segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Entrevista Tatá Mesa

2112. Você iniciou sua carreira na banda Linha do Tempo. Que tipo de som vocês faziam? Existe gravações da banda?

Tatá. Isso foi na década de 80. Fazíamos um rock autoral divertido (rs). Era um som baseado em tiração de sarro, sátiras políticas e muita rebeldia. Os anos 80 eram bem diferentes de hoje com a internet. Para gravar tínhamos que alugar estúdios que eram muito caros e isso fez com que tivéssemos poucos registros. Muitas músicas se perderam, mas tenho algumas poucas gravações no meu arquivo pessoal. De todos os integrantes que participaram desta banda só eu, o Milton Salgado e o Johnny Frateschi que continuamos na ativa.

2112. Você é multi-instrumentista autodidata, produtor de jingles, trilhas sonoras, publicitário, cantor, compositor etc. Como é viver num país onde a cultura é cada vez mais sucateada?

Tatá. Extremamente complicado!!! Tivemos um plano Collor no passado que praticamente acabou com a cultura e a classe artística em geral. De lá pra cá pouca coisa mudou em relação a educação e cultura. Tem gente que ainda vê o artista como vagabundo e drogado. Não enxergam que somos trabalhadores que movimentam a economia brasileira. É muito triste ver a desvalorização dos artistas brasileiros. Temos talentos incríveis neste país que são reconhecidos internacionalmente e aqui sofrem para conseguirem se apresentar.

2112. ... o público de uma certa maneira tem uma parcela de culpa pois poderia apoiar mais os eventos culturais, não?

Tatá. Mas isso é o reflexo da precariedade da nossa política de cultura e educação. O público que não tem uma formação cultural não consegue apoiar os eventos e ao mesmo tempo não tem culpa. Tivemos muito pouco incentivo a educação e cultura por parte dos governantes. Os festivais de música foram extintos; nosso cinema começou a ter expressividade a pouco tempo; sempre fomos incentivados a consumir arte internacional; temos poucas universidades; temos uma renda per capita que não favorece o lazer, educação e cultura; ou seja... o povo não pode ser cobrado do que não foi ensinado.

2112. Existe uma quantidade de eventos espalhados por todo o país com uma escalação super bacana de bandas e músicos para um público muito das vezes diminuto e apático. Como músico qual a sua opinião a respeito disso?  

Tatá. É como falei anteriormente... não existe essa cultura no país. Temos artistas de primeira linha, mesmo com tantas dificuldades, que são ilustres desconhecidos. Mas a internet está aí para nos ajudar atualmente. É onde conseguimos divulgar nosso trabalho de maneira hercúlea para gerar o conhecimento e curiosidade do público. Mesmo assim a taxa de converção  de fãs ainda é baixa. 

2112. Durante o período da pandemia assisti a live de um grande músico que eu admiro pra caramba e dava para contar nos dedos a quantidade de pessoas. Confesso que não dá para entender...

Tatá. Na pandemia fiz várias lives. Fui convidado para fazer uma live por um aplicativo internacional e ganhei uma premiação por ficar entre os 40 artistas mais vistos e curtidos no mundo. Também consegui fazer algumas lives pela Lei Aldir Blank que foram vistas por um número razoável de pessoas, mesmo assim um número baixo para os padrões de internet. Obviamente a falta de verba para divulgação ajudou bastante e isso ainda é um grande problema para os artistas brasileiros.

2112. ... assim fica difícil viver de música autoral, não é?

Tatá. Todo artista, em primeiro lugar, é movido pela paixão a arte e cultura. Todos nós temos que ter duas profissões para levar a arte em frente. Mesmo assim trabalho menos do que deveria com música autoral e me dedico mais em fazer shows com releituras de clássicos do blues pois vende mais e dá mais público. Afinal de contas, como música é minha principal fonte de renda, preciso sobreviver (rs).

2112. Quando assisto a uma cena dessas dá uma certa revolta levando em conta que onde eu moro não existe opção alguma de eventos. Nossos músicos se mantém às duras custas... Fica difícil, não?

