sexta-feira, 28 de junho de 2019
Entrevista Banda Blindog
O Brasil é um
celeiro de grandes bandas e músicos e a Blindog usa rock e blues em doses certeiras
para criar um som bacana, visceral e o que é melhor... cantada em português.
Seu último álbum Paulicéia, Madrugada & Blues merece ser ouvido com atenção
no volume máximo.
2112. A Blindog é uma autêntica
banda de rock e blues inserida dentro de uma cena cada vez mais artificial.
Qual o maior desafio em manter uma banda com características vintage nos dias
de hoje?
Jessé: Os espaços, na mídia e em shows, estão cada vez diminuindo mais. A bandeira do classic rock, blues-rock e do blues nunca esteve tão pesada de ser carregada.
2112. Apesar de toda essa "artificialidade" bandas como Kurandeiros, StringBreaker, Amargo Malte, Stranhos Azuis, Putos Brothers Band, Power Blues, Dudé & A Máfia, Mr. Huddy, Nicotines, vocês... tentam a todo custo manter viva a chama do classic rock, não é?
Jessé: São idealistas, verdadeira resistência, que mantém acesa a chama criativa do rock e do blues e a banda Blindog engrossa essa pequena fileira.
2112. A reação do público nos shows
e mesmo quando ouve os trabalhos da banda te surpreende?
Jessé: A banda Blindog tem como
proposta evitar o cover e a mesmice dos 7lists. Tocamos as
"encrencas" das bandas clássicas, exemplo: da banda Steppenwolf
levamos Screaming Night Hog ao invés da manjada Born to be wild. Isso requer
músicos dispostos a pesquisar e ensaiar. A outra característica da banda é
fazer releituras dos clássicos, não apenas copiá-los. Então, quando tocamos
nossa versão de Come Together/Beatles ou Johnny B. Good/Chuck Berry, entre
várias outras, percebemos com satisfação a boa surpresa causada, vendo que os
esforços valeram a pena.
2112. A sua carreira começou nos anos 60 celeiro de bandas incríveis que influenciou toda uma geração de músicos. O que você mais curtia nessa época?
2112. A sua carreira começou nos anos 60 celeiro de bandas incríveis que influenciou toda uma geração de músicos. O que você mais curtia nessa época?
Jessé: Eu sempre estive no fundão da Zona Oeste, Osasco principalmente, onde já em meados dos anos 60s toquei em bandas de bailes. Havia bastante casas, clubes e bares que levavam música ao vivo. Então, as minhas influências básicas da época foram inicialmente o rock instrumental dos The Shadows, The Ventures e, em seguida Beatles e Rolling Stones, com quem tomei contato com o blues (obrigado Brian Jones!). Mas a grande influência, e o que me fez a cabeça em definitivo, foi ouvir guitarristas como Hendrix, Robin Trower, Alvin Lee e bandas como Cream. Mountain, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple (obrigado Ritchie Blackmore, tb!), e algumas do progressivo, Jethro Tull, Procol Harum e Yes.
2112. Entre as bandas citadas qual delas se tornou influência direta na sua carreira?
Jessé: Inegavelmente Jimi Hendrix. Foi um catalizador que bebeu na fonte do blues (T-Bone Walker, Buddy Guy, Freddie King, entre outros) e catapultou sua influência para as gerações seguintes. Quando você assiste, mais de quarenta anos após sua morte, guitarristas virtuoses como Malmsteen, Vai e Satriani, fechando seus shows com músicas dele, dá pra concluir que ninguém posterior a ele, escapou de sua influência.
2112. A atual cena do rock te
empolga?
Jessé: Raras exceções me empolgam hoje: Joe Bonamassa, Eric Gales, Walter Trout, o velho e bom Robin Trower, e outros poucos, ainda me fazem arrepiar, e se salvam nesse mar de sons descartáveis.
2112. Vejo o período 1965/1975 como os mais férteis do rock servindo de base para o que viria a ser o punk, a new wave, o eletrônico... e mesmo os revivais do rock'n'roll, do hard rock, do funk etc. Foi um período de grandes bandas, grandes discos...
