domingo, 3 de novembro de 2024

Entrevista David Sue (Soldado Azul - Lippo à Vapor)

 

2112. Primeiramente como nasceu David Sue?

David: Veio da necessidade de me distanciar de uma burrada que fiz em 2018. Na época eu era muito orgulhoso e achava que podia fazer qualquer coisa sozinho, mesmo tendo zero conhecimento do assunto... Em 2018 compus uma música romântica chamada “Anjo Bom” e fiz tudo, da produção musical à capa. Por eu não fazer a menor ideia de como gravar uma música, o resultado ficou lamentável... Nada dá certo logo de primeira, tem sempre algo que escapa. Eu poderia ter pedido ajuda, mas lancei nos streamings com o nome “Mathy Cuelbas”. Um ano depois comecei a mudar minha mentalidade e queria fazer algo que tivesse qualidade, então para recomeçar criei um outro nome para me distanciar desse passado obscuro.

2112. O seu primeiro contato com a música aconteceu aos sete anos e desde então ela tem servido de refúgio para você lidar com o autismo, a depressão e a bipolaridade. David, que bandas ou estilo musical te ajudou nesse processo de cura?

David: Olha, nessa época meus maiores amigos eram a Legião Urbana e os Beatles... Eles, principalmente Legião, serviram de abrigo nesse período tempestuoso que passei.

2112. Entre os álbuns gravados por Bowie e Selah quais te influenciou mais? Algum em especial?

David: No caso do Bowie não teve um álbum em específico e sim a capacidade de transitar por qualquer estilo sem perder a própria personalidade... Essa qualidade de ser um camaleão é algo que almejo pra mim até hoje... Pra mim liberdade, autenticidade, paixão e criatividade são o que fazem um artista de verdade. Já a Selah Sue o primeiro álbum dela (também chamado Selah Sue) me impactou bastante tanto pela sonoridade quanto pelo timbre da voz.

2112. Particularmente gosto muito dos álbuns Low, Heroes e Lodger da sua fase alemã que inclusive serviu de base para o movimento pop, tecnopop, new wave entre outros que surgiriam posteriormente. Qual a sua fase predileta do camaleão?

David: Em questão de sonoridade gosto muito do álbum Station To Station e do próprio Heroes... Visualmente acho incrível a androgenia da fase Ziggy Stardust, além daquelas roupas malucas.

2112. Você chegou a assisti-lo no Rock In Rio?

David: Não, infelizmente só fui explorar mais a obra do Bowie quando ele já havia falecido... Na verdade foi assim com diversos artistas que amo, tipo o Chris Cornell, cuja obra só fui conhecer após sua morte trágica. 

2112. O que mais te influencia na hora de compor?

David: Os momentos de dor e solidão que experienciei na minha adolescência me influenciam até hoje, mesmo que indiretamente... Estar apaixonado é outra coisa que sempre me ajudou na produtividade... Cheguei a escrever 12 músicas num período de 7 meses para uma única pessoa (em 3 idiomas diferentes).

2112. Você compõe muito?

David: Tem um amigo meu que disse que sou “uma máquina” quando tentamos compor juntos. Eu não consigo ficar muito tempo sem compor músicas, eu começo a ficar incomodado... Tem vezes que não tenho muita   inspiração, mas todo mês vai ter pelo menos uma canção nova. Apesar de ter tentado compor com esse meu amigo (e outras pessoas) percebi que não levo muito jeito pra trabalhar em grupo, já que eu acabo monopolizando tudo... Querendo ou não, aquele meu lado individualista de querer fazer as coisas sozinho ainda se faz presente quando é pra compor músicas, e pior que nem é egoísmo nesse caso, as ideias fluem mais quando estou só eu e o violão.

2112. Goodbye To Pariah é seu primeiro álbum solo. Quem produziu e quem participou das gravações?

David: Todos os meus lançamentos foram produzidos pelo meu professor de canto, Fabiano. No EP, meu trabalho de estreia, ele tocou praticamente todos os instrumentos e fez grande parte dos arranjos.

