quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Entrevista Hard Blues Trio


A net é hoje um dos palcos mais democráticos para se conhecer bandas bacanas que estão fora do esquema das grandes mídias. E o Hard Blues Trio é um verdadeiro achado com seu blues rock autoral que muito dignifica a cena brazuca. Aumentem o som!! 

2112. Confesso que eu tenho um carinho todo especial pela cena aí do Sul... Vocês tem uma cena notável com grandes bandas e grandes compositores. Parabéns!

Juliano. Obrigado! A cena daqui realmente é bem movimentada e nós fazemos a nossa parte promovendo shows e integrando os músicos da nova e velha geração.

2112. O Hard Blues Trio tem uma formação que é considerada “clássica” na história do rock. Fale um pouco sobre o surgimento da banda e o porquê da escolha desse formato.

Juliano. A banda surgiu em 2012 da minha vontade de tocar Blues e Blues-Rock em Porto Alegre depois de alguns anos sem tocar profissionalmente. Desde o início pensei que deveria ser um trio por ser a formação mais clássica e simples possível, o que facilita muito em vários aspectos, e também porque o foco principal da banda seria a guitarra, que é o meu instrumento. A primeira formação da banda era Juliano Rosa (guitarra), Alex Haas (bateria) e 150 (baixo). No final de 2013 entraram Giovani Ouriques (bateria) e Jailson Tavares (baixo), com esta formação a banda lançou o single “I Gotta Play My Blues” em 2014 e começou a ser conhecida na região de Porto Alegre. Em 2015 Dani Ela começou a participar como convidada cantando algumas músicas nos shows. Após a saída do baixista Jailson, Dani foi convidada a integrar a banda assumindo baixo e vocal e lançamos o single “Porto Alegre Blues”. Alexandre Becker entrou no início de 2016 e consolidou a formação atual da banda: Dani Ela (baixo/vocal), Juliano Rosa (guitarra/vocal) e Alexandre Becker (bateria/vocal). A partir daí gravamos o primeiro álbum Pé Na Estrada e fizemos várias apresentações em shows, festivais, rádio e TV.

2112. Achei muito bacana vocês investirem no trabalho autoral com composições em inglês e português. De uma certa maneira isso dá mais credibilidade a uma banda, não é?

Juliano. Com certeza. O trabalho autoral valoriza e define a carreira de uma banda/artista trazendo mais credibilidade e responsabilidade também. Alguns dizem que uma banda só passa a existir de fato após lançar o primeiro trabalho autoral.

2112. ... mas os fãs de uma certa maneira devem esperar ansiosos pelas releituras dos grandes clássicos. Como vocês trabalham isso?

Juliano. Nos nossos shows sempre mesclamos o trabalho autoral com as releituras de grandes bandas que gostamos e standards de Blues. Na verdade, a maioria do público espera ouvir músicas que já conhece, mas surpreende-se ao ouvir nossas músicas próprias. Então para nós ainda é importante tocar músicas dos nossos ídolos para ajudar a chamar atenção para nosso trabalho autoral.

2112. Qual clássico que nunca pode faltar?

Juliano. Eu citaria dois: no lado Blues não pode faltar “I Can’t Hold Out” de Elmore James. No lado Rock não pode faltar “Gimme All Your Lovin” do ZZ Top.

2112. O Brasil é um país de múltiplas culturas e como vocês viajam muito fica uma pergunta: Existe uma reação diferenciada do público de estado para estado?

Juliano. Existe sim, eu diria que muda de cidade para cidade. Tem lugares que o público curte mais Rock, outras mais Blues, bem como lugares em que as músicas autorais são mais valorizadas. Nós costumamos sentir a reação do público no início do show e, dependendo, vamos para um direção ou outra durante a apresentação.

2112. Além do blues e do rock vocês tem influências do soul o que de uma certa maneira dá mais dinâmica e flexibilidade na hora de compor, não é?

Juliano. Sim. Temos influência de tudo que ouvimos, inclusive jazz, fusion, música brasileira e até rock mais pesado. Cada um dos três músicos tem suas próprias influências e vem de escolas musicais diferentes, mas o Blues é o que une tudo isso. Gostamos de dizer que fazemos música com influência de Blues, que é a principal característica, mas sem o compromisso de estar preso a uma estética.