Jessé: As bandas dessa década se digladiavam sempre em nome da criatividade. Álbuns maravilhosos um após outro. Até que as grandes gravadoras tomaram as rédeas e impuseram "sempre mais do mesmo" para otimizar lucros.
2112. Mas voltando a sua carreira que bandas você participou até formar a Blindog?
Jessé: Nos anos 60s as principais foram Blue Star e Beatos, de bailes. Nos aos 70s e 80s, já com trabalhos autorais e releituras de clássicos do rock e do blues, Sepulcro, Nó Virgem e Atalho Tao. Nos anos 90s, Bluedog (1993 e 1994), Irmandade do Blues (1994 e 1995) e Blindog (1995 até hoje).
2112. Existe registros desses
períodos?
Jessé: Lamentavelmente muitos registros foram perdidos, mas no Youtube Banda Blindog, estão sons da banda Atalho Tao na música Brasileiro Nato-1983 (Maria da Paixão/vc, Reynaldo Alves/bx, Roberto Batera, e eu-gt); banda Bluedog (com Silvio Alemão/bx, Armando De Julio/bt, Vasco Faé/vc e gaita, e eu-gt) 1993-numa versão de Little Wing/Hendrix no lendário Jazz and Blues-Santo André; banda Irmandade do Blues na TV Alphaville-1994 (formação do Bluedog, acrescido do guitarrista Edu Gomes) nas releituras de Big Bill Blues (Big Bill Broonzy) e Screaming Night Hog (Steppennwolf), e da banda Blindog, músicas do último CD "Paulicéia & Madrugada & Blues".
2112. A Blindog tem mais de
vinte anos de estrada e já lançou três álbuns: Blindog (95), Sampa Midnight
(03) e Paulicéia, Madrugada, Blues (10). Quando você decidiu que era a hora de
criar a sua própria banda?
Jessé: Na verdade, Blindog é mais que uma banda, é um projeto musical que tem o blues-rock como base sonora, que se iniciou na banda Bluedog, passou pela Irmandade do Blues (que seguiu seu caminho, com sucesso), e se consolidou na banda Blindog. Nessa trajetória a banda teve várias formações, tendo vários músicos de talento e dedicação passado por ela, e contribuído para seu estágio atual.
2112. A início foi difícil encontrar pessoas com as mesmas idéias que a sua?
Jessé: Como se trata de uma banda com som e 7list focado numa vertente específica do Rock e do Blues, poucos são os músicos que se adaptam, e se sujeitam tirar músicas em casa, ralar em ensaios antes de subir em um palco, preferindo um repertório mais comercial/standard, de fácil aceitação, e visando retorno financeiro imediato. Por isso, sou sempre agradecido aos que abraçaram e contribuíram para esse projeto musical.
2112. Na entrevista concedida a
Guitar Player você mencionou possuir um banco de riffs e levadas que serve de
base na hora de compor. Como isso funciona?
Jessé: Sou um cara que transpira música, acordo e durmo ouvindo bons sons. Ouço de tudo! Então, em vários momentos me vem fagulhas/idéias de composições, levadas, riffs...Através dos tempos fui registrando essas idéias de todas as maneiras, gravando, escrevendo...Então há uns 10 anos gravei todo esse material, subdividido em riffs, de onde seleciono as introduções, pontes e finais, e levadas. Isso facilita muito na hora de compor. É "só" aplicar bom senso, criatividade e inspiração. Tem me facilitado a vida! Ainda tenho umas 20 horas de gravações inéditas.
2112. Você é do tipo que compõe
muito?
Jessé: Compunha quando tinha um trabalho/gravação para fazer. Hoje estou mais empenhado. Para o instrumental, e arranjos, tenho maior facilidade. Quanto a letras/líricas sou bem mais crítico e sofro um pouco. Com a atual situação econômica, onde os contratantes pagam os músicos com a sobra de caixa, quando pagam, a banda Blindog resolveu se concentrar em gravar materiais inéditos, e menos palco, o que vai demandar um exercício maior de composição. Eu curto!
