2112. A Impéria, como muitas bandas na história do Rock’n’Roll, teve seu
início dentro de uma escola. De quem partiu a idéia?
Impéria: Foi um consenso. Na época, por volta de 1995, eu, meu irmão Felippe (guitarrista),
e nosso primo Marcio (vocalista), fazíamos algumas paródias com músicas e
videoclipes da época com amigos da escola. Isso fazia bastante sucesso na
escola e começou a ganhar uma proporção maior. Estávamos começando a prática
musical com instrumentos e aí, a brincadeira ficou séria. Começamos a fazer
ensaios semanais arriscando covers de Rock nacional. Em seguida, os clássicos.
Muito pouco tempo depois, em menos de um ano, já apareciam as primeiras músicas
autorais. A banda começou para valer em dezembro de 1996, com outro nome. Em
1997, já havíamos feito os dois primeiros shows e já com músicas nossas.
2112. Nessa época vocês já tinham noção do que queriam tocar?
Impéria: Sim e não, rs. Sempre curtimos as bandas clássicas de Rock e Hard Rock,
assim como as de Heavy Metal e muita coisa nacional, os grandes nomes
brasileiros do Rock. Tínhamos esse tipo de som como influência, mas a gente
sabia que isso ia dar uma baita mistura na hora que fossemos produzir algo
nosso. E foi o que deu, um Rockão Hard, com uma pegada Heavy. Depois,
acrescentamos algo de progressivo, pois também curtimos. Enfim, nosso som foi
definido cedo, mas é fruto de nossas diversas e variadas influências.
2112. O que vocês ouviam nesta época?
Impéria: Crescemos ouvindo os grandes do Rock dos anos 60 e 70, como Rolling
Stones, Beatles, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Rush e Pink Floyd,
além de Metallica, Guns and Roses. Curtimos muito Dream Theater também. Essas
são as nossas principais influências.
2112. O Impéria como toda banda em formação teve os “famosos” problemas
com entradas e saídas de integrantes. Isso de uma certa maneira trava os
trabalhos de entrosamento e direção musical, composição... Isso só normalizou
com a entrada do Ricardo Ueno (baixo), certo?
Impéria: Acredito que sim. Ficamos quase 3 anos buscando um novo baixista. O
Ricardo Ueno cursou a faculdade comigo. Alguns anos depois de formados, ainda
estávamos sem baixista. Numa tarde de sábado, em meados de 2005, depois de
muitos ensaios e audições com diversos caras, resolvi ligar na casa dele. Ele
mesmo atendeu, topou meu convite e nunca mais saiu do meu lado esquerdo do
palco. Um cara gente boa, inteligente e bem ranzinza, assim como eu....rs.
Nesse período todo de seleção do novo baixista, seguimos ensaiando, compondo e
fazendo shows, mesmo com um baixista provisório. O Japa, como o chamamos,
entrou na melhor fase da banda, quando estávamos compondo muito, tocando muito
e vislumbrando a gravação do nosso primeiro CD, que foi lançado em 2011.
2112. Mas é um tanto desanimador, não é?
Impéria: Com certeza, Carlos. Chegamos a ficar quase 3 anos sem um baixista fixo,
fazendo testes. Atrapalha bastante. Porém, estávamos numa pegada forte de
trabalho. Atrapalhou, mas não nos abateu. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde
alguma solução seria encontrada. Taí o Japa, que está conosco há 13 anos.
2112. Os primeiros shows de vocês eram composto de releituras de
clássicos do rock ou já tinha material autoral no meio?
Impéria: Já tinha material nosso, desde o primeiro show. Nossa intenção sempre
foi ter nosso trabalho, expor nossas ideias. Curtimos muito e aprendemos muito
tocando covers, mas sempre priorizamos o nosso trabalho. Produzir as nossas
músicas, da nossa maneira, passar a nossa mensagem sempre foi o que tínhamos
como ideal.
2112. Segundo o release da banda foi o baixista Luiz Henrique quem
ajudou a definir o direcionamento musical do Impéria para um hard rock com
elementos de heavy metal. Vocês poderiam falar um pouco sobre este
episódio?
Impéria: O Luiz é um grande músico. Trouxe influências bacanas para a banda e
isso nos ajudou a formar nosso embrião sonoro. A passagem dele durou 4 anos e
foi muito positiva.
2112. Vocês passaram por um período conturbado entre os 2002/2005... e
terminou com a entrada do Ricardo Ueno no baixo. Como faziam para ensaiar e
mesmo fazerem shows sem um baixista fixo? Vocês em algum momento pensaram em
desistir?
