terça-feira, 18 de agosto de 2020

Entrevista Banda Veludo

A banda é um dos ícones sagrados do prog brazuca e aproveitando o embalo do lançamento do álbum duplo contendo Veludo ao Vivo (1975) e Penetrando por todo o caminho sem fraquejar (2016) remasterizados com preciosos extras Nelsinho Laranjeiras fala um pouco da história da banda, do lançamento do álbum duplo, seus projetos pós-pandemia e o futuro da banda.

2112. Você e a Renaissance Discos fizeram um trabalho de altíssimo nível ao relançar o álbum Veludo Ao Vivo com áudio restaurado e a inclusão de várias faixas bônus. Veludo 1975-2018 é um tesouro não apenas para nós fãs da banda, mas para todos as pessoas que curte música de qualidade. Parabéns!!

Nelsinho. Obrigado pelo reconhecimento. Foi feito com muito carinho. Aproveito a oportunidade para agradecer o convite para participar desta entrevista.

2112. Você acompanhou o processo de restauração do áudio?

Nelsinho. Tudo passou por mim. Assim como os dois discos anteriores que eu produzi. Neste último dividi a escolha do repertório e textos com o Claudio Fonzi. Foi com ele que o projeto foi ganhando força. 

2112. Qual o critério que você e o Claudio utilizaram na escolha das faixas bônus?

Nelsinho. Qualidade do áudio somado a sua importância histórica. Era necessário que os bônus contassem a história do grupo e dos grupos que originaram o Veludo. E assim foi feito.

2112. Em entrevista ao blog Claudio mencionou que algumas faixas do show de 1975 foram deixadas de lado em função de sua qualidade técnica. Elas estavam tão ruins assim?

Nelsinho.  As músicas foram tiradas de uma fita K7, pouca coisa ficou de fora, acho que duas músicas. Uma só tinha o início. Foi uma pena, pois era uma das que eu mais gostava. A outra não estava no mesmo nível no quesito qualidade e composição.  Para bônus sim, tinha algum material que ficou de fora. Nesta hora o diretor musical tem que agir. Foi o que eu fiz.  Sempre ouvindo os conselhos do Fonzi. 

2112. Há algum tempo atrás a Manticore selo do lendário grupo ELP relançou oficialmente toda a discografia bootleg da banda independente da qualidade sonora. Não seria interessante fazer algo parecido com o material não aproveitado?

Nelsinho.  Depois deste disco duplo, pouca coisa ficou de fora. Mas é uma questão de procurar e selecionar novamente alguns pergaminhos. Quem procura acaba achando. No momento, se for pra investir, que seja em um novo trabalho.

2112. Outro destaque é a parte gráfica com os dois encartes recheados de fotos históricas, letras das músicas e os varios causos da história da banda. Ficou maravilhoso!!

Nelsinho. É como eu disse. Tentamos dar o melhor, por mim, se o espaço permitisse, contaria mais histórias e faria um livro. Muitas pessoas acham que a ideia do livro é boa, pelo fato de já terem me ouvido contar várias históricas trágico cômicas que presenciei. São muitas histórias típicas das loucuras dos anos 70. 

2112. Saindo do disco fale sobre o começo da sua história na música, a opção pelo baixo e as primeiras bandas que participou.

Nelsinho. Primeiro, é fato que uma pessoa já nasce com o DNA da música. Seus pais podem te obrigar a tocar um instrumento, e você estuda-lo 8 horas por dia. Nada vai acontecer se não tiver no seu DNA. Descobri isso aos 10 anos, quando a minha turma largou a “pelada” diária para escutar em garagem sombria no subsolo de um prédio um disquinho dos Beatles.  Foi a descoberta do Santo Graal. Naquele disquinho estavam 3 coisas dificílimas de se conciliarem: Simplicidade, sofisticação e o Novo. Comecei pelo violão, depois a guitarra. Um amigo de banda me falou: Cara! Larga a guitarra. Nela você vai ser apenas mais um. Mas no baixo, você vai ser um dos melhores. Isso me motivou. Mas ainda me considero um bom guitarrista. Isso me dá muita visão nos arranjos. Outro fato marcante é que sempre fui compositor. Quanto aos grupos que participei, eles são o embrião do Veludo. Eu citaria o Duplo Etéreo e a Antena Coletiva. Em ambos os meus parceiros de Veludo, Elias e Aristides estiveram.