2112. Você tocou algum instrumento ou apenas cantou?

David: No EP toquei a linha de baixo de Evil Messiah, fiz umas frases de guitarra na intro de Songbird e fiz o primeiro solo de guitarra na já citada Evil Messiah (com uma inspiração nada sutil de Little Wing, do meu ídolo Hendrix). Em 2021 lancei um single sobre a pandemia chamada “Ladders To Love” onde, além da faixa-título, tem uma versão voz e violão da mesma música em que estou fazendo essas duas funções. Um ano depois, no meu primeiro álbum, queria participar mais e gravei todas as linhas de baixo, além de ter feito o solo de guitarra em War Horses e Little Monster e tive mais ideias de arranjo também... No EP eu cheguei a dar ideia de um ou outro arranjo, porém nada muito expressivo.

2112. E como foi a experiência de gravar suas próprias composições? Você mesmo quem fez os arranjos?

David: Foi superlegal ver as demos toscas que gravo no meu celular ganhando vida. Já em relação aos arranjos, eu fui aprendendo com o tempo, apesar de ter dado algumas ideias eu ficava frustrado de não contribuir tanto quanto eu gostaria. Eu não sou do tipo que sabe o que quer logo de cara, tenho que descobrir sozinho enquanto gravo. Desde 2018 eu venho me aperfeiçoando em produzir músicas, já que meu grande sonho é produzir um álbum que eu tenha feito tudo, assim como meu produtor faz na carreira musical dele... Algo que tenha a minha cara (eu sinto falta disso em algumas músicas minhas). O arranjo faz toda diferença na música... Eu compus todas, mas os arranjos são em sua maioria do Fabiano e acaba tendo muito mais a cara dele do que a minha, às vezes. Na época do Pariah comecei a fazer os arranjos no meu home studio, na raça... Porém meu produtor rejeitou, talvez por ainda faltar alguma coisa. Hoje em dia já tenho capacidade de fazer arranjos interessantes. Tenho algumas músicas guardadas em que fiz tudo (produção, arranjo, composição). Não vejo a hora de lançá-las!

2112. O álbum é a fusão de suas várias influências suas ou segue mais direcionado para um único estilo musical?

David: O Pariah é uma mistura de Beatles e (principalmente) hard rock dos anos 70, que são justamente minhas grandes influências. Eu aprendi a compor ouvindo Beatles... Esse ano compus uma bossa nova e até ali tinha influência dos garotos de Liverpool.

2112. David, antes de gravar Goodbye to Pariah você participou de alguma banda?

David: Sim. Aos 17 anos fundei um power trio com dois moleques de 13 anos. Na época eu queria montar uma banda e disse pro meu produtor, que respondeu: meu filho toca guitarra e o amigo dele toca bateria. Batizamos a banda de Soldado Azul, por conta de um poema que escrevi aos 15 anos. Estamos juntos até hoje...

 
2112. Um ano depois é lançado os singles Book Of Life e Other Faces esta última apenas voz e piano. E esse ano você lançou Candle In The Dark; Hell Behind My Eyes; Crazy Mary; Dreamer; In This Darkness e Johnny Stone. Esses singles serão incluídos em seu próximo álbum?

David: Sim. O curioso é que não era para eu ter lançado tantos singles...  Depois do Candle In The Dark já viria o álbum, chamado Other Faces. O problema é que vivemos num mundo em que as pessoas não têm mais paciência para ouvir um álbum inteiro, então, para aproveitar as músicas, eu e meu produtor tomamos a iniciativa de lançar as faixas do álbum como single. O problema é que fica muita coisa pra divulgar e eu sou super preguiçoso, então estou terminando umas quatro musiquinhas e depois (finalmente) será lançado esse álbum! Sério, ele começou a ser idealizado lá em 2022... Foi o extremo oposto do Pariah. Meu primeiro álbum foi feito às pressas, começamos a gravar em meados de outubro de 2021 e eu comecei a apressar meu produtor para o álbum sair no meu aniversário (18 de fevereiro). Talvez Other Faces saia esse ano (assim espero). 

2112. O que mudou na sua carreira após participar do programa Caldeirão do Mion?

David: Por incrível que parece não mudou muita coisa... Os seguidores aumentaram em níveis absurdos, mas oportunidades de shows não teve nada e de publi só umas poucas que nem valiam à pena. É que, se for ver, a tv aberta perdeu o impacto que tinha antes... Se eu fosse na Globo há 20 anos atrás, tenho certeza aconteceriam muito mais coisas legais na minha carreira.

