapse Of Reason (Pink Floyd), A (Jethro Tull)... já dava uma visão do que viria pela frente. Sei que mudar é necessário mas era necessário uma virada tão radical?


Claudio Dantas. As grandes bandas foram massacradas pela virada, e tiveram que tentar sobreviver. Claro, consequência também de estarem no auge de vendas e consumo. Como disse acima, acredito que boa parte dos fãs/consumidores estavam na onda pela onda e não por amor ao estilo. A onda virou e foram atrás...   



2112. Pessoalmente não gosto da maioria das bandas de neo prog levando em conta que deixaram de lado o clássico, o erudito, o folclórico, as experimentações  para usarem elementos do pop em sua música o que deixou o movimento mais acessível mas sem os “elementos” que tornaram o movimento grande como foi. Mas o cenário tem se renovado com bandas focadas nos trabalhos desenvolvidos nos anos 70. Quem você indicaria como interessante entre as novas bandas?    


Claudio Dantas. Bom, na verdade é uma contradição juntas os termos renovação e foco nos anos 70, né? Eu respeito todo trabalho autêntico, seja de vanguarda ou influenciado por outras eras. Não adianta ter um trabalho sem conteúdo com um Hammond e um Mini Moog e dizer que é prog. Sempre falo que a cena aqui no Brasil nunca foi tão rica e sólida pois hoje temos bandas com muito mais personalidade do que nos 70’s. Unitri, Tempus Fugit, Arcpélago, Vitral e muitas outras.     


2112. Este ano o Quaterna Réquiem faz 32 anos que surgiu no cenário prog. Nós, fãs da banda podemos esperar por alguma novidade? 


Claudio Dantas. Elisa já está compondo pro próximo trabalho! 



2112. A primeira fornada de Velha Gravura foi através do Selo Faunus, não é? Como surgiu o contato? 


Claudio Dantas. Na época, vários selos nos procuraram pra lançar o Velha Gravura. A Faunus foi a que apresentou a proposta mais viável para nós. 



2112. Acho Toccata, Velha Gravura, Aguartha... verdadeiros clássicos do prog mundial. Você pode contar um pouco como foram as gravações deste álbum?


Claudio Dantas. Obrigado! São composições da Elisa Wiermann que já tocávamos em shows antes de irmos pro estúdio. Gravamos no Estúdio Serapis Bey no Rio. O proprietário, Kao Rossman, era tecladista e o estúdio tinha tudo o que podemos imaginar de equipamentos e instrumentos de ponta, inclusive um Mellotron! A bateria que usei foi uma Gretsh igual a do Phill Collins!



2112. Velha Gravura foi lançado num período em que o rock brasileiro gozava de muita popularidade e vocês ao contrário de bandas como Raimundos, Paralamas do Sucesso, Titãs, Sepultura... vieram com uma proposta contrária ao que estava tocando nas rádios. Foi difícil bater de frente?


Claudio Dantas. Pelo contrário! Após o hiato desde o surgimento do grande Bacamarte, havia uma carência enorme pelo rock progressivo. Fomos muito bem recebidos pelos admiradores do estilo que estavam sedentos de prog... A maioria são nossos amigos e nos prestigiam até hoje.

2112. Vocês o lançaram no exterior? 


Claudio Dantas. Sim. Não havia a divulgação instantânea da internet, mas todos os bons lojistas especializados compraram muito e faziam trocas com lojistas de fora. Recebemos muitas cartas de todos os lugares do mundo. Ainda as possuímos!  



2112. Quasimodo trouxe de volta as velhas suítes que tantas saudades deixaram quando foram abolidas pelas bandas prog no final do anos 70. Acredito que os álbuns Close To The Edge e Tales From Topographic Oceans ambos do Yes tenham sido o ápice deste formato. O que motivou vocês a gravarem a faixa título com quase 40 minutos de duração?  


Claudio Dantas. Quasimodo foi o resultado da paixão da Elisa pelos clássicos da literatura. Foi baseado no romance “Nossa Senhora de Paris”, de Vitor Hugo, um épico. Seria impossível fazê-lo menor...



2112. Como foi a gravação desta música?


Claudio Dantas. Sensacional. Era sempre maravilhoso entrar em estúdio com a abanda inteira e montar as peças aos poucos. Uma interação e uma paixão que se perdeu com a nova - e ótima – tecnologia; hoje cada integrante grava sua parte em casa. Pitoresco foi a entrada do Monge à caráter no estúdio cheio de roqueiros, pra gravação do Canto Gregoriano...  



2112. Em 1999 vocês lançaram Livre gravado ao vivo no Rio Art Rock Festival em 1997 quando abriram para a banda sueca Par Lindh Project. Havia muita cobrança por parte dos fãs para a banda lançar um disco ao vivo?   

Claudio Dantas. Sim. E foi uma boa oportunidade, já que o Leonardo Nahoum - produtor do Rio Art Rock - sempre gravava os shows profissionalmente. O Quaterna sempre teve uma boa reputação ao vivo...  