2112. Como foi que você conheceu o Miguel Pedra?

Nelsinho.  Vou tentar resumir o que escrevi no livreto do CD de 2016.  Eu e Miguel Pedra viramos parceiros no mesmo dia em que se nos conhecemos. Miguel tinha acabado de chegar do sul. Tinha vindo pela estrada pegando carona na boléia dos caminhões (1972). Trazia um velho violão, uma mochila e um caderno surrado com várias letras.  Eu estava voltando pra casa depois de um passeio pelo Aterro do Flamengo. Passando por um gramado vi um caderno sozinho na grama. Curioso, peguei e me deparei com várias poesias e letras que deveriam ser de música. Neste momento ele chegou dizendo que o caderno era dele e que tinha esquecido ali.  Começamos a conversar e as ideias, gosto musical e objetivo foram se encaixando. Ali mesmo, Miguel cantou algumas das suas músicas. Fiquei surpreendido com o timbre da sua voz e a facilidade que ele tinha para criar melodias bonitas com poucos acordes, e convidei aquele estranho para ir até a minha casa. Lá chegando, abrimos o velho caderno e nos concentramos em uma letra gigantesca. Queria mostrar ao meu novo amigo, minha competência e talento como compositor. Miguel explicou que aquela letra fora a última, e que ele tinha feito durante a viagem. Peguei o violão (que faltavam duas cordas) e comecei a elaborar a melodia e a harmonia do que seria a suíte: “O Luar, a Pessoa e o Lugar”. Essa música é muito significativa (uma das músicas do CD de 2016).  Quando assumi a liderança do Veludo no final de 75, fiz questão de trazer esse grande cantor e parceiro para assumir os vocais do Veludo. 

2112. Depois de conversarem e tocarem juntos vocês chegaram mesmo a cogitar montar uma banda?

Nelsinho. Sim. Na mesma hora. Liguei para o Paulinho Muylaert e disse: Encontrei o cara que faltava pra montar a nossa banda. Mais tarde seria chamada de “penetrando por todo caminho sem fraquejar” nome que foi dado ao CD de 2016.

2112. Como surgiu a oportunidade para você entrar no Veludo?

Nelsinho.  Eu e Elias, dois anos antes do Veludo, já éramos bons parceiros. Tínhamos uma grande afinidade musical e uma bela amizade. Éramos como irmãos. Nossa música fluía caudalosamente. Quando estávamos para lançar o nosso primeiro grupo, algumas coisas aconteceram com ele (tragédias na família) e ele teve que parar com o nosso projeto. Quando voltou, foi pra me comunicar que queria seguir em carreira solo. Fiquei triste, me senti abandonado, mas segui adiante. Dois anos depois soube que ele iria estrear uma banda chamada Veludo. Duas semanas depois da estreia, ele me ligou me convidando para entrar no grupo. Disse que faltava eu na banda. Topei. Mas avisei que continuaria tocando com o meu grupo. O “Penetrando...”

2112. A banda já tinha um repertório definido?

Nelsinho. Quando entrei sim. Eles já tinham feito o primeiro show. Mas como sempre fui compositor, fui colocando coisas minhas em tudo que me apresentavam, além de mudar os arranjos. Eles ficaram de cabelo em pé e o Elias ficou orgulhoso e pensava: Não falei. Esse é o cara! Foi assim que o Veludo começou e o baixo passou a ter um papel protagonista. 

2112. A banda levava o público ao delírio com sua complexidade musical. Acredito que se tivessem tido um empresário de visão o Veludo teria conseguido entrar fácil no mercado europeu, japonês e americano.

Nelsinho. Concordo. Tínhamos grandes compositores. Gente de muito talento nesta área. Além de ótimos músicos.

2112. Vocês faziam parte de uma cena formada por grandes bandas como O Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Casa das Máquinas, Made In Brazil, Peso, A Bolha, Rita Lee & Tutti Frutti, Terreno Baldio, Mutantes, Recordando Vale das Maçãs etc. Foi um tempo mágico, não?

Nelsinho. Foi uma época muito rica, pois se fazia música sem a pretensão de ser comercial. E isso é a grande verdade que a música pode oferecer. Apenas ARTE.