2112. Você cantou Baba O´Riley, um dos grandes clássicos do The Who uma das minhas bandas prediletas. Qual foi a reação das pessoas?

David: Depois que passou o programa recebi alguns comentários de pessoas felizes e ao mesmo tempo surpresas por verem alguém cantando rock das antigas na tv aberta. Até mesmo um funcionário da Globo veio me abordar todo feliz antes de eu entrar pra cantar: quando ouvi que alguém iria cantar The Who aqui nem acreditei, sou fã dessa banda.

2112. Além do The Who que outras bandas são fortes influências no seu modo de cantar?

David: Cara, Led Zeppelin e Deep Purple (fase Gillan e fase Hughes/Coverdale) me influenciaram bastante... Chris Cornell também (principalmente no Soundgarden e Temple Of The Dog). Ah, e meu professor de canto/produtor Fabiano Negri… E se for parar para analisar, todas as minhas influências, quase tudo o que me atrai musicalmente tem raízes no blues. Em 2021, quando gravei meu primeiro cover em português, percebi uma forte influência do Renato Russo no meu jeito de cantar (em particular na impostação do grave). Até hoje, principalmente quando canto legião, as pessoas vivem comparando... Já li comentários dizendo que eu era o “novo Renato Russo”, acredita?

2112. Você curte apenas as “classic bands” ou está sempre aberto a novidades?

David: Amo as classic bands, mas também gosto de descobrir outros sons... Mesmo nas novidades, não consigo ser tão moderno. Preciso tirar algumas teias de aranha dos meus ouvidos.

2112. Que bandas novas atraiu a sua atenção?

David: Gosto de um power trio da indonésia chamado Gugun Blues Shelter, Rival Sons, Blues Pills... De nacional gosto muito da Lippo À Vapor e Rei Lagarto, vale super a pena conferir essas duas. Nenhum desses são muito recentes...

2112. Você conhece a Gypsy Tears, banda maneira de hard metal que lançou seu primeiro álbum recentemente?

David: Não conheço...

2112. Atualmente você faz parte da formação da Lippo á Vapor. Como surgiu o contato entre você e a banda?

David: Mais uma vez, Fabiano deu um empurrãozinho. Ele viu que uma banda de rock comandada por um guitarrista experiente estava precisando de vocalista e ele me indicou. Por coincidência, o baterista da banda fora aluno do Fabiano e já acompanhava meu conteúdo. Aí fui pesquisar sobre esse guitarrista, Lippo Baldassarini, e fiquei abismado de ver que ele já tocou com bandas que eu conhecia tipo Made In Brazil e Harppia... O Lippo entrou em contato comigo nas redes sociais e pronto, eu estava na banda. Aprendi muito (e inda estou aprendendo) com esse pessoal experiente: o Lippo tem 70 anos, o batera e o baixista tem o dobro da minha idade e eu, atualmente com 24 anos.

2112. Pelo que soube vocês estão com o álbum está praticamente pronto. Sabe informar se será lançado ainda este ano?

David: O álbum era para ser lançado esse ano, mas resolvemos adiar pro ano que vem para poder fazer algo mais organizado.

2112. David, o que as pessoas que curtem o seu trabalho e os da Lippo à Vapor podem esperar do material gravado?

David: Posso dizer que o álbum da Lippo com essa nova formação vai ser voltado, quase que exclusivamente, para o heavy metal em português... As fases anteriores deles iam muito mais para uma pegada mais hard rock, mas como eu tenho essa coisa meio operística da voz mais impostada, ficou uma onda muito mais metal. Gosto muito das músicas que estamos fazendo!

2112. Ele será lançado apenas nas plataformas digitais ou também terá lançamento físico?

David: Uns meses atrás eu e o Daniel (baterista) estávamos discutindo sobre isso... Ele disse que essa coisa de Cd não valia mais á pena hoje em dia. Ele deu a idéia de botar num pendrive ou algo assim... Vamos ver como vai ser isso. De qualquer forma foi acordado entre a gente que não vai ter cd.