Impéria: Nunca pensamos em desistir. Sabíamos que era questão de tempo encontrar
um baixista que se enquadrasse no que buscávamos. Tivemos alguns baixistas que
chegaram a ficar alguns meses conosco, então levamos como dava. Íamos ajeitando
a agenda conforme tínhamos baixista. Isso atrapalhou mais para shows, pois nos
ensaios e na parte de composição, levamos numa boa como um trio. Até porque,
eu, Felippe e Marcio crescemos juntos. Então, estávamos acostumados com o
trabalho em trio.
2112. Com formação estabilizada vocês partem para o processo de
composição do que seria mais tarde o "Em Dias Assim". Todos na banda
colaboram com letras, riffs...?
Impéria: Sim, um processo que envolveu todos. Porém, o Felippe foi o autor de 80%
do trabalho, além de uma música inteira composta pelo Marcio. O restante,
envolveu um belo trabalho em equipe. Sem vaidades bestas de quem fez ou deixou
de fazer. Felippe teve um insight de que o álbum seria conceitual. As músicas
se encaixavam como uma história e assim seguimos. Marcio trouxe debaixo do
braço uma música linda, chamada "Trilhas Abertas". Ela completou a
sequência toda das composições do Felippe. Todos palpitaram e deram seu máximo
para a finalização das músicas, mas vale ressaltar que a alma do "Em Dias
Assim" foram Felippe e Marcio.
2112. A idéia de um álbum conceitual foi acidental ou já havia projetos
para isso?
Impéria: Foi uma ideia do Felippe, comprada por todos em seguida. De repente,
percebemos que as letras se encaixavam. Como se contassem a história de um ser
em evolução, na busca por um mundo de paz. E assim foi. A verba era curta.
Fizemos uma pré-produção bem simples e chegamos na "ponta dos cascos"
para gravar tudo.
2112. Deve ser bem complicado compor e fazer shows ao mesmo tempo, não
é? Muita coisa deve ter surgido nos camarins, nas viagens ou mesmo em casa.
Vocês são do tipo que mantem um caderno para anotações das idéias que vão
surgindo?
Impéria: Sim, é complicado. Normalmente, quando estamos gravando, produzindo ou
mixando algo, damos um tempo em shows. Só fechamos uma data se for algo muito
legal ou se já estava marcado. Aí, reservamos uns ensaios para isso. Estamos
sempre trabalhando novas idéias. A música é um trabalho continuo. Além de
cadernos, estamos sempre com celulares por perto, para filmar alguma ideia,
gravar uma melodia que vem do nada e coisas do tipo. Estamos atentos e
aprendemos com isso, pois boa parte das ideias surgem quando não estamos
ensaiando ou reunidos. É do ser humano. Aquele riff que você fez sem querer
antes do ensaio ou aquela melodia que você cantarolou sem saber, está na sua
cabeça por reflexo de alguma coisa. Fica no seu inconsciente. Uma hora, depois
que você relaxa, e aquela ideia vem prontinha, pulando na sua frente. Aí é que
nascem as boas músicas!
2112. Frank Zappa compunha até no banheiro... E vocês já passaram por
uma situação de usar pedaços de papel ou mesmo guardanapos para anotar alguma
idéia?
Impéria: Sim, guardanapos, qualquer farrapo de papel, o gravador do celular e
qualquer coisa que se possa registrar uma ideia que acabou de surgir e não pode
escapar. O Felippe tem suas histórias com esse tipo de situação, pois a música
"Dias de Paz" foi composta assim, totalmente sem querer e veio à
mente dele totalmente pronta, letra, melodia e harmonia. E ele tem outras histórias
com músicas que vieram em sonhos e ele transcreveu para o violão ao acordar.
Fora as vezes em que acordou de madrugada e pegou o violão para compor...
2112. Sacanagens a parte... Vamos falar agora sobre Em Dias Assim que é
o primeiro trabalho de vocês. A gravação em estúdio foi complicada por ser
tratar de um trabalho conceitual?
Impéria: Foi super tranquilo. Estávamos muito bem preparados, com muita vontade,
pois era nosso sonho se materializando. Estávamos muito concentrados e
assertivos. Foi impressionante como tudo se encaixou e fluiu. A bateria mesmo
eu gravei quase que no mesmo dia. Foram 9 músicas em 11 horas. E todos foram
nessa pegada. Além disso, vale ressaltar o trabalho do Fernando Magalhães, que
comprou nossas ideias e ralou junto.
2112. Vocês já chegaram com o material todo pronto ou precisaram de
compor alguma coisa em estúdio para complementar o repertório?