2112. Ao contrário do planejado o primeiro álbum do Veludo acabou sendo gravado no Festival Banana Progressiva. Vocês tinham noção que a apresentação estava sendo gravada e como esse registro foi parar nas suas mãos depois de tantos anos?

Nelsinho. Sabíamos que era um show importante em um grande festival. Em 1985 Elias me ligou eufórico. Tinha acabado de receber de um produtor uma fita K7 com a gravação daquele show. Avisamos ao pessoal da banda (Gustavo e Paul) corri para a casa dele pra tirar uma cópia. Todos fizeram a mesma coisa. O som estava muito bom e ficamos surpreendidos com a performance. Passados mais 10 anos, a fita estava guardada no fundo de uma gaveta. Entrei em uma loja de CDs e lá tinha uma galera conversando sobre rock. De repente sobrou uma brecha e me meti no assunto. Quando falei que tinha sido do Veludo, todos me olharam espantados. Pensei que tinha entrado numa fria. Kkk Ao contrário, eles conheciam e sabiam que não tínhamos nenhum disco gravado. Fiquei surpreso. Um dos donos da loja me perguntou se não tinha uma fita gravada. Falei que sim, mas que era apenas uma fita K7 sem importância. Minha cara caiu quando eles ficaram doidos com essa informação. O cara da loja ligou na mesma hora para o Zaher (produtor de projetos de rock progressivo). Até ali, não entendia o que estava acontecendo. Na reunião com Zaher ele me fez ver o valor histórico e a importância daquele material. Ele me fez a proposta de transformar aquilo em um CD. Mas não queria se envolver com a banda. Deixaria tudo comigo e eu tocaria o projeto do meu jeito. Foi o que eu fiz.

2112. Qual foi a sua primeira reação após a audição do material?

Nelsinho. Orgulho e surpresa. A banda era boa, tinha ótimas composições e sabia ser pesada, psicodélica e viajante.

2112. Na primeira prensagem a gravação foi lançada conforme fora gravada direto da mesa de som?

Nelsinho. Sim. Passou por uma pequena masterização. Na época não se tínhamos a tecnologia de áudio que temos hoje. No novo CD duplo. As músicas já estão com nova masterização, o que fez o som melhorar sensivelmente. 

2112. Gosto de todas as músicas mas "Veludeando", "A chama da vida" e "As X fases do homem comum" mostra todo o virtuosismo de uma banda que beirava a perfeição. 

Nelsinho. “Veludeando” era a música de abertura nos anos 70, Hoje é a música do “bis”. “A chama da vida” tem uma pegada forte de rock. Coloquei uma parte dela na minha suíte “Tema das Aves” que está tanto no CD de 2016 como na versão ao vivo do CD duplo de 2020. Quanto a suíte “As X Fases do homem comum” a história é tão complexa quanto a própria música. Vou tentar resumir >>>> Foi em 74, após receber o convite do meu amigo e parceiro Elias para entrar para o Veludo, que comecei a escrever esta suíte. Estamos juntos novamente! Me lembro de ter dito. Desliguei o telefone e corri imediatamente para o violão. Teria que encontrar um velho ídolo. Gustavo Shoroeter, do The Bubles (A Bolha) que era considerado um dos melhores bateristas do rock nacional e Paul de Castro, que eu não conhecia, mas recebia muitos elogios do Elias.

Já que iria enfrentar essas feras, tratei de terminar essa suíte que consistia em 10 movimentos com ritmos e harmonias diferentes para contar uma história imaginária. Misturando compassos alternados de rock, baião, Jazz, frevo e música folclórica, fui terminando a composição. Seria um grande desafio tocar aquilo ao vivo. Muitos ensaios e disciplina. Mas no primeiro dia de ensaio, vi que isso iria demorar. Precisava primeiro aprender o repertório que eles já dominavam. Sendo assim, a suíte ficou parada esperando o momento certo que surgiria após a saída do Paul e do Elias, quando eu assumi as rédeas do grupo. Aí, finalmente, pude executá-la ao vivo nos shows do Veludo.