2112. E como as pessoas fazem para adquirir o seu álbum solo?

David: Ah, está lá no mercado livre. As pessoas podem me mandar uma mensagem na DM do instagram ou no meu e-mail de contato (davidsuecontato@gmail.com).

2112. ... o microfone é seu!

David: Queria agradecer a oportunidade de estar concedendo esta entrevista e... Acho que vou vender meu peixe (risos): quem puder, siga no instagram as duas bandas que faço parte @lippoavapor e @osoldado_azul. Vocês podem estar ouvindo eu e a Lippo á Vapor no Spotify, é só digitar David Sue e Lippo à Vapor e escutar. 

Obs.: Todas as fotos foram retiradas do arquivo do cantor/músico.

domingo, 22 de setembro de 2024

Entrevista Candice Fiais

2112. Candice, o seu trabalho tem fortes influências do blues, do soul, do folk, do country e do rock. Mas qual desses estilos grita mais forte dentro de você?

Candice. É uma pergunta difícil! Acredito que o rock, que está há mais tempo na minha vida e dentro das minhas referências. Os demais vieram depois. Além do que eu aprecio especialmente as vertentes dos demais estilos quando elas dialogam de algum modo com o rock: blues rock, country rock ... Mas é bem difícil escolher um favorito, pois aprecio e escuto todos eles e construí meu som a partir dessas referências combinadas.

2112. O desejo de se tornar cantora sempre esteve vivo dentro de você ou aconteceu após sair de um show ou de ouvir um álbum?

Candice. Sempre quis ser cantora. Se bobear, nasci querendo. Nunca tive sonho de ser atriz, ou médica, ou bailarina como a maioria das meninas, hahaha. Desde criança, cantar era a coisa que mais gostava de fazer.

2112. No início era só você, violão e gaita ou já participava de bandas?

Candice. Eu comecei na música com a minha primeira banda de rock, a Anacê. Gravamos um álbum e fizemos shows durante alguns anos, foi uma época de aprendizado e descoberta pra mim. Só fui virar artista solo depois.

2112. E quando foi que começou a se apresentar profissionalmente?

Candice. Comecei com a Anacê (minha primeira banda), aos 15 anos.

2112. Você tem Bonnie Raitt, Susan Tedeschi, Aretha Franklin, Alanis Morissette, Rita Lee e Marisa Monte como influências. O que elas te ensinaram e que você levará consigo pro resto da vida?

Candice. Todas são frontwomen extremamente competentes num mundo meio que dominado por homens. São compositoras, excelentes musicistas e com muito a dizer. Sempre me espelhei nelas pra buscar excelência e continuar sempre evoluindo. Aretha Franklin pouco antes de morrer estava estudando novos riffs de piano pra surpreender o público nos shows. Bonnie Raitt acabou de gravar um disco e ganhar um Grammy, aos 74 anos. Alanis, Rita Lee e Marisa são compositoras incríveis, com uma obra vastíssima e letras extremamente inteligentes e inspiradoras. Susan, uma cantora e guitarrista de blues que é uma escola de bom gosto e primor musical. Todas são referências máximas pra mim.

2112. É notório que rola preconceito quando o assunto é mulher na música seja ela cantora, instrumentista, compositora, branca ou negra. Que tipo de constrangimento você já passou e como lidou com o problema?

Candice. A misoginia está em todos os lugares. Por exemplo, já aconteceu de, no trato com profissionais homens da equipe de produção de eventos, eu precisar fazer um esforço enorme pra ser reconhecida como a líder da banda, pra que eu fosse consultada sobre as deliberações a serem tomadas. É uma forma de nos diminuir mesmo que eu obviamente esteja ocupando aquela posição de destaque. Também já fui vítima de desrespeito e grosseria nesses ambientes de bastidores, nitidamente por ser mulher. Mas tem a misoginia mais sutil também, que as vezes está no tom de uma entrevista, de uma reunião, aquele tom professoral que o homem adota em relação à interlocutora mulher, pra nos rebaixar e estabelecer uma relação meio que de hierarquia do conhecimento e da experiência, sabe? É bem comum isso e quem é mulher sabe do que eu tô falando. 