Impéria: Chegamos com tudo pronto. Todas as músicas caprichosamente prontas. E
todos bem preparados para gravar. Meses antes das gravações fizemos uma
pré-produção com o Fernando Magalhães, para termos uma idéia se o resultado
soaria como desejávamos. Assim, pudemos aparar algumas arestas e deixar tudo
com a nossa cara. A grana era curta, então traçamos o plano para que todos chegassem
com sangue nos olhos para gravar. Chegar no estúdio e arrebentar mesmo!
2112. Como aconteceu de Fernando Magalhães, guitarrista do Barão
Vermelho produzir o álbum?
Impéria: Foi uma dessas histórias doidas do Rock and Roll. Em 2003 eu me formei
em jornalismo. A banda, obviamente, já existia. Meu trabalho de conclusão de
curso foi um livro sobre o Rock Brasileiro dos anos 80. Se eu te falar que fui
quem escrevi o capítulo sobre o Barão Vermelho, você vai acreditar? Pois bem,
acredite! Mais tarde, em 2007, gravamos uma demo. Nesse mesmo ano, após alguns
contatos, marcamos de bater um papo no Sesc Santo André, onde o Fernando se
apresentou com uma banda que era um projeto dele com o Roberto Lly. Trocamos
uma ideia no camarim e surgiu esse papo, de gravarmos algo. No ano seguinte,
ele ligou para o Felippe, dizendo que tinha ouvido nossa demo e que estava
disponível para nos produzir... Pois bem, em novembro de 2009 estávamos
começando as gravações do "Em Dias Assim", com um dos barões andando
de carro por São Paulo para cima e para baixo com a gente...e pior, dormindo
cada dia na casa de um de nós. A gente não via a hora de chegar sexta-feira
para buscar esse figuraça no aeroporto, para passar o final de semana trancados
no Studio Latitude, com o doido do Elias Aftim! Foi algo que a gente nunca
imaginou... Gravar com um dos nossos ídolos no Rock e como se fôssemos amigos
de infância. Foi demais! E toda a vibe. Muito respeito, trabalho em equipe,
parceria total. A cereja do bolo foi quando Fernando disse que queria gravar um
dos solos. A gente pensou: cara grava o que você quiser. Pega a guitarra que
você quiser e grava o que você quiser. Ele gravou o solo da faixa "Dias de
Paz".
2112. Ele deu muitas dicas para vocês?
Impéria: Muitas! Mas o mais legal foi a linha de trabalho dele. Ele não é aquele
produtor que muda tudo porque ele é o produtor. Ele ouve as ideias da banda e
trabalha naquele sentido, para melhorar aquela ideia. Isso faz toda a
diferença, motiva mais e claro, mostra um respeito pela suas ideias. Acho que
por isso que o trabalho fluiu tão bem. Ele foi honesto, sincero e isso somou
demais no resultado geral. Ele comprou nossa ideia do início ao fim.
2112. Mister Fernando parecer ser um cara bem alto astral além de um
excelente músico o que deve ter deixado vocês bem à vontade no estúdio tornando
a jornada bem mais leve, não é?
Impéria: Com certeza. Um cara que leva tudo numa boa, com alegria. Nem os dias de
chuva, trancados no estúdio foram ruins. Trocamos muitas figurinhas e o
ambiente era o melhor possível. Todos colaboraram muito com o andamento dos
trabalhos e o bom ambiente. Em três meses de estúdio não teve uma resposta
atravessada e nem cara amarrada de ninguém. Isso ajuda e muito. Fico
impressionado de lembrar ainda como foi tudo tranquilo, clima de parceria total
entre todos os membros da banda, Fernando e o Elias, dono do Studio Latitude,
onde gravamos e ensaiamos desde 2005.
2112. Deve ter sido bem prazeroso trabalhar com ele, não?
Impéria: Sem palavras! Foi uma das coisas mais legais da nossa carreira. E o
melhor é lembrar de tudo isso com satisfação e alegria.
2112. Das músicas incluídas em “Em Dias Assim” qual deu mais trabalho na
hora de gravar?
Impéria: Olha, não me recordo de muitas tomadas para gravar alguma faixa. Na
parte da bateria, a faixa "Em Dias Assim" era a mais complicada,
porque era rápida e tinha viradas longas. O vocal também foi gravado num tiro
só, assim como o baixo. Talvez os solos de guitarra tenham dado um pouco mais
de trabalho, pois tinham partes que eram improviso. Mas no geral, foram poucas
coisas que precisaram de mais de duas ou três tomadas. Como disse, estávamos
muito em forma, estudando bastante e muito prontos para gravar. Isso fez muita
diferença. A gente planejou muito bem as sessões de gravação porque a verba era
pequena. Foi um grande esforço de todos. E o álbum ficou muito coeso,
equilibrado, com a sonoridade que buscávamos.