Com o fim do grupo em 78, esperei outro momento para retornar a este projeto que acabou surgindo quando passei a trabalhar com o genial Marcio Montarroyos. Ele me apresentou a David Sion, dono de um pequeno estúdio de 4 canais. Convoquei para gravação meus companheiros de Veludo: Paul de Castro (violino e guitarra), Paulinho Muylaert (flauta e guitarra), Flavia Cavaca (voz e percussão). E tive o privilégio de ter a participação do Constant (ex O Peso) Marcio Montarroyos (trompete) e Rui Motta (Os Mutantes) na bateria. Completei o time com meu eterno ídolo Sérgio Dias (vocal). Essa gravação está no CD de 1994 e neste duplo de 2020. Quanto ao Sérgio Dias, tenho outra história interessante. Passados mais de 30 anos, conversando com ele por internet, decidi lhe enviar essa gravação (já que ele não se lembrava de nada) Sua resposta, depois de ouvi-la, me surpreendeu. Ele escreveu admirado: Cara!!! Não sabia que eu cantava tão bem assim! E elogiou a sua interpretação como sendo uma das melhores que já tinha feito. Fiquei pasmo e orgulhoso. Quem sou eu para discordar do Sérgio Dias... 

2112. A Veludo foi uma das poucas bandas dos anos 70 que não deixou um registro oficial. Na época nenhuma gravadora contactou vocês?

Nelsinho. Perdemos a grande chance quando o grupo ia ser lançado nacionalmente com uma música que seria um dos temas principais da novela “Roque Santeiro”. A música era minha, foi escolhida pelo Nelson Motta dentre várias de todos os outros grupos da época. Não era rock. Era uma mistura de baião, choro e uma letra debochada. A ditadura censurou a novela em perseguição ao seu autor. O genial Dias Gomes.

2112. Com o advento do punk rock bandas como Yes, Genesis, ELP, Pink Floyd etc tiveram que redirecionar o seu som para algo simples e direto. Acredito que foi o fim de uma era de grandes músicos, grandes bandas...

Nelsinho. O sonho acabou. O rock nasceu, foi crescendo e os grandes músicos foram empurrando suas fronteiras até chegar ao progressivo. Depois voltamos ao começo de forma piorada. 

2112. Logo Gustavo sai para formar A Cor do Som, Paul de Castro vai para Os Mutantes e Elias para se casar. Você ainda arrastou corajosamente a banda até meados de 1978 quando encerrou a primeira fase da banda. Essa história me fez lembrar do episódio Page/Yardbirds quando os integrantes da banda saem deixando Jimmy sozinho com várias datas para cumprir. O resto como todos sabem... é história.

Nelsinho. Ratificando. O Veludo começa em 74, no final de 75 em questão de semanas, saem o Paul e o Elias. Eu remonto o grupo com o pessoal do “penetrando por todo caminho” e vou por mais dois anos. Neste período, Elias retorna, mas sai novamente, pois já não era mais o protagonista e queria seguir na carreira solo. Miguel era a voz principal.

2112. Com o fim do Veludo o que você fez e o que te levou a ressuscitar a banda?

Nelsinho. Essa é mais uma daquelas respostas acompanhadas de uma boa história. Vou tentar resumir. 2011 - Era um dia como outro qualquer. Liguei o computador para checar os e-mails e um deles me chamou a atenção. Dizia: Você conhece Miguel Pedra? Levei um susto. Claro que conhecia. Miguel foi meu parceiro em inúmeras músicas. Fui eu quem o trouxe para o Veludo assim que assumi a liderança do grupo. Certa vez me senti orgulhoso quando ao final de um show, vi meu ídolo Sergio Dias subir ao palco, ir até ele, e lhe dar um abraço tão longo que parecia não ter fim. Sim, eu conhecia esse cara. Aquela voz marcante, certa áurea mística e revolucionária que devorava livros e mais livros. Oi Miguel, onde você está? Já tinha se passado 40 anos sem notícias daquela enigmática figura. Miguel me contou em longos e-mails muitas histórias e então, surgiu o assunto que nos aproximou novamente: A música. Lembramos das nossas composições.  Nos deu uma certa tristeza por não ter conseguido gravá-las na época. Mas neste momento algo aconteceu. O compromisso com o destino e o sentimento de algo inacabado que precisava chegar ao fim nos levou a ação. Seria possível revivermos o repertório do Veludo de 76? Os mesmos arranjos e vocais? Quando se fala de Miguel Pedra tudo é possível. Ele saiu de Santa Catarina, foi para o Amazonas onde estava sua família, meses depois escreveu: Estou chegando. Miguel morreu no dia 3 de outubro de 2012 e não viu o trabalho que tanto acreditou concluído. Isso foi determinante para que eu remontasse o grupo. Essa era a vontade dele, além disso, muitas pessoas (lojistas e fãs) me empurraram para essa direção.