2112. Na sua opinião o que precisa ser feito sobre esta questão?

Candice. Não vejo muitos caminhos além de nós mulheres procurarmos nos impor do jeito certo, e estabelecer sempre limites no trato com os homens, pra que eles entendam que não estão sempre no comando de tudo e que todos devem ser respeitados da mesma forma, independentemente de serem homens ou mulheres, ou trans ou o que quer que seja. Acho importante também que valores como respeito e isonomia sejam sempre transmitidos às crianças, principalmente aos meninos, pra que se tornem homens conscientes a respeito disso em relação às mulheres de um modo geral. No meio da música, em específico, acredito que ajudaria bastante se as mulheres musicistas reforçassem menos o estereótipo de "mulher sexy que toca um instrumento", ou cantora que recorre excessivamente a elementos de sensualidade no palco, por exemplo, porque tudo isso acaba contribuindo pra reduzir a nossa existência e nosso valor a meros pedaços de carne à disposição do deleite masculino. Vai contra o esforço enorme que tantas mulheres já fizeram no sentido de nos desobjetificar. Isso tem acontecido bastante e me entristece um pouco.

2112. Você está a vinte e quatro anos na estrada com diversas indicações, premiações, participou em grandes eventos e lançou dois álbuns lançados. Qual o balanço que você faz de tudo isso e o que não faria novamente se pudesse voltar no tempo?

Candice. Eu faria tudo outra vez! A música sempre fez parte de minha vida e no que depender de mim, fará pra sempre. Tudo que eu construí, toda a minha trajetória dentro da música, foi verdadeira e honesta com os meus valores e com as coisas que acredito. Nunca apelei a métodos e estilos que não me agradam, pra ganhar projeção, oportunidades, ou nada do tipo. Tenho orgulho do caminho que trilhei e do legado que deixei, embora simples, pois desde sempre esteve claro pra mim que dificilmente me tornaria uma artista mainstream, pelo estilo musical que abracei, pelo lugar onde nasci e cresci, e pelas dificuldades do show business que são inúmeras. Mas o amor à música é o que sempre tem me movido, e no fim das contas, é o que importa pra mim.

2112. Que instrumentos você toca?

Candice. Eu toco violão, gaita diatônica, piano e um pouco de guitarra.

2112. Anacê é a banda que a acompanha todos esses anos na estrada. Qual é a sua história?

Candice. A Anacê foi a minha primeira banda, formada com meu irmão e meus 3 primos lá por volta de 2005. A gente fazia um pop-rock autoral, inspirado em The Cranberries, U2, Alanis Morissette. A época com a Anacê foi um aprendizado enorme pra mim, super importante pra minha trajetória na música e pra ajudar a construir o que eu sou hoje como cantora. Foram ali minhas primeiras experiências de palco, de gravação em estúdio, de composição, de turnê. Foram anos muito legais que eu lembro com uma nostalgia bacana.

2112. Blues Azuis é lançado em 2015 com dez composições próprias onde você fez um bom uso da guitarra, da gaita e belas harmonias vocais. O trabalho final te satisfez?

Candice. Eu tenho muito orgulho do Blues Azuis, acredito que ele traduziu bem a minha musicalidade na época e nas letras do álbum eu consegui expressar os sentimentos daquele momento da minha vida. Achei que a sonoridade final ficou muito bonita e me agradou bastante.

2112. Alguns veículos o taxaram de pop-blues. Isso de uma certa maneira te incomodou?

Candice. De jeito nenhum! Eu adorei. Entendi como uma referência ao blues acessível para o grande público. E acho que é bem isso mesmo.

2112. Apesar desse incidente como foi a repercussão de Blues Azuis junto a crítica e o público? Quais músicas tiveram maior destaque?

Candice. A repercussão foi ótima, o trabalho foi elogiado em diversos veículos da imprensa, conseguimos algumas matérias de destaque nos maiores jornais de circulação da Bahia. A música que teve maior destaque desse álbum foi "De Verdade", o primeiro single. É a queridinha das playlists até hoje.