2112. Qual o parâmetro que você faz de um álbum para o outro?
Jessé: Quem acompanha a trajetória da banda Blindog sabe que o som tem uma cara, uma personalidade: É blues para os roqueiros e rock para os bluseiros. É esse lema a ser mantido em cada novo trabalho.
2112. Motoboy é um relato sincero do
dia a dia de muitos brasileiros. A temática me trouxe na cabeça a letra de Eu
sou Boy do grande Kid Vinil que retratava com muito bom humor a dureza da vida
de um trabalhador. Isso de uma certa maneira cria um elo importante entre a
banda e o ouvinte, não é?
Jessé: Também entendo assim. Motoboy é uma singela crônica do dia-a-dia dessa classe batalhadora, sofredora e, às vezes, com razão, incompreendida.
2112. Traduz: paulicéia, madrugada, blues...
Jessé: Com o quarto CD "Avenida Paulista", completamos a trilogia de tributo a capital paulista, uma metrópole com suas virtudes e mazelas, mas acolhedora. E não tem nada mais bluezy que o centro velho de SP em plena madrugada.
2112. Vocês se preparando para gravar o quarto álbum da Blindog com previsão de lançamento para final deste ano. Vocês já tem uma data prevista para entrar em estúdio? Como anda a pré-produção?
Jessé: Está tudo planejado para em Julho/19 começarmos a gravação do CD autoral "Avenida Paulista" (provavelmente com 14 músicas, 12 inéditas e 2 regrações). A pré-produção está concluída, só estamos revisando.
2112. Quem irá produzir o álbum?
Jessé: Como já me envolvi na produção do CD "Sampa Midnight" e coproduzí "Paulicéia & Madrugada & Blues" (junto com o fera e mestre Alexandre Fontanetti), provavelmente irei produzir "Avenida Paulista".
2112. Você pretende usar a mesma sonoridade analógica para a gravação do novo álbum como no Paulicéia...?
Jessé: No que for possível, sim. Acho mais "quente" o som.
2112. Haverá algum single antecendo o lançamento do álbum?
Jessé: Provavelmente a música título "Avenida Paulista".
2112. ... o microfone é seu!
Jessé: Aproveito para agradecer aos fãs da banda Blindog, às casas/eventos em que temos tocado por prestigiarem a música ao vivo, aos músicos que passaram pela banda pela contribuição, e aos atuais Marcelo Viterite, bateria e Michele Naglieri, vocal e baixo por dividirem comigo o peso de manter ativa uma banda independente e a chama acesa do blues-rock tupiniquim!
segunda-feira, 24 de junho de 2019
Entrevista Banda Bumerangue Carma
O pop sempre teve uma fama
errática ao ser taxada de comercial, de música fabricada para as FM's... entre
outras sandices. Mas ouvindo a Bumerangue Carma você sente que a música pode
ter apelo popular sem soar vulgar. Pop de luxo!
2112. Primeiramente
explique o que é Rock Vintage Eletrônico Atmosférico?
Denilson Carreiro: Bom, em primeiro lugar, obrigado Carlão pela oportunidade que você está nos concedendo em poder fazer parte da história das entrevistas do Blog 2112, um canal super importante, não só para o Rock Brasileiro, como também para outros gêneros. Nele há grandes entrevistas, com grandes músicos, e é uma honra poder estar ao lado deles. É primordial para bandas e músicos independentes que haja um espaço como esse para divulgação e principalmente que a vida nos prestigie com grandes incentivadores e formadores de opinião, como é o seu caso.
Denilson Carreiro: Bom, em primeiro lugar, obrigado Carlão pela oportunidade que você está nos concedendo em poder fazer parte da história das entrevistas do Blog 2112, um canal super importante, não só para o Rock Brasileiro, como também para outros gêneros. Nele há grandes entrevistas, com grandes músicos, e é uma honra poder estar ao lado deles. É primordial para bandas e músicos independentes que haja um espaço como esse para divulgação e principalmente que a vida nos prestigie com grandes incentivadores e formadores de opinião, como é o seu caso.