2112. Vocês mesmos fizeram os arranjos finais?
Impéria: Sim. Tudo composto pela banda, com destaque para o Felippe, que é o
autor de quase todas as músicas e letras. E temos uma inteira de autoria do
Marcio. Todos participaram de todo o processo de composição, mas a ideia base e
principal da maioria foi do Felippe, além dessa música composta pelo Marcio.
2112. Houve participação de algum músico além de vocês?
Impéria: O Fernando Magalhães gravou o solo da faixa "Dias de Paz". O
restante foi totalmente gravado por nós.
2112. Particularmente achei o trabalho super bacana, um rock direto sem
frescura... apenas o básico mas com muito tesão e muita energia o que me fez
lembrar de uma letra dos Rolling Stones: Oh não, é apenas rock’n’roll, e eu
gosto, gosto, gosto sim!”.
Impéria: Obrigado, Carlos. É por aí. Soa muito bem, muito Rockão mesmo.
2112. Como está a aceitação do trabalho?
Impéria: Este trabalho foi e é muito elogiado ainda. Recebemos muitas notas altas
e críticas muito positivas em diversos sites e revistas de música. Realmente,
tivemos uma aceitação muito legal. Desse álbum ainda produzimos dois
videoclipes. Um para a faixa "Alta Voltagem" e outro para "Eu
Sou o Que Eu Sou". Isso trouxe ainda mais comentários positivos sobre o
"Em Dias Assim". Conseguimos alcançar uma sonoridade atemporal. O
álbum ainda soa bem atual, assim como as letras, que considero um capítulo a
parte. Gostamos de boas letras, de trabalhar letras, uma mensagem. A música tem
que tocar as pessoas. É nossa forma de expressar o que sentimos, de entender o
que as pessoas sentem. É nosso elo com o mundo que nos cerca. Tem muita gente
falando merda. A gente faz questão de falar algo sério, algo que vai
acrescentar alguma coisa para alguém, seja quem quer que seja...
2112. Em fevereiro do ano passado vocês lançaram o single “Liberte seus
instintos” com uma pegada mais pesada. Confesso que achei interessante essa
mudança pois prova que a banda está em mutação o que nos leva a esperar ainda
por muitas outras surpresas, não é?
Impéria: Verdade, Carlos. O som ficou mais pesado, flertando mais com o Metal.
Trata-se de uma nova sonoridade que buscamos com muito trabalho nesse período
após o lançamento do "Em Dias Assim", em 2011. Isso também é fruto da
parceria com Stefano B.A., que é quem produziu esse som. Ele é guitarrista da
banda Sharyot e nos ajudou a chegar nessa nova sonoridade. O Stefano é um
grande músico e também colaborou muito discutindo solos, arranjos e até mesmo
emprestando equipamentos. Tanto essa música quanto "O Silêncio", que
lançamos recentemente, foram gravadas com um amplificador de guitarra
maravilhoso que o ele herdou do grande Hélcio Aguirra, do Golpe de Estado.
Foram gravações mágicas e estamos bastante satisfeitos com os resultados!
2112. Quais são os projetos para este ano?
Impéria: Acabamos de lançar o single "O Silêncio", agora no final de
março. A produção também foi do Stefano B.A. e também gravamos no Studio
Latitude, que é nossa casa. Neste ano, estamos montando a agenda de shows. Já
temos algumas coisas a partir de maio. Estamos também trabalhando em novas
composições. Vale ressaltar que são muitas. Teremos novidades até 2019. Só não
sei se mais singles ou um álbum completo. Estamos felizes com a nossa nova
sonoridade e vamos explorar isso ao máximo.
2112. O microfone é de vocês...
Impéria: Carlos, obrigado pelo espaço, pela sua iniciativa com o Blog, por
incentivar e apoiar a cena e por acompanhar nosso trabalho. Peço a todos que
nos acompanhem nas redes sociais e conheçam nossa discografia. No Spotify tem
tudo: http://goo.gl/eBmjvd.
“Tenho quase trinta
anos de rock and roll e eu gosto muito de produzir bandas novas, gosto de estar
com a galera nova. Já produzi bandas como Detonautas, entre outras. Agora estou
trabalhando com a banda Impéria, que tem um gás maneiro. Gostei muito do
repertório e da mensagem que eles querem passar”.
Fernando Magalhães
(Guitarrista do Barão Vermelho)
Impéria
Marcio Deliberalli - vocal,
Felippe Deliberalli - guitarra,
Flavius Deliberalli - bateria,
Ricardo Ueno - baixo.
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Show - Feira de Artes da Vila Pompéia
2016:
https://www.youtube.com/watch?v=AsabS2qyFQk
Programa União Underground 2014:
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Show - Manifesto Rock
Fest 2011:
https://www.youtube.com/watch?v=oXoJedlE42k
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