2112. Em suas letras você abordar questões pessoais ou apenas temas do cotidiano? 

Candice. Eu abordo tudo que a inspiração me indicar. Não coloco limites nas letras. Normalmente elas são auto-biográficas, mas também tem letras inspiradas em outras pessoas, em coisas que vejo acontecendo por aí, em notícias, na política, em situações do cotidiano, enfim, o que ocorrer! E o que a melodia da música solicitar também.

2112. Como é o seu processo de compor músicas e escrever letras? Você faz tudo sozinha ou curte parcerias?

Candice. A maioria das músicas eu escrevo sozinha, porque acaba sendo um processo super pessoal, instrospectivo mesmo. Primeiro desenvolvo as melodias e depois vêm as letras. Eventualmente eu busco parcerias, e os resultados foram bacanas, tenho composições em parceria com CH Straatman (Ode à Solidão) e Icaro Britto (No Mesmo Lugar e Epifania).  Cada parceria pede um jeito diferente de trabalhar. Com CH, por exemplo, ele já tinha a estrutura básica da música e eu acrescentei algumas coisas, modifiquei outras, coloquei minha contribuição.  Nas parcerias com Icaro, as letras já estavam prontas e ele contribuiu com os riffs e com a intenção rítmica e de harmonia. Mas cada música nasce de um jeito, e eu acho esse processo super interessante.

2112. Existe uma lenda de que o segundo álbum é a prova de fogo de um artista. E recentemente você lançou Groovy Quimera. Você acredita nessas superstições?

Candice. Haha! Não, não acredito. Acho uma continuidade natural do trabalho. É quase como um segundo filho que nasce, e tem seu próprio brilho, sua própria personalidade, suas próprias ideias.

2112. Acredito que a cada álbum lançado o artista vai construindo uma personalidade própria. O que esse segundo álbum evoluiu do primeiro?

Candice. Esse álbum, assim como o Blues Azuis, reflete a minha musicalidade do momento. A gente está sempre mudando, ouvindo coisas novas, absorvendo novas influências. Em relação ao primeiro album, o Groovy Quimera trouxe mais guitarra elétrica e gaita com drive e menos violão e vassourinha. O Blues Azuis tinha um acento folk/country que o Groovy Quimera substituiu por uma pegada mais rock. Eu queria um álbum mais enérgico, pra dar uma sacudida mesmo naquela vida que parou na pandemia, sabe? Um álbum que fosse feliz.

2112. Sua música é bem executada nas rádios locais e web rádios do mundo. Você já pensou em gravar em inglês ou espanhol para tentar carreira no mercado externo?

Candice. Eu passei a pensar mais nisso depois do Groovy Quimera, pois as duas faixas em inglês que gravei conseguiram inserções espontâneas em muito mais playlists do que as músicas em português. Comecei a perceber que meu trabalho parece ter mais potencial de relevância pra ouvintes internacionais do que locais. Acho que no Brasil existe cada vez menos pessoas buscando consumir música no estilo que eu faço... Mas posso estar enganada. A verdade é que eu não entendo desses algoritmos, e o gosto musical do brasileiro tem sido cada vez mais difícil de compreender pra mim, rsrs.

2112. Você poderia falar um pouco sobre a cena blues baiana? Além de você que outras cantoras ou instrumentistas existem na cena?

Candice. A cena blues baiana é rica e cada vez mais bandas e artistas tem surgido por aqui, além de festivais voltados ao gênero, o que me alegra muito em dizer. Já temos o Capão in Blues, de cuja primeira edição eu tive a felicidade de participar, ano passado. O Oxe é Jazz, que também abre espaço pra os artistas de blues. E percebo cada vez mais interesse do público e dos músicos em ouvir e tocar blues por aqui, o que é excelente. Como artistas que se destacam na cena, posso citar Eric Assmar, Luiz Rocha, Lon Bové, Bruno Balbi, Júlio Caldas, Márcio Pereira, Celso Dutra, Kal Rebello...

2112. Tive a sorte de entrevistar o lendário bluesman Álvaro Assmar e posteriormente o seu filho Eric. Quem mais você me indicaria?

Candice. Júlio Caldas e Bruno Balbi também tem trabalhos autorais muito interessantes e são músicos super talentosos e competentes, super indicaria uma entrevista com eles!

2112. Qual o telefone /e-mail para contratar seus shows?

Candice. 71 99978-0828 (celular e whatsapp) e e-mail candyfiais@hotmail.com

2112. ... o microfone é seu!