Nós
adotamos o termo “Rock Vintage Eletrônico Atmosférico” meio que para definir o
som do Bumerangue Carma. “Rock Vintage” porque no nosso DNA tem bastante das
bandas clássicas; “Eletrônico/Atmosférico” porque utilizamos bastante elementos
eletrônicos e procuramos criar nas nossas músicas um clima atmosférico que
envolva o ouvinte de certa maneira.
De uma
forma mais conceitual, podemos definir “Bumerangue Carma” como a música sendo o
nosso “carma” pois estamos com ela desde muito cedo e o “bumerangue” como esse
processo de “vai e volta” do artista...compõe, grava, lança e faz show. A cada
novo ciclo desse processo, o “Bumerangue” vai mais longe...
2112. Essa definição me deixou curioso para saber que bandas vocês curtem....
2112. Essa definição me deixou curioso para saber que bandas vocês curtem....
Denilson Carreiro: Eu comecei ouvindo Elvis com 5 anos, depois Beatles com 8. Aí veio todo o resto, Stones, Hendrix, Led, Queen, Police, Duran Duran, INXS...os progressivos Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer. À parte desse caldeirão “roqueiro”, muita música brasileira também! Tudo o que tocava no rádio, eu acabava absorvendo de certa maneira. A minha lista de influências é longa...
Junior Corrêa: Na minha infância eu ouvia o que meus pais ouviam: Elvis, Ritchie Valens, Ray Charles... além de brasileiros como Roberto Carlos e Ney Matogrosso. Tenho muita referência, assim como o Denilson, minha lista seria longa, mas aos meus 11 anos eu virei beatlemaníaco. Minha maior referência, principalmente Paul McCartney. Hoje em dia procuro ouvir de tudo e tirar o melhor desses sons para meu trabalho.
2112. Como vocês trabalham todas
essas informações sem que elas interfiram no resultado final da música da
banda?
Denilson Carreiro: Acho que pela quantidade de informações e influências serem muito variadas, elas acabam tornando a nossa música mais rica. Eu, se não fosse da banda, conseguiria identificar vários elementos e influências dentro de uma música como “Quartzo Lunar” (nosso primeiro single), por exemplo.
Junior Corrêa: Na verdade essa influência está internalizada em nós. Sai naturalmente. Todas elas misturadas criaram uma personalidade para nós. Eu sempre procuro novas referências em bandas mais novas e juntar com o que já tenho dentro de mim.
2112. Cada músico tem um modo de compor suas músicas, de criar seus riffs e seus arranjos. Com vocês as músicas chegam inteiras ou em partes para depois serem costuradas?
Denilson Carreiro: Como disse o Roberto Frejat uma vez “Não há uma forma específica de se fazer música...cada hora é de um jeito”. Eu concordo plenamente com ele. No nosso caso, geralmente eu trabalho em partes da música, dou uma adiantada por assim dizer, e o Junior Côrrea vem com a parte dos teclados.
2112. O que é mais
complexo: compor a letra em cima de uma música já pronta ou musicar uma
letra?
Denilson Carreiro: Como letrista, eu prefiro criar a letra geralmente a partir de uma melodia.
Junior Corrêa: Eu já prefiro fazer o contrário. Gosto de ter uma letra quando vou iniciar uma melodia.
Denilson Carreiro: Isso é bacana, porque na verdade há um complemento porque eu posso, de repente, escrever uma letra sem pensar na melodia, e o Jr por fim acaba desenvolvendo a música, e vamos nesse “ping-pong” até que ela esteja totalmente formatada.
2112. Mês passado vocês lançaram o
single Velocidade da Luz. Como está sendo a aceitação?
Denilson Carreiro: Está sendo bem bacana, geralmente quando lançamos uma música nova, a galera que acompanha nos prestigia e dá um “feedback” legal. É importante lançarmos um single por vez. Dá pra sentir bem a receptividade, e dá pra fazer uma boa divulgação. “Velocidade da Luz” é uma música que reflete um pouco sobre o momento em que vivemos, esse turbilhão de incertezas que se transformou o Brasil. Tantos anos de desperdícios diversos, e agora o descaso está mostrando sua face mais amarga. A letra tem esse contraponto...os versos mostram toda essa nossa agonia e angústia, mas por outro lado o refrão acaba sendo acalentador e mostra positivismo, uma coisa que eu acho que temos que ter sempre...não há obstáculo que não possa ser superado. E ela está indo bem, as pessoas estão gostando e entendendo a mensagem.