2112. Todos na banda compõem?

Juliano. Sim. Todos compõem. Alexandre contribui com idéias de músicas que normalmente já vem prontas faltando só letra e arranjos de harmonia. Dani contribui muito com letras e algumas ideias. E eu normalmente componho as harmonias, arranjos e letras.

2112. O que vocês ouvem além do rock, do blues e do soul?

Juliano. A gente ouve quase de tudo. Além de rock, blues e soul, eu gosto de jazz, música experimental, erudita, fusion e tudo que tem guitarra ou é bem feito. Dani gosta de heavy metal e hard rock, além de funk (americano) e músicas com groove. Alexandre vem da escola do rock progressivo e também gosta de música brasileira, música pop, fusion etc.

2112. Em 2017 vocês lançaram Pé na Estrada disponível em cd e em todas as plataformas digitais. Vocês poderiam falar um pouco sobre as gravações e como foi feita a escolha do material?

Juliano. Temos muito orgulho do nosso primeiro cd. Eu já tinha muitas ideias e composições guardadas. Dani tinha algumas letras e ideias escritas. Quando Alexandre entrou na banda no início de 2016, veio com muitas ideias e composições quase prontas, foi quando vi que era o momento de trabalhar o primeiro disco. Eu compilei as melhores idéias de todos e logo já tínhamos as principais composições definidas. A maioria das músicas, como a faixa título Pé Na Estrada, fui eu que compus e trabalhei a idéia inicial com a Dani em casa. Alexandre compôs a faixa instrumental Dani’s Groove e levou a ideia no primeiro ensaio com a banda, de onde a música já saiu pronta. Dani escreveu a letra de Growin’ Up e me mostrou pensando em um “Slow Blues“, mas eu compus a harmonia numa pegada diferente lodo depois. A faixa Véio Bruno foi composta em homenagem ao meu pai. Escrevi a letra com ajuda da Dani e fizemos um shuffle bem tradicional. Dani escreveu a letra de Cadeiras Vazias e me mostrou quando eu estava brincando com o violão afinado em D aberto, assim logo surgiu o riff e já compus a música na hora. Estas duas foram gravadas totalmente ao vivo no estúdio com participação do amigo chileno Gonzalo Araya, um dos maiores harmonicistas da atualidade. Correndo Com O Diabo foi composta por mim durante as gravações com ajuda da Dani na letra. Os três músicos contribuíram com ideias e arranjos em todas as composições.

2112. Dizem as lendas que um músico nunca está totalmente feliz com o resultado final de sua obra. Faltou corrigir isso, retirar aquilo, o solo de guitarra que não ficou bacana, a bateria que ficou abafada na mixagem... Enfim qual é a visão de vocês “hoje” sobre o trabalho pronto?

Juliano. Sim, a gente sempre é muito crítico com o próprio trabalho. Eu faria algumas coisas diferentes, faria algum solo de outro jeito e gravaria uma ou outra música novamente mudando alguma coisa, tem uma ou outra faixa que eu não gosto de ouvir, mas estamos satisfeitos com o álbum no geral. Aprendemos algumas lições e o próximo com certeza será melhor.

2112. Além de músicos, vocês são compositores, agitadores culturais, tem programas de rádio web, são arranjadores, trabalham em estúdio... e ainda tem a banda. Como é o dia a dia de vocês?

Juliano. É bem corrido. Além do trabalho musical temos outros compromissos com família, estudos e outros afazeres. É trabalho dia e noite, dorme-se pouco, mas fazemos o que gostamos e o retorno do público tem disso muito gratificante.

2112. ... ao menos conseguem tirar férias?

Juliano. Tiramos alguns dias de férias entre final de dezembro e início de janeiro, mas já estamos de volta com shows e trabalhando em composições para o segundo álbum.

2112. O blues tem um diferencial dos demais ritmos pois ele enraíza nas entranhas da alma... e faz moradia eterna. Como é a cena aí no sul? Ela é muito concorrida?

Juliano. Temos algumas boas bandas de Blues na região de Porto Alegre, Caxias do Sul e arredores. Tem espaço para todo mundo, temos vários bares que gostam de variar as atrações, apesar de que nem todos pagam um cachê razoável. Nós não consideramos as outras bandas como concorrentes, mas sim como parceiras. Os shows de Blues propiciam a integração com outras bandas e músicos através de jam sessions e este é o principal atrativo do estilo.

