2112. Lael, como surgiu o Projeto Tânia Maria?
Lael. Bom, a primeira música que ouvi de Tânia Maria, há mais de 20 anos, foi Yatra Ta. Claro que, de imediato, já me chamou a atenção pela dificuldade técnica da melodia, andamento acelerado e, obviamente, uma maneira de tocar muito particular e com extremo suingue brasileiro. Desse momento em diante, comecei a gostar cada vez mais, o que me motivou a conhecer e pesquisar sua obra mais a fundo. E, sem nenhum motivo específico, em 2017 reiniciei minhas audições e de repente pensei: "O som da Tânia é daqueles poucos que com certeza agrada aos músicos e também ao público leigo, mesmo sendo praticamente desconhecida no Brasil... sendo assim, por que não então fazer uma homenagem a ela?''. E foi assim que tudo começou.
2112. O projeto é muito interessante pois além de divulgar o nome da cantora/pianista eterniza a sua obra para toda uma nova geração, não é?
Lael. Exatamente. A importância musical de Tânia Maria é gigantesca e, infelizmente, ela e sua obra são muito pouco conhecidas em seu próprio país, apesar de reconhecida e renomada no mundo inteiro. E este é nosso principal objetivo: fazer com que o máximo de pessoas, principalmente no Brasil, a conheçam e entendam sua relevância incontestável na música mundial.
2112. Acredito que nome do grupo deve despertar a curiosidade de muitas pessoas, não?
Lael. Sem dúvida. Algumas vezes chegaram inclusive a confundir, achando que nosso show seria o show da própria Tânia. Até porque seu nome está presente no título do trabalho. Mas, a meu ver, não haveria outra maneira de divulgá-la mais enfaticamente se seu nome não estivesse presente na apresentação. Até nosso 1o. álbum gravado e lançado através do Selo Sesc em 2021 contém também o nome dela: "Parabéns, Tânia!"
2112. Infelizmente moramos num país que pouco valoriza sua própria cultura. Eu por exemplo (e acredito que muitos que estão lendo a entrevista também...) não conhecia o trabalho da Tânia. Qual a sua opinião acerca disso? Isso te frustra com fã e músico?
Lael. Infelizmente nosso país vive essa ignorância cultural desde sempre...e Tânia está inserida neste contexto. Nós músicos estamos acostumados com essa falta de identidade cultural, musical, artística. O Brasil não divulga nem valoriza os seus grandes...e a mídia quase sempre procura aquilo que é "sucesso", de qualidade duvidosa e mais fácil de ser consumido como produto onde a venda do mesmo é o mais importante, visando sempre o lucro instantâneo. Mas acho que nós, artistas de todas as áreas, estamos também aqui nesta vida para isso: para que esta disparidade seja cada vez menor.
2112. Fica a pergunta: Como uma carreira com mais de quarenta anos é tão pouco difundida em seu país (digo mídia!) e tão aclamada fora dele?
Lael. Acredito que na Europa e Estados Unidos, por exemplo, a cultura é mais valorizada. Eles também produzem, claro, a "música de massa"..., porém existe o respeito pelas origens, pelo início de cada caminho. O Jazz americano, berço da música estadunidense, é agraciado com premiações específicas anualmente, e seus artistas são valorizados dentro da categoria. Existe o espaço para todos, um mercado específico que funciona, embora obviamente eles variem sua dimensão. Acho que é isso que falta aqui: a valorização das origens, sejam musicais, sociais ou de raça. O povo brasileiro já consegue há algum tempo lutar pelos seus direitos de classe, pelo fim dos preconceitos sócio raciais...mas a música, como é geralmente entendida como entretenimento e não arte, não é tão valorizada e perde sua importância dentro do que é considerado relevante pela maioria.
2112. Como você descreveria Tânia e sua obra? O que mais te chama atenção e o que ela achou do projeto?
Lael. Tânia Maria é única! É uma energia vigorosa, vibrante, que cativa e engrandece nossa cultura! Musicista de 1a. linha, tecnicamente, ousada e com muito suingue...através de sua música, letras e ritmos, ela mostra o Brasil em sua essência...sem dúvida um dos grandes expoentes da música brasileira jazzística e um ícone para as mulheres! Negra, pianista, intérprete, compositora, mãe, e venerada por sua família. Nos sentimos extremamente realizados e honrados pois Tânia e sua família, desde o início, incentiva e endossa nosso trabalho. Já estivemos com ela, as irmãs ( Vânia, Maria Lilia e Sandra), seu filho Marco Tulio e família, e sempre fomos tratados com muito carinho e respeito. Esta é nossa verdadeira vitória!
2112. Vocês tocam apenas material gravado por ela em seus discos ou também inclue standards de jazz/mpb e material autoral nas apresentações?