Tatá. Difícil. Mas infelizmente é nossa realidade. Temos que lidar com isso da melhor forma possível. Foi por isso que fundamos durante a pandemia a Associação Cultural do Rock (acrock.com.br), um coletivo devidamente registrado nos órgãos competentes, que tem como missão a difusão da cultura rock. Temos feito eventos em centros culturais e estamos entrando em licitações da prefeitura. Desta forma estamos conseguindo resgatar a cultura do rock e do blues junto ao público com menor poder aquisitivo. Aproveitando... deixo aqui o convite para que os músicos de rock e blues se cadastrem no site acrock.com.br para fazer parte deste movimento de revitalização do rock nacional. O cadastro é gratuito.

2112. Atualmente você trabalha em três projetos: My Life In The Blues, Eric Clapton Slowhand Tribute Brasil e Tatá Mesa & Uncle Blues que estão interligados ao blues. Você poderia falar um pouco de cada um deles?

Tatá. MY LIFE IN THE BLUES: Show que mescla composições autorais com releituras de clássicos consagrados do blues, R&B, soul e blues rock de Ray Charles, Eric Clapton, Joe Cocker, Elvis Presley, Amy Winehouse, Stevie Wonder, Duffy, Elton John entre outros.

ERIC CLAPTON SLOWHAND TRIBUTE BRASIL: Este projeto nasceu da idéia de interpretar e contar um pouco da história do grande ícone do rock e do blues, o mito da guitarra, ERIC CLAPTON. Além disso, o projeto, visa retratar o show do Mestre ERIC CLAPTON e seus grandes sucessos como Wonderful Tonight , Tears in Heaven, My Fathers Eyes, Cocaine, Bad Love, Pretending, Layla e tantas outras, respeitando inclusive, a liberdade de improvisos e interpretação das canções.

TATÁ MESA E UNCLUE BLUES: Pocket show que nasceu da idéia de interpretar e contar um pouco da história do blues, r&b e soul, fazendo releituras de clássicos consagrados até as músicas do POP/ ROCK mundial que foram baseadas nestes gêneros. Este pocket show tem tido ótima aceitação em happy hours, eventos e horários alternativos pois mescla músicas e releituras de clássicos do blues, R&B, soul e blues rock de Ray Charles, Eric Clapton, Joe Cocker, Elvis Presley, Amy Winehouse, Stevie Wonder, Duffy, Elton John entre outros. 

Também estou voltando com a banda Mess Of Blues. A idéia é um trabalho mais autoral e diferenciado. Aguardem novidades! rs 

2112. Infelizmente criou-se um vício favorecendo as bandas covers o que torna o caminho bem mais árduo para quem quer viver exclusivamente de suas próprias composições. Tatá, como você lida com isso?

Tatá. Músico tem que ter sua fonte de renda e o cover é o caminho que existe atualmente. No meu caso, uso o cover do Clapton, inclusive, para abrir espaço para outros trabalhos. Toda vez que faço um show cover do Clapton o público pergunta se eu faço shows de blues e onde mais me apresento. Quando o público assiste os shows de blues tenho uma aceitação muito grande porque, neste caso, faço minhas releituras com direito a muito improviso. A única coisa que não concordo é quando o cover quer assumir a personalidade do artista a ponto de achar que é ele mesmo... ai não dá... o pior é que conheço alguns assim (rs). Por isso deixo claro que eu, Tatá Mesa, estou fazendo um show tributo e em homenagem ao Clapton. Tenho minha personalidade e deixo isso claro.

2112. Mas para quem precisa pagar contas, manter família... acaba tendo que recorrer ao uso de material alheio, não é? 

Tatá. Claro! Isso não é errado! No caso do blues, por exemplo, é muito comum nos festivais internacionais, os grandes músicos tocarem os clássicos do blues. É muito comum os grandes artistas regravarem os clássicos do blues. O legal é que o blues dá a liberdade de cada um tocar do seu jeito e com a sua própria pegada. E o público gosta disso. O músico, na minha modesta opinião, tem que deixar claro a sua personalidade mesmo fazendo cover. É isso que vai diferenciá-lo no mercado.

2112. Saindo um pouco desse assunto... além de Eric Clapton que outros músicos te influenciou a ponto de você desejar ser músico?