Candice. Quero agradecer à oportunidade de conceder essa entrevista e a todos que se interessam pelos artistas de blues e rock no Brasil! Convido a todos a conhecerem o meu trabalho, que está disponível em todas as plataformas de streaming - meus dois álbuns Blues Azuis e Groovy Quimera, a visitarem meu canal no YouTube, e me seguirem nas redes pra acompanhar minha agenda de shows! Em novembro farei alguns shows em SP, então já fica o pré-convite, postarei os detalhes no meu Instagram @candyfiais em breve! Um abraço!

Obs.: Todas as fotos foram retiradas do Facebook e do Instagran da Candice. 

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Entrevista Blind Horse

 

2112. A Blind Horse completou dez anos de atividades esse ano. Além dos singles Street Shaman, The Witch e Santiago y La Pesada del Rocanroll teremos mais alguma novidade?

Eddie Asheton. Sim, sim. Se tudo der certo até o fim do ano sai o nosso álbum novo, “Rock and Roll Days”, com essas músicas que foram lançadas como singles e mais algumas.

2112. Não seria interessante o lançamento de um álbum ao vivo? A energia que vocês passam no palco daria um ótimo registro, não?

Eddie Asheton. Sim, sem dúvida. Eu sou um grande fã de discos ao vivo, então ter um disco ao vivo do Blind Horse seria mais que um sonho. Não temos um álbum inteiro ao vivo, mas temos o EP ao vivo que lançamos durante a pandemia, “The Soma Lab Sessions”, gravado em Campos, aqui no Rio de Janeiro.

2112. "Rock and Roll Days" já está disponível em todas as plataformas digitais?

Eddie Asheton. Ainda não, mas muito provavelmente estará até o final deste ano de 2024.

2112. O que os fãs da banda podem esperar desse novo trabalho? 

Alejandro Sainz. Basicamente o Blind Horse dos discos anteriores, mas sempre ampliando as nossas fronteiras musicais sem perder o nosso DNA, sem deixar de ser rock and roll.

2112. Sou um fanático pela diversidade do blues então me responde uma coisa: em que faixas o estilo mais predomina?

Alejandro Sainz. É difícil dizer, pois temos uma música como End of the World Blues ou Stun Bomb Blues, que são literalmente blues, ou Curled, que tem um pedaço dos mais bluseiros da banda. Mas indiretamente ou não o blues perpassa todas as músicas. 

Rodrigo Blasquez. A influência do blues está em praticamente tudo que eu faço na guitarra. Quando não é na estrutura e nos riffs é nos solos.

2112. E como foi que surgiu a idéia de parodiar a capa do álbum Cheap Thrills da lendária banda Big Brother?

Eddie Asheton. Todos nós da banda somos grandes fãs tanto do rock dos anos 60 quanto do trabalho do desenhista Robert Crumb. Então foi só juntar os pontos e procurar um bom artista pra fazer a capa. E aí encontramos o Alexandre Mil que, diga-se de passagem, mandou muito bem.

2112. Mas será que Janis aprovaria a brincadeira ou quebraria uma garrafa de South Confort na cabeça do Alexandre Mil?

Gabriel Santiago. As duas coisas, provavelmente, hahahaha.

2112. O álbum será lançado apenas nas plataformas digitais ou também ganhará formato físico?

Eddie Asheton. Estamos nos esforçando ao máximo pra que o disco também saia no formato físico, pelo menos em CD. Adoraríamos também lançar o LP, mas infelizmente o preço de prensagem em vinil está proibitivo para nós, pelo menos por enquanto. Quem sabe um dia?

2112. Quantos trabalhos entre singles e álbuns vocês já lançaram?

Eddie Asheton. Até o momento, sem contar com o Rock and Roll Days e seus singles, foram 2 EP’s e o álbum Patagonia, que quando foi lançado teve uma das suas músicas lançada como single, Noite Estranha.

2112. Ao longo do tempo a Blind Horse vem construindo um som próprio ao misturar o seu hard rock com elementos do punk, prog, folk e blues. Como vocês definem o som da Blind Horse?

