sábado, 25 de novembro de 2017

Entrevista Robertinho do Recife




Já falei isso várias vezes, mas vou tornar a repetir: o melhor de trabalhar no 2112 é poder entrevistar (ainda que por e-mail!) pessoas que você curte e que muitas vezes te inspirou a várias e várias viagens sonoras. Por isso afirmo que foi uma honra muito grande entrevistar este que é um dos melhores guitarristas do mundo. Um músico que nunca se prendeu a rótulos ou estilos… pois tudo que ele queria era ser livre para tocar música. Leiam a entrevista para entender o porque de Robertinho ser tão admirado por todos que o conhecem. E viva a democracia musical!  

2112. Primeiramente devo dizer que é uma grande honra entrevistar e postar no 2112 este papo com um dos maiores guitarristas do mundo... Soube que com doze anos você já era um exímio guitarrista e que inclusive tocava com os pés. Conte um pouco do início de sua carreira!       

Robertinho do Recife. Começei a tocar em 1962 aos 11 anos de idade, depois de ter sido atropelado por um carro, fiquei quase um ano de cama e assistindo os Beatles na tv. Fiquei alucinado pelo som da guitarra do George Harrison, daí pedi ao meu pai que junto com meu avô Raul me compraram uma guitarra. Tocava na minha escola com amigos do bairro e entramos num festival chamado “Primeiro Festival de Músicos Jovens do Nordeste”, então meu pai me deu a sugestão de tocar com os pés que realmemte foi importante para levarmos o prêmio de melhor banda kkkkk.

2112. Você já conhecia Hendrix?

Robertinho do Recife. Hendrix, vim conhecer o som dele em 1970, quando um amigo tinha trazido um disco dele da América e quando ele me mostrou eu fiquei louco, definitivamente a guitarra se tornou outro instrumento para mim.

2112. Neste período quem era seus ídolos?

Robertinho do Recife. George Harrison, The Ventures, Gato dos Jet Blacks, Risonho dos Incríveis.

2112. Você foi aluno de um seminário e lá aprendeu música sacra, certo? Esse tipo de música influenciou você como músico e compositor? 

Robertinho do Recife. Sim, eu descobri que gostava mais da obra sacra dos grandes compositores clássicos como Bach, Mendelssohn, Beethoven e outros. Compus aos 15 anos de idade uma música chamada ‘’A brilhante Estrela da Manhã” com versos do livro do Apocalipse.
Fui seminarista estudante de teologia e estudei filosofia e religiões orientais, assim como a música oriental, principalmente a Indiana. Sei tocar Sitar Indiana e tenho um profundo conhecimento das fusões que artistas como Maravishnu John Mclaughlin, Alice Coltrane e outros que fizeram com a música do oriente/ocidente.

2112. Como o rock entrou em sua vida? 

Robertinho do Recife. Pela guitarra kkk, sabe o que é Recife? Pedra! Rock em Inglês, kkkk

2112. Já no final dos anos 60 você estava enturmado com várias pessoas da Jovem Guarda como Rosemary e Jerry Adriani. Como surgiu estes contatos?     

Robertinho do Recife. Eu tocava na Tv Jornal do Comécio em Recife acompanhando cantores e cantoras, esses artistas quando se apresentavam não levavam banda, nós é que tocavamos com eles.

2112. O cenário daquela época era muito concorrido?

Robertinho do Recife. Não, a nossa maior concorrência eram as dificuldades de estarmos iniciando um movimento de fazer música em Recife, no tempo ser músico era tocar ou na orquestra sinfônica, orquestra de frêvo ou tocar em puteiro e eu toquei aí muitas vezes kkk.

2112. Conte um pouco da sua experiência tocando nos EUA. Com quem você tocou lá? 

Robertinho do Recife. Tocando um dia no Teatro Santa Isabel com um projeto de música psicodélica chamado LSE (Laboratório de Sons Estranhos), um grupo de americanos assistiram e me levaram para os Estados Unidos para fazer um teste lá. Daí lá tive a oportunidade de tocar com o Watchpocket, uma banda de Memphis que fazia muito sucesso com a música “Mammy Blue”. Conheci Steve Cropper um grande produtor que era o nosso produtor e também do Jeff Beck, Booker T. Blues Brothers e outros,  BB.King, Bob Rush e muitos artistas do sul dos Estados Unidos.

2112. Deu para assistir muitos shows bacanas por lá?

Robertinho do Recife. Os shows que não me saem jamais da memória foram os do Allman Brothers, Yes formação original com Rick Wakeman nos teclados, Humble Pie com Peter Frampton na guitarra, James Gang, BB King assisti 10 shows no backstage com a banda.