Lael. Em nosso repertório, incluímos os grandes sucessos de Tânia...tanto as canções com letra (como "Funky Tamborim", "Come With Me" e "Don't GO), como as composições mais instrumentais (como "Yatra Ta", "210 West" e "Bronx"). Tocamos também sucessos de outros compositores que fizeram parte do repertório da artista ao longo dos anos e, mais recentemente, estamos trabalhando também o lado autoral do Projeto Tânia Maria". "Parabéns, Tânia!" e "Batuque Feminino" são duas composições de Anette Camargo que representam essa "veia autoral"
2112. Entre os álbuns gravados por ela qual o seu favorito ou qual você indicaria como porta de entrada para quem ainda não conhece a sua obra?
Lael. Em minha opinião, se você ainda não conhece Tânia Maria, comece com o álbum "Piquant" de 1981. Este trabalho contém o que costumo chamar de "3 vertentes de Tânia": canções autorais com letra, composições instrumentais próprias e sucessos de outros grandes compositores executados muito peculiarmente, ao seu estilo.
2112. Em 2021 é lançado o álbum Parabéns Tânia!. Como foi realizado o processo de gravação e a escolha do material?
Lael. Após a escolha do repertório, fizemos inicialmente uma sequência de ensaios. Logo após, gravamos as 11 faixas em 3 dias. 2 ou 3 takes de cada música para podermos escolher a melhor delas. em seguida, como é de praxe, vem a fase de mixagem e masterização. O processo todo, fora os ensaios ( que foram muitos, rssss ) durou 2 meses. Gravamos através do Selo Sesc, o que nos deixa extremamente felizes pois esta instituição proporciona, hoje em dia, uma das melhores condições em termos de infraestrutura para quem trabalha neste ramo.
2112. Vocês mesmo produziram o álbum?
Lael. Eu assinei a Direção Musical e escolhi o repertório. Porém todos os músicos colocaram suas "impressões digitais" e ficaram livres para se expressar musicalmente como desejassem, dentro obviamente da linguagem do Universo da música de Tânia Maria. O resultado é mérito de todos!
2112. E quanto aos arranjos... vocês seguiram os originais gravados nos álbuns da Tânia? Como vocês trabalharam essa questão?
Lael. Inicialmente, seguimos à risca os arranjos de Tânia. No decorrer do processo, fomos colocando "nossa cara" em algumas músicas específicas. Atualmente o trabalho se desenvolve mesclando estas duas vertentes
2112. Parabéns Tânia! foi lançado em formato físico ou apenas nas plataformas digitais?
Lael. Apenas digitalmente, nas plataformas.
2112. A cena instrumental brasileira praticamente inexiste na questão da mídia que pouco divulga... no entanto tem um público cativo que sempre vai aos shows e festivais. A aceitação do álbum foi boa?
Lael. Foi ótima! Recebemos várias críticas maravilhosas! Lembrando ainda que, talvez pela diversidade nas composições de Tânia, onde existem as obras com letra, a receptividade tenha sido ainda mais favorável.
2112. A cantora esteve presente no JazzB (2018), na estréia do quarteto e no lançamento do álbum que aconteceu no Sesc Vila Mariana (2021). Ela apenas asssitiu ou deu uma palhinha?
Lael. Para nossa extrema alegria, ela esteve não apenas nestes dois shows, mas também em nossa última apresentação no Blue Note São Paulo (agosto/2023). Nestes momentos, ela preferiu não tocar nem cantar, mas, é claro, fizemos sempre questão em homenageá-la e agradecê-la por tanto!
2112. Quais são os projetos de vocês para o próximo ano? Teremos um novo álbum?
Lael. Iniciamos 2024 com dois novos singles: "Batuque Feminino" (composição de Anette Camargo em homenagem a todas as mulheres musicistas) e "Johhny Demais"(composição de Tânia, até então inédita, em homenagem a Johnny Alf). O trabalho se encaminha também para um aumento das composições do grupo e por novos arranjos de outras músicas de Tânia Maria. Ainda este ano, lançaremos também o "Projeto Tânia Maria Instrumental", apenas com composições de Tânia sem letra.
2112. Qual o e-mail/telefone para contratar vocês?
Lael. Contrações através do e-mail laelmedina@hotmail.com ou de meu fone/whats: (11) 99777-4259
2112. Obrigado pela entrevista... o microfone é seu!
Lael. Primeiramente gostaria de agradecer a você Carlos Dinunci pelo interesse no projeto e pela oportunidade de divulgar nosso trabalho e a arte maravilhosa de Tânia Maria. Fiquem ligados nas novidades do Projeto Tânia Maria através de nossas redes sociais (www.instagram.com/projetotaniamaria e www.facebook.com/projetotaniamaria ) e não deixem de ouvir e conhecer cada vez mais a obra desta imensa artista negra maranhense. Obrigado!
Integrantes:
Anette Camargo: Voz/Piano/Teclado;
Lael Medina: Bateria/Direção Musical;
Líbero Dietrich: Baixo Elétrico;
Danilo Moura: Percussão.
Obs.: As fotos que ilustram a entrevista foram todas
retiradas da pagina do Projeto Tânia Maria. Qualquer assunto relacionado sobre
os nomes dos fotógrafos e só entrar em contato via e-mail:
retamero2112@blogspot.com que faco que faço as devidas correções.