Esta entrevista ficou guardada nos arquivos do Jornal Sacro
Via por mais de vinte anos e nunca havia sido publicada. Recentemente procurando
material para este blog a encontrei e então resolvi postá-la como foi feita na
época. A banda punk católica é curtida não apenas no circuito católico mas
também secular e já lançou vários trabalhos bacanas de ouvir. Espero que todos
gostem!!
2112 - Como e quando surgiu a idéia de formar o The Flanders?
Tchelão – A história do The Flanders é a seguinte. Eu sempre
tive uma vontade grande de tocar punk rock e a cara do Rosa sempre foi outra,
entendeu? Então surgiu uma oportunidade de juntar uma galera que é o Diego, o
Paulo e hoje o 5 Minutos que sempre acompanhou a gente com o Rosa. E começamos
a ensaiar como quem não quer nada e do ensaio gerou um christ tape como você
mesmo fala. E aí vendeu legal, tal e chamou a atenção do Eraldo que é a cara da
Codimuc gravadora nossa com o Rosa e acabou saindo o disco. Então o The
Flanders começou meio numa brincadeira, mas graças a Deus o trabalho tá indo
legal.
2112 – Podemos dizer que se trata de uma banda ou projeto
paralelo ao Rosa de Saron?
Tchelão - Não! Não é
um projeto paralelo ao Rosa de Saron porque do Rosa só tem eu. O Flanders é uma
banda e o Rosa é outra. São bandas diferentes, entendeu? O trabalho é junto...
mas é direcionado para públicos diferentes. O lance do Flanders é pegar desde
desde a criancinha com a música da formiguinha até uma pessoa de idade. E o
Rosa já tem aquele direcionamento que a gente quer expandir também pra todo
mundo. Mas o trabalho é junto, né? Os eventos a maior parte são os mesmos e o
Flanders tem um lance que é tocar mais fora da igreja, se embrenhar no mundão
aí para fazer as coisas.
2112 – O que os outros integrantes do Rosa acharam de tudo
isso?
Tchelão – Integrantes do Rosa chegou a hora de se vingar
(risos!). O que vocês acham do The Flanders?
Rogério Feltrin – Ah... a gente legal! Se o Tchelão tem
vontade de fazer o som, tem o apoio da gente porque o sonho não tem preço, né
cara? Se a gente for realmente amigo dele e for uma amizade em Deus tem que
apoiar. Existe um sentimento que de repente seja até normal ter... tem é que
brigar contra esse sentimento, buscar tá a favor porque é um trabalho acima de
tudo pra Deus e que vai evangelizar um cara que o Rosa não conseguiu
evangelizar.
Tchelão – Um dia o Fantástico entrevistou a gente e perguntou
que banda ele vaiaria e aí ele falou The Flanders cara (risos). No Fantástico!
Você imagina quantos milhões de pessoas ouviram isso (risos). Isso é
brincadeira!
2112 – Diego, 5 Minutos e Paulo C. participam de outras
bandas como você? Como surgiu o contato entre eles e você?
Tchelão – O Diego participou de uma outra banda que se chama
Fé Ativa. É uma banda de Campinas que toca um som mais louvorzão. O Paulo
sempre tocou com a Maria do Rosário, com Enes Gomes e com o Johnny das
Paulinas. E o 5 Minutos também tocou com a Maria do Rosário (risos), com o
Duzinho e com aquele cantor espanhol... É espanhol ou mexicano (confusão
geral!)? Não? Foi só com o Duzinho na banda Sudário. Hoje ele tem uma banda
paralela com o Grevão só para tocar em grupo de oração. O Grevão é o baterista,
o 5 Minutos é o baixista e o Campos Filho, um cara de Campinas é o guitarrista
e vocalista. O contato foi assim: o Diego a gente já conhecia dessa outra
banda, é amigo nosso. O 5 Minutos anda com a gente há um tempão. O Paulo tembém
sempre teve com a gente, então, foi um lance assim de pegar os amigos e fazer a
coisa. Não teve que correr atrás não!
“É um trabalho acima de
tudo pra Deus e que vai evangelizar um cara que o Rosa não conseguiu
evangelizar.”
Feltrin
2112 – Vejo uma grande influência do atual hardcore americano
no trabalho de vocês misturado ao som dos Ramones que um punk mais tradicional.
Enfim, quais são as influências da banda?