2112. Sempre digo em conversas que um músico não deve se prender a apenas um ritmo... mas que deve ouvir vários sons para criar um estilo próprio. Você concorda?   

Robertinho do Recife. Tem guitarristas que estão na música por causa do Metal outros por outros estilos, outros ainda por outros motivos como um ídolo por exemplo. Eu estou por causa da guitarra daí onde ela estiver e o som está me chamando, para mim está bom, acho esse lance de estilos uma coisa que me lembra partidos políticos, uma turma, uma filosofia, uma estética, uma comissão julgadora com gente chata demais, esses fundamentalistas são a pior ditadura para a arte, que deve ter livre expressão.

2112. Os nordestinos foram os que melhores entenderam essa mensagem ao misturar a música regional com Elvis, Chuck Berry, música sacra, clássica... o que gerou uma música que ainda influencia gerações inteiras caso do Raul Seixas, Alceu Valença, Zé Ramalho, Heraldo do Monte, você entre outros. O que você tem a dizer sobre isso? 

Robertinho do Recife. Bem, você só cita nordestinos mas, tem muitos na música brasileira que tiveram um papel muito importante nessa atualização sonora como gosto de chamar, pois continuamos a usar os elementos da tradição liquidificado com as informações e tecnologias da atualidade.

2112. Afirmo isso levando em conta que a maioria das bandas do Rio e de São Paulo os maiores redutos do rock neste período seguiam à risca seus ídolos ao invés de arriscar um caminho próprio. Apenas Os Mutantes, os Tropicalistas e uma minoria tentavam criar uma sonoridade rock brasileiro o que levou muitos ao ostracismo por longos anos mas que redescobertos pela nova juventude sedenta por novidades. Você concorda?  

Robertinho do Recife. Não podemos ser injustos e negligenciar que as bandas de rock da epóca produziram grandes nomes da MPB como Lulu Santos, Lobão, Ritchie.

2112. Em 1982 você alcança grande sucesso com a música O Elefante junto a Emilinha. Conte um pouco sobre esse disco e o sucesso com a criançada! 

Robertinho do Recife. O Elefante realmente foi a primeira música infantil gravada na época, antes tínhamos apenas o palhaço  Carequinha em vinil 78 rotações. O letrista da música é o Fausto Nilo que depois de uma longa conversa nossa sobre elefantes, veio com essa idéia, quando fizemos essa música não tinhamos noção que faria sucesso com as crianças pois a letra é muito complexa.

2112. Depois de tocar com tanta gente como Jane Duboc, Cauby Peixoto, The Fevers, Luiz Melodia, Fagner, Wagner Tiso, Luiz Caldas, Hermeto Pascoal... além do mega sucesso O Elefante você investe no metal criando a banda Metalmania. O início foi difícil ser aceito entre os roqueiros mais radicais?     

Robertinho do Recife. Ainda sou rejeitado pelos radicais, a questão é que não faço o que eles gostam e sim o que eu gosto, I’m Sorry About That!

2112. E o público como reagia nos shows? 

Robertinho do Recife. A metalmania na época gozava do prestigio de ser uma das pioneiras e a única banda de Metal que aparecia na TV Globo em programas populares como Chacrinha que inclusive fez um programa especial para nós chamado “a noite dos Metaleiros”, tocamos fogo no palco para o pânico da produção da Tv kkk.

2112. A Metalmania abriu para vários nomes de peso na época como o Quiet Riot que estava no auge com seu hard metal. Essas apresentações abriu portas para a banda? 

Robertinho do Recife. Sim, ainda hoje tem pessoas que dizem que foi o primeiro show de metal da vida deles e consideram que nosso show foi o melhor da noite. Abrimos depois para o “Deep Purple” no Maracanãzinho.

2112. Vocês lançaram apenas um disco em 1985 e que hoje é visto como um clássico do estilo. Na época como foram as vendagens?

Robertinho do Recife. Por ser um disco de Metal um estilo  que não tinha uma vendagem expressiva no tempo, a nossa vendagem foi boa, mas, não havia interesse da gravadora RCA para eu continuar gravando metal pois, na música infantil eu tinha vendido quase um milhão de discos, kkk.

2112. Já em 1988 você funda o grupo Yahoo que gravou entre material próprio covers de Love Bites (Mordida de Amor) do Def Leppard e Angel (Anjo) do Aerosmith com boa aceitação. Porque você optou pelo do fim do Metalmania e a criação de um grupo com uma orientação mais pop? A mutação sonora te atrai? 