2112. O seu solo ficou magnífico... 


Claudio Dantas. Muito obrigado! Tentei fazer como uma peça musical, não como uma demonstração de técnica ou coisa parecida...



2112. O Arquiteto foi lançado dezoito anos depois de Quasimodo. Porque levaram tanto tempo para lançar um novo álbum de estúdio e o que aconteceu neste meio tempo? 


Claudio Dantas. Mesmo com todo o apoio e incentivo que temos, ainda é muito difícil se dedicar exclusivamente ao trabalho autoral de rock progressivo. O Quaterna Réquien nunca parou, mas de um tempo para cá a idade e a maturidade nos obriga a fazer menos evento com mais qualidade. Foi o caso do show no Teatro do BNDES em setembro de 2017. Colocamos o trabalho no edital da casa e fomos selecionados em primeiro lugar – no quesito música erudita!



2112. O álbum traz lindos temas como a imponente suíte título, a delicadeza de Mosaico, Fantasia Urbana com o seu belo trabalho de órgão, Preludium com o duelo de guitarra, violino e sintetizadores que tiram o fôlego do ouvinte. Como é o trabalho de composição de vocês?


Claudio Dantas. Elisa compõe as partes dos instrumentos com exceção da bateria. Claro que há alguns solos em que cada instrumentista cria.
2112. Quais são as influências da banda?


Claudio Dantas. Elisa é formada em piano pela Escola de Música da UFRJ, assim é inevitável a influência de Música Erudita, principalmente a Barroca. E os grandes mestres do estilo, principalmente ELP.



2112. Qual é a sua formação musical? Você é autodidata?


Claudio Dantas. Tive aulas com um grande baterista nos anos 80, José Thomas, que era especializado em samba e ritmos cubanos. Isso me ampliou muito a gama da bateria pro rock progressivo.



2112. Particularmente gosto de Charlie Watts, Bill Brufford, Neil Peart, Keith Moon, John Bonham, Carl Parlmer, Stewart Copeland, Ginger Baker... E você, qual batera mais o influenciou?


Claudio Dantas. Carl Palmer, sem dúvida. Todo dia faço minha oração pra ele...  



2112. O público de heavy metal assim como o do prog são extremamente fiéis ao som que ouvem... é algo quase espiritual. E você, o que gosta de ouvir além do progressivo?   


Claudio Dantas. Além da música erudita, compositores contemporâneos como Philip Glass e Win Mertens. Vários “offprog” que considero prog como Loreena Mckennitt, Deep Purple, Jon Lord, Uriah Heep, etc...



2112. O prog é um dos braços do rock mais democrático no que diz respeito a absorver diferentes estilos musicais para a criação de algo muito maior. Sempre achei que ouvir diferentes tipos de música dá ao músico uma visão bem mais ampla de sua arte. Você concorda?     


Claudio Dantas. Absolutamente! 


2112. Como músico quero te perguntar uma coisa. Sinto que Allan White do Yes nunca foi um músico reconhecido pelo seu belo trabalho em função da crítica afirmar que a banda perdeu muito com a saída de Bill Brufford. O que você pensa a este respeito?


Claudio Dantas. Normalmente quando me expresso sobre isso visto um colete à prova de balas. Não se trata de ser melhor ou pior, mas considero o Alan White infinitamente mais adequado ao Yes do que o Bill Bruford. O Alan é um baterista sinfônico, enquanto o Bruford é mais jazzista e experimental.



2112. Ginger Baker e posteriormente Stewart Copeland fizeram álbuns solo com elementos africanos. Você já pensou em lançar um trabalho solo com um material diferenciado do que faz com o Quaterna?


Claudio Dantas. Sim, tenho este desejo há algum tempo. Mas tenho que desenvolver muito meu lado lado musical ainda. O trabalho orquestral do Steve Copeland é magnífico!  



2112. Muitas pessoas incluem “A Mão Livre” gravado por Elisa Wiermann e Kléber Vogel na discografia da banda. É correto isso?


Claudio Dantas. Não. Foi um trabalho à parte mesmo. 


2112. O Quaterna é uma banda prog instrumental... Mas em algum momento da carreira vocês já pensaram em lançar um trabalho incluindo um vocal assim como fez o Focus em 1978 quando lançou “Focus con Proby”?


Claudio Dantas. Sempre que a música ‘pedir’, o vocal será mais instrumento, como foi o caso do Canto Gregoriano em Quasimodo.



2112. O microfone é seu...


Claudio Dantas. Quero te agradecer muito por esta oportunidade. Na minha opinião, o triângulo perfeito para um bom trabalho é a banda que tem determinação de continuar produzindo, independente das ondas e mares, mais o público que nos prestigia e apóia incondicionalmente, mais os veículos de divulgação como o seu, que assim, manterão esta chama acesa por muito mais tempo. Muito obrigado, em nome do Quaterna Réquien.             

Discografia:

Quaterna Réquien


1990 - Velha Gravura 
1994 - Quasímodo
2000 - Livre

2012 - O Arquiteto


Elisa Wiermann e Vogel


2003 - À Mão Livre

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