2112. Em 2002 Elias Mizrahi lança o álbum A Re-Volta usando o velho nome Veludo. O que você tem a dizer sobre isso?

Nelsinho. Elias lutou por muito tempo para realizar um disco solo. Desde o final da Ante Coletiva (72), quando desistiu do grupo com esse argumento. A história de A Re-Volta começa aqui: No final dos anos 90, Elias me procura. Tinha uma proposta. Queria montar uma banda. Tinha ótimas músicas e estava confiante. Quando perguntei qual seria o nome da banda surgiu um impasse. Ele sugeriu Veludo. Sendo eu compositor, isso implicaria em dividir o repertório comigo. Ele queria apenas as músicas dele. Argumentei, como alternativa, que colocasse outro nome ou o seu próprio nome (carreira solo) e eu seria apenas um músico contratado. Desistiu. Tempos depois, para minha surpresa, li no jornal o anúncio do show do Veludo. 

2112. Sem querer forçar a barra... como é o seu relacionamento com ele?

Nelsinho.  Sou fã, me considero amigo e tenho profundo amor por ele. Mas ele ficou doente e muita gente teve que se afastar. Infelizmente. Elias é um talento desperdiçado. Perde ele e a música. Foi um dos maiores que conheci.

2112. Dá sua parte seria possível uma nova reunião com Gustavo e Elias?

Nelsinho.  Gustavo é outro grande amigo. Muito profissional e competente. Sobre Elias já respondi na pergunta anterior.

2112. Em 2016 é lançado o fabuloso "Penetrando Por Todo Caminho Sem Fraquejar". Como foi o processo de composição, pré-produção e gravação do álbum?

Nelsinho.  Tudo passou pelo crivo do Antonio Giffoni. Um super tecladista, guitarrista, técnico de som e grande arranjador. Quando decidi resgatar os pergaminhos musicais do Veludo com as músicas tocadas nos anos 70 e que nunca foram gravadas, foi com essa fera que pude realizar essa travessia para chegar no CD “Penetrando por todo caminho sem fraquejar” Fizemos juntos a pré produção. Escutamos as inaudíveis fitas velhas de ensaio do Veludo. Trechos de shows em péssima qualidade de áudio.  Busquei no fundo da memória com sucesso algumas passagens e músicas inteiras. Copiamos os mesmos arranjos. Chamei os meus antigos companheiros do Veludo (Paulinho Muylaert, Flavia Cavaca, Miguel Pedra) Chamei os dois filhos do Paul de Castro. Daniel e Diogo de Castro. Músicos tão bons quanto o pai. Foi uma bela surpresa. Chegamos a um grande final. Tenho muito orgulho desse trabalho. 

2112. Achei o título muito forte e verdadeiro...

Nelsinho. Essa é uma das boas histórias que conto nos shows. 1972 - Nelsinho Laranjeiras, Miguel Pedra e Paulinho Muylaert estão formando um novo grupo. Ari descobre uma casa no bairro do Rio Comprido. É o lugar ideal para se fazer um estúdio. Todos dividiriam o aluguel. Estúdio pronto, e logo os ensaios varam pela noite. Algum tempo depois surge o convite para a banda se apresentar em um Festival de Rock em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio. Lá chegando, estão todos ansiosos para a estreia. O apresentador vem e avisa: "O próximo a entrar são vocês! Qual é o nome da banda??? Nome??? "Tínhamos pensado apenas na música e nos arranjos, ninguém havia se ligado que uma banda tinha que ter um nome. Que mico... Um olhando para a cara do outro meio sem graça. Quando o apresentador pergunta novamente: Qual é o nome da banda? Miguel Pedra diz: “Penetrando por todo caminho sem fraquejar” Esse é o nome da banda! O cara fica perplexo. Nós também. Miguel torna a repetir convicto. O apresentador, resignado, sobe no palco e apresenta. Com vocês... O grupo... “Penetrando por todo caminho sem fraquejar” Abrimos o show tocando a suíte “O Monte”, e quatro anos mais tarde continuaríamos a abrir os nossos shows com esta mesma música, mas agora com o nome de outra banda: VELUDO.