Robertinho do Recife. Foi a pressão da gravadora que me cobrava vendas e sucesso na rádio. O Yahoo foi a minha resposta a isso, ficamos 6 meses em primeiro lugar na parada de sucesso, tivemos temas de 3 novelas da Globo. Podem criticar mas, até os caras do Def Leppard agradeceram a mim ter feito eles serem conhecidos aqui, inclusive o Phil Colen qundo ouviu o meu solo falou “waw! it’s better than my solo”.

2112. Depois do sucesso você largou a música por um tempo e passou a trabalhar apenas como produtor. O que te estimulou a toma essa decisão?  

Robertinho do Recife. Isso foi depois do disco Rapsódia Rock e do show com George Martin na Quinta da Boa- Vista com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Fui para Londres e decidi seguir os passos do mestre Martin de ser apenas produtor que já algum tempo me dedicava a essa função para artistas como Fagner, Elba , Zé Ramalho.
2112. Você como músico participou de shows e gravações com gente importantes como George Martin, Stanley Clark, Peter Tosh, Andy Summer, John Lee Hooker, Deep Purple, Taj Mahal, Dr. John, Simon Kirke (Free), Steve Cropper entre outros. O que isso representou para você como músico e mesmo fã?      

Robertinho do Recife. Alguns desses nomes estavam em um festival que participei o Jubilee Jam em Jackson Mississippi, o Andy Summers, Copperland e o Stanley Clarke foi para um especial da tv japonesa numa formação do The Police depois da saída do Sting. O Simon Kirke do Free, depois da morte do Paul Kossoff , tocamos muito juntos.

2112. Em especial como foi trabalhar com George Martin, lendário produtor dos Beatles? Como ele é fora do holofotes? Vocês conversaram sobre a banda?

Robertinho do Recife. O Master era uma pessoa humilde e de uma energia divina, aprendi muito com ele em conversas longas que tivemos em Londres e aqui no Brasil, ele me tratava com um carinho e admiração que me deram muita força na minha carreira. Cheguei em Londres um dia depois da gravação de “Free as a Bird” e tive a honra de ser o primeiro humano no mundo a ouvir a gravação dessa música kkkk.

2112. Existe uma informação que você dispensou um convite para participar do lendário grupo Chicago. O que fato aconteceu?  

Robertinho do Recife. Eu tinha parado de tocar estava em Recife depois da morte me meu filho Abel, foi quando o Laudir de Oliveira percussionista da banda me convidou para fazer uma audition (teste), mas, eu estava em pedaços e sem condições emocionais nenhuma para assumir essa responsabilidade.

2112. Hoje você olhando para traz o que faria e o que você não faria?  

Robertinho do Recife. Fiz o melhor que pude, sempre estamos diante das condições do “Possível e do Desejado”, nem sempre é possível o que desejamos e vice-versa, portanto, não me arrependo e sempre respeitarei essas condições.

2112. O cenário musical atual te empolga? O que você destacaria de interessante? 

Robertinho do Recife. Não me empolga, a internet é uma fabrica de gente lançado videos sem teor, só técnica, mas, tem gente boa também, por isso não vou aqui destacar nada para não esquecer de ninguém.

2112. O que você sente falta nesta nova geração de músicos?

Robertinho do Recife. Acho um problema essa coisa de muita técnica e pouca música, muita gente tocando muito bem seus instrumentos mas, sem saber interpretar uma melodia simples como Parabéns prá Você kkk, tem poucos que estão dando atenção a isso.

2112. Ultimamente temos perdido excelentes músicos do calibre de Johnny Winter, John Lee Hooker, Joe Cocker, Belchior, B.B.King entre outros que foram influências fundamentais para o nascimento de ótimos cantores, músicos, bandas e que não vemos nos dias de hoje. O que você tem a dizer sobre isso? 

Robertinho do Recife. É o curso da vida, amigo, portanto, apoie o artista que você gosta, talvez amanhã, ele não esteja mais aqui. Esses artistas que você citou são de um
a geração que estava aberta a ouvir o que criavam e não o que o público queria ouvir. Hoje o público principalmente do Brasil, vai para ver o que eles conhecem no disco, para mim é assistir o Rambo 1 milhão de vezes kkkk.   

2112. Algum recado para os músicos que estão começando agora? 

Robertinho do Recife. Tenha amor pelo que faz e não espere nada em troca disso e tudo será ganho!

2112. Agradeço a sua boa vontade em responder a todas as perguntas e dizer que o microfone é seu...

Robertinho do Recife. Obrigado a oportunidade de falar com vocês, sucesso e um abraço forte em todos!

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