2112. O mercado está
saturado de músicas descartáveis o que prova que as velhas fórmulas ainda
funcionam. Como fazer para furar esse bloqueio e apresentar uma música fora do
esquema?
Denilson Carreiro: Eu creio, que o mais importante é você fazer aquilo que você acredita. É como disse o Sting certa vez: “Eu faço música primeiramente para agradar a mim, à minha família e aos meus amigos...” Eu concordo com ele. Se você não fizer aquilo que é genuíno seu, provavelmente você vai soar postiço e não vai poder estar em uma próxima onda. Essa questão de “mercado”, por si só, é um tema a parte. Há vários aspectos à serem considerados dentro desse assunto. As pessoas estão consumindo lixo, sem saber que isso é lixo, entende? A música é muito mais espiritual do que as pessoas imaginam. Durante o processo de composição, ela mesma vai te pedindo os elementos necessários até que se torne completa. Então, pelo menos pra nós, é difícil que sigamos qualquer “onda” que seja. No final das contas, é o seu legado que fica.
2112. Mas muita das vezes é necessário fazer certas concessões para sobreviver ou mesmo se manter num mercado cada vez mais competitivo e desleal. Como fugir das armadilhas e manter a integridade?
Denilson Carreiro: É, aqui no Brasil é bem complicado essa questão. Ou você fica “vivendo uma vida que não é sua” através do “cover”, que particularmente eu não tenho nada contra, mas que deixa o mercado bem preguiçoso. É mais fácil pro músico fazer cover, do que fazer autoral. A dor da cabeça é menor e o retorno é bem mais rápido. Por outro lado isso significa a morte da criação artística. Preferimos polir a nossa agulha, para que ela brilhe no palheiro.
2112. “Ciranda” teve uma ótima
execução numa rádio holandesa. Isso ajudou abrir o mercado externo para vocês?
Denilson
Carreiro: Hoje a música é globalizada. Tenho a oportunidade de ter contato com
grandes músicos do mundo inteiro, algo que era inviável há anos atrás.
Inclusive os dois últimos singles “Velocidade Da Luz” e “Déjà Vu” contam com a
participação de dois guitarristas americanos, o Paul Curtis e o Hawkeye Pearce.
Através desses contatos, consegui que a música do Bumerangue Carma fosse tocada
na Europa. Tivemos vários elogios de grandes músicos de lá, que possuem grandes
trabalhos. Tocar sua música no rádio já é uma vitória. Tocar no exterior,
então, nem se fala. Lá fora, eles têm outra mentalidade. “Ciranda” foi muito
bem recebida, assim como “Déjà Vu” também. É um tipo de som bem europeu.
Familiar pra eles... E sim, é uma porta aberta, construída com amizades...é uma
sementinha que plantamos, que um dia dará frutos.
2112. Gostei muito de “Déjà Vu” com um belo trabalho de teclados e um solo nervoso de guitarra que quebrou um pouco o estigma eletrônico da música. Ficou bem interessante...
Junior Corrêa: Essa música foi minha estreia na banda. Eu tinha o riff e a melodia “guardados na gaveta” para ser usado num momento apropriado. Eu mandei para o Denilson e começamos a trabalhar. Quando juntamos com os outros instrumentos criamos uma identidade para ela. O público gostou muito. O solo foi uma surpresa. Denilson convidou Hawkeye Pearce para tocar conosco. Deixamos ele a vontade para criar e ficamos surpreendidos! Porém, tivemos um pouco de dúvida no começo se deveria ser “nervoso” assim. No final concordamos que deveria. Acredito que foi o correto. Essa quebra com o eletrônico caiu bem ao som.