Tchelão – Sinceramente tem um monte de coisa que a banda
escuta. Coisas mais pesada, mais trash como Pantera... Mas a linha que a gente
segue é a do punk rock melódico da Califórnia. A banda que eu adoro é o MxPx,
que é uma banda cristã de punk rock. Para mim é uma das melhores... mas Ramones
tá em tudo também. Todo mundo ouve e tal!!
2112 – Você acha que o público católico vai entender a
proposta do The Flanders?
Tchelão – Eu acho assim, cara. Quando a gente fez o Flanders
era uma incógnita. O público católico ele é meio assim... Tem umas pessoas
radicais e a gente fala de coisas do dia a dia da molecada, né? Então de repente
a música do alienígena é uma coisa que muitos falam: “Nossa, tá falando de ET
na igreja católica.” Mas não é isso! A gente tá falando que o jovem católico,
pô, assiste televisão. O cara vai ao cinema pra assistir Pânico 3 e a gente fez
uma brincadeira em cima do cotidiano do jovem. Então subir num pé de manga,
falando do amor do outro que foi e levou o outro pro grupo de oração, a pamonha
de Piracicaba. A gente brinca com o lance do vício, da pamonha junto com
maconha.
No início a gente não sabia o que ia acontecer. Hoje a gente
pode falar que a grande maioria parece ter entendido a proposta porque o cd tá
saindo legal. E não é só a molecada que tá comprando. No Congresso de Aparecida
uma senhora comprou se não me engano 5
cd’s para dar pros netos. Então, se uma senhora de oitenta anos entendeu a
proposta do Flanders e no Hallel a gente tocou no Hallelzinho pra criança de
cinco, seis anos que cantavam a música da formiga, a música do anjo... então, o
que a gente fala não é complicado não!
O lance do punk rocké uma coisa nova, né? São desafios que a
gente encara mesmo! Deus planta a coisa no teu coração e Ele mostra que aquilo
vai dar frutos, você tem que ser perseverante. Os profetas na Bíblia mandou o cara
lá em Jericó e disse que na hora que tocasse uma corneta ia cair os muros de
Jericó. Mas pro enviado de Deus cara, de repente se ele não tivesse fé ia
falar: “Pô, eu vou lá, os caras vão tocar
a trombeta, vai cair a muralha?” Ninguém
derruba aquelas muralhas”. Mas o cara foi, acreditou em Deus... então, sei
lá cara. Se Deus deu o desafio, a gente supera e manda ver.
2112 – Qual a origem do nome The Flanders?
Tchelão – É como eu falei pra você surgiu do seriado dos
Simpsons. São os vizinhos dos Simpsons... uma família cristã muito louca. Então
é meio a nossa carinha.
2112 – Como aconteceu de Clemente líder do lendário grupo Inocentes
e um dos mitos do punk rock brasileiro participar na faixa Pamonha de Piracicaba?
Qual foi a reação dele? Vocês deram o cd para ele?
Tchelão – O Clemente a gente procurou como produtor. Ele é um
cara que não é de igreja mas entende bastante a proposta da banda. E a gente queria
um cara que tivesse essa pegada, que passasse pra gente um pouco dessa coisa
mais punk mesmo. O trabalho dele no cd acabou nem sendo tão grande assim. Mas
ele acabou produzindo uma parte da guitarra, uma parte da pré-produção e fez um
skaizinho na Pamonha de Piracicaba. Dei o cd para ele e ele escutou... Depois
falei com ele por telefone e ele disse que achou bem legal e existe até uma
possibilidade da gente participar do Musicaos um programa da Rede Cultura que o
Clemente é o diretor musical. É ele que seleciona as bandas que toca... Então
nós estamos em conversa com ele. Se a coisa virar, acho que vai ser um marco
para uma banda católica... tocar num programa assim fora do circuito católico e
falando de Deus lá.
2112 – Como está os shows?
Tchelão – Os shows tão legal! Estamos fazendo bastante por
aí. Ah, na maioria dos shows que a gente faz com o Rosa vai o Flanders e o
Rosa, entendeu? A gente procura encaixar o Flanders pra que a galera conheça o
nosso trabalho que ainda tá divulgando mesmo.
2112 – Você sempre foi um garoto muito doido?
Tchelão – Pô cara, eu fui um cara doido mesmo (risos)! Não do
tipo de droga, tal, mas eu acho que eu sou. Eu não mudei minha personalidade...
A única coisa é que antes eu falava uma coisa e hoje eu falo outra que é pro
bem.
2112 – Algum recado?
Tchelão – Respeite seu pai, como alface, como quiabo, coma
arroz e feijão pra crescer forte e sadio. Skate na veia, Deus no coração e Flanders
no orelhão (risos)!