Tatá. O show do Clapton que assisti no Pacaembú em 2001, One More Car One More Rider, foi o grande divisor de águas na minha vida. Fiquei tão impressionado com o repertório e a qualidade musical que foi aí que realmente resolvi o que queria fazer como artista. Além do Clapton sempre acompanhei artistas que me influenciam de alguma forma, seja pela performance em palco, seja pelo jeito de tocar, seja pela sua simpatia. Daí destaco alguns: BB King, Buddy Guy, Phill Collins, Joe Cocker, Peter Gabriel, Joe Satriani entre tantos outros.

2112. Você lembra qual foi o primeiro blues que ouviu na vida?

Tatá. Putz... o pior é que lembro! kkkkkkkkk! Faz tempo! kkkkkkkk! Foi na década de 80, o filme Crossroads (A Encruzilhada)  com Ralph Macchio, Joe Seneca e Steve Vai no papel de guitarrista do diabo.  O filme conta a história de um garoto, estudante de música clássica e apaixonado por blues, que quer gravar uma suposta trigésima música perdida de Robert Johnson (que segundo as lendas vendeu sua alma para o diabo em troca de se tornar o maior musico de blues de todos os tempos). A trilha sonora deste filme é de Ry Cooder e é um show de blues do começo ao fim. Foi exatamente este filme que despertou minha paixão pelo blues.

2112. Entre os álbuns que já ouviu quais você listaria como troféus de cabeceira?

Tatá. Primeiríssimo Lugar: One More Car One More Rider (Eric Clapton)

2° Lugar: 90125 (Yes)

3° Lugar: Texas Flood (Stevie Ray Vaughan)

4° Lugar: BB King Live At Apollo (BB King)

5° Lugar: Synchronicity (The Police)

6° Lugar Texas Bounce (Nuno Mindelis)

2112. Quando teremos um ep ou mesmo um álbum com suas composições?

Tatá. Estou terminando de escrever algumas canções e, juntamente com meu amigo e produtor musical, o maestro Jorge Tarasiuk (Banda O Terço), pretendo começar a gravar em janeiro um EP intitulado "Whiskie, Wine and Blues". Nesse EP farei uma mescla de músicas autorais com letras em portugues e inglês.

2112. Escuto todo tipo de música... mas sempre volto aos braços do blues. E você o que ouve além do velho blues?

Tatá. Adoro Rock Progressivo e música instrumental como Joe Satriani. Mas o blues é minha grande paixão!

2112. Recentemente descobri o álbum "Far East Blues Experience" do Gugun Power Trio que além de muito blues tem um groove meio funk resultando num trabalho maravilhoso. O que você tem escutado de novo e que lhe chamou a atenção?

Tatá. Tenho escutado muito uma dupla americana chamada Larkin Poe, são 2 meninas fantásticas. Em matéria de som autoral brasileiro tenho acompanhado o trabalho do meu querido brother Ivan Márcio; gosto muito do Power Blues de meu amigão Daniel Gerber; tem também o pessoal do CROM que conta com 2 grandes guitarristas (Marcelo Pato e Altemar Lima); também o trabalho autoral do meu amigo Ricardo Maranhão de Curitiba. Tem outros que tenho escutado, mas estes me chamaram muito a atenção pela competência musical.

2112. Qual e-mail/telefone para te contratar?

Tatá. Podem entrar em contato direto através do WhatsApp 11 99146 4134/ Também com Jorge Tarasiuk (Tarasiuk Produções) 11 98881 5512/ email tata.mesa.musico@gmail.com

2112. ... o microfone é seu!

Tatá. Quero agradecer a oportunidade e parabenizar o Blog 2112 pelo fantástico trabalho. Quero aproveitar e agradecer aos meus apoiadores: Linha 4 Produções - Estúdio de ensaios e gravações, Tom Tone Effects, Tarasiuk Produções, Tecniforte Cables, Associação Cultural do Rock (ACR), Grupo Hoje é dia de Blues e todos os fans e amigos que me acompanham e prestigiam. Meu muito obrigado pelo carinho, respeito e apoio e um abraço muito carinhoso a todos; ah... aguardem mais novidades!!! Em breve vou soltar aqui no blog 2112!!!

2112. Ficarei na espera. 

Obs.: Todas as fotos fazem parte do acervo de Tatá e o nome de João Pirovic foi o único que consegui identificar. Quem tiver alguma informação passe pelo e-mail retamero2112@gmail.com que eu faço as devidas correções.