Denilson Carreiro: Inclusive quando o Jr me passou a música para trabalharmos, eu escrevi uma outra letra pra ela. Ela se chamaria “Espelho Meu”. Mas achamos que ficou uma letra politizada demais e a guardamos para um outro momento. Provavelmente será uma das faixas do EP “Realidade Virtual” que pretendemos lançar até o final do ano.
2112. Essa música me fez lembrar da
atitude revolucionária de bandas como Joy Division/New Order, The Cure,
Ultravox e as brazucas Agentss e Azul 29 que souberam usar acertadamente
elementos eletrônicos em sua música sem abrir mão dos instrumentos
convencionais. Na música não deve existir regras...
Denilson Carreiro: É, acabamos tendo todas essas influências mesmo, de coisas bacanas que escutamos. Mas procuramos buscar elementos mais modernos para nosso som. Um cara, uma vez definiu o nosso som assim: “Vocês tem um quê de 80, mas é um som que mira o futuro”. Eu concordo com ele. É bem por aí. Você mencionou o Agentss e o Azul 29. Eles foram bandas visionárias que não tiveram o devido valor, mas que foram contemporâneas do que estava rolando fora daqui no começo dos 80. Embora o Azul 29 surgisse depois do Agentss com membros oriundos desse, elas deram frutos...músicos do Zero, como Eduardo Amarante, que eu particularmente acho um dos melhores guitarristas de Rock no Brasil tocou nessas duas bandas. Eles semearam a música eletrônica no Brasil. E nós caminhamos por essa trilha.
2112. ... o heavy metal é um exemplo: antes fechado em si mesmo se deixou influenciar por outros sons gerando uma música bem mais ampla, não é?
Denilson Carreiro: Exatamente. Você, quando mencionou isso, me veio logo na cabeça o Sepultura e a sua mistura com ritmos brasileiros. A música só tende a crescer quando você tem a mente aberta. A criação não pode ser tolhida em nenhum momento. A música é uma energia viva que conduz...não é conduzida!
2112. “Solaris” me fez lembrar da
cena prog eletrônica dos anos 70. Bem viajante e climática.
Denilson Carreiro: Exatamente. Eu estava escutando muito Vangelis e resolvi compor algo nessa pegada. Sou muito fã de Rock Progressivo. Acho que o Progressivo é o que mais se aproxima da música como ela é em sua essência... a verdadeira música que faz bem pros sentidos. E a coisa dos teclados dá um opção timbrística gigantesca. A música pode ser bem explorada com todos os recursos eletrônicos que dispomos hoje. Me admira muito que, mesmo com todos os recursos disponíveis, as pessoas ainda produzam “músicas” de gosto duvidoso!
2112. Vocês ainda tem mais um single e um EP para ser lançados. Dá para adiantar alguma coisa?
Denilson Carrreiro: Sim, claro! Acabamos de lançar o nosso último “Velocidade Da Luz” no final do mês passado, e em julho sairá um outro single...uma balada chamada “Bailarina”. Depois disso, vamos começar a trabalhar no nosso primeiro EP “Realidade Virtual” com 6 músicas. Nesse interim lançaremos também o video oficial de “Déjà Vu” que está em fase final de edição.
2112. Já pensaram em juntar todo esse material mais algumas inéditas, uns remixes e lançar tudo num único álbum?
Denilson Carreiro: Seria até interessante, mas hoje em dia, com as plataformas digitais e o single estando com tudo, não acreditamos que seja viável um álbum, porque ele acabaria sendo mal aproveitado... como já era na época das gravadoras. Você trabalhava em 12 músicas e as pessoas só ficavam conhecendo 1 ou 2. Preferimos esse formato de “singles” e “EP’s” porque podemos trabalhar tranquilamente com esse formato reduzido e as pessoas acabam conhecendo todas as músicas. A questão de relançá-las, passaria por aquele processo de ir para um estúdio para gravar no mínimo 12 músicas. Provavelmente gostaríamos de corrigir uma coisa ou outra no material que foi lançado até agora, mas há uma questão de um investimento pesado para a confecção de um álbum, cujo retorno não compensa. Por essa razão a galera está deixando esse formato um pouco de lado e apostando nos singles e nos EP’s. Creio que, com certeza, haveriam muito mais álbuns se a realidade econômica fosse outra. Como mencionamos em “Ciranda”... o Brasil é infantil ainda... precisa crescer!