2112. O álbum retorna as suas raízes em quatro grandes temas e uma faixa bônus: Tema das Aves, composição sua com Antonio Giffoni e Paul de Castro.

Nelsinho. Foi uma compilação de temas feitos durante o Veludo, após o Veludo e uma parte da música “A Chama da Vida”. Giffoni fez tantos bons arranjos que tive que colocá-lo como compositor. Nesta faixa são apenas 3 músicos: Eu, Giffoni e o baterista Daniel de Castro (filho do Paul). Fico perfeito.

2112. Você ainda tem mais músicas guardadas da primeira fase da banda?

Nelsinho. Não. A fonte secou.

2112. Desde o retorno que a banda tem mantido uma agenda regular de shows apresentando antigas e novas composições. E como tem sido a reação do público?

Nelsinho. Sou muito perfeccionista e gosto de trabalhar com músicos que respeitem essa característica.  O público logo percebe que está na frente de uma grande banda. Bem ensaiada e com imensa criatividade.

2112. Os fãs do prog assim como do metal são muito dedicados as suas bandas. Eles divulgam as datas dos shows, compram cds/dvds, camisas... Isso é um feedback e tanto não é?

Nelsinho. Sim. Dependemos deles e de pessoas como você.

2112. Você tem projetos de lançar um novo álbum do Veludo nos próximos meses? Já tem algum material composto?

Nelsinho. Nosso projeto, antes da pandemia, era trabalhar o disco duplo. Depois pensar em algo novo e seguir em frente. 

2112. Quais baixistas mais te influenciaram?

Nelsinho. No rock Paul foi o primeiro. Chris Squire me transformou pra sempre. Não é questão de velocidade nas escalas. É bom gosto, inventividade e colocar as linhas de baixo de modo surpreendente. Foi o que eu coloquei e coloco no Veludo. 

2112. Você toca com os dedos ou prefere palhetas?

Nelsinho. Uso os dois dependendo do estilo da música.

2112. Qual o telefone/e-mail para comprar os cds e agendar shows da banda.

Nelsinho. nelsonlaranjeiras@hotmail

Instagram: @banda veludo

Facebook: Banda veludo

(21) 997844114

2112. ... o microfone é seu!

Nelsinho.  Agradeço novamente essa oportunidade. Muito me honra participar da sua entrevista. Isso dá sentido ao trabalho realizado. Sempre dedico minhas histórias aos historiadores, pesquisadores e amantes do rock brasileiro.  Mas nada disso seria possível se não tivesse encontrado no meu caminho músicos maravilhosos que me marcaram de forma contundente. Devo tudo a eles. Uns já se foram e serão sempre lembrados pela sua magnífica contribuição. Sendo assim vou citá-los pela ordem de entrada em shows e gravações dos Cds: 

1974 / 1978

Paul de Castro, Elias Mizrahi, Gustavo Schroeter, Nelsinho Laranjeiras, Ari Mendes, Paulinho Muylaert, Afonso Correa, Flavia Cavaca, Miguel Pedra.

2017 / 2018

Nelsinho Laranjeiras, Antonio Giffoni, Miguel Pedra, Flavia Cavaca, Paulinho Muylaert, Daniel de Castro, Diogo de Castro, Sergio Conforti, Ronaldo Scampa, Silvio Romero, Claudio Marçal, Gustavo Camardela, Foguete Barreto, Alexandre Valladão, Pamela Fer, Fernando Vinhas, Silvio Mazzei.

Obrigado a todos.

 

Fotos segundo ordem de postagem

01. Paul de Castro, Elias Mizrahi e Nelsinho Larangeiras;

02. Afonso Correa, Paulinho Muylaert, Nelsinho Laranjeiras, Miguel Pedra e Ari Mendes;   

03. Gustavo Schroeter e Paul de Castro;

04. Nelsinho Laranjeiras; 

05. Recorte de Jornal O Globo;

06. Show Teatro Ipanema 2018 (Ronaldo Scampa, Silvio Romero, Silvio Mazzei, Nelsinho Laranjeiras, Fernando Vinhas e Antonio Giffoni);

07. Show Teatro Ipanema 2018 (Ronaldo Scampa, Silvio Romero, Sergio Conforti, Silvio Mazzei, Nelsinho Laranjeiras e Antonio Giffoni);

08-09. Cartazes de shows;  