2112. Juliano, você tem um programa sobre blues na web. Como as bandas interessadas podem enviar material para você?

Juliano. O programa está de férias durante o mês de janeiro, pois a rádio está se re-estruturando. As bandas podem entrar em contato comigo nas redes sociais (@julianoguitar) ou por email: juliano@rapsodia.radio.br ou julianoros@gmail.com .

2112. Entre bandas e instrumentistas que te enviam material quem você destacaria como promissores?

Juliano. Gostei muito do trabalho do Tiago Galleli que acabou de lançar o single Lonesome Blues. O argentino Saverio Macne também enviou material que impressionou pela qualidade. Meu amigo aqui de Porto Alegre, Alexandre França, que também lançou álbum recentemente. São alguns que posso citar.

2112. O blues se tornou uma realidade no Brasil com a realização de vários festivais dedicado ao estilo, o surgimento de várias bandas, o lançamento de cd’s autorais etc. Na opinião de vocês... existe o blues autenticamente brasileiro?

Juliano. Este assunto é polêmico. Essencialmente, Blues é um estilo criado pelos negros norte-americanos que foram brutalmente explorados durante e após serem feitos de escravos. Os entendidos dizem que Blues é só o que foi e é feito por autênticos afrodescendentes americanos que vivem ou tem ligação direta com esta realidade cultural e social. Então “Blues brasileiro”, “Blues britânico“, “Blues qualquer coisa” serve apenas para definir a música que tem forte influência de Blues feita por músicos que vivem em outra realidade cultural e social. Os puristas e entendidos de Blues dizem que não existe outro Blues senão o autêntico. Mercadologicamente falando, usa-se o termo Blues para definir tudo que é feito com influência do Blues, especialmente o rock que não é tão pesado. Eu acredito que existe o Blues brasileiro, que é como chamamos o estilo tocado pelos artistas que se identificam e respeitam o Blues original e fazem suas composições inspirados neste estilo e em suas próprias vivências socio-culturais. Atualmente, o verdadeiro Blues não está no mainstream, dominado na maioria por músicos brancos. Os velhos Bluesmen estão morrendo de fome e tocando por migalhas nas ruas das cidades americanas. Por isso a polêmica é grande e muitos não gostam que se use o termo Blues para tudo. Penso que é importante conhecer a história, respeitar seus protagonistas e ter cuidado ao usar o termo Blues, que muitas vezes é aplicado a artistas que são mais rockeiros do que blueseiros.

2112. Quando digo brasileiro não é apenas por conter letras em português... mas com sotaque brasileiro, entendeu?

Juliano. Eu sou favorável a letras em português. É fácil identificar um brasileiro cantando em inglês pelo sotaque e muitas vezes por erros comuns nas letras. Temos artistas que cantam muito bem em inglês e outros que tem ótimas canções em português, o que também é difícil.

2112. Quais os projetos de vocês para este ano? Teremos um trabalho novo?

Juliano. Estamos trabalhando em novas composições. Nosso álbum Pé Na Estrada está concorrendo agora ao Prêmio Açorianos de música, mais importante do estado do RS e um dos mais importantes do Brasil. O plano para 2019 é lançar um novo single e um videoclipe possivelmente no primeiro semestre. E também preparar o segundo álbum para possível lançamento em 2020.

2112. De que modo as pessoas podem adquirir os cds, camisetas e outros produtos da banda?

Juliano. Podem entrar em contato diretamente com a gente nas redes sociais (facebook, instagram) ou por email (hardbluestrio@gmail.com). O CD está à venda também no Mercado Livre para quem quiser comprar diretamente na internet. Também temos CDs disponíveis em Porto Alegre com os nossos parceiros na Vibe Guitars, Guitar Garage, Openstage, Gravador Pub e Distrito Brew Pub.

2112. ... o microfone é de vocês!

Juliano. Agradeço em nome da banda pelo espaço. Para nós é um grande prazer falar dos nossos projetos e mostrar nosso trabalho para cada vez mais pessoas. Estamos muito felizes com a repercussão do primeiro álbum e já estamos trabalhando no próximo. Temos muitos fãs que nos acompanham pela internet e através de vídeos no Brasil e exterior. Obrigado pelo carinho de todos e aguardem que em breve teremos novidades para vocês! Um grande abraço do Hard Blues Trio (Dani Ela, Juliano Rosa, Alexandre Becker) para todo mundo ligado no Blog 2112. Obrigado!
2112. Eu é que agradeço a sua disponibilidade em responder.

Crédito das fotos: Zé Carlos Andrade e Felipe Lins

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