2112. Trabalhar no estúdio dá uma
maior liberdade de criação com o uso de overdubs, simulação de orquestras,
efeitos diversos... Como é transpor a perfeição do estúdio para a improvisação
dos palcos? Vocês utilizam os recursos pré-gravados no teclado?
Denilson Carreiro: Esse é o grande problema quando você grava uma música com 500 mil tracks. Na hora de tocar ao vivo, ou você se adequa pra tocar essas 500 mil ou acaba mexendo no arranjo. Geralmente procuramos ser fiéis ao trabalho que foi feito no estúdio porque geralmente, as pessoas gostam de escutar a música da maneira que ela foi lançada.
Junior
Corrêa: Nós procuramos ser fieis ao arranjo. Então as bases e sequenciadores
são pré-gravadas. Ao vivo executo os riffs e solos.
2112. Vocês quando entram no estúdio já chegam com tudo esquematizado ou muita coisa surge no decorrer das gravações, na criação dos arranjos...
Denilson Carreiro: Geralmente temos a música pronta. Um, ou outro detalhe é acrescentado. Mas é tudo feito antes na pré produção.
2112. O underground vem
produzindo uma série de bandas diferentes das que ouvimos nas "paradas de
sucessos". O que vocês tem escutado de interessante?
Junior Corrêa: Das bandas brasileiras atuais eu escuto bastante Selvagens a Procura de Lei, Scalene, Vivendo do Ócio, O Terno, Boogarins e outras. Eu também procuro ouvir o trabalho das bandas da região e de amigos. Gosto de ir aos shows e pequenos eventos underground.
Denilson
Carreiro: Essas bandas que o Jr citou são bastante importantes pra cena do novo
Rock Brasileiro e só não são mais conhecidas ainda por causa das políticas de
gravadoras conforme já mencionamos. A letra de “Brasileiro” dos Selvagens à
Procura de Lei, por exemplo é uma porrada...demonstra a preocupação da nova
geração com o textual, que, eu particularmente como letrista, acho
importantíssimo! Eu citaria também o Maglore, que apesar de já ter um certo
tempo de estrada, mostra a força do Rock Brasuca fora do eixo Rio-SP.
2112. Quem vocês indicariam para uma
entrevista?
Denilson Carreiro: Nós falamos há pouco sobre o Agentss e o Azul 29 e como o Blog 2112 é um pouco “old school” também, eu sugeriria uma entrevista com o Eduardo Amarante. É um cara que com certeza dará uma entrevista bem enriquecedora! Além de grande músico, foi um dos donos do Dama Xoc, uma casa referência para as bandas de Rock no final dos anos 80, até meados dos anos 90.
Junior
Corrêa: Eu indico dois amigos: Luiz Lopez do Rio de Janeiro e a Banda
Rockstrada de Socorro-SP.
2112. ... o microfone é de vocês!
Denilson
Carreiro: Agradecemos demais Carlão a oportunidade, como já mencionei, de
fazermos parte do histórico de entrevistas do Blog 2112. O seu trabalho é
essencial para que músicos e artistas que não têm um acesso legal a mídia,
possam expor suas ideias; onde o público que não tem acesso e/ou não conheça,
possa conhecer, se interessar e acompanhar o trabalho.
Como
já dissemos, nesse restante de 2019 estaremos praticamente em trabalho de
estúdio, mas a partir de 2020 começaremos os ensaios para podermos, através do
shows, levar a música do Bumerangue Carma para o maior número possível de
pessoas.
Junior
Corrêa: Acessem as nossas redes sociais para acompanhar o nosso trabalho,
que com absoluta certeza é um trabalho feito com amor pela Arte e pela Música.
Muito obrigado pela oportunidade!
Integrantes:
Denilson Carreiro - baixo e voz
Júnior Corrêa - teclados
Thiago Maggiore - guitarras
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