10. Show Teatro Solar de Botafogo (Alexandre Valladão, Pamela Fer, Nelsinho Laranjeiras e Antonio Giffoni);

11. Nelson Laranjeiras;

12. Paul de Castro;

13. Nelsinho Laranjeiras, Antonio Giffoni e Fernando Vinhas (ao fundo).   

 

Entrevista Bônus: Claudio Fonzi (Postada em 06/05/2018)

Recentemente a Renaissance Discos relançou em grande estilo os álbuns Ao Vivo (1975) e Penetrando por todo o caminho sem fraquejar (2017/2018) remasterizados em embalagem digipack dupla com dois encartes super bacanas. Conversamos o Cláudio, dona da loja e o resultado vocês lêem a seguir.

2112. Parabéns pelo magnífico trabalho prestado não apenas aos fãs da banda Veludo mas também a toda a nação prog com o lançamento desse incrível álbum duplo que a meu ver é a versão definitiva desse classic album.

Claudio. Valeu!! Muito obrigado!!

2112. Voltando um pouco no tempo... como e quando surgiu a idéia de relançar o álbum?

Claudio. As ideias ocorreram de forma paralela. Já havia interesse no relançamento do CD "Ao Vivo 1975", mas, dificilmente ele seria reeditado se não existisse também o material inédito dos shows em 2017 e 2018. Ao mesmo tempo, talvez não acontecesse o lançamento desse material atual se não existisse o gancho da reedição. As conversações se iniciaram em 2017, mas todas as etapas do planejamento se desenvolveram em 2019.

2112. Claro que para colocar o projeto em prática foi preciso contactar os membros da banda. O que eles acharam da sua idéia?

Claudio. Fui o principal responsável pela ressurreição da banda para shows ao vivo em 2017 e um lançamento em CD ou DVD sempre esteve em pauta. O Veludo havia renascido em 2012 para gravar seu primeiro CD de estudio. Tal processo acabou se tornando longo e doloroso, devido ao falecimento do vocalista Miguel Pedra ainda em 2012. O CD acabou sendo lançado somente em 2016. Recebeu o título de "Penetrando por Todo Caminho sem Fraquejar". Não participei desse processo, mas logo após o lançamento, fui convidado por Nelsinho Laranjeiras, baixista e líder da banda, para ser o responsável pela distribuição do CD. Daí em diante foram várias conversações para que acontecessem também shows.  Posteriormente, a produção do CD "Veludo ao Vivo 1975-2018" foi feita em conjunto com Nelson. 

2112. Ao Vivo é o único registro oficial do Veludo com a sua formação considerada clássica: Elias Mizrahi, Gustavo Schroeter, Nelsinho Laranjeiras e Paul de Castro. A gravação passou por algum processo de restauração para tentar extrair o melhor som possível?

Claudio. Sim, ele passou por uma remasterização na época de seu primeiro lançamento e agora passou por outra.

2112. ... o som na minha opinião ficou bem melhor que a primeira versão. 

Claudio. Sim, concordo.

2112. Você sabe informar se essa gravação traz o set completo da banda no festival Banana Progressiva?

Claudio. Existem outras músicas, mas não tive a oportunidade de ouvi-las. Nelson me informou que não estão boas.

2112. Quanto tempo levou para a realização do trabalho na restauração dos áudios, parte gráfica, pesquisa de fotos e fatos da época etc?

Claudio. A pesquisa de fotos e fatos da época já tínhamos feito para os shows em 2017, quando elaborei um release para a banda. O processo de produção exclusivo para o CD foi em 2019 e levou cerca de 6 meses. 

2112. Junto ao Ao Vivo foi incluído um outro show realizado depois do retorno da banda em 2017 e mais oito faixas bônus: As dez fases do homem comum, Força, luz e calor, Sonata Claríssima/Pica Pau na torre, Veludeando e Nascimento e Morte e no segundo cd Beija Flor e Momentos. Como foi reunir todo esse material? Deve ter sido muito emocionante ouvir essas raridades em primeira mão, não é?

Claudio. Sim, foi muito emocionante mesmo. Documentos realmente históricos que poderiam ter tido o triste fim de jamais serem conhecidos pelo público. Todo esse material pertence ao acervo de Nelsinho Laranjeiras e ainda bem que ele o guardou por tantos anos.

2112. De quem foi a idéia de expandir o álbum?

Claudio. As ideias entre mim e Nelson foram surgindo durante nossas conversações, mas, quem definiu a questão fui eu.