Eddie Asheton. Acima de tudo eu definiria como Rock and Roll, pois tudo o que nós tocamos passa por esse filtro. A gente não toca blues como os blueseiros do Mississipi, rock progressivo como o Yes ou o Genesis, ou folk como o Arlo Guthrie. No fim das contas nós acabamos tocando esses e outros gêneros como uma banda de rock. Por mais que a gente adore tudo isso.

2112. Tenho visto o surgimento de diversas bandas com influências direta dos anos 60/70. O que vocês têm escutado de interessante nos últimos tempos?

Eddie Asheton. De mais recente tem duas bandas que eu tenho ouvido sem parar: os americanos do Frankie And The Witch Fingers e os dinamarqueses do Vilde Graes. E também tenho ouvido muito algumas bandas daqui como o Gran Mostarda, o Astrovenga e o Centro da Terra.

2112. Sou fã de carteirinha da banda Centro da Terra. Já até os entrevistei quando estavam perto de lançarem o terceiro álbum. Eles são maravilhosos.    

Alejandro Sainz. Algumas que me vêm à mente agora são o Wucan, Lé Betre e Danava. Nomes estranhos, né? Aqui no Brasil temos bandas excelentes com influências dessa época, como o Hammerhead Blues e o Psilocibina. 

Rodrigo Blasquez. Muladhara e o Gods & Punk, no qual inclusive eu e o Gabriel tocamos também.

2112. "Rainbows In The Dark" incluída na coletânea da revista Classic Rock teve boa aceitação nas rádios inglesas e européias?

Alejandro Sainz. Confesso que não faço ideia. E torço muito para que as rádios inglesas e europeias tenham boa aceitação. Adoro rádio. 

2112. A Classic Rock não poupou elogios a banda: "O Blind Horse do Brasil está entre os melhores fetichistas do ramo do proto-metal, disparando um som vintage setentista devastador com muita autenticidade e wah-wahs extremos na guitarra. Tão psicodélico que você vai esquecer o seu próprio nome antes que a experiência termine.” Vocês chegaram a fazer algum show no exterior?

Gabriel Santiago. Ainda não, infelizmente. Mas vamos adorar se um dia acontecer.

2112. A maioria das bandas surgem em porões, garagens ou bate-papos entre amigos. Qual é a história do Blind Horse?

Eddie Asheton. Na verdade o Blind Horse começou com o fim da outra banda em que eu, o Ale e o Rodrigo tocávamos, os Mothers. Aí o Blind Horse começou quando nos juntamos com o Maicon Martins, que inclusive foi o baterista que gravou o EP In the Arms of Road e o Patagonia.

2112. Vocês todos compõem na banda?

Rodrigo Blasquez. Sim, sim. Um de nós chega com a idéia inicial da música e aí nós 4 a desenvolvemos juntos nos ensaios.

2112. Atualmente qual é a formação da Blind Horse?

Eddie Asheton. Eu no baixo, o Alejandro Sainz nos vocais, Rodrigo Blasquez na guitarra e Gabriel Santiago na bateria. Já estamos com essa formação desde o meio de 2017!

2112. A banda está trabalhando num tributo a um gigante do rock. O que vocês podem adiantar sobre o projeto?

Alejandro. É um gigante do rock, realmente. Eu adoraria fazer tributo ao Cactus ou ao Ten Years After, mas infelizmente o bar não iria vender muitas cervejas.   

2112. O projeto é apenas para shows ou será filmado e gravado também?

Eddie Asheton. Ainda estamos decidindo os formatos desse projeto.

2112. Os shows contarão com participações especiais de outros músicos e cantores?

Eddie Asheton. Talvez, talvez...

2112. Qual o telefone/e-mail para contratação dos shows e aquisição de material de merchandising?

Alejandro. Qualquer tipo de contato pode ser feito pelo nosso e-mail: theblindhorseband@gmail.com

2112. ... o microfone é de vocês.

Alejandro Sainz: Obrigado pelo espaço e fiquem atentos ao nosso som e às novidades através das plataformas e das redes sociais. A gente se vê pela estrada!

 

 
Obs.: As fotos foram todas retiradas do Facebook da bandas e foram clicadas por Guilherme Caetano e Cerutti Diass.