2112. Outro detalhe a ser mencionado é o grandioso acabamento gráfico em capa tripla digipack com dois encartes recheados de fotos e informações. Simplesmente impecável...

Claudio. Fiquei muito feliz com o resultado gráfico. Muito feliz mesmo!! As ideias de composição dos livretos também fluíram de forma conjunta com Nelson. Um dava uma ideia aqui, outro dava outra ali e assim o produto se formou. As fotos foram selecionadas por ele. Aprovei todas porque estavam realmente excelentes. Contribuí também para os textos, mas diria que minhas maiores contribuições foram encarar os custos que se tornaram bem mais altos e cobrar muito, muito, MUITO para que a fábrica caprichasse na impressão, no material e no acabamento gráfico. E falando em custos... não posso deixar de citar a fundamental participação do amigo e produtor Zaher Zein, um dos maiores colecionadores e estudiosos do Rock Progressivo Brasileiro. Se depender de mim, faremos muitas outras parcerias no futuro.

2112. 46 anos se passaram desde que você assistiu a banda pela primeira vez na TV e agora o lançamento desse álbum. Qual a sensação de ter o trabalho pronto nas mãos?

Claudio. Foi muito emocionante. Já trabalho com produções fonográficas há mais de 30 anos e tenho muito carinho por todas, mas essa está sendo realmente a mais especial. Como foi possível minha vida ter dado tantas voltas durante 46 anos e acabar cruzando justamente com aquele grupo que me encantou na infância? É uma situação que parece mais ser um sonho do que realidade.

2112. Você tem recebido muitos pedidos do exterior?

Claudio. Infelizmente, estamos vivendo um momento global absurdamente inesperado e ainda não pude enviar nenhum exemplar, pois o correio brasileiro interrompeu esse serviço. Imagino, porém, que ainda mandarei vários. Por outro lado, felizmente, essa problemática está sendo bem superada, pois as vendas no Brasil estão fluindo muito bem e até superando as expectativas.

2112. Existem outros projetos desse calibre? 

Claudio. Com certeza!!! Mas nada posso falar além disso.

2112. Posso dar uma dica? Que tal relançar a banda Apokalypsis ou As Setes Cidades do Bacamarte que são super difíceis de achar?

Claudio. Sem dúvida, são boas dicas. Vamos ver o que o futuro nos dirá.

2112. Qual o telefone, link de site ou e-mail para as pessoas adquirem o cd?

Claudio Fonzi. Renaissance Discos

Renaissance Discos: Comercial Conde de Bonfim - Rua Conde de Bonfim, 615, Loja 109 - Centro - Bairro Tijuca - Rio de Janeiro - CEP: 200520

Website: http://www.renaissancediscos.com/

E-mail: renaissance.claudio@gmail.com  

Tel/Whatsapp: (21) 997766973


2112. ... o microfone é seu!

Claudio. Inicialmente, agradeço muito pela oportunidade recebida para divulgar o CD e te parabenizo pela qualidade de seu blog. Entrevistas realmente interessantíssimas e sempre focalizando estilos musicais que a grande mídia faz questão de ignorar a existência. Além disso, deixo umas pequenas sugestões para todos os músicos: Façam sempre o possível para gravar seus ensaios e shows. E depois guardem tudo com carinho, pois, poderão vir a utilizá-los no futuro. Por último, façam sempre o possível para publicar esses registros. Se realmente não conseguirem uma produção industrial e oficial, publiquem na internet. Cada registro artístico é um pedaço da história da humanidade e deve ser sempre divulgado para jamais ser perdido.

"O Veludo foi o primeiro grupo de Rock Progressivo brasileiro que vi tocar. Isso aconteceu na TV em 1974 e me marcou profundamente. Eu era apenas um menino e fiquei muito imprecionado com a energia do som daqueles músicos. Infelizmente, não tive oportunidade de ir a nenhum dos seus shows e tal lacuna permaneceu em minha vida por mais de quarenta anos. Em 2017, porém, surgiram possibilidades de reativar a banda para tocar ao vivo e me empenhei ao máximo para que tal evento acontecesse. Tenho muito orgulho de ter contribuído para a volta dessa fantástica banda, com suas histórias, músicos e composições que jamais poderiam ficar esquecidas."

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